Rimas Infantis de Tradição Oral
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Sobre este e-book
A obras contém as seguintes composições: Rimas de animais; Adivinhas rimadas; Rimas de brincadeira; Canções infantis; Rimas sobre o corpo humano; Rimas de embalar; Rimas de "Era uma vez"; Exorcismos e maldições; Histórias em verso; Rimas de jogos; Rimas do Sarapico; Rimas de selecção; Rimas com números; Lengalengas; Rimas que ridicularizam o nome de pessoas e profissões; Rimas que louvam ou ridicularizam as terras; Rimas de zombaria; Orações jocosas; Regras infantis; Rimas de resposta e contra-resposta; Trava-línguas.
José Leon Machado
José Leon Machado nasceu em Braga no dia 25 de Novembro de 1965. Estudou na Escola Secundária Sá de Miranda e licenciou-se em Humanidades pela Faculdade de Filosofia de Braga. Frequentou o mestrado na Universidade do Minho, tendo-o concluído com uma dissertação sobre literatura comparada. Actualmente, é Professor Auxiliar do Departamento de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde se doutorou em Linguística Portuguesa. Tem colaborado em vários jornais e revistas com crónicas, contos e artigos de crítica literária. A par do seu trabalho de investigação e ensino, tem-se dedicado à escrita literária, especialmente à ficção. Influenciado pelos autores clássicos greco-latinos e pelos autores anglo-saxónicos, a sua escrita é simples e concisa, afastando-se em larga medida da escrita de grande parte dos autores portugueses actuais, que considera, segundo uma entrevista recente, «na sua maioria ou barrocamente ilegíveis com um público constituído por meia dúzia de iluminados, ou bacocamente amorfos com um público mal formado por um analfabetismo de séculos.»
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Rimas Infantis de Tradição Oral - José Leon Machado
NOTA INTRODUTÓRIA
Uma boa parte das composições que apresentamos foram recolhidas pelos alunos das Licenciaturas do Primeiro Ciclo do Ensino Básico e de Educadores de Infância do Polo de Chaves da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal) entre o ano de 2000 e 2002 no âmbito de um trabalho para a unidade curricular de Literatura Infanto-Juvenil. O objetivo do trabalho era que cada aluno recolhesse uma ou mais composições de tradição oral junto dos seus familiares ou vizinhos e que as transcrevesse o mais fielmente possível. O professor selecionou aquelas que lhe pareceram estar de acordo com esse objetivo, limitando-se a corrigir erros de ortografia e de sintaxe e cortando redundâncias.
Rimas de animais
1. Joaninha
Joaninha avoa, avoa
Que o teu pai foi a Lisboa
Buscar um carro de pão
Para ti e para o João.
Tibães, Braga
Joaninha voa, voa
Que o teu pai foi a Lisboa
Buscar um naco de pão
Pra ti e pró teu irmão.
Marinhas, Esposende
Joaninha voa, voa,
Leva as cartas a Lisboa.
À vinda vem por aqui
Que eu dou-te pão e cebola.
Lixa do Alvão
Joaninha voa, voa,
Leva as cartas a Lisboa.
Ao passares pela minha porta
Dou-te pão e cebola.
Chaves; Monte D’Arcas, Valpaços
Joaninha voa, voa,
Leva as cartas a Lisboa.
De Lisboa a Mirandela
Cose o cu com uma sovela. [1]
Miranda do Douro; Bornes, Macedo de Cavaleiros; Amendoeira, Macedo de Cavaleiros
Joaninha voa, voa,
Leva as cartas a Lisboa
Que está lá tua madrinha
Que te dá pão e sardinha. [2]
Celorico de Basto; Santo Adrião, Vizela
Joaninha voa, voa,
Que o teu pai foi a Lisboa
Buscar pão e cebola
Prà amanhã prà tua boda.
Fojo, Moreira do Lima, Ponte de Lima
Joaninha voa, voa,
Que o teu pai foi a Lisboa
Buscar um carro de mato
Pra tapar o teu buraco.
Trofa
Joaninha voa, voa,
Que o teu pai foi a Lisboa
Buscar pão e cebola.
Montalegre
Joaninha voa, voa,
Que o teu pai foi a Lisboa
Comprar um facão
Para te espetar no coração.
Ovar
Voa, voa joaninha
Que o teu pai foi a Lisboa
Foi comprar uma faca de latão
Para te espetar no coração.
Vilarelho da Raia, Chaves
Joaninha voa, voa,
Leva as cartas a Lisboa.
