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Sob a luz de teus olhos
Sob a luz de teus olhos
Sob a luz de teus olhos
E-book284 páginas3 horas

Sob a luz de teus olhos

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Sobre este e-book

Prêmio Infinito 2016 para a MELHOR NOVELA FANTÁSTICA

"Eu farei com que seu coração sangre por mim..."

Com essas palavras, Aglaya sentenciou o destino de Teuthras; uma aposta que a desafiou a conquistar o corpo e o coração daquele homem com o único propósito de alimentar sua vaidade feminina.

A jovem considerava isso uma empreitada fácil, afinal, ela não era apenas uma sacerdotisa da deusa Afrodite, mas uma sacerdotisa especial. Aglaya era uma das três Cárites, e não apenas possuía o favor da divindade, mas também era a preferida dos fiéis que vinham ao templo buscar seus serviços e seu corpo para dedicar suas oferendas à deusa, protetora da cidade. Aglaya sabia que era bela, desejada pelos homens... e vencedora daquele desafio.

Entretanto, o destino quis que Teuthras fosse o único homem que jamais cairia sob o feitiço da beleza e sensualidade da sacerdotisa. E assim, o que começou como um simples jogo se tornou um verdadeiro desafio, não apenas para Aglaya, mas para ambos, mudando o curso de suas vidas de maneira inexorável e para sempre.

Sob a luz dos teus olhos... Uma história repleta de erotismo, paixão e um amor capaz de romper as barreiras de qualquer destino, seja ele mortal ou divino.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de jan. de 2024
ISBN9781667468860
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    Pré-visualização do livro

    Sob a luz de teus olhos - Juani Hernández

    Nota da autora

    Eu gosto da mitologia grega desde criança, assim como muitas pessoas; isso quer dizer que não sou uma estudiosa do assunto, mas há certos fatos que eu já sabia de antemão, antes de mergulhar na fase de documentação, quando decidi escrever este romance.

    Por esse motivo, sei bem, entre outras coisas que não vou listar para não revelar demais, que há várias teorias sobre o nascimento da deusa Afrodite, e todas concordam que Hefesto era manco, vesgo e nada cordial, para dar algum exemplo.

    No entanto, devo admitir que tomei algumas liberdades com a única intenção de tornar a escrita mais atraente, afinal, isto é ficção romântica, não é um romance histórico ou um tratado sobre mitologia grega.

    Por isso, não se surpreendam se Hefesto for um deus muito bonito, daqueles que arrancam suspiros...

    Capítulo 1

    Os gritos de Afrodite podiam ser ouvidos por todo o Monte Acrocorinto. Aglaya e Eufrósine levantaram seus olhos do tecido que estavam bordando e buscaram o olhar do resto de suas companheiras, cujo sobressalto durou apenas alguns segundos, após o qual voltaram para sua tarefa. Juntas, elas trabalhavam no novo peplo que a deusa usaria, em algumas semanas, na celebração das Afrodisias, organizada em sua honra com a chegada do verão.

    As duas jovens, apesar da passividade das outras, deixaram a túnica e se dirigiram ao jardim, embora antes desviassem para a cozinha para pegar algumas vasilhas. O tempo de serviço à deusa as ensinara a compreender a volubilidade de seus humores, assim como várias formas de apaziguar sua ira, e uma delas era deliciá-la com um pouco de néctar e ambrosia recém-colhidos.

    Ao entrar na cozinha, as servas que lá estavam se afastaram de suas tarefas, com a cabeça baixa e as mãos unidas nas costas, em atitude servil.

    ―Continuem ―ordenou Aglaya, agitando a mão em um gesto desdenhoso.

    Depois de pegar o que foram buscar, saíram do prédio que a deusa usava como residência em suas visitas à Terra e se dirigiram ao templo, aos majestosos jardins localizados na parte de trás. Eram de uso privado de Afrodite, um presente de seu esposo, Hefesto, como reconciliação após uma de suas habituais brigas.

