Senhor De Si Mesmo
De Odair Comin
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Senhor De Si Mesmo - Odair Comin
Senhor de Si Mesmo
Um guia para se conhecer melhor e alcançar o domínio de si mesmo.
Odair Comin
LinhaDados Bibliográficos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Senhor de Si Mesmo | Odair Comin.
ISBN 9781660111565
Copyright © 2014-2024 by Odair Comin
O conteúdo desta obra é da responsabilidade do autor, detentor do Direito de Autor. Proibida a venda e reprodução parcial ou total sem autorização.
Sobre o Autor
Odair Comin | Psicólogo Clínico há mais de 20 anos, com foco em Hipnoterapia e Meditação Terapêutica. Casado, pai de duas filhas e autor de diversos livros. É criador do Canal no Youtube Medditus Brasil e também criador da plataforma Medditus PRO | Meditação Terapêutica. Tem seus estudos focados em Psicologia, Hipnose, Meditação, Filosofia, PNL e Neurociência.
Dedicado à
minha esposa Vanessa e
minhas filhas Mariana e Rafaela.
Sumário
01. | A Origem das Virtudes
02. | Pensamento, Sentimento, Palavra e Ação
03. | Reflexões Sobre o Dever
04. | A Razão
05. | As Virtudes na Formação Humana
06. | A Polidez
07. | A Coragem
08. | A Justiça
09. | A Tranquilidade
10. | A Prudência
11. | A Tolerância
12. | A Sinceridade
13. | A Gratidão
14. | A Humildade
15. | A Generosidade
16. | A Compaixão
17. | O Perdão
18. | A Temperança
19. | O Humor
20. | O Cultivo das Virtudes
"Deves tornar-te senhor de ti mesmo, senhor também
de tuas próprias virtudes. Antes elas eram teus senhores;
Mas devem ser apenas teus instrumentos,
junto com outros instrumentos.
Deves adquirir poder sobre o teu pró e o teu contra.
Aprender a desatá-los e a ligá-los de novo,
segundo teu objetivo mais nobre".
Friedrich Nietzsche
Prefácio
L
i o livro de Odair por motivos absolutamente egocêntricos. Ele é meu terapeuta e fiquei curioso em saber um pouco mais sobre a cabeça dele (para agradá-lo mais facilmente e ser retribuído com sua aprovação? Para encontrar defeitos que justificassem que eu fugisse da terapia de modo menos culpado?). No início, fiquei preocupado ao entender a natureza do trabalho: livros de autoajuda normalmente me deixam com pé atrás. Talvez porque carregue da minha distante adolescência o pouco gosto para ouvir conselhos, especialmente por escrito. Talvez porque não me considere a pessoa mais capaz de ajudar a mim mesmo, pelo menos com questões que carrego há tantos anos, apesar desse ser o sentido de qualquer terapia psicológica. Sou daquelas pessoas que se houvesse pontuação negativa, como no trânsito, para comportamentos neuróticos e erros repetidos, já teria tido minha carteira de identidade cassada.
Só que Odair me surpreendeu. O livro foi ficando interessante – mesmo sem se reportar diretamente ao que considero serem os interesses de meu próprio umbigo.
Virtude é uma palavra coberta por uma camada de naftalina (para os jovens, antigo fungicida que vovós colocavam nas gavetas de roupas para espantar traças, desaparecidos da vida cotidiana como pés-de-moleque e dinossauros, seus mais ou menos contemporâneos). Palavra antiga, com jeito de conceito mais velho ainda. Mas o texto foi colocando luz nova sobre palavras que eu considerava conhecidíssimas, como se Odiar portasse uma lente de aumento que nos permite conhecer significados inesperados em termos que usamos sem menor reflexão, como móveis e utensílios de nosso vocabulário.
Assim, palavras como honestidade, prudência e temperança, que nos soam velhas conhecidas, vão sendo esmiuçadas e se revelam muito mais atuais e interessantes, como se de repente olhássemos para uma tia simpática e boa de cozinha que surpreendemos num momento de inesperada beleza e até certa sensualidade.
O cheiro de naftalina – que estava em minha memória e não no livro – vem da noção básica, na infância, que virtudes são boas e vícios são maus. Que virtudes são boas amigas que podem nos acompanhar na rua sem nos provocar vergonha, enquanto que vícios devem ser trancados no quarto mais remoto da casa e, se possível, mantidos em segredo. O livro esmiúça o sentido de cada uma das virtudes, explicando como elas de fato nos ajudam não só a manter uma boa imagem pública, mas como nos aproximam de uma vida mais madura e consequentemente mais fácil, mais tolerante. Mas elas não são apenas as irmãs boazinhas dos vícios malvados e sim parte de uma contradição com a qual convivemos todos os dias de nossa vida.
