Contos Urgentes: Uma doação literária ao povo gaúcho
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Sobre este e-book
A iniciativa nasceu a partir da iniciativa dos alunos do Núcleo de Estratégias e Políticas Editoriais (Nespe), instituição de ensino que oferece cursos livres e de pós-graduação online ao vivo nas áreas de criação e gestão de conteúdo para o mercado editorial.
"Uma sociedade é feita de pessoas e linguagem. Se as pessoas sofrem, a linguagem grita e a escrita reage. Se nossas palavras por si não são o suficiente para aquecer e alimentar as pessoas necessitadas, nós vendemos nossas histórias e, dessa forma, transformamos ficção e afeto em cobertores e comida", diz Alexandre Alderete Alves, aluno e idealizador do livro.
"Diante do entusiasmo do grupo, era impossível não se empolgar e ajudá-los nessa empreitada. Em menos de 24 horas, tínhamos já título, capa e mais de uma dúzia de contos revistos e editados em formato e-book", diz Cibele Bustamante, diretora do Nespe, que tomou para si a supervisão do trabalho editorial inteiramente produzido pelos alunos.
Tanto os alunos como ex-alunos do Nespe colaboraram para a produção do e-book, lançado pela Editora Modelo, criada na instituição. O grupo de voluntários se dividiu entre as diversas funções da publicação de uma coletânea de textos para que a obra fosse lançada em tempo recorde, a tempo de ajudar as vítimas das enchentes.
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Pré-visualização do livro
Contos Urgentes - Cibele Bustamante
Contos Urgentes
Uma doação literária ao povo gaúcho
Rio de Janeiro
Maio de 2024
Sumário
Prefácio | Cibele Bustamante
Apresentação | Rodrigo Fério
De volta ao presente | Fernanda Vizian
Fadas sofrem | Branca Andrade
A Duquesa | Mônica Beatriz
Luzes no Natal | A. Cardoso
Angústia | Márcia Moura
O sono da razão | Fred Furtado
Carnaval | Mariangela de Campos Dias
O sorteio da televisão | Lucia Seixas
Margot | Cibele Bustamante
Vaga-lumes se apagam | Hada Maller
A peleja do escritor com o bloqueio criativo | Renan Amaral
Preto e sem açúcar | Rodrigo Fério
Maria Luiza | Loren Medeiros
O espectro no labirinto da nossa casa | Alexandre Alderete Alves
Hymne à l’amour | Laura Braga
Romper de um pranto | Glauco Lessa
Trava-línguas | Neia Marques
Divas Salon | Jeong Hana
Ecos do passado | Flávia Mendes
Décadence avec élégance | Marta M. I. Jónsson
Pause | Bea Correa
Quarto de hotel | Loren Medeiros
Fantasias | Fernanda Dechatnek
Dias de chuva | Rosângela Bicalho
Nós | Martino Sânscrito
Pião | Rodrigo Fério
Deságua | Sérgio Edriane
Filha do Seu Oliveira | Maraíza Santos
Cumulus nimbus | Cecilia Souto
Querido transeunte | Cecilia Souto
Essências | Fabiana Ballete
A leveza do partir | Neia Marques
O caldeirão | Marina Quadrelli
O mundo fantástico das cortinas | Diana Franco
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Expediente
Prefácio
Apresentação
©2024 NESPE | www.nespe.com.br
©2024 BR75 | www.br75.com.br
Responsável editorial: Cibele Bustamante
Assistente editorial: Hada Maller
Revisão: Aline Fabre, Ana Junqueira, Angélica Barros, Fernanda Dechatnek, Jéssica H. Furtado, Maria Carolina Rodrigues, Mariana Rodrigues, Marina Garrido e Priscyla Corina
Produção de e-book: Cibele Bustamante
Capa: Luciano Silva
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária Gabriela de Souza D’Andrea – CRB10/2846
B982 Contos urgentes: uma doação literária para o povo gaúcho / organizado por Cibele Bustamante, Hada Maller, Rio de Janeiro: Modelo, 2024
ISBN: 978-85-54201-04-3 (e-book)
1. Literatura Brasileira I. Bustamante, Cibele (org.) II. Maller, Hada (org.)
CDD B869
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura brasileira
A Editora Modelo é uma iniciativa:
www.br75.com.br
nespewww.nespe.com.br
Prefácio
Sexta feira, 3 de maio de 2024, hora do almoço. Entre as inúmeras reuniões do dia, dou uma olhada rápida nos grupos de WhatsApp do Nespe.
