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Literatura digital para crianças e jovens: teoria e prática da experiência estética
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Literatura digital para crianças e jovens: teoria e prática da experiência estética
E-book357 páginas4 horas

Literatura digital para crianças e jovens: teoria e prática da experiência estética

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Sobre este e-book

Em "Literatura digital para crianças e jovens: teoria e prática da experiência estética", um grupo diverso e importante de estudiosos/as se debruça sobre a edição de livros digitais (nativamente digitais) para crianças e jovens, mostrando ângulos diferentes e igualmente fundamentais desse objeto de interesse: as obras, a edição dessas obras, a leitura, as práticas da leitura, a recepção, a reflexão, a teorização. Tudo isso partindo de uma premissa que faz falta em muitos trabalhos científicos na área: a definição de livro não está posta. Mais que objetos particulares, os livros são, cada vez mais, um espectro de possibilidades; e os livros nativamente ou genuinamente digitais costumam ser deixados de lado. Mas não por este conjunto de pesquisadores. Eles estão ocupados de fazer-pensando, de compreender acertos e erros, de entender como o livro digital literário para crianças e jovens se insere no circuito, considerando uma visão mais integrada e sistêmica do que sejam os livros e suas materialidades/materializações.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de fev. de 2024
ISBN9788528307269
Literatura digital para crianças e jovens: teoria e prática da experiência estética

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    Pré-visualização do livro

    Literatura digital para crianças e jovens - Aline Frederico

    Capa do livro

    © 2024. Aline Frederico e Elizabeth Cardoso. Foi feito o depósito legal.

    Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP

    Literatura digital para crianças e jovens : teoria e prática da experiência estética / Aline Frederico, Elizabeth Cardoso, orgs. - São Paulo : Educ, 2024.

        Bibliografia

        1. Recurso on-line: ePub

        ISBN 978-85-283-0726-9

    Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.

    Acesso restrito: http://pucsp.br/educ

    Disponível no formato impresso: Literatura digital para crianças e jovens : teoria e prática da experiência estética / Aline Frederico, Elizabeth Cardoso, orgs. - São Paulo : Educ, 2024. ISBN 978-85-283-0712-2.

    1. Literatura infantojuvenil - Livros eletrônicos. 2. Editoração eletrônica. 3. Livros e leitura - Inovações tecnológicas. I. Frederico, Aline. II. Cardoso, Elizabeth.

    CDD CDD 028.5

    070.573

    Bibliotecária: Carmen Prates Valls - CRB 8a. 556

    EDUC – Editora da PUC-SP

    Direção

    Thiago Pacheco Ferreira

    Produção Editorial

    Sonia Montone

    Revisão

    Maria Valéria Diniz

    Editoração Eletrônica

    Waldir Alves

    Gabriel Moraes

    Capa

    Gabriel Moraes

    Imagem: Elen11 por iStock

    Administração e Vendas

    Ronaldo Decicino

    Produção do e-book

    Waldir Alves

    Revisão técnica do e-book

    Gabriel Moraes

    Rua Monte Alegre, 984 – sala S16

    CEP 05014-901 – São Paulo – SP

    Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558

    E-mail: educ@pucsp.br – Site: www.pucsp.br/educ

    Frontispício

    Digital, com afeto

    Ana Elisa Ribeiro¹

    Ao manusear este livro, o leitor e a leitora terão já alguma informação sobre o tema que ele enfrenta, assim como quem são os autores e as autoras dos capítulos, como o material está organizado (em seções, capítulos, dicas), quantas páginas ele tem, em que referências teóricas os textos se baseiam, assim como dados da própria materialidade: volume, cores, dimensões, etc. Na Apresentação, as organizadoras – Aline Frederico e Elizabeth Cardoso – oferecem uma prévia dos assuntos tratados e do conjunto de pesquisadores/as, professores/as e profissionais aqui reunidos/as. Desse modo, uma parte do que eu poderia dizer ao prefaciar este Literatura digital para crianças e jovens já está feita. O subtítulo teoria e prática da experiência estética ressalta ainda outro pedaço importante do que precisamos saber sobre o que esta obra propõe e oferece.

