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Cobra-d'água
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E-book265 páginas3 horas

Cobra-d'água

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Sobre este e-book

Nas ardentes areias do antigo Egito, onde os deuses entrelaçam seus segredos com os destinos dos mortais, desenrola-se a envolvente epopeia de “Cobra d’Água — O Passageiro das Sombras”. A história nos transporta pelas intrigas do destino e pelos recônditos sombrios do submundo, onde a justiça divina tece suas tramas e os corações são testados até os limites. Shai, nosso protagonista, cresce sob a sombra do faraó como escravo, mas sua vida se transforma de maneira inesperada quando seu amor proibido pela princesa Selina se torna inegável. Tornando-se aprendiz de Ka, um sacerdote do faraó, Shai se torna uma força da justiça, usando serpentes como instrumentos de julgamento contra os invasores que mataram sua família. No entanto, seu amor proibido por Selina é um fardo que ele deve suportar. Enquanto isso, o sombrio escravo Malef nutre inveja, desencadeando tragédias inimagináveis. Injustamente acusado da morte da princesa, Shai é forçado a fugir, embarcando em uma busca desesperada pela verdadeira redenção. Sua jornada o levará ao Duat, o enigmático submundo governado por deuses e deusas sinistros, onde Osíris, o juiz do além, decidirá seu destino. Renascido como “Cobra d’Água”, ele parte em uma busca pela redenção, unindo-se a inusitados companheiros: Caveira, Capa Preta e Escorpiã. Seu objetivo é duplo: provar sua inocência pela morte de Selina e encontrá-la no Campo dos Juncos, onde a felicidade aguarda aqueles cujos corações são mais leves que uma pena. Nas páginas de “Cobra d’Água”, somos convidados a uma emocionante jornada pela mitologia egípcia, permeada por traições, vinganças e, acima de tudo, o inabalável poder do amor. Mergulhamos em um universo onde a Zoantropia, a manifestação espiritual em sua forma mais primitiva, rege o destino de Shai. Nesse cenário, Shai confrontará suas sombras mais profundas, desafiando os limites entre vida e morte, enquanto luta para reescrever seu destino e vivenciar o amor que lhe foi negado em vida. Abra este livro e permita-se ser envolvido pelas areias do Egito Antigo, onde sombras ocultam segredos e o amor, mesmo proibido, lança sua luz. A jornada de “Cobra d’Água” promete cativar seu coração e libertar sua imaginação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de set. de 2023
Cobra-d'água

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    Cobra-d'água - Marcos Revolta Estevam

    Cobra-D'água

    O passageiro das sombras

    Marcos Revolta Estevam

    FICHA CATALOGRAFICA

    Título: Cobra D’água — O passageiro das sombras".

    Esta é uma produção independente.

    Todos os direitos reservados ao autor da obra.

    Escrito em 2005.

    Publicado 2023

    Autor: Marcos Revolta Estevam

    Capa: Marcos Revolta Estevam

    Imagens criadas e baixadas gratuitamente dos sites:

    Bing/imagens A.I.

    Texto revisão Chat GPT 3.0. A.I.

    Edição, diagramação e Revisão: Marcos Revolta Estevam.

    São Bernardo SP – Brasil

    1ª edição,

    Registro e ISBN Câmara Brasileira do Livro:

    Registro: DA-2023-042671

    ISBN: 978-65-00-80044-9

    Dedicatória

    Dedico este livro com imensa gratidão à minha amada esposa Marisa, por sua infinita paciência, incentivo constante, ternura inigualável e palavras motivadoras que nunca cessam.

    Sumario

    Prefacio:

    Capítulo 1: Egito 1150 AC -Planalto de Gizé, Cairo.

    Capítulo 2: A guerra.

    Capítulo 3: A vingança.

    Capítulo 4: Visita aos meus pais.

    Capítulo 5: A traição.

    Capítulo 7: A perseguição.

    Capítulo 8: Cumprindo o Destino - Cobra D’água

    Capítulo 9: As missões.

    Capítulo 10: No reino das serpentes de fogo.

    Capítulo 11: As cidades de luz.

    Capítulo 12: Em busca de Selina.

    Capítulo 13: De novo em apuros.

    Capítulo 14: Que se cumpram tudo que há de se cumprir.

    Capítulo 15: Os Enigmas.

    Capítulo 16: Selina.

    Capítulo 17: A liberdade.

    Capítulo 18: O perdão.

