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Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas: A forma polêmica e o ethos travesti de Linn da Quebrada em Pajubá
Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas: A forma polêmica e o ethos travesti de Linn da Quebrada em Pajubá
Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas: A forma polêmica e o ethos travesti de Linn da Quebrada em Pajubá
E-book194 páginas2 horas

Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas: A forma polêmica e o ethos travesti de Linn da Quebrada em Pajubá

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Sobre este e-book

Como olhar para a produção artístico-musical travesti de uma artista insurgentemente talentosa por meio das lentes dos estudos retóricos? Como analisar a ousadia (necessária, segundo Foucault) da resistência ativista de Linn Da Quebrada a partir da teoria retórica e da argumentação? Ousando quebrar paradigmas do academicismo dominante, ao mesmo tempo em que mergulha profundamente na teoria, este livro traz à tona análises complexas e compreensíveis a leitores iniciantes e iniciados.
Ticiano Pimenta faz um convite pungente ao leitor: desarme-se. Não se precipite frente ao que parece excêntrico num primeiro olhar. Não seja voraz na leitura: deguste cada página (uma taça de vinho ou um copo de cerveja como acompanhamento são bem-vindos) sem julgamentos, deixe-se guiar pela tessitura do texto, que vai desconstruindo sentidos prévios e reconstruindo sentidos outros.
Uma delícia de leitura!
PROFA. DRA. LUCIANA CARMONA GARCIA
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de mai. de 2024
ISBN9786556254968
Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas: A forma polêmica e o ethos travesti de Linn da Quebrada em Pajubá

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    Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas - Ticiano Jardim Pimenta

    © Ticiano Jardim Pimenta, 2024

    Todos os direitos desta edição reservados à Editora Labrador.

    Coordenação editorial PAMELA J. OLIVEIRA

    Assistência editorial LETICIA OLIVEIRA, JAQUELINE CORRÊA

    Projeto gráfico e capa AMANDA CHAGAS

    Diagramação ESTÚDIO DS

    Preparação de texto MARÍLIA COURBASSIER PARIS

    Revisão IRACY BORGES

    Ilustração de capa AMANDA CHAGAS

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Jéssica de Oliveira Molinari – CRB-8/9852

    PIMENTA, TICIANO JARDIM

    Retóricas disruptivas, dissidentes e despudoradas Ticiano Jardim Pimenta. – 1. ed.

    São Paulo : Labrador, 2024.

    176 p.

    ISBN 978-65-5625-496-8

    1. Linguística 2. Análise do discurso 3. LGBTQIA+ I. Título

    23-6630

    CDD 410

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Linguística

    Labrador

    Diretor-geral DANIEL PINSKY

    rua Dr. José Elias, 520, sala 1

    Alto da Lapa | 05083-030 | São Paulo | sp

    contato@editoralabrador.com.br | (11) 3641-7446

    editoralabrador.com.br

    A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor. A editora não é responsável pelo conteúdo deste livro.

    O autor conhece os fatos narrados, pelos quais é responsável, assim como se responsabiliza pelos juízos emitidos.

    Dedico este trabalho à minha amiga-irmã Yris, aquela que, com seu little way/jeitinho, me apresentou às adversidades, mas, principalmente, às delícias de uma vida/experiência travesti. Dedico também a todes aqueles que não se encaixam, que desviam, que transitam, que (se) reinventam, que (se) questionam, que, principalmente, polemizam.

    AGRADECIMENTOS

    (SEMPRE INSUFICIENTES)

    E finalmente chegou o momento de escrever os agradecimentos. Já adianto duas coisas: o gênero será transgredido e eu não tô nem aí! Foram duas graduações e um mestrado em seis anos. E no meio disso teve uma pandemia. E no meio disso teve um desgoverno. E no meio disso ocorreram as maiores mudanças pessoais da minha vida. Então, assim, eu vou fazer um combo-agradecimento e não quero nem saber. Agradeço, primeiramente, aos meus pais por me possibilitarem o privilégio da escolha diante da realidade da vida na maior parte dos casos. Em especial, agradeço a ela, a pessoa que mais me

