Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Vidas Alteradas
Vidas Alteradas
Vidas Alteradas
E-book365 páginas5 horas

Vidas Alteradas

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

O detetive particular Sam Dyke enfrenta um caso que exige qualidades que ele não tem – paciência, saber lidar com a tecnologia e muito tato. Depois acaba descobrindo que as qualidades que ele de fato tem – tenacidade, agressividade e uma certa malandragem – são exatamente aquelas que ele mais precisa para este caso: uma caçada a um assassino frio e calculista.

Para solucionar o caso, Sam vai ter que lidar com sua ex-mulher, ao mesmo tempo em que descobre um novo amor e ainda vai ter que desvendar uma fraude comercial e lutar com o assassino. Vidas Alteradas é um livro muito dinâmico, com uma pitada de humor ácido e que vai fazer o leitor prender a respiração. 

IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de dez. de 2016
ISBN9781507149973
Vidas Alteradas
Autor

Keith Dixon

Keith was born in Durham, North Carolina in 1971 but was raised in Bellefonte, Pennsylvania. He attended Hobart College in Geneva, New York. He is an editor for The New York Times, and lives in Westchester with his wife, Jessica, and his daughters, Grace and Margot. He is the author of Ghostfires, The Art of Losing, and Cooking for Gracie, a memoir based on food writing first published in The New York Times.

Leia mais títulos de Keith Dixon

Autores relacionados

Relacionado a Vidas Alteradas

Ebooks relacionados

Mistérios para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Vidas Alteradas

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Vidas Alteradas - Keith Dixon

    ÍNDICE

    Epígrafe

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Capítulo 48

    Capítulo 49

    Capítulo 50

    Capítulo 51

    Capítulo 52

    Capítulo 53

    Capítulo 54

    Capítulo 55

    Capítulo 56

    Capítulo 57

    Capítulo 58

    Agradecimentos

    VIDAS ALTERADAS

    Keih Dixon

    Tradução:

    Natalia Orosco

    Revisão:

    Aline Tomasuolo

    Para Liz

    Assure me that I yet may change these shadows you have shown me, by an altered life!

    A Christmas Carol, Dickens.

    Dizei-me que ainda há tempo de mudar essas sombras que me mostrou para uma vida alterada

    Um conto de Natal, Dickens

    1

    QUERIA PODER DIZER que quando conheci Rory Brand eu já sabia que ele era um homem condenado.

    Mas não posso.

    Àquela altura ele era só mais um cliente ansioso para me levar para o seu lado.

    - Dyke, obrigado por vir - disse ao me cumprimentar com um aperto de mão tão vigoroso que chacoalhou todo meu braço.

    Como eu não queria parecer mais fraco que ele, respondi ao seu aperto de mão com o mesmo vigor e percebi que ele reagiu com um rápido sorriso forçado e um pouco competitivo.

    - Você tem um bom aperto de mão - disse.

    - Pode me chamar de Sam - respondi.

    Rory Brand era um homenzinho atarracado, um pouco mais baixo que eu, os cabelos curtos e escuros já apresentavam alguns fios grisalhos. Era um homem de atitude e muito confiante, seus gestos eram típicos de alguém que estava acostumado a sempre estar no comando. Assim como a maioria dos homens mais visionários que já tinha conhecido, tinha muita energia e era cheio de vida. Fechou a porta atrás de mim com um movimento rápido e casual, então me acompanhou pela sala, um pequeno escritório pouco arejado, com duas grandes janelas e uma mesa de madeira com cadeiras dos dois lados. Tive a sensação de que estava acostumado com pessoas atendendo às suas vontades o tempo todo. Bom, isso com certeza não funcionaria comigo - não sem ao menos um bom adiantamento dos meus honorários.

    - Espero que possamos já deixar uma coisa bem clara – disse - Boatos são uma praga neste negócio, então ninguém pode saber o que será dito aqui, estamos entendidos?

    - Já concordei com essa condição ontem - respondi.

    - Pode me chamar de paranoico, eu não me importo. Você obviamente deve ter mais fé na humanidade do que eu.

    A maneira com que falou isso sugeriu que minhas opiniões sobre a humanidade, na verdade, não despertavam o menor interesse em alguém tão importante quanto ele. Achei melhor não dizer nada. Olhei pela janela e pude ver todas as coberturas luxuosas de Waverley, imaginando como deveria ser viver em um lugar onde a única preocupação era combinar a cor do tapete com o resto da sala.