    Capítulo 19: E tudo um dia recomeça

    Prefácio:

    Cobra-D'água

    O passageiro das sombras

    Entre as areias quentes do antigo Egito, onde os segredos dos deuses se entrelaçam com as tramas dos mortais, desenrola-se a emocionante história de Cobra d’Água — O passageiro das sombras

    Neste romance cativante, somos conduzidos pelas reviravoltas do destino e pelos meandros do submundo, onde a justiça divina tece suas tramas e os corações são postos à prova.

    Shai, o protagonista desta trama, cresceu sob o olhar vigilante do faraó como escravo, mas sua vida toma um rumo inesperado quando uma proximidade inusitada com a princesa Selina se transforma em amor.

    Aprendiz de Ka, um sacerdote do faraó, Shai desperta em si a revolta contra aqueles que mataram sua família ao invadir as terras do faraó, sego por justiça usa serpentes como instrumento de julgamento contra os algozes de sua família. Enquanto enfrenta as restrições impostas pelo seu amor proibido por Selina.

    Enquanto isso uma figura invejosa e sombria, o escravo Malef, nutre sentimentos nefastos de inveja que desencadearão tragédias inimagináveis.

    Injustamente acusado pela morte da princesa, Shai é obrigado a fugir, perseguindo a verdadeira redenção. Sua jornada o conduzirá ao Duat, o submundo misterioso, governado por deuses e deusas sinistros. É Osíris, o deus com cabeça de chacal e guardião do juízo final, quem pesará o coração de Shai, selando seu destino em um veredicto que o transformará para sempre.

    Assim, emerge Cobra d’Água, alcunha que lhe é atribuída após uma sentença brutal. Agora, renascido como um guerreiro, ele se lança em uma batalha épica, unindo-se a inusitados companheiros: o Caveira, Capa Preta e Escorpiã. Seu propósito é duplo: provar sua inocência perante a morte de sua amada Selina e encontrá-la no Campo dos Juncos, onde a felicidade e a paz aguardam os corações mais leves que uma pena.

    Nas páginas de "Cobra d’água, somos convidados a embarcar em uma emocionante jornada pela mitologia egípcia, envoltos por traições, vinganças e, acima de tudo, o poder avassalador do amor. Assim como do fenômeno misterioso de Zoantropia que envolve a manifestação espiritual em sua forma mais primitiva. Pode ser uma expressão consciente, onde uma entidade espiritual se torna poderosa por vontade própria, ou uma manifestação induzida, onde ela é controlada por outros. A ideoplastia, a capacidade de moldar a realidade através do pensamento e da vontade, desempenha um papel crucial nisso. As entidades espirituais podem moldar suas formas usando essa força mental, ou induzir aos seus dominados formas de criaturas monstruosas.

    Nesse universo, Shai enfrentará suas sombras mais profundas, desafiando os limites entre a vida e a morte, enquanto luta para reescrever seu destino e vivenciar o amor que lhe foi negado em vida.

    Abra este livro e permita-se mergulhar nas areias do Egito Antigo, onde as sombras escondem segredos e onde a luz do amor brilha, ainda que proibida. A jornada de Cobra d’Água promete arrebatar seu coração e sua imaginação.

    Egito 1150 AC

    Planalto de Gizé, Cairo

    Ainda ouço os açoites do chicote nas costas de meu povo

    E

    ra uma tarde quente e poeirenta, o sol tentava brilhar, mas suas luzes eram ofuscadas pela densa nuvem de areia deixada pelo último temporal. Na margem do canal de Khufu (braço do Nilo) eu, como uma criança comum, me divertia com alegria, alheio à minha origem como filho de uma escrava do Faraó.

    Minha companheira de brincadeiras era a graciosa princesa Selina, e juntos éramos inocentes e felizes, sem perceber as barreiras sociais que nos separavam. Um dia, enquanto brincávamos naquelas águas, próximas à nossa aldeia, minha mãe nos chamou com urgência.

    — Princesa, o grande Faraó deseja a sua presença. Disse ela, num misto de respeito e receio.

    Então, olhando para mim, sussurrou com tristeza:

    — Shai, afaste-se dela… Você sabe que não pode tocá-la, os guardas podem nos flagrar, afinal, ela é filha do Faraó.

    Com pesar, acatei suas palavras e me afastei de minha amiga.

    Minha mãe levou Selina para o interior do palácio, e eu retornei à aldeia para aguardar seu retorno. Pelo caminho, ouvi a conversa entre três outros escravos como eu.

    — Os deuses não nos ouvem. Disse um deles desolado.