    O que quero abordar então são aspectos deste livro que o tornam tão relevante, necessário e especial, num cenário de investigação e produção em edição e literatura, no Brasil e além. Não estamos isolados em nossos estudos e práticas; estamos em diálogo com o mundo, produzindo e trocando ideias, aprendendo e ensinando sobre os livros, a leitura e as tecnologias. Ao iniciar este prefácio, não por acaso escolhi o verbo enfrentar para me referir ao tema geral deste livro. Isso porque ao tratar de tecnologias digitais, em especial no campo da edição literária, território do impresso há séculos, precisamos nos reposicionar, deslizar, deslocar, abrir nossos olhares, nos despir de alguns preconceitos ou de concepções preestabelecidas, encarar possibilidades e práticas ainda pouco conhecidas, assim como reações surpreendentes. Também escolhi, logo de início, a palavra manusear, que tem em sua raiz um gesto com as mãos, o envolvimento do corpo na interação com o livro, relação sempre necessária, fossem as obras enormes códices ou pocket books em liquidação. O gesto, o corpo e as mãos continuam fazendo parte da cena, agora mais centrada no toque ou num deslizar da polpa dos dedos por uma tela. Talvez se pudesse escolher ao manejar este livro, ao tocar este livro, ao tomar este livro, mas, para o caso específico dos digitais, talvez seja pertinente preferir: ao clicar, ao abrir, ao conectar, ao fazer login ou ao acessar. De todo modo, vamos experimentar uma das possibilidades atuais de ler, agora com mais inputs e outras dinâmicas.

    Nesta obra, um grupo diverso e importante de estudiosos/as se debruça sobre a edição de livros digitais (nativamente digitais) para crianças e jovens, mostrando ângulos diferentes e igualmente fundamentais desse objeto de interesse: as obras, a edição dessas obras, a leitura, as práticas da leitura, a recepção, a reflexão, a teorização. Tudo isso partindo de uma premissa que faz falta em muitos trabalhos científicos na área: a definição de livro não está posta. Mais que objetos particulares, os livros são, cada vez mais, um espectro de possibilidades; e os livros nativamente ou genuinamente digitais costumam ser deixados de lado. Mas não por este conjunto de pesquisadores/as que são, entre outras coisas, autores/as, leitores/as, experimentadores/as, editores/as e professores/as. Estão ocupados de fazer-pensando, de compreender acertos e erros, de entender como o livro digital literário para crianças e jovens se insere no circuito, considerando uma visão mais integrada e sistêmica do que sejam os livros e suas materialidades/materializações. Alegremente, vejo explicitada neste Literatura digital para crianças e jovens a relação entre livro e multimodalidade, articulação que ainda carece de compreensão e proposição (é o que vimos fazendo). É certo que a semiótica social tem encontrado terreno fértil na Linguística Aplicada e na Educação, em especial em estudos sobre textos e leituras, mas não encontra o mesmo esteio nos estudos de edição.

    Se há um subterritório da produção editorial ousado e brincalhão, este é justamente a edição para crianças, assim como na poesia. É ali onde as engenhocas surgem, a invenção se desavergonha, a criação se realiza e o erro não tem peso de tragédia. É possível errar e integrar o erro à dança, levantar-se desajeitadamente e aprender. Nesta seara, e como mostra este conjunto de textos, as conexões com a educação, a alfabetização, a formação leitora, a escrita, a arte, o design, a computação... andam um pouco juntos, um pouco de mãos dadas, produzindo livros que tanto evanescem quanto se tornam parte das pessoas que os leram – como toda boa história, esteja ela onde for.

    É importante mencionar que não se trata de uma obra apologista das tecnologias digitais ou acrítica em relação ao acesso às redes, às questões sociais e educacionais interpostas, incontornáveis num país desigual como o Brasil. Os capítulos deste livro também abordam situações e questões importantes para pensarmos e planejarmos o acesso aos livros, à leitura, à educação e a uma vida digna, sem deixar de lado a potência de livros digitais em relação à sua capilaridade e alcance, por exemplo.

    Com a licença de Cecília Meireles, não se fala aqui em isto ou aquilo, mas em isto e aquilo, numa ciranda de opções, possibilidades e experiências que certamente enriquece e diversifica as cenas da leitura, da escrita e da investigação. Que este seja apenas o volume um de uma série de obras relevantes, necessárias e corajosas.


    1 Professora titular do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). Pesquisadora – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Leitora, escritora e editora.

