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Crônicas Inéditas De Bernardo Soares
Crônicas Inéditas De Bernardo Soares
Crônicas Inéditas De Bernardo Soares
E-book211 páginas2 horas

Crônicas Inéditas De Bernardo Soares

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Sobre este e-book

Não há originalidade, apenas a dança incessante da personalidade através de uma miríade de linguagens. Esta convicção me remete aos tempos passados, quando nobres poetas como Quevedo, erguendo a pena como estandarte, proclamavam em seus poemas: “Imitação de Horácio”, “Imitação de Ovídio”, “Imitação de Lucrécio”. O eco dessas palavras reverbera em minha mente, como se um coro de sombras sussurrasse ao vento. Assim, me encontro neste limiar, um poeta menor, diante da tarefa árdua de tecer crônicas e narrativas sob a égide de uma confissão ousada: “Imitação de Bernardo Soares”. Contudo, não é minha intenção entregar-me à sombra de um passado ilustre; antes, busco preservar meu próprio tom, uma melodia singular que ressoa na tessitura dos dias. Como escriba, em uma era de infinitas possibilidades, percebo que o poeta, o cronista, o contista, o romancista são entidades versáteis, capazes de abraçar as mais diversas faces da experiência humana. Neste jogo de imitações, entrelaço meu destino com a teia literária, ciente de que, nos momentos efervescentes de criação, o produto final pode ser um fruto parcialmente influenciado por leituras vorazes e pelas pressões sutis que emanam do mundo ao redor. Ao me aventurar nas trilhas de Bernardo Soares, abro as portas do labirinto pessoal, explorando o sinuoso caminho que me conduz à essência da existência. Estas crônicas não são uma mera “imitação”, mas uma ode à influência, uma celebração da dança cósmica que liga cada escritor ao tecido insondável da literatura. Nesta jornada, lanço-me ao desconhecido, sem a ilusão da originalidade, mas com a esperança de capturar um vislumbre da verdade que permeia as linhas do ser. Pois, em última análise, é na imitação consciente que descobrimos a verdadeira singularidade, a chama que arde em cada coração, ecoando através dos séculos, transcendendo as eras e revelando que, no vasto palco da criação, somos todos atores, interpretando nossos papéis na grande comédia da existência.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2023
Crônicas Inéditas De Bernardo Soares

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    Crônicas Inéditas De Bernardo Soares - Vicente Freitas

    Image 1

    CRÔNICAS INÉDITAS DE

    BERNARDO SOARES

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    V I C E N T E F R E I T A S L I O T

    CRÔNICAS INÉDITAS DE

    BERNARDO SOARES

    Image 3

    Crônicas Inéditas de Bernardo Soares Copyright © 2023 by Vicente Freitas Araújo Impresso no Brasil / Printed in Brazil Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão do detentor do copirraite.

    Normalização de texto, revisão vernacular e diagramação: Vicente Freitas

    Capa: F. Petrarca

    Contato

    vincentfreitas@yahoo.com.br

    Eu não sou eu nem sou o outro,

    Sou qualquer coisa de intermédio.

    Mário de Sá Carneiro

    ÍNDICE

    Carta ao Editor

    Prólogo

    Crônicas Inéditas de Bernardo Soares

    Image 4

    CARTA AO EDITOR

    Prezado Editor,

    É com um misto de resignação e inquietude que me vejo compelido a dirigir-me a vossa pessoa por meio desta carta. Sai-bais, antes de tudo, que a pena que agora se move carrega consigo o peso de uma existência inquietante, como as sombras que dançam nos cantos mais obscuros da alma. Permiti-me, pois, expressar meu humilde desejo diante do inexorável destino que a todos nos aguarda.

    Antecipo-me aos desígnios do tempo para suplicar, de maneira peculiar, a vossa consideração a um pedido que, por sua natureza, talvez escape às convenções ordinárias. Peço-vos que, após meu último suspiro, ousai dar voz àquelas palavras que há muito fluem de minha pena melancólica.

    São crônicas e outros textos, frutos de reflexões, devaneios e desassossegos, que testemunham a jornada turbulenta e, por vezes, hermética, da minha existência. Anseio pela perpetuação destas palavras, como uma última tentativa de capturar a efemeridade do viver, de traduzir em tinta a complexidade do espírito que, por tanto tempo, se escondeu nas sombras.

