Sobrevivendo a Nova York: Poemas e Histórias Reais com Ilustrações
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Sobre este e-book
Como superar a ilusão dos pais de viver em um país "melhor", quando se está diante de realidades, como: desprezo, desemprego, preconceito e discriminação? Se você viveu ou vive em outro país, ou não, o que você pensa sobre transformar os desafios em oportunidades? Principalmente, quando você é desafiado, humilhado e rejeitado? Será que você pode superar as dificuldades e se tornar alguém melhor?
Nesta obra, o autor nos conta como transformou esforço em dedicação, tristeza em diversão, angústia e revolta em oportunidades. Então, descubra — por meio desta jornada — o valor da sobrevivência e entenda como você, também, pode superar seus desafios e transformá-los em oportunidades reais.
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Sobrevivendo a Nova York - Lincoln Oliveira
Vou vender minha prancha
Tudo começou…
Ou melhor, deixa eu voltar um pouco…
Vruumm!
— Cara, eu duvido você testar se essa BMW corre mesmo!
— Quer duvidar?
— Duvido que você coloque 200 km/h nela.
— Ela está inteiraça, tem que aguentar… Vamos lá.
Vruuummmmmmmmmmmmmmmm!
— Vamos chegar rapidinho lá em Long Island para vender essa prancha. Aí, já fecho tudo o que eu tenho que levar para o Brasil.
— Ah, eu acho que você consegue uma grana nela.
— Claro, já ajuda para a viagem.
— Olha! Há! Está batendo 160 km.
— Ô louco, Kid, acho melhor você diminuir…
— Que nada, moleque. Ninguém vai me ver, estou voando.
Cinco minutos depois.
— Tu, tu, tu… Pull over (Encosta)!
— Ih, deu ruim, cara.
— Encosta, mano! É a polícia!
Parei o carro tremendo de medo, imagina dois imigrantes com cara de latino em uma BMW. O que será que vai acontecer com a gente?
A person standing in front of a store Description automatically generatedIntrodução à sobrevivência
Sobreviver a cada dia é um desafio, ainda mais nos tempos atuais. No entanto sobreviver a Nova York foi um desafio gigantesco para mim. E por isso escrevo este livro com crônicas, contos, poesias, escrita livre ou pensamentos. Você é o leitor, então pode julgar o que achar melhor. E neste primeiro capítulo de introdução, eu apresento para você alguns pensamentos sobre a minha sobrevivência em Nova York na década de 1990.
Essa sobrevivência teve o seu lado positivo e otimista, não diria totalmente negativo, porque, se você obtém algum aprendizado, mesmo nas situações adversas, aquela situação para você pode se tornar boa no futuro. É verdade que os sentimentos vão acontecer, seja de perda, ganho, felicidade, tristeza, ódio, raiva, amor, rancor, desprezo, gratidão, frustração e a lista segue.
É por isso que, nesse primeiro poema, eu começo com o título Estações do meu viver
. E deixo você definir o que realmente eu quero dizer. Não estou aqui para instruir, educar, moralizar e afirmar nada. Quando ler este livro, poderá apenas confabular e meditar nos sentimentos, esses, sim, são importantes. E tentar entender o que você também sente.
Tudo começou em fevereiro de 1991. Eu acredito que essa foi a primeira semana que eu saí para dar uma volta em Nova York. Andei quase toda a 5ª Avenida, meu primeiro dia como o Goofy ou Pateta. Você pode imaginar quão feliz eu estava, mas, ao mesmo tempo, quão perdido e pateta eu parecia. Casaco de frio tosco, tênis da Reebok velho e boné dos Lakers do meu irmão.
À época, eu não sabia que iria me apaixonar pelo Chicago Bulls, e assistir a todas as glórias e títulos daquele timaço liderado pelo Michael Jordan. Chega a ser engraçado. Hoje eu dou muita risada com esse momento, mas, naquele tempo, foi tenso. E com esse primeiro desenho, eu lhe conto um pouco dos meus sentimentos nesse primeiro poema.
Estações do meu viver
A picture containing outdoor, black Description automatically generatedEstações do meu viver são como raios e relâmpagos
que estremecem o meu viver.
Chuvas e tempestades inundam o meu ser.
O sol e os raios de luz derretem o meu prazer.
Neves e avalanches enterram o meu saber.
Estações do meu viver.
Eu quero saber o que fazer e conquistar.
Realmente aquilo que quero ter.
Sei que tenho prazer naquilo que ainda não posso ter.
Sei que terei de ser aquilo que realmente tenho prazer.
Na escola
O grande dia chegou, quando eu fui me matricular na escola e começar o grande desafio para interagir com pessoas desconhecidas, de culturas, modos de se vestir e expressar diferentes. Posso dizer que o choque cultural foi enorme. Chegar a uma escola que tomava um quarteirão inteiro da rua com campo de futebol, quadra de basquete e refeitório compartilhado com outras turmas, isso sim foi um diferencial.
E foi assim que eu cheguei a William Cullen Bryant High School. Essa instituição era uma babilônia para mim. Tinha pessoas de tudo quanto é lugar, falando diferentes idiomas. E assim se dividiam em grupos na hora do recreio
para comerem
, não, melhor… se protegerem
. Como assim se protegerem
? Você pode perguntar. É isso aí, se você não conhece ninguém e senta em uma mesa no refeitório sozinho… Esquece. Você não vai ter uma refeição muito tranquila.
Nessa escola tinha gangues, brigas territoriais, roubo de lanches, agressão a imigrantes e tudo o que você possa imaginar. O negócio era colocar medo nas pessoas. E alguns grupos deixavam claro: você não pertence a esse lugar
. E, no meu caso, eu entendi a mensagem daquele estabelecimento de forma bem clara. Chineses se sentavam com chineses, os hispanos com hispanos, os do Leste Europeu (poloneses, russos e croatas) com os seus. E eu com a bandeja na mão, procurando um lugar para me sentar…
Eita, tem algum brasileiro aqui? Estou ferrado, vou me sentar com quem?
Enquanto isso, os alunos de dois grupos rivais ficavam se xingando, zoando e brigando. Alguns ficavam se exibindo para as garotas e então procuravam os mais fracos
para oprimir. E nesse caso, especificamente, para esses caras, eram os asiáticos. Eles tomavam os lanches e batiam nas bandejas deles para a comida cair no chão, tocavam o terror. E eu, vendo tudo aquilo, pensava:
Opa, tem uma galera ali no canto de cara feia, vou sentar perto deles. São os alunos que vêm do Leste Europeu, vou sentar por aqui.
E assim eu fui me encontrando e me protegendo no meio de tanta insegurança. Eu fiquei amigo de muitos alunos croatas, sérvios, poloneses e russos. Até o dia que eu descobri que havia brasileiros nessa escola, mas isso eu vou contar depois.
Que sala que eu vou?
Um dia, o goofy aqui estava perdido na escola, que tinha quatro andares e, como mencionei, metade do quarteirão era ocupado pelas salas de aula. Recebi meu relatório de turma e ali já fiquei grilado.
— Que isso, brother? Não estou entendendo nada. Você não assiste à aula só em uma sala e troca