    - A Carol te ofereceu um café? - perguntou.

    - Já tomei tanto café que seria capaz de manter um foguete em órbita, Sr. Brand – respondi - Antes de começar, deveria te explicar como eu trabalho. Meus honorários são de quatrocentos dólares por dia, mais despesas e um adiantamento não reembolsável de dois mil. Podemos trabalhar dentro das condições do meu contrato padrão, mas entendo se você não quiser nada por escrito. No final do trabalho, posso te dar um recibo detalhado.

    Ele riu de um jeito debochado e irônico, como se estivesse surpreso com a resposta que viria a seguir. 

    - Quatrocentos por dia? – indagou – você tá brincando. Eu sou consultor de negócios. Não cogito nem sair de casa por este valor. Vou te dar uma consultoria de graça: aumente os seus honorários, caso contrário, as pessoas vão pensar que seu serviço é uma bosta.

    - Até agora ninguém nunca reclamou - respondi.

    Ele pareceu interessado.

    - Andei perguntando por aí e ninguém tinha informações sobre como contratar um detetive. Te encontrei na lista telefônica. O que me impressiona é existir a possibilidade de te ajudar com a sua estratégia de marketing. Esse anúncio nas Páginas Amarelas não deve te render muitos negócios.

    - Entendi - falei num tom seco.

    - Jesus! Você não tem ambição? – disse ele – Eu nunca teria construído meu império se pensasse desse jeito. No mundo dos negócios, só para sobreviver você já tem que pensar grande.

    Fiquei irritado com aquela ânsia que demonstrava em me dizer o que eu estava fazendo de errado com a minha própria vida. Peguei meu caderno e o abri em uma página em branco. Não sei se é a culpa que sentem ou se de algum modo acham que são moralmente superiores, alguns clientes simplesmente forçam a barra. Contei até dez, torcendo para que Rory Brand não fosse esse tipo de cliente difícil que não tem coragem de fazer alguma coisa e quer que eu faça por ele, para depois me encher o saco por não ter feito exatamente do jeito que ele desejava. Então falei:

    - Fico lisonjeado pelo seu interesse na minha perspectiva profissional, mas esse não é o motivo de eu estar aqui, ou é? Você não disse o porquê de eu estar aqui quando nos falamos por telefone. Que tal se tratarmos somente disso agora?

    - Ok - respondeu - Justo. Essa empresa é minha. Tem o meu nome. Sabe como é, você tem que dar um nome para sua empresa, certo?

    - Fica mais fácil para te encontrarem nas Páginas Amarelas.

    - Bem observado. Há sete anos, abri a empresa com a minha primeira esposa, Gill, em Manchester, logo depois de nos mudarmos para cá. É isso que eu tenho que fazer, certo?

    - O quê ?

    - Confessar tudo enquanto você anota.

    - É o que as pessoas fazem.

    - Ok. O que mais eu posso te contar? Estamos no ramo de consultoria de negócios. Bem parecido com o seu ramo, ajudar pessoas que não sabem lidar sozinhas com seus próprios negócios. Como você pode perceber, sou muito apaixonado pelo que faço. Você consegue me entender, Sam?

    - Você não precisa vender seu produto para mim, Sr. Brand.

    - Ah, é verdade. Você precisa manter um distanciamento profissional, né? Bom, o fim dessa história é que, do nada, a Gill decidiu me trocar pela Austrália e pela ensolarada Bondi Beach e eu não a vejo desde então. Não consigo nem te explicar o balde de água fria que isso foi para mim. Ela era muito parceira, andávamos lado a lado e eu não consegui entender o que aconteceu de errado. Até agora ainda não entendi.

    - Vocês já estão divorciados? Ou os advogados ainda estão tratando do assunto?

    - O pacote completo. Divórcio de papel passado. Um ano depois me casei com a Tara. Uma garota adorável. Consegue vender até gelo para esquimó. Ela trabalha comigo no ramo, como diretora de vendas. Eu posso adivinhar o que você está prestes a falar - só se passou um ano entre a Gill me deixar e eu me casar com a Tara, mas é que não gosto de viver sozinho. Sou um homem muito sociável. Não gosto de sair do trabalho e ir para uma casa vazia. Você não precisa anotar essa parte.