    Ao entrar naquele pequeno Éden, as moças pararam um instante, atormentadas pelo aroma delicioso capaz de embriagar qualquer ser, seja mundano ou divino.

    ―O que você acha que aconteceu desta vez? ―perguntou Eufrósine a sua companheira, ambas já imersas em seu trabalho.

    ―Lembre-se que seu senhor Hefesto chegou esta manhã ―lembrou ela.

    ―E deveria trazer as joias que ela usará em Afrodisias! ―acrescentou a outra jovem com entusiasmo.

    Aglaya apoiou a vasilha em seu quadril e a olhou com os lábios franzidos em uma careta.

    ―As pedras preciosas que foram engastadas nelas são de cor grená ―replicou com sarcasmo.

    ―Pelos deuses... ―murmurou Eufrósine, observando-a com incredulidade. ― Mas o vestido que estamos confeccionando é vermelho fogo!

    ― Deveria ser mais vermelho sangue, aquele que Hefesto teria derramado se não tivesse se esquivado para o Monte Olimpo quando Afrodite se lançou sobre ele ―replicou com zombaria.

    ―Ousada... ela poderia te ouvir ―repreendeu-a, embora um sorriso travesso aparecesse em seus lábios.

    ―Deve-se reconhecer que ele não teve muito tato ―continuou Aglaya, retomando sua tarefa com muito cuidado. As flores das quais se coletava o néctar estavam rodeadas por pontiagudas e venenosas espinhos. ― E deveria saber o quanto essa festividade é importante para ela. Será difícil que ela o perdoe.

    ―Bem, para um homem assim, eu perdoaria qualquer coisa, mesmo que fosse apenas um simples mortal ―murmurou sua amiga com um riso malicioso.

    Aglaya lançou-lhe um olhar reprovador, totalmente fingido, pois ela pensava o mesmo... assim como todas as sacerdotisas e servas que haviam tido a honra de encontrá-lo nas frequentes visitas que fazia à sua esposa, nas temporadas em que Afrodite permanecia lá.

    Para muitos, era estranho que a mais bela das divindades o tivesse aceitado como companheiro, já que, entre todos os deuses, Hefesto era o mais imperfeito, sofrendo de uma leve coxeira; embora isso não diminuísse nem um pouco a sua galhardia, ficando este defeito em segundo plano. Com cabelos pretos e angulosas feições enquadradas por uma barba densa, que não ocultava em absoluto o seu atrativo viril e quase selvagem, era sem dúvida o seu imponente aspecto o que mais se destacava nele, não em vão estava encarregado da Forja dos Deuses; moldar os raios do todo-poderoso Zeus não era tarefa fácil. Músculos endurecidos e contornados formavam o mapa de seu corpo, robusto e forte, de pele curtida e brilhante, coberta por uma pátina de divindade que exalava desejo carnal por todos os lados.

    No entanto, Afrodite era o objeto de tal atração e, apesar de adorar seu marido, seu temperamento caprichoso o enfurecia. Para o infortúnio de Hefesto, ele também a amava e, com certeza, nesse momento, estava recluso em sua forja, pensando com desespero em uma maneira de agradar sua esposa.

    ―Contudo, apenas uma deusa como Afrodite poderia conseguir um espécime de tais características ―brincou Eufrósine, provocando risos em sua companheira.

    ―Não nos dê tão pouco crédito, querida ―rebateu Aglaya, colocando novamente o recipiente de barro em seu quadril e a mão livre em sua cintura, em uma pose sedutora. ― Não é coincidência que façamos parte das Cárites e sermos as sacerdotisas preferidas de Afrodite deve nos conferir algum tipo de encanto.

    ―Fale por você, que é uma de suas favoritas ―ignorou os esforços de sua amiga, sacudindo uma mão com indiferença enquanto continuava com sua tarefa. ― Você deve ter sido tocada pela deusa da sorte, Tique, ao nascer, porque foi agraciada com uma beleza singular e um corpo exultante. Só isso já atrai qualquer homem, como a mais saboroso mel atrai as abelhas.