Em meio às conversas sobre o show da Madonna, uma mensagem destoante logo chama a minha atenção. Alexandre Alderete havia lançado uma proposta audaciosa:
Pessoal, será que esse grupo não conseguiria (num esforço conjunto) produzir uma antologia de contos em ebook em tempo recorde para que toda a renda reverta para o povo flagelado da enchente aqui do Sul??? Além dos nossos textos, a gente poderia convidar escritores de renome para participar com a gente desta ação literária solidária. Que tal? O que vocês acham?
Por que não? Temos recursos, ferramentas e, principalmente, um grupo incrível de voluntários – autores, revisores, designers, gestores – todos prontos para contribuir.
A Editora Modelo foi criada pelo Nespe justamente para isso: para ensinar a fazer livros, para que todos tenham a oportunidade de escolher e abraçar desafios, apoiando a todos a cada etapa.
Até a meia-noite daquela sexta-feira, já tínhamos doze contos submetidos e cinco revisores engajados. No sábado pela manhã, contávamos com uma supervisora para organização, e duas propostas de capa, ainda mais textos e revisores, e influencers dispostos a fazer divulgação. As decisões mais pertinentes, como título e capa, foram colocadas em votação.
A cooperação e a união ecoam forte, tanto no Brasil quanto no exterior – temos autores brasileiros que contribuíram de outros países.
Deu gosto de ver. Aliás, está dando. Enquanto escrevo este texto, mais contos são submetidos, revisados e finalizados.
Não cabe a mim dedicar esse livro a ninguém. Mas me sinto obrigada a agradecer aos meus colegas-alunos pela iniciativa e pelo exemplo de empatia e amor que demonstram.
Ao povo do Sul, nossa humilde contribuição.
Rio de Janeiro, 4 de maio de 2024, 11 horas.
Cibele Bustamante
Apresentação
A chuva aparece na literatura de várias formas. Às vezes romântica, como em uma cena de um casal nu enrolado em lençóis vendo a chuva pela janela, ou em uma cena bucólica, numa floresta em que gotas umedecem o solo e fazem o cheiro da terra chegar aos que se abrigam sob as árvores. Pode ser também melancólica, como uma pessoa vagando sob a chuva à noite, ou mesmo trágica, com relâmpagos e trovões furiosos.
Uma força da natureza que, como potência incontrolável, às vezes prejudica. Infelizmente vemos a enchente, esse vilão implacável, destruindo lares e tirando pessoas de suas casas, deixando muitos inconsoláveis e em situações de risco. Aí, a ficção fica de lado: são situações reais e drásticas, que exigem ações reais para tentar minimizar e, quem sabe, trazer finais felizes para alguns destes desconhecidos. E você, que adquiriu esse livro, é agora um autor, pois decidiu mudar o rumo dessas histórias.
Esse livro é uma coletânea de contos, crônicas e poesias de muitas pessoas que se reuniram para tentar fazer a diferença e ajudar de alguma forma a amenizar a situação de famílias inteiras. São estilos, temas e escritas diferentes entre si, uma coletânea tão variada quanto emergencial, com obras excelentes para fazer você vivenciar emoções seguras, pois perigo só é bom mesmo no mundo da imaginação.
Boa leitura!
Rodrigo Fério
De volta ao presente
Fernanda Vizian
Quando o filme De Volta para o Futuro
foi lançado em 1989, imaginava um mundo em 2015 com carros e skates voadores e várias outras tecnologias que acabaram saindo das profecias para a realidade. Quem poderia imaginar, naquela época, que trinta anos mais tarde, teríamos computadores portáteis, monitores de tela plana, câmeras digitais, comando de voz, cinema 3D e pagamentos feitos através do celular? A tecnologia já ocupando um espaço que nunca mais será o mesmo. Mas, nada foi tão intrigante para meu avô quanto aos aplicativos.