    Introdução

    A literatura infantil e juvenil digital é uma manifestação artística e cultural que parte da nossa tradição literária da literatura infantil, em especial por sua manifestação no livro ilustrado contemporâneo, e converge com outros sistemas, como o do audiovisual, dos games e da música. Apropria-se das possibilidades do meio digital para promover novas experiências estéticas e poéticas para crianças e jovens. Apesar da atualidade dessas obras e do fascínio que elas costumam promover para quem as lê pela primeira vez, o desconhecimento e a desinformação sobre a literatura infantil e juvenil digital impedem a circulação desse objeto cultural que, quando de qualidade, amplia a experiência estética e o repertório literário de crianças e jovens, além de poder auxiliar sobremaneira o mediador em sua rotina de formação de leitores literários, tanto no lar quanto na escola.

    Definido por promover uma experiência interativa e participativa do leitor e por agregar múltiplas linguagens – verbal escrita e falada, visual estática e em movimento, som por meio de efeitos e da música e também a gestualidade do leitor –, o aplicativo literário difere do livro eletrônico tradicional e do PDF e passa a se constituir como possibilidade artística em si mesma, que não pode ser avaliada segundo os mesmos parâmetros usados na avaliação da leitura impressa, porque são objetos distintos. Por isso mesmo, o aplicativo literário atrai as crianças e os jovens do século XXI, aqueles que nascem no tempo das telas dos smartphones.

    Muitos, por vezes por desconhecimento, preconceito ou uma leitura superficial, resistem às possibilidades da literatura digital, argumentando que as telas afastam a criança do livro impresso, do texto verbal, da leitura. Não levam em conta, no entanto, que as telas também podem ser espaço para a leitura profunda e a fruição literária. Assim, cabe esclarecer que não acreditamos em acervos e mediadores que se restringem a apenas uma modalidade de dispositivos de leitura, mas, sim, nos que constroem sua biblioteca com diversidade de temas, títulos, autores, artistas e materiais. Ou seja, não se trata de impresso versus digital, mas de impresso e de digital e de tudo o mais que tiver qualidade estética e ética para contribuir para a formação do leitor literário.

    Com isso no horizonte, este livro, pioneiro no contexto brasileiro, tem como objetivo desmitificar visões limitadas acerca do que é ler e do que é literatura no século XXI, muitas vezes preconceituosas em relação à literatura digital, e aproximar os gestores da educação e os mediadores de leitura – pais, professores, bibliotecários, entre outros – da literatura digital para crianças e jovens, com principal atenção, como se verá nos capítulos a seguir, para os aplicativos literários. Acreditamos que essa aproximação se dá, principalmente, por meio de definições básicas: o que é esse objeto, quais as linguagens que o compõem, quem o produz e como são idealizados por seus criadores e editores, para que servem, como mediar sua leitura. Esses aspectos perpassam todos os capítulos com maior ou menor ênfase, mas cada um assume uma perspectiva diferente, construindo um rico acervo conceitual, prático e repertorial em torno da literatura infantil digital. Sendo assim, a premissa que organiza o livro é auxiliar professores, bibliotecários, pais e cuidadores na seleção, oferta e mediação da leitura de aplicativos literários.

    O livro também será uma fonte importante para aqueles que iniciam suas pesquisas na literatura infantil e juvenil digital, pois as ideias aqui apresentadas são sempre fundamentadas com as principais teorias e autores refletindo hoje, nacional e internacionalmente, sobre esse fascinante objeto e sobre a experiência literária das crianças no encontro com essas obras.

    O livro está dividido em três partes. A primeira, voltada para o objeto da literatura digital, suas linguagens e potenciais para construção de sentidos. A segunda, voltada para leitura e recepção dessas obras. A terceira, refletindo sobre sua produção. Os capítulos são de autoria dos mais renomados pesquisadores da literatura infantil digital no Brasil, sendo um grande feito poder reuni-los em um único volume, construindo um percurso coerente para pensar todas as facetas da literatura infantil e juvenil digital hoje.

    A primeira parte busca trazer subsídios essenciais para a compreensão da literatura infantil e juvenil digital enquanto objeto estético na atualidade, trazendo, além de conceitos básicos e um mapa do cenário atual, reflexões aprofundadas sobre a interatividade, o som e o design dessas obras. Esses são aspectos dessa modalidade literária que costumam desafiar e até mesmo assustar mediadores, pois são características comumente não presentes na literatura impressa.

