Lembranças cinematográficas
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Sobre este e-book
Misto de humor e tragédia, um casal e dois filhos retratam cenas que poderão se fixar em nossas memórias.
Ao iniciar a leitura, um projetor será ligado, e estaremos diante de uma tela preenchida com vidas.
Cinéfilos ou não, estão convidados para a sessão.
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Lembranças cinematográficas - Armando Diorio
Armando Diorio
Lembranças cinematográficas
Estou num pelourinho sem uma linda cigana para matar a minha sede e clamo por um santuário que nos proteja.
Vim para esse Condomínio (que a Morte visita com frequência) em 1984; eu já era casado com Sandra e tinha Ana Cláudia e Marcelo.
Troco ideias com meu PC sobre o futuro que me deixa assustado; ele me confessa que consegue ler meus lábios e que não gostou do que eu disse na semana passada.
Ontem pairou um baixo astral: um morador caiu no poço do elevador e meu relógio (que nunca parou), silenciou.
A polícia foi chamada há duas semanas: desconfiam que uma veterana atriz mora numa mansão a três quarteirões do meu prédio.
Seus companheiros são um macaco e mordomo; tiveram de prendê-la ao encontrarem um corpo boiando na bela piscina.
Meu vizinho de andar morreu de cirrose; escondia as garrafas no parapeito da janela do sexto andar.
Proibi Sandra de aceitar da moradora do 83A, vitaminas: pesquisei na internet os ingredientes e acho que podem fazer mal; o broche preso a uma corrente eu joguei no lixo: exalava mau cheiro.
Meu andar tem quatro apartamentos.
O 73 parece amaldiçoado: moradores não permanecem nele por mais de 8 meses.
É triste perceber a morte anunciada e estampada no corpo e olhar de pessoas; o cineasta de origem polonesa teria muita inspiração se morasse aqui.
Tenho pesadelos com centenas de pedras rolando atrás de mim: acordo quando uma delas me acerta.
Não comemos em restaurantes em que a esposa do dono o traiu: ele pode pode ser servido bem assado.
No assalto ao banco daqui de perto, o assaltante conseguiu me deixar sensisibilizado: queria dinheiro para pagar a cirurgia de um amigo transexual.
Já fui mais gordo e cheguei a passar mal num restaurante.
Só não explodi porque recusei um chocolatinho.
Quando tinha 21 anos (acabo de completar 66), pedi meu dinheiro de volta quando num show de strip-tease, a estonteante mulher retirou apenas a luva.
Eu e Sandra já bebemos muito, mas quando recebíamos visita, não costumávamos assustá-las com armas que se transformam em guarda-chuva.
A turma de motoqueiros (todos com jaquetas pretas) desapareceu do meu bairro.
Quando tive graves crises e trantornos de bipolaridade, minha família quis me internar (minha mãe chegou a sublocar meu quarto), mas acho que tive mais sorte do que Alex.
Na faxina que fiz no apartamento, resolvi queimar alguns livros (graduei o maçarico na temperatura Fahrenheit 451).
Quase consegui decorar um dos livros, mas só consigo chegar até a página 68.
Não foi a vizinha que me faz vitaminas que indicou o obstetra que