    E Aglaya admitiu com agrado que Eufrósine tinha razão, já que, em sua descrição, deveria ser adicionado que seu cabelo era dourado, como raios brilhantes de sol, e seus olhos verdes como um campo fértil.

    ―Você também é bonita ―quis agradá-la, porque era verdade. Talvez seu cabelo escuro e seus olhos castanhos não fossem tão chamativos quanto os dela, mas seus traços eram harmônicos e delicados.

    Eufrósine olhou para ela pensativamente, até que soltou um suspiro de reconhecimento.

    ―É verdade ―afirmou, sem um pingo de modéstia, e ambas riram. ― Contudo, você acredita que seus encantos seriam suficientes para conquistar qualquer homem? Mas não apenas seu corpo ―alertou ―mas também seu coração, assim como nossa deusa fez com seu senhor Hefesto.

    ―Sim ―ela responde com firmeza, e sua amiga a observa com total ceticismo.

    ―Você está tão confiante na sua resposta ―provocou ela―. Quer apostar algo?

    ―Quem está confiante agora? ―zombou.

    ―É que haverá condições ―esclareceu a morena―. Eu escolherei o homem em questão, embora você não possa revelar quem você é, senão perderá a graça.

    Aglaya balançou a mão, soltando um suspiro displicente.

    ―Você acha que estou tão louca a ponto de confiar em você? ―respondeu relutantemente―. Tenho certeza de que será um velho ou um monstro, ou ambos ―acrescentou, examinando-a de cima a baixo.

    ―Hmm... não, acabei de pensar em um jovem e bonito ―respondeu Eufrósine, rindo maliciosamente―. E você terá até a celebração de Afrodisias... Pouco mais de duas semanas ―acrescentou em um tom que pretendia cutucar sua vaidade―. Você não pode dizer que não tem vantagem...

    ―E o que eu ganharia em troca? ―indagou fingindo desinteresse, apesar do sorriso de sua amiga ser uma clara indicação de sua falta de sucesso.

    ―Eu vou cobrir seus turnos na guarda do fogo sagrado por um mês ―disse sem hesitar.

    ―Um mês? ―exclamou Aglaya, abrindo bem os olhos.

    Vigiar para que o fogo sagrado não se apague era uma das tarefas mais tediosas e de maior responsabilidade, passível de pena de morte, atribuídas às sacerdotisas, e se livrar delas por um mês era uma tentação poderosa.

    De repente, um estrondo ressoou nos aposentos de Afrodite, e as jovens se olharam com expressões temerosas.

    ―Acho que ela acabou com todos os vasos que tinha à mão ―previu Eufrósine.

    ―Vamos entregar isso de uma vez ―propôs Aglaya, e ambas correram em direção à residência.

    Eles atravessaram a colunata de entrada até o amplo átrio. As paredes de luxuoso mármore branco brilhavam sob o brilho da chama da sucessão de candelabros de ouro que iluminavam os diferentes cômodos da residência. Entre eles, sucediam-se pedestais de mármore verde com pequenas estátuas, sendo a maioria representações de Afrodite e Hefesto.

    ―Filho de uma cabra cega! ―a deusa continuava com seus desabafos, e as duas sacerdotisas se apressaram em adentrar o corredor que levava aos aposentos.

    Ao chegarem, elas se aproximaram do umbral, mas esperaram que Afrodite reparasse nelas, pois não se atreviam a importuná-la.

    ―Aglaya, Eufrósine, o que estão fazendo na porta? ―perguntou rudemente, embora movendo as mãos para convidá-las a entrar.

    ―Divina Afrodite, trouxemos um pouco de néctar e ambrosia para...

    ―Levem isso daqui. Não quero nada! ―gritou ela, começando a deambular pelo ambiente. Seus cachos loiros presos em um coque solto se agitavam com seus movimentos, assim como o tecido vaporoso que compunha sua túnica de cor azul-celeste, assim como seus olhos.

