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Iluminando A Floresta Obscura: A Poesia Enquanto Visão De Mundo
Iluminando A Floresta Obscura: A Poesia Enquanto Visão De Mundo
Iluminando A Floresta Obscura: A Poesia Enquanto Visão De Mundo
E-book223 páginas2 horas

Iluminando A Floresta Obscura: A Poesia Enquanto Visão De Mundo

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Sobre este e-book

Um aclamado estudo e uma meditação global sobre poesia e criatividade.

Essa monografia é um estudo da poesia enquanto uma forma alternativa de ver o mundo e de obter insights a realidades que permitem ao leitor enxergar a vasta alteridade que usualmente nos escapa. É discutido o processo criativo. As influências de outras áreas na elevação da consciência são descritas, bem como metodologias de observação que têm sido empregadas nos últimos 100 anos. Também é dada atenção à contribuição de poetas irlandeses modernos, especialmente no que diz respeito ao papel do poeta na sociedade. O trabalho de três poetas não-ingleses  (Salinas, Lorca e Pasternak) é analisado em detalhe. Também é comentado o papel destes três poetas em suas sociedades, visualizando os insights e iluminações poéticas destes contra as forças sociais que destruiriam o poeta e sua poesia. A seção final do livro lida com a poesia enquanto uma arte única capaz de interpretar o mundo pós-moderno em sua aridez e fragmentação.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento23 de jan. de 2015
ISBN9781633394063
Iluminando A Floresta Obscura: A Poesia Enquanto Visão De Mundo

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    Iluminando A Floresta Obscura - James Lawless

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    A avenida (trad. Cristina Benassy Costa)

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    Clearing the Tangled Wood: Poetry as a Way of Seeing the World

    Iluminando a floresta obscura

    A poesia enquanto visão de mundo

    Iluminando a floresta obscura: a poesia enquanto visão de mundo

    Escrito por James Lawless

    Publicada pela primeira vez em inglês por Academica Press (USA 2009)

    Copyright © 2014 James Lawless

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Marcella Mattar

    Design da capa © 2014 Vikncharlie at Fiverr.com

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    para Brendan Ryan

    SUMÁRIO

    1  INTRODUÇÃO

    2  UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA ELEVADO

    3  TESTEMUNHANDO PÁSSAROS

    4  ENXERGANDO O OCULTO

    5  ENXERGANDO SINAIS

    6  ENXERGANDO GRAMATICALMENTE

    7  ENXERGANDO ENTRE OS TEXTOS

    8  O OLHO FACETADO

    9  ENXERGANDO LIBERAÇÕES

    10  O DESPOTISMO DO OLHO

    11  ENXERGANDO VOZES

    12  ENXERGANDO MENSAGENS

    13  ENXERGANDO O AVANÇO DOS CICLOS

    14  ENXERGANDO O GELO PELA PRIMEIRA VEZ

    15  A VISÃO NO MERCADO

    16  ENXERGANDO O DUPLO

    17  ENXERGANDO MUNDOS INDEFINIDOS

    18  CONCLUSÕES E DISCUSSÃO

    BIBLIOGRAFIA

    ÍNDICE

    INTRODUÇÃO

    A poesia não é tanto uma fuga da realidade mas uma intensa confrontação com ela. As palavras de um artista transmitem um elevado senso de vida, mesmo que representem o gênio em um idioma específico. Um poeta pode começar como um sonhador, mas o verdadeiro momento da arte é aquele em que a pressão do real está contida de uma forma inesperada e, ainda, apropriada.

    Nessa ampla meditação radiante, James Lawless considera as dinâmicas da criação. Para ele, o poeta é alguém que, ao reconectar-nos com o nosso eu escondido, também inventa uma nova forma de ver o mundo.

    Se a energia da vida é um desejo pela forma, então o artista busca uma linguagem para capturar tudo o que é novo. Necessariamente, aqueles que tentem definir algo tão desconhecido devem trabalhar em um idioma conhecido, mas sua originalidade os permite usar o idioma de forma peculiar e inigualável. Isso muitas vezes exige a transcendência de herdadas concepções bipolares de mundo, da sexualidade, de classe e até mesmo de si próprio.