    Compreendo que tal solicitação possa parecer extravagan-te, eis que a publicação póstuma de obras por si só é envolta em controvérsias. No entanto, peço-vos que considerai meu pedido à luz da singularidade de minha existência. As palavras que deixo são como peças de um quebra-cabeça, um mosaico de pensamen-

    tos fragmentados que refletem a tormenta interior que caracterizou minha jornada terrena.

    Deixo-vos, prezado Editor, a tarefa de ser o arauto de meus desassossegos, de apresentar ao mundo as vívidas imagens que pinto com a tinta da melancolia. Que os manuscritos, que por tanto tempo permaneceram em silêncio, ganhem vida após meu der-radeiro suspiro, e que os leitores possam vislumbrar, mesmo que fugazmente, os labirintos de minha alma.

    Agradeço, desde já, vossa atenção a este pedido tão peculiar, ciente de que a singularidade das palavras que deixo poderá, de alguma maneira, ecoar nos corações dos que se dispuserem a adentrar nos meandros de minha obra1.

    Cordiais saudações,

    Bernardo Soares

    1. Nota do Editor. Esta carta, anexa aos manuscritos, recebi de Bernardo Soares, dias antes de sua partida.

    PRÓLOGO

    Não há originalidade, apenas a dança incessante da personalidade através de uma miríade de linguagens. Esta convicção me remete aos tempos passados, quando nobres poetas como Quevedo, erguendo a pena como estandarte, proclamavam em seus poemas: Imitação de Horácio, Imitação de Ovídio, Imitação de Lucrécio. O eco dessas palavras reverbera em minha mente, como se um coro de sombras sussurrasse ao vento.

    Assim, me encontro neste limiar, um poeta menor, diante da tarefa árdua de tecer crônicas e narrativas sob a égide de uma confissão ousada: Imitação de Bernardo Soares. Contudo, não é minha intenção entregar-me à sombra de um passado ilustre; antes, busco preservar meu próprio tom, uma melodia singular que ressoa na tessitura dos dias.

    Como escriba, em uma era de infinitas possibilidades, percebo que o poeta, o cronista, o contista, o romancista são entidades versáteis, capazes de abraçar as mais diversas faces da experiência humana. Neste jogo de imitações, entrelaço meu destino com a teia literária, ciente de que, nos momentos efervescentes de criação, o produto final pode ser um fruto parcialmente influenciado por leituras vorazes e pelas pressões sutis que emanam do mundo ao redor.

    Ao me aventurar nas trilhas de Bernardo Soares, abro as portas do labirinto pessoal, explorando o sinuoso caminho que me conduz à essência da existência. Estas crônicas não são uma mera

    imitação, mas uma ode à influência, uma celebração da dança cósmica que liga cada escritor ao tecido insondável da literatura.

    Nesta jornada, lanço-me ao desconhecido, sem a ilusão da originalidade, mas com a esperança de capturar um vislumbre da verdade que permeia as linhas do ser. Pois, em última análise, é na imitação consciente que descobrimos a verdadeira singularidade, a chama que arde em cada coração, ecoando através dos séculos, transcendendo as eras e revelando que, no vasto palco da criação, somos todos atores, interpretando nossos papéis na grande comé-dia da existência.

    Vicente Freitas

    CRÔNICAS INÉDITAS

    DE BERNARDO SOARES

    1.

    Desassossegado, encontro-me agora sentado em uma poltrona de couro gasto, com a estrutura reforçada por pregos de cobre que parecem lutar contra o tempo. Minha mente, mergulhada em inquietação, encontra abrigo entre minhas mãos, que firmam a cabeça com firmeza. Os cotovelos repousam sobre a mesa de estudo, desgastada pelo tempo e pelos incontáveis pensamentos que ali foram depositados. Um candeeiro, aceso e emitindo uma luz tênue, ilumina o ambiente, como uma chama vacilante diante das incertezas que me cercam.