    O livro abre com o capítulo A literatura infantil e juvenil digital hoje: definições, conceitos e formatos, de Aline Frederico, que visa teorizar os aspectos fundamentais da literatura infantil e juvenil digital, trazendo definições, questões terminológicas, apresentando os diferentes formatos, gêneros e suas principais características. Apresenta, ainda, os principais prêmios e canais da crítica nacional e internacional, por meio dos quais se pode conhecer a produção contemporânea. O capítulo traz, portanto, os conceitos essenciais que todo mediador ou pesquisador deve conhecer para trabalhar com a literatura infantil e juvenil digital.

    Já o segundo capítulo, de Edgar Roberto Kirchof, intitulado Interatividade e literatura digital para crianças e jovens, busca desconstruir um dos conceitos-chave dessa literatura: a interatividade. Compreender o que é a interatividade e o que ela possibilita à literatura digital é um passo fundamental para sua compreensão. Conforme o autor, a interatividade agrega novo potencial estético ao texto literário, mas também carrega consigo limitações que devem ser problematizadas. O capítulo faz importantes percursos históricos sobre a origem dos conceitos de interatividade e de interface. É recheado de exemplos de algumas das obras mais marcantes da literatura infantil e juvenil digital, ilustrando as diversas maneiras como a interatividade pode ser utilizada nessas obras e como contribui para o processo de significação. O capítulo termina tratando de diferentes estruturas de navegação e seus impactos nessas narrativas interativas.

    O capítulo Som e interatividade na literatura infantil digital, de Giselly Lima de Moraes, traz subsídios teóricos importantes para compreender e analisar os elementos sonoros da literatura infantil digital, fundamentais na construção desses textos multimodais. Para muitos mediadores – e mesmo pesquisadores –, compreender como o som propõe significados é um desafio, pois a formação em áreas como Literatura e Educação muitas vezes não aborda essa linguagem. O texto destaca, com muitos exemplos, as diferentes formas como a música, a voz – por meio das narrações – e os efeitos sonoros contribuem para a construção de diferentes aspectos da narrativa, buscando determinados efeitos no leitor e, ainda, como se relacionam com as possibilidades interativas das obras e a participação do leitor. Conclui ressaltando a importância do trabalho com a camada sonora das obras na mediação da leitura literária digital.

    A questão da interatividade é tratada também pelo ponto de vista do design no capítulo O design de interação no livro-aplicativo infantil: interfaces multimodais e novas oportunidades interativas com a literatura, de Douglas Menegazzi, que busca dar ao leitor subsídios para avaliar a qualidade dos recursos interativos e das interfaces de aplicativos literários para a seleção das melhores obras de literatura infantil digital. A partir de uma revisão bibliográfica de fôlego e pelo viés dos estudos do design de interação, o capítulo define o conceito de hotspot como elemento-chave do design de interação dos aplicativos literários. Em seguida, traz sete aspectos cruciais desse design, dando subsídios teóricos e exemplos práticos de como se manifestam. Também traz, a cada tópico, perguntas que o mediador deve se fazer nesse processo de avaliação, tornando-o simples e acessível mesmo àqueles pouco familiarizados com a literatura digital.

    A segunda parte do livro está dedicada a compreender a mediação e a leitura dos aplicativos digitais no ambiente escolar e familiar, abarcando o ponto de vista dos professores e o das crianças. Questões como autonomia de leitura, tempo de fruição, estratégias de seleção, interação entre o corpo do leitor e o aplicativo percorrem os quatro capítulos que, além dos relatos das pesquisas de campo, trazem levantamentos e discussões das mais recentes e relevantes teorias sobre a leitura digital e análises de aplicativos que funcionam também como indicação de leitura.

    O capítulo Leitura e mediação do aplicativo literário na escola e a pandemia da covid-19: fotografia do momento e possibilidades do futuro, de Elizabeth Cardoso, traz uma reflexão sobre a (não) presença e a mediação da literatura infantil digital na sala de aula, em especial nas escolas da cidade de São Paulo. A pesquisa questiona como o contexto pandêmico vivido durante os anos de 2020 e 2021 interferiu nas estratégias da formação do leitor e na recepção do aplicativo literário nas escolas. Para tanto, apresenta breve panorama sobre o acesso à internet e a tecnologias, retoma a história da implantação da tecnologia nas escolas de São Paulo e traz o relato de professores entrevistados durante a pesquisa, com foco na sua relação com a literatura infantil digital antes e durante a pandemia da covid-19. Destaca, ainda, as potências do aplicativo literário para a formação do leitor e as possibilidades de mediação na escola, por meio da análise do aplicativo A grande história de um pequeno traço, de Serge Bloch (2016).