    James Lawless escreve com a autoridade de quem sabe que um artista não é só quem transmite ideias ou emoções, mas quem pode também inventá-las ou ao menos oferecer uma nova nomeação para elas. Mais uma vez, não importa se ele escreve sobre artistas russos, espanhóis, irlandeses ou americanos, ele lembra que o poeta é o tipo de pessoa que consegue sobreviver à confusão e relatá-lo com clareza.

    James Lawless sabe que a poesia compreende partes da psiquê que uma análise mais racional não alcança: e que, para que o nosso mundo seja refeito, é necessária uma viagem como essa.

    Declan Kiberd

    PREFÁCIO

    O homem é mais irracional que racional, o que a linguagem literal falha em reconhecer totalmente. A poesia, no entanto, por conta de suas diferentes qualidades gramaticais e anárquicas, é capaz de abarcar esse aspecto de nossas vidas. Por oferecer uma visão de mundo alternativa, ela impulsiona insights mais profundos à realidade e nos ajuda a ver como outro. A fim de adentrar o mundo da poesia, é necessário elevar o seu estado de consciência e render-se aos seus métodos de observação. Sugestões de como atingir esse estado são propostas nesse trabalho, e é discutido o processo de criação por si próprio. As influências de outras disciplinas e textos são demarcadas, e a evolução da poesia desde a forma oral à escrita até a visual é delineada. São dados exemplos de como a poesia ilumina o nosso mundo ordinário, ideológico e tecnológico. Também é dada atenção à examinação do papel do poeta na sociedade. São citados extratos de trabalhos de vários poetas contemporâneos, incluindo um capítulo sobre a poesia moderna irlandesa. Contudo, para ilustrar mais plenamente o enriquecimento semântico, psicológico e estético que pode ser derivado da poesia, e num intento de se afastar – mesmo que temporariamente – da hegemonia da língua inglesa, a poesia de três poetas não-ingleses (Salinas, Lorca e Pastemak) é avaliada detalhadamente. Esse trabalho se conclui com a justificação do valor da poesia no século XXI, não apenas enquanto forma de arte por si só, mas também como uma essencial ferramenta interpretativa num mundo fragmentado.

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer imensamente aos poetas e escritores vivos ou mortos os quais citei nesse trabalho. Todos eles estão nomeados nas notas, bibliografia e índice. Uma palavra de agradecimento especial por seu apoio e incentivo à minha esposa Margaret e nossa família e a Brendan Ryan, Declan Kiberd, Brendan Kennelly, John Montague, Nuala Ní Dhomhnaill, Michael D Higgins, Katie Donovan, Pat Boran, Gerald Dawe, Joe Woods e à equipe do Poetry Ireland e do Instituto Cervantes de Dublin; e, nos Estados Unidos, minha gratidão ao Thomas Kinsella, Eamon Grennan, George O’Brien, Robert Redfern-West, Tiffany Randall e Ginger McNally.

    1  INTRODUÇÃO

    Seu olhar, de tanto percorrer as grades,

    fatigou-se e nada retém.

    Como se existisse uma infinidade

    de grades e mais nenhum mundo além.

    Essa estrofe de A pantera (1964), de Rilke, apresenta um animal de enorme energia restringido e estupefato por grades de gaiola. Às vezes, uma imagem aparece apenas para ser morta por seu coração prisioneiro e frustrado. O poema é uma boa metáfora para o conflito entre a visão intrínseca do poeta e o mundo externo destrutivo.

    Fazer poesia não é apenas escrever, como alguns acreditariam,¹ mas muitas vezes é a única forma que o animal falante encontra para transformar os limites de seu enclausuramento (Kristeva, 1980:33).