    apoiou, que mais me ouviu, que mais me aturou, que mais incentivou, que mais me acalmou, que mais me perguntou o que é retórica, enfim, que mais me amou na vida, minha mãe, Edna Jardim. Agradeço à minha ex-orientadora e para sempre mãe-acadêmica e eterna mestra, Profa. Maria Flávia Figueiredo, por acreditar e apostar em mim desde o nosso primeiro encontro, por todas as suas contribuições neste e em todos os outros textos acadêmicos de minha autoria, por todas as trocas-conversas-vivências. Agradeço à minha orientadora, Profa. Luana Ferraz, pelas risadas trocadas, pelos memes encaminhados, pela paciência, pelo profissionalis­mo e pela perspicácia em orientar e acolher a mente obsessiva­-compulsiva deste orientando que vos escreve. Agradeço às professorAs e pesquisadorAs do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Franca (Unifran) por todo o conhecimento trocado e por toda ajuda oferecida, em especial à coordenadora do Programa, Profa. Luciana Carmora Garcia, por ter incentivado e contribuído tanto com o presente texto. Agradeço, também, ao Prof. Fernando Aparecido Ferreira, ao Prof. Acir Matos Gomes, à Profa. Fabiana Parpinelli Gonçalves Fernandes, à Profa. Berenice Bolzani (imensamente), à Profa. Lígia Peres Tozati e ao Prof. Daniel Cordeiro Cardoso. Agradeço ao meu padrinho, Tatá, por sempre ter sido meu porto seguro, meu exemplo e ídolo na pesquisa acadêmica e na vida. Agradeço ao meu irmão, Leonardo, e à minha cunhada, Viviane, por aturarem meus papos sobre logos, ethos e pathos (especialmente ele, coitado, que ouviu muito dessas conversas, rs). Agradeço à minha cunhada, Elaine, por todos os toques acerca de como se fazer uma pesquisa, de como se ter compromisso ao se fazer pesquisa e por me ajudar a construir o tipo de pesquisador que almejo ser. Agradeço à minha psicóloga, Tânia, por todos os anos, os caminhos e as encruzilhadas que percorremos juntos. Agradeço, também, às amigas, aos amigos e amigues que me aturaram e me incentivaram durante a escrita deste texto, dos quais destaco alguns: Pinel, Má, Pri, Pitico, Zoka, Brunão, Teteu, Gui, Gazi, Isa, Gu, Henrique, Laiza, Alan. Agradeço, por fim, aos integrantes e às reuniões do grupo de pesquisa PARE (Pesquisa de Argumentação e Retórica).

    Nos quatro cantos do mundo, de Atenas a Kassel, de Rojava a Chiapas, de São Paulo a Joanesburgo, é possível sentir não apenas a exaustão das formas tradicionais de política, mas, também, a emergência de centenas de milhares de práticas de experimentação social, sexual, de gênero, política... Diante da ascensão do recrudescimento edipiano e das coalizões fascistas, as micropolíticas da travessia estão em ação em todo lugar.

    (Paul B. Preciado, tradução nossa)

    Embora Reclaiming Queer seja um livro que leva muito a sério as altas apostas políticas do trabalho acadêmico e ativista queer, na indecidibilidade do queer está também o recurso para manter o prazer, para lembrar o prazer do imprevisível, para participar da alegria ilícita do risco. E esse prazer não precisa se opor à seriedade; na verdade, quero abraçar as indulgências da erudição — a diversão, os afetos despertados, o êxtase em distorcer um encontro com um texto — a serviço de uma política queer vital. Assim, preservando as interjeições de queeridade do inesperado, do surpreendente, do chocante, do vertiginoso e, às vezes, do sujo, que motivam nosso trabalho, os capítulos seguintes mergulham nos prazeres perigosos do risco.

    (Erin J. Rand, tradução nossa)

    SUMÁRIO

    Que não venha ao mundo nu, tampouco em roupa de gala

    Introduzindo com amor e com vontade

    Os quês...

    Os por quês...

    Os para quês...

    Os comês...

    Apologia ao enviadescimento das retóricas ou as vantagens de uma retoricação enviadescida

    Arrancando algumas pistis no dente ou que retóricas são essas?