    Rafaela Vilela, no capítulo Literatura infantil digital: leitura e criação na escola, apresenta parte dos resultados de sua pesquisa sobre como as crianças pequenas leem aplicativos literários no espaço coletivo da escola e quais as sensibilidades presentes na leitura partilhada. Para responder a essas questões foram realizadas ações propositivas a partir da leitura de aplicativos literários em uma escola pública federal na cidade do Rio de Janeiro, com um grupo de crianças de 5 e 6 anos. A pesquisa apontou uma leitura descontínua que envolve o toque na tela e que inclui ler, ver, jogar, criar, ler de novo, e buscou discutir as possibilidades de participação e autoria das crianças na leitura dos aplicativos Chomp, de Christoph Niemann (2016) e Sua história maluquinha, de Ziraldo (2014).

    O capítulo "Tocar, deslizar e zapear: a leitura do livro-aplicativo Mini Zoo por crianças no contexto familiar", de Roberta Gerling Moro, apresenta um estudo de caso a partir das práticas de leitura literária digital com crianças entre 3 e 7 anos de idade no contexto familiar na cidade de Osório/RS. O trabalho é resultado de uma pesquisa focada em estratégias de leitura empregadas pelas crianças durante a interação com os recursos tecnológicos, artísticos e literários do livro-aplicativo Mini Zoo, do autor e ilustrador Christoph Niemann (2013). O destaque do capítulo é o conjunto de apontamentos sobre o comportamento leitor diante do aplicativo literário. Tal mapeamento facilita a intervenção do mediador e, consequentemente, favorece a leitura.

    Já o capítulo A relação entre o perfil leitor de crianças e os modos de ler literatura infantil digital, de Mônica Daisy Vieira Araújo, ajuda-nos a compreender que cada criança tem uma experiência diferenciada como leitora em ambientes digitais e como isso influencia as práticas de leitura, mais uma vez permitindo aos mediadores auxiliá-las na criação de estratégias leitoras que atendam suas especificidades e possibilitem uma exploração mais competente dessas obras. A pesquisa foi realizada com crianças entre 8 e 10 anos e suas micro-habilidades de leitura a partir do conto O rei do rio de ouro, de John Ruskin, criado em versão digital pela StoryMax.

    A terceira parte do livro busca trazer as vozes de quem produz a literatura infantil digital no Brasil, vozes que são fundamentais para uma completa apreciação desse objeto. Nesse conjunto de reflexões, são ressaltadas questões como a interdisciplinaridade do trabalho criativo e os desafios e riscos envolvidos na aposta por um formato relativamente novo, ainda desconhecido pelo grande público e que depende de sistemas impostos por terceiros: as grandes empresas de tecnologia.

    Essa seção abre com o capítulo Repensando a leitura literária em suporte digital: um relato das inovações criadas pela StoryMax a partir de reflexões e pesquisas acadêmicas, de Samira Almeida. No texto, a editora e fundadora da premiada Storymax, uma das pioneiras na produção de livros-aplicativos no país, faz importante registro de sua história e suas publicações. Mostra, a partir do modelo Substitution, Augmentation, Modification, and Redefinition (SAMR), de Ruben Puentedura, o desenvolvimento conceitual progressivo das obras da publicadora em direção a uma proposta de redefinição do processo de leitura, a partir das possibilidades promovidas pelas mídias digitais.

    Segue o relato de Isabel Malzoni, no capítulo "Os recursos digitais e sua influência nas escolhas editoriais: um estudo de caso do app Amal e a viagem mais importante da sua vida". Aqui, a editora e fundadora da também premiada Editora Caixote realiza um estudo de caso do desenvolvimento de seu aplicativo literário Amal e a viagem mais importante da sua vida, voltado ao público juvenil e publicado em 2019. O estudo indica o racional por trás das principais escolhas editoriais realizadas ao longo do desenvolvimento da obra, que buscou uma experiência de leitura que explorasse a potencialidade dos recursos digitais e se diferenciasse daquela promovida pelo livro impresso, ao mesmo tempo que optou por formato e recursos que pudessem alcançar o maior número de leitores possível. Nesse percurso, fica ressaltado o trabalho interdisciplinar de criação entre editora, autora, ilustrador e compositor musical.