    Freud considera que a poesia tem o poder de revelar o inconsciente (Cheselka, 1987:70). Seu propósito era tornar o estudo do inconsciente em ciência, e ele efetivamente mostrou o homem como um ser mais irracional que racional.

    Há limitações na linguagem literal para expressar nosso eu intrínseco. Nossos pensamentos andam em círculos, mas nossa linguagem é linear, como Bergson (1910) aponta. Se tomarmos a definição de poesia de Nabokov como os mistérios do irracional percebidos por palavras racionais (Winokur, 1989:78), vemos a importância da poesia como uma chave que revela algumas das complexidades da nossa mais profunda psique.

    Quanto mais nos acostumamos a enxergar (ou enxergar pela metade) as coisas de uma certa forma, mais relutante somos para ver a alteridade. Watzlawick et al (1974) ilustrou o quão difícil é para as pessoas criar uma mudança na sociedade quando elas estão cegas por terem de trabalhar com estruturas conceituais internas já limitadas. E Whiting (Rogers, 1982:113) aponta: as pessoas têm um conjunto de comportamentos alternativos latentes que podem ser ativados pela mudança de condições.

    Proponho que a poesia oferece uma forma alternativa de ver o mundo (principalmente no contexto da crescente padronização imposta pela mídia e tecnologias). A poesia utiliza uma gramática diferente para expôr insights e sentidos que normalmente seriam perdidos na linguagem literal. Ela tem o efeito de expandir o nosso sistema para além das expectiativas previsíveis de sentido e de ativar nossa visão em áreas anteriormente dormentes.² Se pudéssemos desenvolver o nosso senso de enxergar como outro, imagine a maravilhosa repercursão que isso teria para uma compreensão mútua de mundo.

    Para adentrar o mundo da poesia, deve-se suspender nossas crenças (ou desacreditar, como alguns concordariam) numa existência concreta e confiar nos métodos de observação, com o objetivo de um enriquecimento semântico e espiritual.

    Esse trabalho propõe examinar algumas das formas pelas quais a poesia capta o mundo e os sentidos que ela encontra ou procura encontrar. Para alcançar este fim, algumas condições, as quais eu proponho discutir nas próximas páginas, são necessárias:

    um elevado estado de consciência;

    algum conhecimento no que envolve criar um poema, e o papel do leitor nisso;

    um entendimento do conteúdo semiótico da poesia;

    a compreensão de que um poema é parte de uma rede com outros textos e outros mundos;

    uma apreciação pela interconexão ou conflito com outras disciplinas, particularmente filosofia e ciência;

    um insight sobre os métodos poéticos orais a visuais, e a combinações deles;

    a atenção plena sobre o papel do poeta na sociedade, como iluminador do mundo cotidiano, ideológico e tecnológico.

    Quero mencionar brevemente a poesia irlandesa moderna e mostrá-la como uma fusão da visão binária do sexo masculino e feminino, com a dupla herança da língua inglesa e irlandesa, na qual uma enriquece a outra.

    Também desejo demonstrar como, em uma era agnóstica, a demanda espiritual na poesia é ainda maior, e como ela tem tido a função de ferramenta interpretativa para descobrir sentido e descobrir a si mesmo. Dessa forma, espero recusar o criticismo daqueles que, depois de Platão, denigriram a poesia como sendo ilusória, e os poetas como instáveis ou até mesmo efeminados.

    E, à luz da crescente contaminação do mundo pelo homem, espero mostrar a importância da poesia como algo que não é sem valor³ e que pode nos ajudar a enxergar a nós mesmos de forma mais ecológica-consciente como visitantes (como diz Pasternak) em vez de donos ou conquistadores da existência.

    Enquanto farei referência a vários poetas ao longo do trabalho, tento concluir destacando três poetas não-ingleses em particular: Salinas, Lorca e Pasternak. Escolhi estes poetas por seu valor intrínseco e como ilustrativo de três diferentes abordagens de poesia, as quais espero que esse trabalho entre em contato. Mas, também, os escolhi com o propósito de proporcionar a oportunidade de viajar para além do nosso hegemônico saber linguístico, numa tentativa de ver como outro.