    — Já fiz sacrifícios ao deus Rá (o Sol), mas não recebi ajuda.

    O eco das narrativas alcançava meus ouvidos. Contavam histórias de aldeias há muito libertadas das garras do Faraó, murmúrios do passado distante. Nessas narrativas, um Deus único e compassivo era adorado, um ser divino que não demandava homenagens às imagens esculpidas, que não se submetia à servidão de ídolos inúteis.

    Enquanto tais relatos ressoavam, nós, aqui, permanecíamos amarrados a estas terras, escravos.

    O outro retrucou:

    — Como pode alguém acreditar nessas histórias? Deus único?

    Como um Deus iria cuidar de tudo, dos homens, dos escravos, das lavouras, do dia e da noite?

    E Rá, não existe? Como se explica aquilo que nos observa todo dia ali flamejante no céu?

    Um terceiro escravo os alertou cautelosamente.

    — Silêncio, o deus Rá só atende aos soberanos. Ele pode nos escutar e nos denunciar, e o Faraó tem poder para nos condenar à morte.

    Eles prosseguiram caminhando, e suas vozes se distanciaram até que eu já não conseguia mais ouvir o restante da conversa. Parei por um instante, erguendo meus olhos para Rá no céu. Seria possível?

    Se aquela bola de fogo não era o deus Rá, então o que seria?

    Eu não possuía a resposta, mas algo dentro de mim afirmava que um dia eu desvendaria esse mistério. Naquele momento, outros garotos se aproximaram de mim, e a curiosidade sobre os deuses cedeu lugar à alegria da brincadeira. Naquela fase da vida, a infância era repleta de encantos, e as preocupações com divindades ainda eram desconhecidas para mim. Em uma manhã ensolarada seguinte, minha mãe levantou-se com os primeiros raios de luz. Com todo o carinho, preparou-nos um pouco de leite de cabra. Ela tinha um dia de trabalho árduo pela frente, começando com a colheita nas terras e a criação que sustentavam nossa família, antes de dirigir-se ao palácio para cumprir suas responsabilidades como cuidadora. Após saciar minha fome, saí de casa e lá fora pude ouvir os estampidos do chicote dos guardas do Faraó, que cruelmente castigavam os homens escravizados, exaustos e enfermos, já incapazes de trabalhar. Minha mãe sempre me impediu de ir até lá, temendo que eu ficasse chocado com tais cenas. No passado antes de serem libertos, eles também sofreram com a servidão.

    Minha paixão era estar próximo ao rio, onde brincava com os outros meninos, especialmente com Selina nos raros momentos em que ela podia sair do castelo. O Faraó só permitia que ela deixasse o palácio quando todos os escravos já estivessem no trabalho, pois acreditava que os escravos eram uma ameaça e poderiam tentar raptar a princesa.

    Contudo, a rainha confiava em minha mãe como guardiã de Selina. Por isso, permitia que ela trouxesse a princesa até o rio toda tarde, acompanhada pelos soldados. Eu, sempre próximo de minha mãe, aproveitava a oportunidade para brincar com ela.

    Ninguém, exceto os deuses, podia se aproximar de Selina. Ela era uma princesa, quase uma divindade.

    Certo dia, enquanto os guardas e minha mãe estavam distraídos, algo inesquecível aconteceu. Enquanto colhíamos flores, (agapanto, flor do Nilo), minha mão, inadvertidamente, tocou a mão delicada da princesa. Um arrepio percorreu minha espinha enquanto uma sensação de pavor se apossava de mim.

    O perigo era inegável; todos naquele reino conheciam a punição impiedosa reservada a quem ousasse tocar na princesa.

    Em um instante, minha mão se afastou da dela, como se tivesse sido queimada por um fogo invisível. Eu não era digno de tocar a mão de uma deusa. Sabia que aquele breve contato poderia selar meu destino. Ela olhou para mim e na sua inocência de criança entregou-me uma flor e disse:

    — Shai, guarde isso em seu coração. Toda vez que você vier brincar junto ao rio e eu não puder mais estar aqui com você, lembre-se de mim como uma flor que nasce aqui diariamente, e eu renascerei em seu coração para sempre.

    Naquele momento, eu não entendi o significado daquelas palavras, mas sabia que o compreenderia no futuro. De volta à aldeia, cuidei da flor do Nilo, enrolando-a com carinho em um pedaço de papiro, guardando-a como um tesouro em nossa tenda.