    Primeira regra que você aprende na escola de detetives: os clientes sempre querem te dar algum contexto. Normalmente, mais do que você precisa saber em uma primeira fase da investigação. E já tinha percebido o suficiente sobre o tipo de homem que o Brand era para saber o que vinha a seguir - algo sobre um acordo pré-nupcial ou talvez quisesse falar sobre alguma mulher que tinha magoado seus sentimentos, talvez algum amor platônico do passado que agora estava prestes a se concretizar arruinando o seu atual casamento, tudo isso dito em meio a revelações cansativas e desnecessárias sobre suas tendências sexuais. Para alguns profissionais do meu ramo, ricos executivos são uma fonte de lucro inesgotável criada pelo estresse matrimonial. Pessoalmente, e apesar do crescimento potencial dos meus lucros, não pegaria esse tipo de trabalho, mas por hora eu ainda estava ali e, apesar de tudo, ainda estava prestando atenção.

    - Entendi. Você administra um excelente negócio – disse – e ganha rios de dinheiro, não sai de casa por menos de quatrocentos dólares por dia. Mas o que exatamente você precisa de mim? Te falei na conversa por telefone que não faço serviço de guarda-costas para ricos e famosos.

    Ele se debruçou sobre a mesa, seus olhos me encarando diretamente com a firmeza de uma águia, mas ainda assim de um jeito amigável.

    - O ramo de consultoria é um ninho de cobras, Sam. Todo mundo tentando beber água da mesma fonte. Depois de um tempo, a competição se torna muito cruel. É preciso ganhar o tempo todo só para conseguir pagar o aluguel e as despesas mais insignificantes.

    - Não é preciso olhar muito a sua volta para perceber que a sua vida foi difícil.

    - Não me entenda errado. Amo tudo isso. Consigo sentir a adrenalina correndo pelas minhas veias quando ganho uma conta. É quase melhor que sexo.

    Continuou ali de pé, como se fosse insuportável ter que obedecer às leis da gravidade. Então voltou para a mesa mais uma vez e se debruçou novamente, agora seus olhos demonstravam uma expressão mais obscura.

    - Mas agora estamos desenvolvendo uma arma secreta – disse - e tem algumas pessoas que não conseguem suportar isso. Estão vindo atrás de mim e dos meus negócios. Estão tentando roubar essa arma secreta de mim - da forma mais descarada.

    2

    Essa nova informação me surpreendeu, mas eu não demonstrei nada e mantive uma expressão natural. Então o caso se tratava de propriedade intelectual, ou roubo de direitos autorais ou espionagem industrial. Isto é o que as pessoas consideram o lado mais refinado da área de investigação, o que não era meu forte. Para falar a verdade, depois de dois anos nesse ramo, ainda estava tentando descobrir qual era o meu forte. Então descobri que estava prestes a poder me gabar disso no meu anúncio barato nas Páginas Amarelas.

    - Mas quem são eles? - perguntei.

    - Já estou chegando lá. Não sei se você percebeu, mas estou curtindo isto. Falar sobre isso. Ver tudo através da sua perspectiva, por assim dizer. Está sendo bom para mim.

    - É um benefício extra que meu trabalho oferece.

    Ele me olhou de soslaio e então continuou.

    - Continuando. Até um ano atrás, tínhamos somente vinte e três pessoas trabalhando aqui. Vinte consultores, umas duas pessoas prospectando novas contas, uma molecadinha mais antenada na área de vendas e marketing e o departamento administrativo. A empresa está em crescimento. Criando um nome no mercado.

    - Não está funcionando muito bem, certo? Nunca tinha ouvido falar de vocês até ontem.

    - Empresários que trabalham sozinhos não são exatamente o seu público alvo - falou num tom bastante professoral - De qualquer forma, do nada eu tirei a sorte grande. Tive a ideia de levar a empresa para uma nova direção. Isso é o que eu faço de melhor: tenho boas ideias. Quando você me conhecer melhor vai perceber que faço isso o tempo todo. Não consigo evitar. Então, depois disso, precisava de dinheiro para investir na ideia, o que significava que teria que buscar investidores. Reuniões entediantes e intermináveis, muita burocracia.

    Enquanto falava, fechou os olhos devagar, como se estivesse repassando estas reuniões mentalmente, e então abriu os olhos de forma abrupta.

    - Chamam isso de capital de risco, mas não há nada de arriscado nisso. Trabalhei duro até colocar todos os pingos nos is. Mas, no final, acabei conseguindo.

    - Então você enriqueceu do nada – falei - A vida é boa.