    As donzelas, conhecendo-a, ignoraram sua indicação e depositaram as vasilhas em uma mesinha baixa próxima a um divã, depois se afastaram.

    ―Merda de ciclope ―ela continuava resmungando―. Olhem isso! ―exclamou, indo de repente em direção à sua penteadeira, de onde pegou uma caixa forrada de veludo. Com pressa, ela se aproximou das jovens, estendendo-a para elas. Em seguida, deu mais algumas voltas pela sala e parou em frente à mesinha, servindo-se um pouco de néctar―. Humm, isso está delicioso... Viram o que esse cabeça de fauno me trouxe? ―gritou, deixando o copo na superfície esmaltada.

    As duas mulheres se olharam, tentando esconder o quanto estavam deslumbradas com aquelas joias que, literalmente, eram dignas de uma deusa. Era um conjunto de colar e brincos de ouro, com a forma de um precioso cacho de uvas. O trabalho de ourivesaria era requintado, e cada pedra preciosa tinha o tamanho de uma groselha... e a mesma cor. Era praticamente vermelha, não era? No entanto, esse praticamente era o que deixava Afrodite irritada.

    Depositado em seu leito com dossel, podia ser visto um pedaço do tecido escolhido para que as sacerdotisas confeccionassem seu peplo. Era de um vermelho intenso, vivo e penetrante. Então, a deusa o agarrou com fúria e o aproximou dela.

    ―Não se assemelha em nada! ― continuou, e de certa forma estava certa, pois a beleza da joia ficava ofuscada por ter uma tonalidade mais apagada. ― O que mais me dói é que ele sabe o quanto essa celebração é importante para mim ― disse de repente, deixando-se cair no divã, com ar derrotado. Sua fúria havia se dissipado, dando lugar à aflição.

    Aglaya serviu um pouco mais de néctar e, lentamente, aproximou-se dela e ofereceu. A deusa aceitou e dedicou um sorriso triste a ambas enquanto devolvia o copo.

    ―Ele foi embora muito zangado ― acrescentou à beira das lágrimas e, de repente, levantou-se bufando como um touro bravo, como se sua fúria tivesse ressurgido das cinzas como uma fênix. -―Bem, eu não me importo, assim ele saberá quem eu sou... O que ele pensa que é? ― resmungou, começando a dar voltas novamente pela luxuosa sala. ― E ele vai voltar, eu sei que vai ― acrescentou, tentando não parecer preocupada, até sorriu, mais para animar a si mesma do que para ser vista por suas servas. ― Ele sempre faz isso... Eu sei muito bem como lidar com aquele grandalhão teimoso.

    De repente, seu sorriso se transformou em uma expressão cheia de malícia. Ela serviu um pouco de ambrosia e, suspirando, aproximou-se de suas sacerdotisas, que a aguardavam sentadas no amplo divã, em silêncio. Eufrósine foi a primeira a se atrever a falar.

    ―Você não teme que... que ele não faça isso? ― perguntou baixinho, temerosa de alimentar sua ira.

    ―Claro que não! ― exclamou, surpresa com sua pergunta. ― Hefesto é um homem, imortal, mas homem afinal. Um sorriso, um piscar de olhos... minha entrega absoluta em nosso leito e... Pelos raios de Zeus! Sou a deusa do amor. Se não fosse capaz de manter meu marido, não seria digna de ser reconhecida como tal.

    Então, ela caminhou até a penteadeira, procurando sua própria imagem no reflexo do espelho. Levantou a mão até o rosto e delineou a linha de sua maçã do rosto com as pontas dos dedos.

    ―Eu o atraí para mim com minha beleza ― pronunciou com voz suave, a meio caminho entre uma justificativa e um lamento. ― E transformei meu corpo na prisão em que o manterei cativo para sempre... para mim... meu ― recitou com paixão. ― No amor e na guerra, tudo vale, e essas são as minhas armas. Não me arrependo de usá-las, assim como vocês não devem se arrepender ― disse, virando-se para elas.