Entendendo melhor esse relacionamento mais complicado que um mero combate entre o bem e o mal diário dentro de minha cabeça, percebi que vou me equilibrando entre virtudes e vícios que escolho, tolero ou até mesmo admiro. E que talvez não deva temer perder minha carteira de identidade por excesso de multas morais ou psicológicas. Afinal, até alguns de meus erros podem ser, em algumas situações, na verdade meus acertos. Que o ímpeto e a precipitação um dia nos levam a injustiças, mas em outros a vitórias. Que a busca das virtudes não é uma questão de moral, mas sim de amadurecimento. E que a virtude não pode ser confundida com a ausência de paixão.
O verdadeiro equilíbrio possivelmente é a convivência, complicada mas também agradável, da virtude e do vício, da razão e da paixão, do egoísmo e da generosidade. Pelo menos, é o que diz Shakespeare em suas peças tão sábias sobre as forças e as fragilidades que compõem o humano.
Não sei quanto a parte da auto, mas a parte da ajuda funcionou legal.
Carlos Lombardi Escritor e Novelista
Preâmbulo
A
Filosofia permeia o conhecimento e o desenvolvimento humano há milênios. Para Epicuro ela é uma atividade que, por meio de discursos e raciocínios, nos proporciona uma vida feliz. E essa é nossa meta. Desde os primeiros filósofos, elucubrações, críticas, questionamentos, perguntas, novos princípios e novos conteúdos são instaurados por mentes que pensam sobre a formação do humano. Os pensadores têm muito a nos ensinar, e com eles podemos aprender o que por vezes não aprendemos na escola, na família, na mídia ou na religião. Podem nos ensinar os conteúdos do espírito humano, enquanto pensamento puro, lúcido e apurado. Com tais preceitos, podemos olhar com mais clareza para o passado, construir o presente, e dar novas possibilidades ao futuro.
Aos poucos, a Filosofia ganha destaque e compreensão. Mesmo sendo a mãe
de todas as ciências, nem sempre é reconhecida como tal, por vezes é esquecida e desvalorizada. Muito do que já foi dito, continua tão atual quanto este exato segundo. Os diferentes questionamentos filosóficos, seus conselhos
, o raio X que se faz do espírito humano, a identificação e desenvolvimento de virtudes, além de como aplicá-las no dia-a-dia. O estabelecimento de leis, os modelos políticos e administrativos, o papel do indivíduo e do cidadão, os conceitos éticos e morais, a definição dos múltiplos sentimentos humanos e a que esses sentimentos podem nos levar. Em tudo isso a Filosofia está presente.
Que conceitos existem em cada palavra usada na comunicação entre as pessoas? De quais princípios cada um parte para pensar e agir de determinada forma? Como o ser humano age frente a seus conflitos? Como se chega a determinadas conclusões? Como o homem escolhe em que e em quem acreditar? No que consiste a realidade em que vivemos? Como lhes são instauradas determinadas crenças, percebidas ou não? Como cada um absorve os conhecimentos e os utiliza? Como o ser humano lida com suas angústias cotidianas? Estas, entre outras, são muitas das perguntas das quais buscamos respostas.
Quais são os seus questionamentos? Esta é uma jornada para espíritos livres, e que desejam tornar-se senhores de si mesmos...
A Origem das Virtudes
"As virtudes funcionam como uma perfeita engrenagem.
Para assim chamá-las, elas precisam ser justas,
verdadeiras, corajosas, prudentes...."
Odair Comin
É
razoável pensar que a origem das virtudes, para o mundo ocidental, tenha seu berço na Antiga Grécia, mais precisamente com Homero e toda mitologia contida nos escritos da «Odisséia e
Ilíada". Desta forma, elas se originaram numa cultura onde o indivíduo é talhado para ser cidadão. Portanto, as virtudes se dirigem basicamente do eu para o outro, sem contudo, esquecer de si. Na medida que se estabelece o que é o certo, ou o bem, tudo o que foge deste centro, deste alvo, é o mau, é vício. Inicialmente vemos as virtudes nos heróis, nos grandes homens, nos nobres. Isso porque tais personagem são para os demais inspiração. Desta forma, nos servem de referência, nos inspiramos, queremos copiá-los, queremos ter alguma semelhança com eles. Com isso acabamos por praticar ações virtuosas esperando o reconhecimento, o aplauso, a identificação.