    Ele ignorou a minha observação. Não tinha certeza se ele não entendia sarcasmo ou se estava muito óbvio para perceber.

    - Deixa eu te esclarecer uma coisa, Sam. Nosso mercado alvo é principalmente as pessoas na área de recursos humanos. Pergunte a eles sobre seu trabalho e te dirão que são pessoas que cuidam de pessoas. Infelizmente, conhecem tudo que envolve pessoas, mas não sabem nada sobre computadores, e o que querem é saber cada vez menos. Mas, no fim das contas, o mundo mudou. As fábricas, as indústrias de serviço, os call centers, tudo depende dos computadores e da internet. É a guerra do mundo moderno.

    Por algum motivo, esse papo de guerra me fez lembrar o meu pai tentando se virar em dois para conseguir explorar as reservas de carvão em Thurnscoe. Ele sempre falava sobre as lutas que travava contra a Coal Board[1] e sobre ganhá-las. Sempre conversávamos sobre campanhas e táticas de guerra. Era um linguajar comum na nossa casa. Guerra para ele era uma coisa séria e significava muito mais que alguns pixels atravessando um monitor de computador. Olhei de novo para Brand, esperançoso de que ele não tivesse notado o meu descaso com todo aquele papo.

    - Mas enfim, o que tudo isso tem a ver com você? - perguntei - Se as pessoas para quem você está vendendo não entendem nada sobre o seu produto, por que isso importa?

    - Três milhões de libras - respondeu com certa frieza. - Esse foi o capital que eu consegui para desenvolver o software.

    Eu já não estava entendendo nada e precisava que ele explicasse mais devagar. A minha distração fez com que ele parecesse estar à milhas de distância.

    - Que software?

    - É sobre isso que eu estou te falando. Nossa nova tecnologia. Comprei de um geek que conheci e, quando conseguimos o capital de investimento, decidimos ampliar a empresa. Demos o nome de Compsoft a este software. É capaz de medir a competência.

    - Acho que isso é papo de consultor – falei.

    - Enxerguei uma oportunidade de mercado. Havia a necessidade de um software que medisse as habilidades das pessoas no trabalho e então comparasse essas habilidades a uma base de dados nacional. Sam, a noite que eu tive essa ideia foi alucinante. É muito excitante quando você tem uma ideia tão boa quanto esta. Literalmente, é algo que te faz perder o fôlego. Tive que me sentar, caso contrário teria tido um colapso.

    De repente percebi o rumo que tudo isto estava tomando.

    - Então esse software pode dizer às empresas como está a capacidade de seus funcionários em relação à concorrência.

    Ele sorriu deslumbrado, como se fosse um pai vendo o filho dando os primeiros passinhos incertos.

    - É isso mesmo – respondeu - Você descobre onde estão as falhas na sua própria empresa. E então o Compsoft te mostra qual a avaliação da sua empresa com relação às outras empresas em uma base nacional.

    - Você pode monitorar o que a sua concorrência está fazendo só por saber quais capacidades procuram nas pessoas que estão sendo contratadas.

    - É preciso usar um pouco a imaginação, um tipo de adivinhação orientada, mas você pode ter a certeza de que não está ficando para trás nessa competição. Chamamos isso de vantagem competitiva.

    Ele estava orgulhoso demais de si próprio para o meu gosto.

    - Então, três milhões de libras serviram para quê – disse - além de causar um enorme prazer para o gerente da sua conta no banco?

    Brand fez um gesto bem espalhafatoso, abrindo os braços como se fosse abraçar todo o escritório além das pessoas que trabalhavam do lado de fora da sala de reunião.

    - Contratar minha equipe. Recrutar alguns programadores e pesquisadores. Designers. Analistas. Fazer um upgrade na nossa imagem.

    - Deu para perceber. A bunda do seu pessoal tinha que se acomodar em cadeiras bem elegantes e confortáveis. Mas como vão as coisas? Quanto você já vendeu?

    Ele desviou os olhos de mim.

    - Bom, até agora nada. O programa ainda não foi finalizado. Existe uma versão demo do Compsoft no nosso site. Mas ainda precisa de alguns ajustes, mais uns meses de trabalho.

    Parei de escrever e coloquei minhas anotações na mesa. Já tinha ouvido o bastante. Brand ficou me olhando, o perfume dele tomava conta da sala e era possível ouvir sua respiração.

    - Qual é o problema? – indagou - O obstinado detetive já terminou suas perguntas? Não fique aí só me olhando com esse ar de superioridade.