    Neste retiro solitário, encontro-me imerso em um mundo de reflexões e questionamentos, onde a solidão e a penumbra se tornaram minhas fiéis companheiras. A poltrona, de couro surrado, guarda as marcas de longas horas de meditação e devaneios, testemunha silenciosa dos pensamentos que percorrem meu ser.

    A cabeça fincada entre as mãos, sinto o peso das indagações que povoam minha mente. Os pensamentos, como pássaros inquietos, voam em todas as direções, buscando respostas em meio ao emaranhado de ideias e dúvidas. A mesa de estudo, uma testemunha silenciosa de meus esforços intelectuais, sustenta a frágil luz do candeeiro, que lança um brilho tênue sobre os per-gaminhos e livros empilhados, revelando apenas pequenos fragmentos de conhecimento.

    Nesse cenário de recolhimento e melancolia, encontro-me imerso em um diálogo íntimo com minhas próprias inquietações.

    A luz frouxa do candeeiro, embora incerta e vacilante, oferece um raio de clareza em meio às sombras. É como se cada chama tre-mulante representasse a fragilidade da busca pela verdade, a incerteza que permeia cada descoberta e a infinitude de questões que ainda aguardam resposta.

    Na solidão da poltrona de sola e pregaria de cobre, onde tantas horas foram dedicadas à exploração do desconhecido, encontro-me imerso em um universo de pensamentos e reflexões. A luz fraca do candeeiro, que luta contra a escuridão, ilumina meu caminho enquanto mergulho nas profundezas do conhecimento. É

    aqui, nesse santuário de estudo, que busco encontrar respostas para as inquietações que habitam minha alma.

    Que a poltrona desgastada, os pregos de cobre e o candeeiro aceso sejam testemunhas silenciosas de minhas indagações, e que a luz tênue que emana do candeeiro seja o farol que me guia nas sombras. Que eu possa, nessa jornada solitária de busca e contemplação, encontrar alguma clareza e talvez até mesmo um vislumbre da verdade.

    2.

    Na imensa luminosidade diurna, o silêncio dos sons se torna igualmente precioso. Há uma serenidade nas ocorrências ao redor. Se me dissessem que havia uma guerra, eu prontamente negaria sua existência. Em um dia como esse, nada pode ocorrer que perturbe, apenas uma suavidade ímpar prevalece.

    Os raios de sol se espalham pelo céu como fios de ouro, iluminando cada canto e recanto. As cores parecem adquirir um brilho particular, como se o próprio mundo estivesse embelezado pela harmonia da luz. As sombras se tornam suaves e convidati-vas, proporcionando um abrigo acolhedor em meio à doçura desse cenário.

    Os ruídos do dia são raros e delicados. O sussurro do vento nas folhas das árvores parece cantar uma melodia tranquila e encantadora. O chilrear dos pássaros enche o ar com uma sinfonia celestial, como se estivessem entoando uma ode à paz que se ins-taurou neste momento. Cada som, cada nota, contribui para a harmonia que permeia o ambiente.

    As ruas parecem envoltas em uma quietude inigualável. O

    movimento dos carros é suave e compassado, como se estivessem dançando uma valsa lenta. As pessoas caminham com passos leves, desfrutando da serenidade que se espalha por todos os cantos.

    A agitação e o frenesi típicos da vida cotidiana são substituídos por uma calmaria reconfortante.

    Nesse dia de suavidade, é difícil imaginar que algo pertur-bador esteja acontecendo além dessa atmosfera serena. As notícias sombrias e os conflitos do mundo parecem desvanecer-se no ar,

    tornando-se meras sombras distantes. O presente se preenche de uma beleza tão intensa que é capaz de encobrir os desafios e as aflições do tempo.

    É como se o próprio universo conspirasse para envolver tudo em uma aura de tranquilidade. Cada instante é vivido com uma gratidão renovada, uma apreciação pela paz que se manifesta em cada detalhe. O coração se enche de esperança e serenidade, como se estivesse imune às agruras e aos confrontos.

    Neste dia de suavidade, é possível sentir-se envolto por um abraço invisível, que afaga e acalenta a alma. É um momento em que a própria vida parece se render à beleza simples e etérea que a rodeia. E é nesse espaço de paz que a mente se aquieta, encontrando um refúgio para sonhar e buscar a leveza que muitas vezes nos escapa.