    Quando minha mãe retornou após deixar a princesa na porta do palácio, contei-lhe o que havia ocorrido. Ela me abraçou e olhou-me com lágrimas nos olhos, dizendo com ternura:

    — Filho, a princesa quis dizer para você não criar esperanças em seu coração, pois um dia ela será preparada para ser rainha, talvez até de um reino distante, e vocês não poderão mais se encontrar.

    Ouvi suas palavras com carinho, vindas da boca daquela mulher marcada pelo tempo e pela escravidão, que mesmo assim se esforçava em cuidar de mim e de meu pai. Não respondi, mas em meu íntimo, discordava. Eu sabia que as palavras de Selina tinham um significado diferente. Os dias passavam, eu crescia, e meu povo já não aceitava mais o cativeiro imposto. Alguns fugiam, outros tentavam e eram capturados, sofrendo penas cruéis pelas mãos do sacerdote do Faraó, chamado Ka, que os oferecia como sacrifícios ao deus Osíris e Anúbis que regiam no mundo subterrâneo.

    A guerra

    À

    medida que me aproximava dos meus quinze anos, prestes a começar a trabalhar como os homens da aldeia, sentia os rumores de tropas inimigas vindas do Sul, que estavam próximas para uma investida no sentido de conquistar todo o reino do Faraó

    Os soldados estavam preparados para a batalha, muitas espadas eram forjadas no porão do palácio. Muitos escravos eram convocados para se tornarem soldados do reino, recebendo assim a liberdade e uma condição melhor caso sobrevivessem. Os Núbios Faraós Africanos realizaram a expansão de suas fronteiras na região do extremo sul do rio, avançando rapidamente em direção a nós.

    Meu povo já não tinha uma condição confortável como escravos. Agora, estavam prestes a entrar em uma guerra para defender aqueles que os escravizavam e para não se tornar escravos de outros.

    Selina ficava a maioria de seu tempo no palácio protegida pelos guardas, e eu procurava ajudar minha mãe na colheita e meu pai em seu trabalho. Em uma manhã, estava ajudando minha mãe a recolher algumas ovelhas para o cercado. Olhamos para o rio Khufu e vimos muitos barcos que se aproximavam. Corremos para a tenda, logo começamos a ouvir os gritos. Invasões alertem os soldados! Em seguida, uma grande correria. Os escravos e os soldados da guarda do Faraó fecharam os portões que separavam o palácio do acampamento dos escravos, começando assim a mobilizar-se para a batalha. Minha mãe apavorada me escondeu num cesto no fundo da tenda com sacos de grãos que alimentava os animais domésticos e disse que ficasse quieto, que ela viria avisar quando poderia sair, mas isto nunca aconteceu.

    Eu não desejava continuar escondido, pois meu objetivo era proteger minha mãe e não permitir que algo lhe acontecesse. Mesmo assim, ela insistiu em me esconder e se afastou. No cesto, pude ouvir suas lágrimas e os gritos dos massacres que ocorriam do lado de fora.

    De repente, um calor intenso e o cheiro de fumaça tomaram conta da tenda. Soldados invasores haviam provocado um incêndio com tochas. Sem pensar duas vezes, saltei do cesto e corri em direção à entrada em busca de minha mãe, que estava em prantos. No entanto, fui surpreendido com um golpe inesperado em meu rosto, que me fez cair desacordado do lado de fora da tenda.

    Não sei quanto tempo fiquei nesse estado, só lembro que sonhei com minha mãe. Ela estava linda e não tinha mais a aparência de escrava, ao lado de meu pai, sorrindo para mim em um lugar maravilhoso que achei ser o reino da deusa Nut (deusa do céu). Tentei chegar até eles, mas fui impedido por homens usando vestes que eu nunca havia visto antes.

    — Mãe, como viemos parar aqui no reino de Nut? Perguntei.

    Ela respondeu sem mexer os lábios:

    — Filho, este não é o reino de Nut ou qualquer outro deus que conheceste. Lembre-se do Deus único. Em breve, um dia estaremos juntos novamente.

    Quando fui indagar novamente, fui acordado por um soldado do Faraó.

    Ergue-te, jovem guerreiro, ergue-te e prepara-te para a batalha que se desenrola em torno do palácio do Faraó!

    Meu corpo latejava de dor e minhas vestes estavam chamuscadas pelas chamas que devoraram a tenda onde meus pais repousavam.

    Porém, mesmo ferido, obedeci ao chamado do soldado e ergui-me para enfrentar o conflito que clamava por minha coragem.