    O livro encerra com o capítulo A construção da materialidade digital e o problema da evanescência nos livros-aplicativos, de Jaqueline Conte. Ele amarra a última parte do livro à primeira, ao trazer outro conceito importante na discussão da literatura digital: sua materialidade. Inicia com uma aprofundada reflexão teórica sobre a materialidade e o conceito de evanescência, ou a possibilidade do desaparecimento, sem deixar traços, de obras em formato digital. A partir deste referencial, traz depoimentos de autores, editores e desenvolvedores de obras de literatura infantil digital brasileira que já não se encontram disponíveis comercialmente, discutindo as dificuldades de monetização dessa produção e de sua manutenção em face das constantes atualizações dos sistemas operacionais e das mudanças tecnológicas.

    Ao longo dos capítulos, você vai encontrar os boxes Conheça a literatura digital com obras de literatura infantil e juvenil digital de qualidade, informações básicas sobre cada título e uma sinopse. Há, também, os boxes Literatura digital tem história que trazem obras importantes que já não estão mais disponíveis. Ao fim da leitura, portanto, você terá um repertório básico de obras essenciais – disponíveis e históricas –, podendo iniciar suas próprias explorações.

    É notável, no decorrer do livro, a maior ênfase na produção voltada à infância. Isso se deve, em grande parte, porque houve maior volume de produção para essa audiência. Crianças menores tinham grande dificuldade em manipular obras digitais em computadores laptop e desktop, que exigem o uso do mouse, mas ganharam uma interface de fácil manipulação com o surgimento dos dispositivos móveis de tela sensível ao toque – smartphones e tablets. Por isso, foram alvo de muitas das produções na última década. Mas a literatura juvenil também apresenta grande potencial e um conjunto de obras de qualidade, como veremos especialmente nos relatos das editoras Samira Almeida e Isabel Malzoni.

    Esperamos que este livro revele toda a potência literária da literatura infantil e juvenil digital e seja base para futuras pesquisas e para a integração dessa literatura na vida de crianças e jovens, por meio da mediação de pais, cuidadores, professores, bibliotecários, entre outros, que, com o conteúdo aqui apresentado, estarão bem informados e preparados em seu trabalho fundamental de formação de leitores.

    Aline Frederico e Elizabeth Cardoso

    Sumário

    Parte I

    A textualidade da literatura infantil e juvenil digital

    Capítulo 1

    A literatura infantil e juvenil digital hoje: definições, conceitos e formatos

    Aline Frederico

    Capítulo 2

    Interatividade e literatura digital para crianças e jovens

    Edgar Roberto Kirchof

    Capítulo 3

    Som e interatividade na literatura infantil digital

    Giselly Lima de Moraes

    Capítulo 4

    O design de interação no livro-aplicativo infantil: interfaces multimodais e novas oportunidades interativas com a literatura

    Douglas Menegazzi

    Parte II

    A leitura e a mediação da literatura infantil e juvenil digital em casa e na escola

    Capítulo 5

    Leitura e mediação do aplicativo literário na escola e a pandemia da covid-19: fotografia do momento e possibilidades do futuro

    Elizabeth Cardoso

    Capítulo 6

    Literatura infantil digital: leitura e criação na escola

    Rafaela Vilela

    Capítulo 7

    Tocar, deslizar e zapear: a leitura do livro-aplicativo Mini Zoo por crianças no contexto familiar

    Roberta Gerling Moro

    Capítulo 8

    A relação entre o perfil leitor de crianças e os modos de ler literatura infantil digital

    Mônica Daisy Vieira Araújo

    Parte III

    Reflexões sobre a produção e a permanência da literatura infantil e juvenil digital

    Capítulo 9

    Repensando a leitura literária em suporte digital: um relato das inovações criadas pela StoryMax a partir de reflexões e pesquisas acadêmicas

    Samira Almeida

    Capítulo 10

    Os recursos digitais e sua influência nas escolhas editoriais: um estudo de caso do app Amal e a viagem mais importante da sua vida

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