As Amargas Lembranças De Agnes
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As Amargas Lembranças De Agnes - Romário Rodrigues Lourenço
As Amargas Lembranças de Agnes
Romário Rodrigues Lourenço
Edição do Autor
Direitos autorais © 2016 Romário Rodrigues Lourenço
Todos os direitos reservados
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito da editora.
A cópia e/ou reprodução total ou parcial desta obra é infração prevista na Lei de Direitos Autorais Nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Plágio é crime. Respeite os direitos do autor.
Design de Capa: Romário Rodrigues Lourenço.
Impresso no Brasil
Eu amo
Como se amor eu tivesse recebido
E amo como se para amar tivesse vocação
Mais do que para odiar meu próprio ruído
Eu amo então o passado que inspira
A dor que pelo meu corpo transpira
Eu amo a expectativa
De um futuro sem dívida
Com o presente difícil como a lida
De um coração quase sem vida
Eu amo, pensando na realidade de ser
Aquilo que gostaria de compreender
Eu amo, como se desculpas tivesse recebido
Por um crime compassivo
E até então, nunca cometido
E amo, tentando entender
Que o fim é paralelo a realidade
E que da vida, tenho que me desprender
Preludio
Agnes abriu a porta grosseiramente e trancou-se no banheiro. Ali, frente ao espelho, encarando seu reflexo, fez uma breve análise de sua vida, de sua infância e de Graziela, sua mãe. Não demorou muito para chegar a uma conclusão: Graziela nunca lhe amaria como uma mãe deveria amar sua filha.
"Não pode ser minha culpa! pensava ela, em desespero,
Eu nunca fui uma filha ingrata!". As lágrimas caíam amargas de seus olhos muito verdes, mas as lágrimas não eram nada em comparado a dor que carregava em seu peito e o vazio que sentia.
"Se Agnes tivesse sido um aborto, talvez hoje eu fosse mais feliz!", Graziela esbravejara minutos atrás e, aquelas palavras não saíam de sua cabeça. Sua mãe lhe julgava a razão pelas suas desgraças.
Palavras duras e que machucavam a alma eram parte da rotina de Agnes. Comparações com seu irmão mais velho. Privações de carinho e respeito... Tudo fazia parte da vida da menina, de então dezenove anos. Às vezes, como agora, tudo isso machucava mais. Outras vezes, vinha de forma tão velada, que ela própria sequer notava. Sua mãe lhe esbofeteava e seu pai... À quilômetros de distância, trancafiado em seu escritório. E, enquanto seu pai preocupava-se em demasia com sua carreira, Agnes se saía a mais prejudicada e se perdia cada vez mais em suas emoções confusas e desencontradas e muitas vezes, desconexas à própria realidade. E isso, quase nunca era verdadeiramente visualizado com a necessidade que deveria ser devida.
Primeira Parte
I
São Paulo, Zona Sul, 2005.
Osol forte iluminou todo o jardim bem cuidado e, na grama verde se destacava a negritude dos cabelos da jovem deitada em um ângulo estranho, entregue e rendida à brisa e ao calor do sol. Enquanto sua pele branca, suave e macia, era convidativa ao amor, seus olhos verdes e redondos tinham o brilho melancólico de alguém que fora muito machucada. Ao observar as pedras no chão do jardim, a excêntrica moça desejou que seu coração fosse daquela forma. Desejou não amar. Não ter sentimentos e, então, não sentir a dor que sentia naquele momento.
Uma folha de árvore caiu sobre seu rosto pálido e escorregou pelo canto de sua boca vermelha. Aquela folha estava seca, ela logo notou. Seca como a pessoa que lhe fizera tão ferida como... Não. Não havia nada que Agnes pudesse usar como parâmetro de comparação.
Ao sentir a dormência em suas pernas, medíocre fruto de sua estranha posição, ela ficou de pé. Jogou os cabelos lon/gos e negros para trás e o doce aroma de seu perfume de rosas amarelas foi levado pela brisa, chegando mesmo a se confundir com o cheiro das flores do jardim. Ela ignorou tudo à sua volta, respirou fundo e tornou a entrar na casa onde tudo havia começado...
