Banquete das Ideias
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Banquete das Ideias - Everaldo de Deus
O Banquete
Ao se aproximar da indiferença, a realidade se tornara solitária no ambiente poerio encoberto pelos desejos que outrora se ocultara nas trevas incandescentes das falsas verdades e das mentiras sinceras... Em meio à desorganização, o sopro fechara a última janela, abrindo os sentidos e expondo as ideias que entoavam o som do abismo... por alguns instantes tudo se pôs em trevas... o silêncio que seguira cobrava instintivamente o final do festim em um mundo petrificado por acúmulo de falta de beleza... os vilões desconfiados se retiram do banquete que comemorava a vitória do nada... da janela entreaberta se avistava o princípio do fim da soberania doentia das paixões bestiais, que envaideciam os sentidos e castravam a imaginação que proporcionaria ao homem o direito de ser criança. Depois do silêncio, tudo que restou foi uma ideia que morreu, dando lugar à alegria que entristeceu no choro que se calou em um sonho sem sono da noite que não chegou do dia que não amanheceu; hoje, consigo ver o que não existiu, armado com as peças que não se encaixaram formando um grande quebra-cabeça que conta um pouco da história de tudo aquilo que não existiu.
Louca Lucidez
Ontem, à noite, no salão nobre do manicômio, foram convidados os loucos
de todas as alas para confraternizarem juntos à chegada do ano novo... Na ocasião, foi servido um grande banquete no evento. As pipocas voavam ao vento e os loucos
gritavam em coro - É chuva de neve no sertão
, é chuva de neve no sertão
... O Diretor pediu atenção de todos para anunciar o presente que ganhariam naquela noite, e eles guardaram em silêncio o anúncio, alguns ainda com a boca cheia, tentavam se livrar engolindo com dificuldade, outros jogavam pipoca no chão e sugavam com a boca, igual aspirador de pó... Competiam para ver quem sugava mais rápido... Quando o diretor pediu para que entrassem com o que havia prometido, eles se aproximaram ao máximo, empurrando uns aos outros, impulsionados pela curiosidade... Ao abrirem a embalagem, viram sair de dentro da caixa um lindo objeto com a maior polegada de plasma do mercado... Foi acoplada a parede, em seguida, foi solicitado para que sentassem na posição mais confortável possível... Foi entregue colchonete, travesseiro, sofá-cama e etc. Alguns queriam assistir filme, porém, foi informado que iriam assistir a reprise da retrospectiva do ano e, assim, prosseguiu o programa de virada de ano no salão dos loucos
... À medida em que os fatos iam se sucedendo, eles cada vez mais se enchiam de graça e não podiam mais conter o riso... Antes mesmo do término do programa, todos estavam rindo sem parar... O barulho da gargalhada chamou atenção de toda a vizinhança... Uns rolavam pelo chão lambuzados de comida, outros se abraçavam salteando como milho na panela... Com toda aquela mazorca, de repente, o salão estava cheio de funcionários, trouxeram consigo camisa de força, anestésico e outros artefatos para conter o suposto surto coletivo
, quando o diretor se deu conta de que o motivo de toda euforia relacionava-se com o que estava passando na televisão, o diretor do hospício perguntou com tom de autoridade! - Por que vocês estão dando gargalhadas dos acontecimentos mais importante do nosso País? Todos telespectadores ficaram em silêncio, até que começaram a falar: - Esse programa de humor tem piadas que são impossíveis de nos manter parados como loucos sedados em camisa de força... Existe coisa mais ingênua do que vê senhores de toga, farda, batina, paletó etc... defendendo ideologias apodrecidas como se cada uma fosse superior as outras? Existe algo mais patético do que vê esses senhores querendo destruir
aquilo que todos os dias eles mesmos alimentam? Existe coisa mais engraçada do que vê uma multidão de pessoas acreditando nas loucuras dos lúcidos
? Existe algo mais animalesco do que matar e morrer para defender um jogo sujo que, antes de começar, já existe o vencedor e o perdedor? Depois dessas loucas palavras
, o Diretor e todos os funcionários e até mesmo um grupo que estava chegando para evangelizar correram para o meio do salão para dançar com os hospedes e, todos os dias, se reúnem para assistirem as loucuras lúcidas
dos homens livres
no cenário da vida