Nota-se que as leis, a moral, a ética, o conhecimento, os conceitos e a própria história são estabelecidas pelos nobres, pelos burgueses. Não foi diferente com as virtudes. Para a massa de pessoas que não pertence a casta dominante, resta seguir o que já foi estabelecido.
Contudo, não é de todo ruim, a virtude se faz necessária, na medida que vivemos em sociedade, quando convivemos com o outro, e mesmo o autoconvívio. Visando sempre o bem das partes. As virtudes servem a dois senhores: à ideologia dominante, pois refreia muitos dos instintos humanos e nos põe dóceis no convívio social. E a nós mesmo, como no caso da temperança, para que não nos façamos mal. A virtuosidade é útil tanto ao indivíduo, como ao cidadão e por consequência à sociedade.
A virtude é a ação de fazer algo de forma excelente visando o bem. Seja o bem de si mesmo, do outro ou da natureza. Ela apenas sobrevive enquanto é ensinada e exercitada. Sendo ela algo tão importante, tanto para o indivíduo como para a sociedade, porque então não aprendemos sobre virtudes na escola? Por que essa palavra é tão banalizada e por vezes até mesmo desconhecida? Será que é porque o exercício da virtude nos fortalece, nos liberta, nos torna independentes, nos torna sujeitos pensantes, com ideias próprias? E que sociedade (falsas democracias), baseada na concentração de poder, iria querer tal sujeito? A virtude não é difundida porque não está a serviço apenas da classe dominante, mas de todos sem distinção. Ela trata o eu, o outro e a natureza, como algo uno, independente de estar no hemisfério sul ou norte, na favela ou no palacete, se é branco ou afrodescendente, pobre ou rico, inteligente ou ignorante. Há alguma sociedade assim? Talvez não.
As virtudes funcionam como uma perfeita engrenagem. Para assim chamá-las, elas precisam ser justas, verdadeiras, corajosas, prudentes. As virtudes também precisam ser virtuosas, e elas são permeadas umas pelas outras. Assim como no humano, elas precisam existir simultaneamente. Nascem com a intenção de moldá-lo. Ensiná-lo a ser humano, pois este em verdade não nasce pronto, antes sim torna-se com o convívio e as aprendizagens. Os gregos antigos tinham essa preocupação com a educação. Tais ações eram como uma cartilha daquilo que achavam importante conter em um indivíduo. Assim, a mitologia foi a forma mais fácil que os gregos encontraram para educar os indivíduos dentro do que se pretendia em termos de excelência humana.
Nietzsche em sua Genealogia da Moral
, nos elucida de forma reveladora como se deu a origem e estruturação dos valores humanos. Na Grécia e Roma antigas, nobres, bem nascidos, de natureza superior, esses eram os bons.
Já os plebeus, operários, escravos, de natureza simples, eram os maus. Tais valores, obviamente foram estabelecidos pelos nobres. Com a chegada do cristianismo houve uma inversão de valores. O fraco, o oprimido, o pobre tornam-se valores apreciados. Enquanto o nobre, o rico, os que detinham o poder eram os maus. Simplesmente uma inversão de escopo. E isso foi feito como uma forma de conquistar a massa, trazendo-os para a sua causa, pois estes são mais facilmente dominados. Os nobres continuaram nos seus lugares, intactos e no poder, apenas mudou para os fracos e oprimidos, que agora tinham mais um algoz, a religião.
Pensamento, Sentimento, Palavra e Ação
"Somos tão vulneráveis que um comentário alheio nos
desmorona, feito um castelo de cartas;
uma crítica é como uma tempestade sobre um
boneco de açúcar..."
Odair Comin
O
pensamento, o sentimento, a palavra e a ação formam os pilares essenciais da nossa experiência humana, interconectados de maneira intrínseca e poderosa. São como os quatro elementos que sustentam a estrutura da nossa existência e moldam o curso das nossas vidas.
Começando pelo pensamento, é a centelha inicial que dá origem a tudo. É a semente de onde brotam nossas ideias, conceitos e percepções do mundo ao nosso redor. Nossos pensamentos têm o poder de moldar nossa realidade, influenciando nossa visão das coisas e orientando nossas escolhas. São a força motriz por trás de todas as nossas ações.