Ao passares à minha porta
Dou-te pão e cebola.
Santo António de Monforte, Chaves
Joaninha voa, voa,
Que o teu pai está em Lisboa
com o rabo da sardinha,
para dar à Joaninha.
Guimarães
Joaninha voa, voa
Que o teu pai foi pra Lisboa
Com um saco de feijões.
Lá vai ele aos trambolhões.
Cambres, Lamego
Joaninha voa, voa
Que o teu pai está pra Lisboa
Com um saquinho de farinha
Para dar à Joaninha.
Cambres, Lamego
2. Está a chover...
Está a chover e a dar sol
Na casinha do rouxinol.
Rouxinol está doente
Com uma pinga de aguardente.
Tibães, Braga
Está a chover e a dar sol
Na casa do rouxinol.
Rouxinol está doente
Com calinhos de aguardente
Monsul, Póvoa de Lanhoso
Está a chover e a dar sol
E a raposa de guarda-sol.
Lixa do Alvão
A chover e a nevar
E a raposa no quintal,
A lavar os cueirinhos
Para amanhã se casar.
Monte D’Arcas, Valpaços
A chover e a nevar
E a raposa no quintal,
A pôr ovos prò natal.
Monte D’Arcas, Valpaços
Está a chover e a nevar
E a raposa atrás do lar
A fazer a camisinha
Para amanhã se casar.
Lixa do Alvão
Está a chover, está a pingar.
A raposa no quintal
A apanhar as batatinhas
Para o dia de Natal. [3]
Cabeçudos, Famalicão
Está a chover e a dar sol.
A raposa no quintal
A fazer uma camisola[4]
Para o dia de Natal.
Celorico da Beira; Fradelos, Braga
A chover e a nevar,
A raposa no quintal
A fazer os vestidinhos[5]
Para o dia de Natal.
Travancas, Chaves; Miranda do Douro
A chover e a nevar
A raposa no quintal
A fazer a casotinha
Para o dia de Natal.
Moreira de Rei, Fafe
A chover e a nevar
A raposa no quintal
A partir os cavaquinhos
Para a noite de Natal.
Fontelo, Lamego
Está a chover e a dar sol
E o senhor com um guarda-sol
A fazer chá quente
Para o menina que está doente.
Guimarães
A chover e a dar sol,
O senhor com o guarda-sol;
A raposa no quintal
A lavar a casaquinha
Para o dia de Natal.
Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso
Está chover, está a pingar,
A lagarta no lagar,
A apanhar as cerejinhas
Para o dia de Natal.
Santo António de Monforte, Chaves
3. Cuco
Ó cuquinho da ribeira:
Quantos anos me dás de solteira?
Lixa do Alvão
Ó cuco da alforada,
Quantos anos me dás de casada?
Granjinha, Chaves
Ó cuquinho de Aveiro,
Quantos anos me dás de solteiro?
Lixa do Alvão
Cuco do maio, cuco da ribeira;
Quantos anos me dás de solteira?
Castelões, Chaves
Cuco do mar, cuco da ribeira,
Quantos anos me dás de solteira?
Ventuzelos, Chaves
Ó cuco ramalheiro,
Quantos anos me dás de solteiro?
Montalegre
Cuco do mar, cuco da rabiça,
Quantos anos me dás
Para comer uma chouriça?
Ventuzelos, Chaves
Cuco da aveia, cuco da maia,
Quantos anos me dás de solteira?
Vila Real
Cuquinho da ribeira,
Quantos anos me dás de solteira?
Vila Real
Ó cuco ramalheiro,
Quantos anos me dás de solteiro?
Ó cuco ramalhado,
Quantos anos me dás de casado?
Frades, Póvoa de Lanhoso
4. Galinha
Para que a criança coma, com o indicador apontar a mão do bebé e cantar:
Põe, põe pitinha o ovo.
E o menino papa-o logo.
Lixa do Alvão
Põe pipi aqui o ovo
Que (o nome da criança) papa-o todo.
Santa Eulália, Vizela
A pitinha põe o ovo
Prò João o comer todo.
Barcelos
Aqui pôs a pitinha o ovo.
Veio a menina, papou-o todo.
Ela o coze, ela o assa,
Ela o vai vender à praça.
Guimarães
O piupiu
Põe o ovo
E a galinha
Papa-o todo.
Senhora da Hora, Porto
Põe aqui galinha o ovo
Que (diz o nome) papa todo,
Cozidinho, escalfado,
Também papa estrelado.