    ―Não somos tão bonitas como você, minha Deusa ― replicou Aglaya desanimada.

    Afrodite voltou à mesinha e pegou um pouco mais de ambrosia, após o que um sorriso amplo e radiante se desenhou em seu rosto.

    ―Não há mulher tão bonita quanto eu ― apontou com vaidade, e as três mulheres começaram a rir, embora em breve a expressão da divindade se tornasse séria. ― A lição de hoje, minhas meninas: não importa a quão bonita você seja, mas que não esqueça que é. A beleza conquista palácios, reinos, o Olimpo... perguntem a Hera ― brincou, provocando um risinho em suas pupilas. ― E vocês sabem por quê? Porque são governados por homens. E não há perdição maior para um macho do que uma fêmea que sabe que tem o poder de seduzi-lo.

    As jovens se olharam, lembrando da conversa que acabaram de ter nos jardins.

    ―E agora, gostaria de tomar um banho para relaxar um pouco ― indicou Afrodite, levando a mão à testa. ― A discussão com Hefesto me deu uma dor de cabeça.

    ―Daremos imediatamente o aviso às servas ― respondeu Aglaya, levantando-se ambas e fazendo uma reverência antes de sair.

    Saíram rapidamente do quarto, mas não haviam dado nem quatro passos quando Eufrósine segurou o braço de sua amiga, fazendo-a parar bruscamente.

    ―O que está acontecendo com você? ― perguntou Aglaya, se soltando.

    ―Ainda não me respondeu ― lembrou com um sorriso travesso, retomando ambos o caminho para a parte de trás da residência, onde estavam as servas.

    ―Preciso de mais informações sobre esse homem para decidir ― justificou-se ela.

    ―Já te disse que ele é bonito e jovem ― respondeu provocando-a, recebendo um olhar aniquilador de sua companheira. ― Está bem. Ele é um pastor.

    ―Um pastor? ― exclamou Aglaya, parando no meio do corredor. ― Você perdeu o juízo?

    ―O que teme? ― ela riu em troca. ― Você já ouviu Afrodite. Uma mulher bonita pode conquistar reis e deuses... O que é um insignificante pastor?

    Aglaya resmungou.

    ―Ou será que você não se considera tão bonita para fazer isso? ― insistiu com um tom incisivo.

    Eufrósine soltou uma gargalhada, e Aglaya arrumou seus cachos, sentindo-se entre a espada e a parede.

    ―Serão dois meses ― sentenciou finalmente. ― Você vai me substituir por dois meses.

    ―Isso será se você ganhar ― pontuou Eufrósine com suficiência. ― Porque, se você perder, será você quem fará minha guarda ― acrescentou com malícia.

    ―Eu não pretendo perder ― murmurou, apertando os dentes, voltando a se dirigir para a área dos servos.

    Aquele maldito pastor seria dela... de corpo e alma.

    Capítulo 2

    Na manhã seguinte, após as orações matinais, Aglaya retornou ao seu quarto e cuidou minuciosamente de sua aparência para seu encontro com o pastor, que ele desconhecia. Ela escolheu um de seus melhores quítons, feito de um tecido branco e vaporoso, que com um mínimo esforço revelava as curvas de seu corpo, e que se tornou ainda mais definido ao colocar o cinto. Amarrou a túnica em um único ombro com um broche dourado, deixando o decote oblíquo destacar a redondez de seus seios. Ela prendeu o cabelo para trás, mas deixando seus longos e claros cachos caírem em cascata sobre a nuca, e o adornou com uma tiara também dourada, da mesma tonalidade de suas sandálias. Para finalizar, aplicou algumas gotas de essência de flor de laranjeira no pescoço, abaixo da orelha, no ponto onde o pulso é mais notável, confiando que o calor de seu sangue potencializasse o aroma.