    Não tinha um jeito fácil de dizer o que estava prestes a dizer, então falei sem rodeios.  - Eu não posso te ajudar, Sr. Brand.

    - E por que não? – perguntou, entretanto pareceu já estar esperando se decepcionar.

    - Considerando tudo o que foi dito, acho que você está preocupado por alguém estar tentando comprar a parte das ações da sua empresa que pertence aos investidores.

    Rory acenou com a cabeça, concordando de um jeito cauteloso.

    - Consigo te entender - continuei falando - No fim das contas, você os convenceu a investir três milhões de libras no negócio e isso pode parecer um jeito mais rápido de recuperar o dinheiro que foi investido. Mas tudo isso que você me contou é pura especulação. Até que aconteça algo de verdade, não posso te ajudar.

    - Então eu tenho que esperar cair em uma emboscada até que você possa fazer alguma coisa?

    - Tudo o que você tem até agora é a desconfiança de estar sendo passado para trás. Mas nesse jogo, somente uma desconfiança não é suficiente - fiz um gesto apontando minhas anotações - Dizem que sou um ótimo detetive. Mas não vou inventar um caso onde não existe um de fato.

    - Mesmo eu tendo conhecimento de que há, de fato, um caso?

    - Você buscou a ajuda de investidores externos, corre o risco destes investidores venderem a parte das ações que lhes pertence. Você já falou com eles?

    - Não quero assustá-los sem motivo, caso eu esteja errado. Te avisei que esta conversa era somente entre você e eu.

    - Então me desculpe, não há nada que eu possa fazer no momento. Se uma cadeira ou uma pessoa ou uma parte do seu software desaparecer, sou o homem certo para o serviço. Moverei céus e terra até descobrir o que for necessário. Mas até que isso aconteça, para ser bem sincero, estaria apenas desperdiçando seu dinheiro. E como não sou contra isso em princípio, o mínimo que posso fazer é te avisar com antecedência.

    - Sam Dyke, o detetive honrado - debochou de um jeito irritado. Como a maioria dos empresários faz, permitiu-se transparecer várias emoções em uma tentativa de manipular a outra pessoa: se uma coisa é importante para mim, deveria ser importante para você também. Agem como se uma exibição clara de seus sentimentos fosse suficiente para comprometer o outro na tarefa de comprar o que está sendo vendido. Mas eu não estava caindo naquela encenação.

    - E se eu tivesse mais informações? – disse - Algo que tornasse tudo isso mais fácil?

    - Não é questão de ser fácil ou difícil. É uma questão sobre o que eu posso fazer. Não vou aceitar o seu dinheiro e então ficar esperando sentado até que alguém te faça uma proposta irrecusável. Não trabalho desse jeito.

    - Certo, é seu código de ética - disse debochando mais uma vez.

    - É apenas bom senso.

    Rory olhou pela janela quando ouviu o raio causado pelas nuvens negras que vinham se aproximando lentamente do prédio e deixando a sala mais escura a cada minuto. Parecia que o tempo estava em sintonia com ele, escurecendo conforme seu humor piorava. Por fim, falou em voz baixa:

    - Tenho um suspeito.

    - O quê?

    - Isso chamou sua atenção, certo, sr. Sabe tudo? Vamos dizer que eu sei que certas pessoas têm falado com outras certas pessoas, que por sua vez, estão interessadas em ver minha cabeça em uma bandeja.

    O jeito que falou era exagerado, dramático e bastante teatral. Apesar disso, não consegui segurar a pergunta:

    - De quem você está falando?

    Ele praticamente se jogou na cadeira e cruzou os braços. Estava realmente muito assustado e eu ainda não tinha percebido. Tal fato me atingiu como um golpe seco. Aquela cena toda era somente para esconder o medo que estava sentindo.

    - Não sei quem é o desgraçado que quer comprar a empresa – disse. - Mas eu sei quem colocou tudo isso em jogo. Quem mandou seus lacaios farejarem se tinha alguém interessado no negócio. Quem me apunhalou pelas costas e fugiu na ponta de seus pés calçados em elegantes sapatos de grife.

    - Quem? - perguntei.

    Rory Brand me encarou e piscou lentamente.

    - Minha adorável esposa, Tara.