    Nessa atmosfera de harmonia e quietude, eu me permito entregar-me à doçura que permeia o ar. Pois, em um dia como esse, onde a suavidade prevalece sobre todas as coisas, é possível encontrar a paz interior.

    3.

    Ontem, testemunhou-se em sua morada a triste cena da es-posa sem vida e da filhinha mais nova, tão frágil e enferma. Hoje, o empresário vem em busca dele, pois a plateia o reclama. Rapidamente, ele sobe ao palco, pouco importando o seu pesar diante daquela multidão estranha. Ao som das ovações que perfuram o ar, ele faz gestos teatrais, canta e ri. Aplausos da turba ecoam, e ele trabalha incansavelmente para esconder, sob a capa em que se

    envolve, a angústia lancinante que o aflige. No entanto, a dor cruel se intensifica.

    Nos bastidores, a vida se desfaz em ruínas. O traje de aparências que ele veste no palco não é mais do que uma máscara frágil, incapaz de conter a aflição que assola seu íntimo. As cortinas caem, e ele retorna ao camarim solitário, onde as sombras dançam ao som do seu desespero. O silêncio agora é seu único confidente.

    Ele contempla seu reflexo no espelho, seus olhos vazios refletindo uma alma em desalento. As lágrimas que não pode der-ramar acumulam-se por trás de suas pálpebras, prisioneiras da sua obrigação de entreter. A fama que conquistou, os aplausos que ecoam em seus ouvidos, tudo parece vazio diante da dor que o consome.

    Enquanto a plateia o aclama e celebra sua performance, ele sufoca seus próprios soluços. Seu talento se torna um disfarce engenhoso, uma forma de distrair-se da desolação que o persegue.

    Mas, quanto mais ele se esforça para esconder, mais a agonia se acentua, como um punhal cravado em seu peito.

    Padre Antônio Thomaz, o poeta da alma múltipla, teria compreendido esse homem dilacerado pelas circunstâncias. Nas palavras trêmulas, ele encontra eco para suas próprias angústias. O

    poeta, tão hábil, reconheceria a dor que se camufla por trás das máscaras sociais.

    Assim, o protagonista dessa tragédia, sob os holofotes brilhantes e o aplauso incessante, carrega o fardo silencioso de sua existência dilacerada. Enquanto o público o idolatra, ele se desvanece, seu verdadeiro eu perdido nas entrelinhas da encenação.

    Que triste ironia: a arte que tanto eleva e inspira, também pode ser o refúgio das almas mais atormentadas. No palco, ele é um artista talentoso, um ilusionista consumado. Mas, nos bastidores, a dor transborda e, dentro do peito, o coração soluça.

    4.

    Somos limitados, confrontados com a impossibilidade de conhecer todos os elementos de uma questão em sua totalidade.

    Essa limitação inerente a nossa condição humana nos impede de resolver completamente os enigmas que a vida nos apresenta. Por mais que nos esforcemos, sempre faltarão dados suficientes capazes de esgotar a interpretação desses dados em busca da verdade absoluta.

    A busca pela verdade é um labirinto, onde cada esquina revela novas incertezas e cada pista levanta mais questionamentos.

    Somos como exploradores perdidos em um território desconhecido, tentando decifrar os sinais fragmentados que se apresentam diante de nós. Por mais que nos dediquemos ao estudo e à reflexão, sempre haverá um véu de mistério que envolve a essência da realidade.

    Cada elemento que conseguimos capturar é apenas uma peça do quebra-cabeça, uma pequena fração da verdade maior que permanece oculta em meio às sombras. E, assim como um quebra-cabeça incompleto, nossa compreensão está sempre sujeita a lacunas, a pedaços ausentes que nos privam de uma visão plena e abrangente.

    A falta de dados suficientes é apenas um dos obstáculos que enfrentamos em nossa busca pela verdade. Além disso, os

    próprios processos intelectuais que utilizamos para interpretar esses dados são limitados e imperfeitos. Nossas mentes são envoltas por preconceitos e limitações cognitivas, que influenciam nossa capacidade de compreender e analisar

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