    O tumulto daquele momento me confundiu, e meu coração apertou-se de angústia enquanto procurava desesperadamente por minha mãe. Adentrei o que antes fora nossa morada, agora transformada em um monte de escombros fumegantes.

    Desesperado, remexi no amontoado calcinado e meu coração se despedaçou ao encontrar minha frágil mãezinha sem vida. Naquele instante, deixei de ser um simples garoto, e uma onda de ódio, revolta e mágoa se apoderou de mim.

    Movido por uma fúria avassaladora, corri em direção ao campo de batalha, enfrentando a segunda armadilha que a vida me reservara.

    Meu pai jazia caído ao lado de um soldado invasor, com uma espada em suas mãos. Sem pensar, apanhei a arma e marchei com determinação em direção aos inimigos que agora via como meus. Contudo, mal havia dado alguns passos quando fui atingido por uma pancada no rosto e caí desfalecido.

    Passaram-se dois dias até que despertei. Quando recobrei a consciência, a batalha já havia chegado ao fim, e os soldados conduziam os invasores diante do Faraó.

    Com profunda tristeza, carreguei os corpos de meus pais até as margens do majestoso rio, envolvendo-os em tecidos de linho retirados das vestes dos próprios invasores. Realizei os ritos sagrados de meu povo, colocando-os sobre tábuas de madeira e incendiando-os, para que seguissem a jornada rumo ao mundo de Nut.

    Enquanto minhas lágrimas silenciosas acompanhavam as almas de meus pais navegando pelo sereno rio, um sentimento inquietante tomou conta de mim. Sombrias presenças pareciam dançar ao chão, despertando meu instinto de sobrevivência.

    Com a espada roubada do soldado inimigo firme em minhas mãos, girei meu corpo para encarar o desconhecido que se aproximava. No entanto, antes que eu pudesse reagir, fui detido por um guarda do Faraó. Não percebi, naquele momento, que Selina, acompanhada de soldados estava ao seu lado. Ela interveio, pedindo que o guarda se afastasse para falar comigo.

    Aproximando-se, Selina dirigiu suas palavras a mim:

    — Shai, venha! Supliquei aos meus pais para protegê-lo. Eles aceitaram abençoar você, em reconhecimento à dedicação de sua mãe.

    Você agora viverá no palácio e será criado pelo sacerdote Ka. Ele cuidará de você e eu posso estar mais perto de você.

    A tristeza que me envolvia começou a se dissipar, e eu a segui, mantendo a distância, como era costume dos escravos ao acompanharem seus senhores. Não podia abusar da confiança de Selina.

    Chegamos ao imponente palácio do Faraó. Selina gentilmente me convidou a entrar, e jamais pisara em um lugar tão grandioso. A mobília, esculpida em cedro e ébano, adornada com detalhes de marfim e ouro, deixou-me deslumbrado. Tudo ali era resultado do trabalho habilidoso dos escravos artesãos, e minha mãe nunca poderia ter imaginado tamanha beleza nos utensílios domésticos.

    De longe, avistei o soberano e sua esposa, o temor percorreu minhas pernas, fazendo-as tremer. Fiquei imóvel na entrada, até que o próprio Faraó solicitou que me aproximasse. Ensinaram-me a nunca olhar nos olhos dele, pois, como deus vivo, não se fita os olhos de uma divindade.

    Descendo de seu trono, o Faraó circundou-me com o olhar e disse:

    — Selina, filha, este é o seu protegido?

    — Sim, meu nobre Pai!

    — Muito bem!

    Ele fez um gesto sutil e pediu que um dos seus guardas pessoais me levasse até uma das passagens que levavam às acomodações do sacerdote. Chegando lá, deparei-me com um homem imponente, envolto em uma capa roxa, com um pano enrolado na cabeça, onde figuras de Cobras espalhavam-se pelo tecido.

    O guarda, em seguida, pediu que eu esperasse ali e cochichou algo em seu ouvido, antes de se retirar. Então, fiquei sozinho com aquela figura assustadora. O homem voltou seu olhar para mim e chamou-me:

    —Venha cá, garoto. Sente-se. Então, você é o protegido de nossa princesa? Balbuciei um sim.

    — Não tenha medo de mim, garoto. Vou te ajudar a sobreviver aqui no palácio. Eu te ensinarei a ler e escrever. Você aprenderá a língua dos deuses e, um dia, se tornará meu sucessor.

    Senti-me mais tranquilo.

    —Venha, este é o lugar onde você dormirá e comerá comigo.

    Ficará comigo o tempo todo, exceto quando eu

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