    Além de enviadescer tem de bater as retóricas na nuca?

    Discursos polêmicos, travestis travessas e outras maneiras superiores de dar o cool

    Realizam-se necomancias! ou por que sem polêmica não há resistência?

    Saca só que genial, sabe o meu ethos, nada a ver com xota e pau ou por que sem polemistas não há polêmica?

    Então, mana, abre o olho que isso é uma arapuca ou a forma polêmica de Pajubá

    Ei, psiu, você aí macho discreto, eu não tô interessada no seu grande pau ereto, eu gosto mesmo é das bixas, das que são afeminadas ou a criação dos auditórios inimigos e aliados

    Vou mandar uma dica, cabulosa, atraente, quando o boy abaixa as calças, tu arranca a pica no dente ou as expressões alienantes de emoção

    Não sou de contar mentiras, mas invento minhas verdades ou as afirmações não contingentes/consensuais de verdade e as presunções de moralidade compartilhada

    Bixa, travesti, de um peito só e, na mão, sangrando um coração ou o ethos­-travesti de Linn da Quebrada em Pajubá

    Considerações provisórias

    Referências

    QUE NÃO VENHA AO MUNDO NU, TAMPOUCO EM ROUPA DE GALA

    Luana Ferraz

    Mal vai à obra se lhe requerem prefácio que a explique, mal vai ao prefácio se presume de tanto. Acordemos, então, que não é um prefácio isto, mas aviso simples ou prevenção [...].

    José Saramago, Viagem a Portugal

    Há dias me interrogo sobre a (im)possibilidade de escrever este prefácio. Talvez por não poder justificar adequadamente a razão da escolha ou o que haveria animado o autor que me solicita esta escrita. A minha pouca ousadia, a minha incerteza bastante, seja qual for a motivação do pedido, deixo à parte as interrogações e me restrinjo à alegria de atendê-lo.

    O vigor das poucas linhas deste prólogo que me disponho a escrever será certamente escasso quando comparado ao do texto que introduz. Alguns o qualificarão atrevido, irreverente, sensível, e todos estarão corretos. Eu o qualificarei corajoso. Disse Guimarães Rosa ser essa a virtude que a vida quer da gente. Acredito nele. Acredito no prazer do imprevisível, na alegria ilícita do risco, mencionados por Erin Rand em Reclaiming Queer, na citação selecionada como epígrafe para a dissertação de mestrado que deu origem a este livro. Não poderia ser mais adequada.

    Neste trabalho político, ético, estético, o prazer se alia à erudição. A proposta apresentada por Ticiano Jardim Pimenta busca deslimitar ao conhecer e escolher os seus limites. A retórica enviadescida, contingente, polêmica, problemática, remete à sua antecedente clássica, à tradição que constituiu a matriz organizadora da comunicação na Europa da Antiguidade até o século XVII, como nos lembra Wellbery. Não é, entretanto, a mesma. Não somos nós os mesmos, não é o mesmo o rio. Logo, devemos desconfiar se avistarmos uma anacrônica coluna grega forçosamente posta entre pós-modernos arranha-céus.

    A investigação que se aventa neste livro mais que sopra a poeira de categorias deixadas na estante, ela revela o interesse intelectual pela nova prática cultural em que se tem tornado a retórica, por seus novos modos de análise, em um retorno contemporâneo sem reprodução estrita do que nos legou a tradição. Experimentam-se o movimento, o atrito, a consequente erosão de sólidas dicotomias, tais como argumentação/retórica, logos/pathos-ethos, convencer/persuadir, razão/emoção, objetividade/subjetividade, bem/mal, consenso/dissenso, e de muros epistemológicos.

    Esse intento — já anunciado nas primeiras páginas — possibilita a aproximação teórica entre os estudos retóricos e as chamadas análises do discurso. O trabalho de Ticiano sem dúvida mostra, para quem ainda não o percebeu, que as teorias retóricas mudaram, que seus objetos de análise mudaram. Menos ritualizadas, irredutivelmente multidisciplinares — ou transdisciplinares, como revela o desejo de travessia do autor — não reservam espaços ao homogêneo e unificado.