Os sentimentos, por sua vez, são a resposta emocional aos nossos pensamentos e às situações que vivenciamos. São a expressão mais profunda do nosso ser, refletindo nossas alegrias, tristezas, medos e esperanças. Nossos sentimentos são como um barômetro interno que nos ajuda a entender nossas próprias reações e a nos conectar com os outros de forma mais genuína.
A palavra é a ferramenta que transforma nossos pensamentos e sentimentos em comunicação tangível. É através das palavras que expressamos nossas ideias, compartilhamos nossos sentimentos e nos comunicamos com o mundo ao nosso redor. Elas têm o poder de criar vínculos, inspirar mudanças e transmitir conhecimento. No entanto, também podem ferir, dividir e causar danos irreparáveis se não forem usadas com cuidado e consideração.
Por fim, a ação é a manifestação concreta de nossos pensamentos, sentimentos e palavras. É o passo decisivo que transforma nossas intenções em realidade, dando forma aos nossos sonhos e aspirações. Nossas ações falam mais alto do que qualquer palavra, pois são elas que verdadeiramente revelam quem somos e o que valorizamos na vida. São a prova final do nosso comprometimento com aquilo em que acreditamos e com os princípios que defendemos.
Assim, a relação entre pensamento, sentimento, palavra e ação é como uma dança harmoniosa, onde cada elemento contribui para a criação de uma experiência significativa e autêntica. Quando alinhamos esses quatro aspectos da nossa existência, somos capazes de viver com integridade, propósito e plenitude.
O Pensamento
Poderíamos traduzir o pensamento como uma articulação subjetiva de tudo aquilo que é real, e a própria subjetividade da fantasia, o que culmina numa ideia. O pensamento só existe enquanto presente, traduz um estado, em que a representação feita por ele, é válida apenas naquele momento. Um segundo depois o pensar muda de foco, de figura, muda-se o estado. Aparentemente, não existe apenas uma única ordem lógica de pensares, antes sim, ocorrem aleatoriamente, acontecem de forma rápida e por vezes sem nosso controle consciente. Por certo há uma lógica que subjaz o que poderíamos chamar de caos. Isso em relação ao emaranhado de pensares e a ordem em que são lançados à consciência, porém nem sempre conseguimos perceber essa ordem, o que nos dá a impressão de serem aleatórios. O pensamento se forma a partir do contato do indivíduo com o meio onde nasce, construído através dos sentidos, do corpo e da mente. O homem é visivelmente feito para pensar, é toda sua dignidade e todo seu mérito
, dizia Pascal. O pensamento tem seu nascimento na mente de cada ser; serve para raciocinar sobre si mesmo, para questionar-se, pensar sobre os porquês: por que se é o que é, se faz o que faz, por que pensa o que pensa, sente o que sente. Mesma coisa se dá a pensar e a ser
, dizia Parmênides. No contato com o mundo, forma-se o saber de si e o oculto de si, ou seja, o que o indivíduo não sabe sobre si ou o mundo, mas age segundo este, sem perceber. O que se pensa e o que se é. Crenças, princípios, valores que foram aprendidos e nunca questionados, ou mesmo percebidos, mas, que ditam as regras de como este ser dever viver a própria vida. Poderíamos dizer que o oculto por vezes o domina. Cada pessoa é um ser único que afeta e é afetada pela realidade que a rodeia.
O filósofo e religioso Mokite Okada dizia que o homem depende de seu pensamento. E desde os gregos antigos, percebemos o quanto essa máxima tem de verdade. O homem depende em gênero, número e grau de seu próprio pensar. Os gregos diziam que o pensamento era o passeio da alma. É possível estar em qualquer lugar sem mesmo sairmos de nós mesmos. O pensar é atemporal, não encontra barreiras, nos leva à passear, empreendendo fantásticas viagens. Chauí diz que o pensamento é essa curiosa atividade na qual saímos de nós mesmos sem sairmos de nosso interior
. Portanto, o fato de sair para fora de nós ou entrar, significa o mesmo. O pensamento brota dentro de cada indivíduo e se infiltra como raízes em nossa mente, e quanto mais profundo maior será o impacto produzido por ele. Com o tempo, este torna-se crença, que tanto pode impulsionar quanto limitar. Não é por acaso que na Antiga Grécia, o pensamento era considerado o espírito. O início do pensar e da produção intelectual foi chamado de o nascimento do espírito
. Portanto, nosso pensamento é a essência e a alma do humano, e ele só se