    3

    ANTES QUE EU PUDESSE dizer qualquer coisa, a porta se abriu e Carol, a Recepcionista, olhou pela fresta recém-aberta. Era uma mulher de quarenta e poucos anos e o abundante cabelo escuro e cacheado se espalhava sobre um vestido muito refinado para seu trabalho. Os cachos clareavam em direção às pontas dos fios, como gotas de leite se desmanchando em uma xícara de café. Olhei para ela um pouco fascinado.

    - Ainda posso oferecer um café? - perguntou.

    Brand encarou a mulher:

    - Fecha a porta, Carol. Não nos interrompa novamente, não sem eu ter te chamado.

    Rapidamente ela saiu e fechou a porta. Esperei um pouco, mas Brand não disse nada.

    - Você tem certeza? - perguntei.

    - Foi ela - respondeu num tom amargo, baixando os olhos e encarando a mesa.

    O comportamento dele mudou. Quando cheguei, ele estava muito confiante, no controle da situação; agora já demonstrava sua aflição, como um homem que havia perdido algo que não era possível recuperar.

    Comecei a sentir pena dele.

    - Ninguém além de mim sabe das coisas que ela sabe – disse. - Mais ninguém poderia ter armado tudo isso. Você já foi casado?

    - Muito tempo atrás. Não deu certo.

    - Ela fugiu?

    - Não me lembro. Olha, você está me dizendo que a Tara está tentando te roubar?

    Ele me encarou com uma expressão severa.

    - Pode ter certeza que sim. Agora você entende?

    - Por que ela faria uma coisa dessas?

    Então, ele levantou as mãos em sinal de dúvida e as deixou cair sobre a mesa como se fossem dois pesos mortos.

    - Pode me chamar de careta, mas achava que o seu trabalho era investigar esse tipo de coisa.

    Recostei-me na cadeira e olhei para as pessoas do lado de fora da sala. A maioria deles tinha vinte e poucos anos e estava vestida de um jeito mais casual, de calça jeans e camiseta. Irremediavelmente seguindo a moda. Atrás deles, preenchendo todas as paredes, havia incontáveis módulos de computador com suas luzes piscando, pareciam árvores de natal cubistas. Várias caixas de papelão com mais hardwares estavam empilhadas em um canto.

    - Ela está aqui? - perguntei.

    - Não, está em Londres com um cliente.

    Então pareceu mudar de ideia sobre alguma coisa.

    - Olha, se não fosse pelo fato de se tratar da Tara, poderia tratar disso pessoalmente. Mas isso é muito difícil para mim. Então, o que eu preciso é que você confirme se estou certo, de um jeito ou de outro. Descubra o que ela anda fazendo, quem mais está envolvido e qual é o plano.

    Fiquei olhando fixamente para ele por uns bons quinze segundos sem dizer nenhuma palavra. Ele percebeu a encarada. Então se levantou de repente e disse:

    - Tem alguém que quero que você conheça.

    - Não vai ajudar em nada - falei. Estava começando a ficar exasperado. Clientes que não me escutam são mais comuns do que eu gostaria, mas esse em particular estava começando a me irritar com sua falta de interesse em prestar atenção no meu conselho, que estava lhe saindo bastante caro. Acrescentei:

    - Por acaso já te avisei que não me envolvo em disputas familiares?

    - Você já está aqui mesmo. Não custa nada. Não discuta com um cliente, Sam, você nunca vai ter razão.

    Sem esperar que eu respondesse, abriu a porta da sala do escritório e saiu em disparada. Segui Brand, ainda bastante relutante e observei o ambiente, olhando o pessoal. Nem perceberam que havíamos voltado para seu mundo. Carol, a Recepcionista, demonstrou alguns de seus olhares gélidos enquanto nos observava atravessando o escritório para outra parte que estava quase vazia. Dei-lhe um sorriso afetuoso, só para confundi-la.

    - Essa é a divisão de consultoria - Brand disse abruptamente - Ah, aqui está uma das pessoas que eu queria que você conhecesse.

    Uma mulher magra com o cabelo cor de palha estava sentada em uma mesa no canto. Estava com a cabeça baixa e lia uma pilha de papel. Ela olhou para nós quando percebeu que estava sendo observada. Seu rosto parecia um quadro desenhado com uma mistura de figuras geométricas que se combinavam de um jeito harmonioso: os olhos eram extraordinariamente redondos e de um azul quase transparente, o rosto era bastante oval, mas as maçãs do rosto eram bem retas e marcadas, o que tornava sua expressão muito séria e bem delineada. A pele era macia e bronzeada, como se tivesse acabado de sair da praia. Estava

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1