    Desde o destronamento de renomados autores e de suas pretensas contribuições originais, o texto tenta desviar-se do discurso da arrogância. Dentro da malha de limitações do discurso acadêmico autorizado, procura-se reconhecer a sua permeabilidade, compreendê-lo mais complexo e democrático. A retórica que lida com as problemáticas contemporâneas é considerada linguística, psicanalítica, sociológica,

    midiática... queer.

    A aproximação entre as retóricas e os estudos queer celebra a subversão. Ambos tratam de invenção e resistência, ambos nascem da necessidade e da luta por direitos, afirma o autor. Contra sistemas de violência produzidos e manobrados por práticas e discursos de poder, há que se buscar ferramentas, chaves de contraviolência. Cito um dos incensados intelectuais franceses canônicos das Ciências Humanas e Sociais, uma vez que não consigo furtar-me à hipocrisia de quem aprende os códigos para advogar por sua desconstrução: dizia Barthes, em sua famosa aula inaugural no Collège de France, que alguns esperam que os intelectuais se agitem a todo momento contra o Poder.

    Mas onde estará esse Poder? Em toda parte, é o que responde o semiólogo. Por isso não se trata de um combate fácil. Na pluralidade do espaço social, seu nome é Legião. Há poderes, imensos e minúsculos. Expulsos de um lado, reaparecem de outro, sempre inscritos em linguagem. Todavia, se não podemos definitivamente extingui-los, todos, também não nos livramos dos impulsos liberadores que lhes fazem frente. Os poderes instauram resistências. Ao imporem suas violências, abrem fendas pelas quais outros discursos se infiltram e tentam implodi-los.

    Nesse sentido, é indispensável considerar formas de dar às identidades dissidentes meios de produzir discurso e conhecimento reconhecidos sobre si. Também nesse sentido, nos fala Leandro Colling, muitas vezes citado neste livro, sobre a relevância do intercâmbio entre o conhecimento acadêmico e aquele produzido no ativismo/militância dos movimentos sociais — agora, nas palavras de Ticiano — na constituição de uma "rede (trans)discursiva de logoi contra-hegemônicos".

    Dos estudos queer, detentores — deve-se dizer — de boa penetração acadêmica, porém igualmente gestados no âmago dos movimentos sociais e/ou de agentes civis e políticos dentro e fora do Brasil, aproxima-se a polêmica, modalidade argumentativa que atende aos anseios revolucionários de comunidades de protesto por estar no polo das interações que ostentam o desacordo. Aí situam-se os discursos produzidos por corpos (trans-)dissidentes. A teoria formal da polêmica de Rand oferece, pois, nesse contexto, repertório conceitual para a análise de Pajubá, primeiro álbum da fazedora de arte e agitadora cultural — como ela se autodenomina — Linn da Quebrada. Em 2017, o álbum surge como grito. Sem tentativa de conciliação, arromba as portas fechadas por discursos hegemônicos brancos e cis-heteronormativos.

    Para Linn, ser bicha não é só dar o cu, é também resistir, e isso demanda (Muito +) Talento. Não se agrade o leitor da falta de decoro, da linguagem crua retoricada pelo ethos travesti que se constitui em Pajubá. Não se agrade da polêmica, da agressividade, da cara de poucos amigos. São mesmo poucos. Há territórios culturais, sociais, políticos, linguísticos em disputa. A dor que explode em versos furiosos nos obriga a enxergá-la com urgência, mas não é apenas dor, é também gozo. A fúria vem acompanhada do escárnio, mais atrevido que a própria ira. Em relação aos aliados, a obrigação moral impulsiona a ação, mais afetiva que racional. O convite é visceral, seja dirigido a quem for. É o que o autor do livro nos mostra em suas análises.

    Chegamos ao final da travessia, que não se extingue aqui, seguros de que os estudos retóricos se estabelecem na contemporaneidade como um campo de conhecimentos amplo e diversificado, tocado por transformações criativas que buscam dar conta da retoricidade generalizada na sociedade contemporânea. Essa retoricidade, presente em todos os

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