Lagares, Penafiel
A galinha põe o ovo,
A menina papa todo.
Ou cozido ou estrelado,
Sempre come o seu bocado.
São Cosme, Gondomar
O pintainho
Fugiu, fugiu.
Tropeçou numa pedra,
depois caiu.
A dona galinha
ficou zangada,
pegou no pintainho,
deu-lhe uma palmada.
Guimarães
Somos pintos, piu, piu, piu,
Pequeninos, piu, piu, piu,
E lá vamos, piu, piu, piu,
Para o quintal, piu, piu, piu.
Vamos todos, piu, piu, piu,
A correr, piu, piu, piu,
Às ervinhas, piu, piu, piu,
Para comer, piu, piu, piu.
Guimarães
Três pintainhos tem minha tia,
Tem minha tia Maria;
Um que canta, outro que pia,
Outro que chama tia Maria.
Ponte de Lima
5. Grilo
Para tirar um grilo do buraco, diz-se:
Grilo, grilinho
Sai do buraquinho.
Grilo, grilão
Vem à minha mão.
Lixa do Alvão
Gri, gri, sai daí,
Se não mijo-te aí.
Chaves
Grilo cantador,
Ó que lindo cheiro
Tem esta flor!
Lixa do Alvão
Gri, gri, sai, sai,
Que vem aí o teu pai
Com uma faca de matão[6]
Para te espetar no coração.
Fojo, Moreira do Lima, Ponte de Lima; Santo Adrião, Vizela
Gri, gri, anda à porta,
Que andam as cabritinhas na horta.
Fojo, Moreira do Lima, Ponte de Lima
Sai da toca grilinho,
Sai da toca, sai da toca
Que eu já te vi;
Se me fazes ir à toca,
Grilinho,
Ficas fora de mim.
Chaves
Grilinho à toca, à toca,
Que andam as cabrinhas na horta,
Os bacorinhos no milho,
Anda tudo num sarilho.
Monsul, Póvoa de Lanhoso
Grilinho sai, sai,
Que vem teu pai
À porta da missa
Comer uma chouriça.
Grilinho sai, sai,
Que vem o teu pai
Com a faca na mão
Que te corta o coração
Com uma fita amarela
Que te corta a goela.
Santa Eulália, Vizela
6. Caracol
Acompanhado de música:
Não paga renda de casa,
Não atura o senhorio,
No verão não tem calor,
No inverno não tem frio.
Caracol, caracol, caracol,
Põe os corninhos ao sol.
Semelhe, Braga
Caracol, caracol
Sai da casota
E põe a barriga ao sol.
Lixa do Alvão
7. Gato
Sape gato lambareiro,
Tira a mão do açucareiro.
Lixa do Alvão
Gato no sapato,
Anda cá que eu já te mato.
Montalegre
– Bichinha gata
Que papaste tu?
– Sopinhas de leite.
– Guardaste-me delas?
– Não guardei.
– Com que as tapaste?
– Com o rabo do gato.
– Sape gato,
Não vás ao mato.
Lixa do Alvão
Fazendo festinhas na cara das pessoas:
Bichinha gata,
Vens tão farta da cozinha
Papar galinha miau.
Santa Eulália, Vizela
Ó gato tem cautelinha
Com a pontinha do pau.
Se não tiveres cautela,
Dirás: miau, miau
Atães, Guimarães
A pata da gata
Ata, ata e desata.
Abaças, Vila Real
8. Sardão
Sardão come pão quente,
Alça o rabo e pincha à gente.
Lamas, Ribeira de Pena
Sardão, sardonete,
Anda cá minha piurreta. [7]
Gilmonde, Barcelos
Sardão pão quente
Arreguicha o rabo
E salta para a gente!
Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso
Sardão pão quente,
Quem te deu tamanho dente?
Foi o gato da bugalha
Que meteu areia na fornalha!
Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso
Sardão sarapintão,
Terricó-có, tiroliroló,
Cabeça até ao rabo,
Ai Jesus, ó minha avó!
Viana do Castelo
9. Sapo
Sapo jururu
À beira do rio.
Quando o sapo canta,
Ó maninha,
É porque tem frio.
Lixa do Alvão
Sapo, sapinho,
Cor de marfim,
Cata bichinhos
No meu jardim.
Monte D’Arcas, Valpaços
Sapo pr’aquele canto!
Se amanhã aqui estiveres,
À vida te rapam outro tanto.
Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso
10. Papagaio
Papagaio