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Caminhando sobre as brasas
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E-book104 páginas1 hora

Caminhando sobre as brasas

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Sobre este e-book

Sendo o facilitador de uma força conjunta que levou as Comunidades caboverdianas de Espanha, sobretudo de León (Bembibre e Laciana) e Galicia (Burela), a despertarem e construindo posturas que lhes avalem estar na sociedade espanhola de uma forma muito compensadora, me deixa profundamente satisfeito e valorizado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de abr. de 2016
ISBN9788468683096
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    Caminhando sobre as brasas - Alexandre de Deus Monteiro

    I

    Às vezes, há necessidade premente de se ir para além da fronteira nacional, para se poder cultivar a vida, quando na verdade se tem essa carência. Contudo, esse enriquecimento pode proporcionar ao aventureiro experiências dolorosas e tristes, principalmente quando se tem uma visão aguda e ciente. Ao nos depararmos com a Fronteira de Tuy, detectando um espaço entre duas cancelas altamente vigiado por homens de duas nacionalidades, exigindo dos utentes elementos informativos afeitos a credibilidade para poderem pisar a Terra pretendida, comecei sentindo aos trambulhões à medida que íamos nos aproximando da primeira cancela, que me parecia a porta de outro mundo.

    – Documentos por favor – solicitou-nos Polícia Portuguesa.

    – Aqui estão os três passaportes – disse Ricardo ao solicitante.

    – E da pequenina? Ah, desculpe-me…

    – Pois, está no meu passaporte – disse Lucinda com um tom censurante.

    – Podem passar e que tenham uma boa viagem.

    – Muitíssimo obrigado – dissemos todos em uníssono.

    Um suspiro profundo parecia contrair-me os dois pulmões, mas, mesmo assim, o meu coração não tomou o ritmo de costume porque ainda havia a parte mais escorregadiça por passar. Contudo, à medida que as coisas iam solucionando-se, a minha aventura ia tornando-se mais melosa, em virtude da ânsia por conhecer um povo que me atraía profundamente e desde a minha tenra idade, atendendo contactos com uma revista literária que o meu tio António Hopffer Almada recebia de Espanha.

    Já no posto aduaneiro espanhol, mostrando tralhas que nos acompanhavam aos agentes acometidos a essa área tão complexa e como também de profunda responsabilidade, porque efetivamente constitui um dos filtros destinados a assegurar o equilíbrio econômico, social e cultural.

    – ¿Tienen algo que declarar?

    – Nosotros solamente tenemos regalitos y cosas personales – respondeu Lucinda, fazendo trejeito.

    – ¿Y qué lleváis en ese maletín?

    – Discos, Senhor. E são da minha autoria.

    – ¿Qué dijo?

    – Ha dicho que son los discos y con canciones de su autoría – respondeu Ricardo, gesticulando com as mãos.

    – Ah, él es cantante… Pero lo siento… verás, es que todo el mundo tiene que abrir maletas y otras cosas semejantes.

    – Claro que abro – respondi-lhe com um ar colaborante.

    O problema consistia no fato de que o maletim se encontrava fechado sob um mecanismo confidencial e que nesse momento não conseguia rememorizar-me o número do acesso. Essa situação condicionou o meu estado de ânimo, ao ponto de atonitisar-me.

    – ¿Es que no te acuerdas del numero? – perguntou-me com suspicácia – que é normal num defensor da lei, segundo os bons costumes.

    Por fim o maletim abriu. A expectativa insinuosa desmoronou-se. Um circo constituído por humanos, tendo a minha pessoa como eixo e o agente policial como raio, constituía um fatigoso jogo à beira de um escândalo.

    – ¡Caramba! – vocês, em uníssono.

    – Yo he visto eso en la Isla de Madera – disse um dos supostos insinuosos.

    – Esto, es un aparato que se mueve con la ayuda de los animales vacuno y sirve para machacar cañas de azúcar, extrayendo el líquido con que se hace miel, azúcar o aguardente – interveio Ricardo, com uma expressão facial muito convincente.

    – ¿Y son para vender?

    – No. ¿Le interesa?

    – ¡ Claro que me interesa!

    – Entonces queda con ese ejemplar.

    – Muchas gracias y que pasen bien por Galícia.

    – También a ustedes, Señor Guardia.

    Ainda na fronteira, a noite se aproximava; e com ela o frio, fazendo sentir o ponto cardinal do país; mesmo assim o seu efeito constituía um mal bastante menor para que me baixasse o valor intrínseco de que dispunha face à nova fonte a explorar, no âmbito de aventura.

    – Tomamos algo, Alexandre? – perguntou-me Ricardo.

    – Sim. Temos que celebrar a minha nova experiência.

    – Vocês podem ir para o bar, que eu meto tudo no carro – disse Lucinda.

    Recusamos determinantemente.

    – Não, iremos juntos – impôs-se Ricardo.

    Com as coisas postas em ordem, deslocamos para um bar vizinho as instalações alfandegárias.

    – Buenas. – a sala inteira recepcionou-nos com um cumprimento em um perfeito estado de harmonia – Essa natureza de comportamento me imprimiu, com um estalo grande na minha alma, uma profunda admiração para com a Galícia e em particular com o seu povo.

    – ¿Qué toman? – perguntou-nos o empregado.

    – Alexandre, que tomas?

    Perdido em few the back, retratando o panorama do acontecimento numa das instalações alfandegárias.

    – Que tomas, homem! – insistiu Ricardo.

    – Ah…, tomamos uma coisa forte!

    – ¡Dos cuba libre!

    – Bem, esta situação merece um brinde. Portanto, brindemos…

    II

    De Tuy, tomamos rumo a Burela, via a Cidade de Vigo, albergadora de um amplo porto pesqueiro e vários estaleiros navais altamente capacitados nas áreas de construção e reparação de barcos.

    – Que cidade! – exclamei com poesia no coração.

    – Tu ainda não viste nada! Se passares de dia, então depararás com outro encanto.

    – Não é verdade Ricardo. À noite, uma cidade tem mais possibilidades de se expressar: seus labirintos e inclusive sua beleza.

    Atravessamos uma longa ponte sobre o rio que liga a Cidade de Vigo a outros pontos do país, e com perplexidade me ia perdendo no Atlântico sob a força de entre-dia-e-noite, que talvez se pode compreender como uma escapada a casa ou uma autêntica conspiração espiritual.

    A chuva caía torrencialmente. A Lucinda e a filha dormiam como se estivessem em suas camas de todos os dias. Eu, embora cansado, preferi manter-me desperto ao sabor da música cabo-verdiana e ao mesmo tempo apreciando as paisagens sob penumbra, enquanto éramos conduzidos pelo Ricardo, que lidava com sabedoria uma modesta viatura…, e num perfeito estado de ânimo.

    A Costa Lucence se aproximava com aspereza devido à má estrada que se podia ir constatando, mas, mesmo assim, a viagem não se interrompeu até a porta do edifício onde vivia o Ricardo e a família.

    – Despertem, que já chegamos a Foz – disse Ricardo, com uma certa destreza.

    – Foz? Então estamos chegando a Burela! Sinceramente esta costa caracteriza uma vista panorâmica que alucina a qualquer ser humano. Que mar azul!

    – Nesta povoação, vivem cabo-verdianos. E em seguida chegaremos a Canga de Foz, e ali também vivem os nossos conterrâneos.

    – E trabalham em quê?

    – No mar. Neste momento, todos os cabo-verdianos que residem na Costa Cantábrica levam vida de marinheiros, exceto as mulheres que

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