Ao abrir a porta, Agnes olhou rapidamente para o espelho no hall de entrada e deparou-se com a figura da moça de dezenove anos que em uma expressão sofrida refletia a aparência frágil de seu interior – imagem que ela tanto odiava de si mesma. Enquanto se concentrava em ver-se rígida e altiva, pensava no quão artificial aqueles tons lhe eram. Ela não era assim.
— Infeliz! Idiota! — Agnes ouviu os gritos de Grazela quando já se via no alto da escadaria; o tom tão esnobe e autoritário de sua mãe faria qualquer um lhe tratar como uma rainha, mesmo que não fosse. — Deveria sair daqui e vender bala no farol... — ela resmungou ao entrar pela sala de estar.
Agnes lançou um olhar à distância, cuidando para não ser percebida. Provavelmente a empregada fizera algo de errado.
Graziela era loira e muito bonita, sempre usava seus longos cabelos presos em um rabo de cavalo. As roupas de grife e joias autênticas faziam-na dona de um tom naturalmente arrogante.
Enquanto a encarava escondida, Agnes sentiu a mágoa invadir seu peito de modo arrasador. Ela nunca conseguiria agir com indiferença à presença de Graziela. Ou à falta dela, por mais que negasse, em seu íntimo, ela sabia muito bem disso.
Bruscamente, ela levantou o olhar para a direção oposta, onde começava o corredor escuro do andar de cima da casa. As poucas luzes amareladas ao longo de sua extensão não pareciam ser suficientes para iluminá-lo por inteiro. Aquele lado sombrio da mansão era como ela própria se percebia: vazio, abandonado, marcado pela presença de alguns poucos raios de luz – alguma esperança que poderia, ou não, dar fim àquela escuridão.
Foi ao alcançar a porta no fim do corredor e abri-la que uma enorme tela de pintura que ainda cheirava a verniz amenizou seu desespero. Ali, com pinceladas fortes, estava seu próprio autoretrato, nunca finalizado. Na arte, pintada com tinta acrílica e pincéis diversos à poucos dias, faltava o desenho de um fundo e um braço a ser finalizado. Mas Agnes decidiu deixar a obra daquela forma. Apenas ela, incompleta. Sozinha em seu quadro. Exatamente como se sentia sempre. Sozinha e incompleta.
Agnes permitiu-se deitar suavemente na cama e observar os detalhes do ambiente já conhecido: a grande janela que estava completamente aberta – e por ela entrava um forte vento que fazia as cortinas claras e azuis dançarem graciosamente –, os móveis que eram de um desenho rústico e as paredes brancas estavam repletas de telas abstratas e por Agnes assinadas.
"Você é boa nisso... Deveria investir no seu talento! Eu adoraria encontrar suas obras expostas em alguma galeria.", disse-lhe um rapaz bonito e simpático chamado César, que conhecera em um museu na semana anterior quando ela lhe mostrou um ou outro trabalho que havia feito, através de rápidas fotos no visor de seu celular.
Suas palavras soavam absolutamente opostas a tudo o que sua mãe sempre lhe disse:
"Rabiscos! Manchas de tinta! Não servem nem para decoração de repartição pública...! Me surpreende você achar que alguém vai investir nisso um dia!", exclamava Graziela, sempre ríspida.
"As coisas sempre foram assim..." pensava ela, com pesar.
Mas Agnes ainda não havia se habituado a isso. Seu coração queria ser aquecido com o amor que ela nunca recebera. Queria sentir-se amada, desejada, querida; mas ao invés disso, estava sozinha deitada numa cama num quarto bonito... Sim, ela sabia o quanto era privilegiada por ter tudo o que tinha, mesmo que não tivesse o amor materno tão desejado.
"Há outras formas de amor...", pensou.
Em um gesto ousado, ela endireitou-se na cama e apanhou sua agenda, de onde tirou o cartão onde anotara o número de César há alguns dias e em seguida pegou