    Levantou-se da penteadeira e se olhou no espelho; estava pronta.

    Tentando passar despercebida, saiu da área murada e seguiu pelo bosque em direção ao riacho que nascia na montanha de Klenia e contornava a cidade de Corinto. Ao pé do riacho, em uma clareira, a correnteza se alargava até formar o que parecia ser uma lagoa, e de acordo com o que Eufrósine havia lhe dito, Teuthras, o pastor, se sentava por um tempo para descansar enquanto suas ovelhas bebiam.

    Aglaya tentou arrancar de sua amiga como ela sabia dos costumes daquele homem, mas ela se recusou categoricamente a responder, alegando que essa informação poderia dar pistas que a ajudassem a vencer a aposta.

    Um formigamento de antecipação percorria todo o seu corpo enquanto ela caminhava, perguntando-se o que encontraria. Eufrósine havia lhe garantido que ele era jovem e galante, e se não fosse assim, pelos deuses, os dois meses de vigília se tornariam um ano.

    De repente, enquanto contornava o riacho, ouviu sons ao longe, o balido das ovelhas, e soube que havia chegado ao seu destino. Parou e decidiu contornar a clareira, escondendo-se entre as árvores. Ela queria ver Teuthras, saber como ele era antes de ele perceber sua presença. Avançou um pouco mais. O riacho já havia se transformado em lagoa, e as ovelhas pastavam livremente na margem. Naquele mesmo local, próximo à margem, um grupo de pedras se erguia em um pequeno promontório. E ali ele estava.

    Uma exalação escapou da garganta de Aglaya, e ela se escondeu atrás de uma árvore, temerosa de ser descoberta. Com as costas apoiadas no tronco e uma mão no peito, tentou regular o ritmo de sua respiração, que se agitara repentinamente. Com certeza, Eufrosina havia sido parcimoniosa e injusta em sua descrição, pois galante não era um epíteto adequado para a beleza daquele homem, que poderia muito bem habitar o Olimpo.

    Sentado em uma pedra, ele desfrutava, com uma faca na mão, do fútil prazer de saborear uma laranja. Seu cabelo era de um estranho dourado acinzentado, bagunçado em suaves ondas, e ele usava barba, o que ressaltava suas características masculinas. Seu olhar estava perdido na lagoa, então ela só podia apreciar seu perfil; nariz reto, maçãs do rosto angulosas, lábios carnudos e convidativos, e um queixo forte que lhe conferia ainda mais encanto viril. Sua túnica curta e sem mangas deixava à mostra pernas torneadas cobertas com uma leve camada de pelos claros, e seus fortes e fibrosos braços estavam repletos de músculos arredondados que se contraíam e esticavam enquanto ele comia a laranja. Quem dera ser a fruta... Ela o viu colocar o último pedaço na boca e começar a lamber os dedos, o que fez Aglaya gemer quando um desejo ardente se revolveu em seu ventre. Definitivamente, não seria um sacrifício seduzi-lo, e não apenas se livraria de dois meses de vigília, mas também desfrutaria daquele corpo que se tornara uma recompensa muito apetecível.

    Ela havia chegado até ali sem um plano estabelecido, especialmente por não saber o que encontraria, mas, naquele momento, não teve dúvidas. Ela se afastou alguns passos, procurando uma árvore mais próxima da margem, e se desfez de seu quíton e sandálias, convencida de que valia a pena o tempo gasto para parecer bonita. Afinal, havia algo mais atraente para um homem do que o corpo nu de uma mulher?

    Então, ela se dirigiu à lagoa e começou a caminhar, adentrando-se em busca do local ideal para nadar e, acima de tudo, para se exibir diante dele. No entanto, disfarçadamente, lançava olhares de soslaio para o pastor, que permanecia impassível em seu trono de pedra. A água já começava a cobrir seus seios e seu plano continuava sendo infrutífero, pois aquele homem não parecia se abalar.

    Aglaya decidiu

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