    Menciono Pedro Salinos por sua busca por sentido ser tão pontual, tão seca, sempre em um fluxo que nos leva através do espelho da realidade, permitindo-nos ver com novos olhos.

    Federico García Lorca foi incluído pela presença do duplo em sua poesia, as metáforas profundas da gramática da própria poesia, e o ainda mais profundo simbolismo onírico que esconde sua orientação sexual.

    Finalmente, Boris Pasternak aparece como o poeta puro, o poema vivo; mesmo seus trabalhos em prosa têm reflexo da poesia. Ele não pôde escapar de viver a vida como uma trágica obra de arte. Sua poesia é rica em simbolismo e visão.

    Espero que esses e outros poetas ilustrem a riqueza semântica, psicológica e estética que pode ser derivada da poesia.

    Por conta da multifacetada natureza da poesia, e por ela abranger tamanha distância, devo restringir meus argumentos essencialmente – com exceção de outras referências en passant – a poetas do século XX e XXI.

    Traduções do espanhol e do irlandês neste trabalho, ao menos que declarado o contrário, foram feitas por mim.⁴

    NOTAS

    ¹  J.M.G. Le Clezio rebaixa a arte de escrever ao igualar todas as formas de escrita

    A poesia, romances, contos são antiguidades notáveis que não enganam a ninguém mais. Poemas, narrativas – qual o uso deles? Não há nada além da escrita (Barthes, 1987:64).

    ²P. Bürger (1992:20), citando Walter Benjamin (q.v.), aponta que

    A tarefa de toda a nova arte é perturbar modos de percepção automáticos através da própria organização do material artístico, e assim forçar o receptor a adotar uma nova forma de ver.

    ³Don Marquis comparou a publicação de um volume de versos a derrubar uma pétala de rosa no Grande Canyon e esperar por um eco (Winokur, p.168).

    ⁴ Nesta versão em português, as traduções dos poemas em inglês ou em espanhol foram feitas pela tradutora.

    2  UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA ELEVADO

    Nosso pensamentos são muitas vezes obscurecidos e destorcidos por nosso ambiente; nossa concentração e emoções podem ser afetadas por estarmos tranquilos ou não, ou pela atitude dos demais, etc. Dessa forma, como alguém poderia limpar a mente, por assim dizer, com a finalidade da recepção poética?

    A preparação meditativa, da qual fala Wordsworth em seu prefácio de Lyrical Ballads (1798), como uma forma de adquirir conhecimento poético, poderia também ser entendida pelo leitor como uma forma de estar num estado de prontidão para receber um texto. Barthes (1967) fala sobre o consumidor da poesia encontrando o mundo de frente, não mais guiado antecipadamente pela intenção racional. Ele atinge uma condição na qual, como um dicionário poderia viver sem seu artigo, é reduzido a uma forma de estado zero. O mundo é uma categoria, impulsiona um discurso. O poema é cheio de vazios, de fala descontínua, cheio de faróis, preenchido por ausências. (p.38).

    De acordo com o pensamento indiano, a sabedoria é diferente quando se está em diferentes estados de consciência. A situação em que o conhecedor se encontra não pode ser removida. Rilke representa a consciência em uma pirâmide, com as percepções literais cotidianas no ápice, e as transcendentais na base (1985:2). Um estado de consciência elevado nos permite criar forma, padrões e sentidos no momento em que estão prestes a acontecer. É uma condição em que a ação é contida em equilíbrio, como o balanço de um trapezista. Deixa-nos prontos para a total recepção. É o que quis dizer James Joyce ao falar das epifanias.

    Como se atinge esse estado? Yarrow sugere um método que envolve uma progressiva redução de esforço, até que se esteja simplesmente consciente de estar consciente, alerta e sem engajar-se em qualquer atividade. Ele menciona a Meditação Transcendental como uma forma de alcançar a completude¹. Contudo,

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