Seu Jandir, com setenta e seis anos, tem um celular daqueles que só realizam chamadas. É um modelo da extinta Nokia, que, entre suas inovações, tem uma memória de 350 KB, mais do que suficiente para gerenciar toques, calendário e agenda telefônica. É o necessário para ele. Ou foi, até hoje.
O aparelho foi útil até uma tarde aleatória quando tomávamos um café. Guardou a pergunta o dia inteiro até que soltou, já não aguentando mais esperar pela resposta:
— Afinal de contas, qual é a diferença entre Instagram e WhatsApp? – falou, se enrolando nas palavras difíceis.
Não consegui segurar a gargalhada. Não porque ele não sabia o significado, mas por ver que, querendo ou não, a tecnologia chega até nós mesmo quando não temos necessidade de acompanhá-las.
Com quase oitenta anos, ele não irá trocar o aparelho por um com mais memória, touch screen e bloqueado por senha. Não. Ele só quer entender por que a Rosa Maria Murtinho prefere o Instagram ao Facebook e como os filhos e netos enviam e trocam fotos, vídeos e áudios pelo WhatsApp. Apesar da idade, ele quer compreender o que está acontecendo com o mundo e como as coisas estão evoluindo.
Talvez essa tenha sido uma das premissas do filme De volta para o Futuro
: entender nossa realidade e como tudo ao nosso redor pode mudar através da tecnologia, alterando de vez todo o nosso futuro. Talvez, Seu Jandir esteja vivendo esse futuro que acabou de chegar para ele. Com um aparelho obsoleto, ele hoje está engatinhando no mundo digital. Ele encontrou a porta da máquina do tempo, entrou, está repensando o passado e alterando o seu presente.
Como será o futuro? Não consigo arriscar previsões como o filme. Até porque, no momento, preciso explicar ao seu Jandir o que é o TikTok.
Fadas sofrem
Branca Andrade
Era uma vez…não! Na verdade já era a segunda vez. Era a segunda vez que essa menina abilolada se deparava com o mesmo tipo de sujeitinho estapafúrdio, e ficava completamente apaixonada. As informações estão todas ali, estampadas na testa do infeliz para qualquer um ver. Mas, ela enxerga? Claro que não.
Na primeira vez ela se derreteu de amores platônicos por um sujeito que estava de olho em metade da cidade. O indivíduo não podia ver um rabo de saia. Mas ele jurava que ela era especial, diferente de todas as outras, e a coitada acreditava. Perdi as contas de quantas vezes a vi suspirar. Ela ainda escrevia cartinhas de amor semianônimas
para ele, por mais que ela não assinasse, ele sabia quem era a autora. E eu o vi rindo e debochando do sentimentalismo dela inúmeras vezes. Como eu sofria vendo isso sem conseguir defender minha pupila da decepção da ilusão. Nesse caso, tive que despistar o homem para outras bandas, e foi exatamente o que fiz. Certa vez um comerciante disse que precisava de um rapaz para trabalhar na loja dele, eu decidi dar um empurrãozinho. A loja ficava bem longe, então resolvi o problema. E lá ele arrumou logo um jeito de se casar com a filha do dono do negócio! Todo mundo ficou feliz. Será que meti o bedelho demais na história?
Ok, nada justifica. Mas, para uma fada madrinha como eu, que tenho como missão protegê-la das investidas erradas para que ela encontre o seu verdadeiro amor, isso é um pesadelo. Antes dela nascer prometi guiá-la, não posso falhar. Gente! O nível de cobrança no reino das fadas é enorme. Cada vacilo, uma queda na hierarquia das fadas. Então, o que é que custa esses seres humanos limitados de conexão mágica colaborarem, hein? Para livrar minhas asas, já cometi atrocidades à fim de que minha tutelada, uma jovem mocinha franzina e de bom coração não acabasse se enroscando com sujeitos que, no melhor dos males, a faria só perder tempo, mas no pior deles… pela minha varinha encantada, a levariam para um abismo sem fim, onde meu poder jamais poderia alcançá-la e resgatá-la.
Quando a