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Crime Sob Medida
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E-book336 páginas5 horas

Crime Sob Medida

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Sobre este e-book

Um homem dedicado à carreira, Edwin Murphy sempre se esforçou mais na vida profissional do que na vida com a família. Tudo muda para Edwin quando a esposa pede o divórcio. Prestes a perder a casa, o emprego e a filha, Edwin elabora um plano complexo para matar a esposa e recuperar o estilo de vida que estava acostumado a ter.

A polícia fica confusa quando vários assassinatos aparecem por Londres sem conexão aparente entre eles. O Detetive Inspetor Chefe David Morton tem que usar a imaginação ao investigar tudo que está por trás desses assassinatos.

IdiomaPortuguês
EditoraDe Minimis
Data de lançamento7 de abr. de 2018
ISBN9781547523429
Crime Sob Medida

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    Crime Sob Medida - Sean Campbell

    Crime Sob Medida

    Daniel Campbell

    Sean Campbell

    Tradução: Marina Guimarães

    © Sean Campbell 2012

    Título Original: Dead on Demand

    Autores: Sean Campbell e Daniel Campbell

    Tradução para Português: Marina Guimarães

    Capa: Nadica Boskovska

    CAPÍTULO 1: Colapso

    Edwin xingou. Os advogados não paravam.

    Praticamente toda semana desde que se tornara o editor do jornal O Imparcial, Edwin havia recebido envelopes contendo intimações legais. Seu coração acelerou ao identificar o logo da corte de justiça, visível pelo plástico da correspondência. Essa vez não seria uma exceção.  O batimento cardíaco de Edwin aumentou e a cabeça dele começou a doer enquanto abria o envelope.

    Apesar de serem estressantes, os processos eram responsabilidade da equipe legal do jornal, que resolviam se defenderiam o jornal ou fariam acordos.

    No fim, tudo era questão de dinheiro. Histórias sensacionalistas vendiam jornais, e o lucro pedia que saíssem da linha de verídico para a de meias verdades que chamam atenção.

    Hoje era diferente. O processo não estava endereçado ao O Imparcial, mas a Edwin Murphy. Era algo pessoal.

    As mãos de Edwin tremiam enquanto colocava os documentos na mesa, e seus olhos queimavam enquanto ele lia. Quando percebeu o porquê da notificação, Edwin não hesitou. Apertou o botão do interfone e disse: Betty, cancele meus compromissos da manhã.

    Com um suspiro, ele desligou o computador e o celular e pegou uma garrafa de conhaque que guardava escondida na última gaveta da escrivaninha.

    Ele deveria ter imaginado. O casamento não andava bem fazia um tempo. Tudo correu bem nos primeiros anos juntos, em Cambridge. Então, no aniversário dela de vinte e quatro anos, Eleanor confessou que queria começar uma família. Edwin ainda não se sentia pronto. Ele achava que eles eram jovens demais para isso. E cometeu o pecado de dizer isso.

    Ela disse que entendia que ele precisava de um tempo, mas na cabeça dele esse tempo seria medido em anos, não em meses. Pouco tempo depois, Eleanor ficou frustrada e com raiva por causa da situação.

    Da forma mais macho-alfa possível, Edwin fez o que qualquer homem faria ao ser confrontado por uma mulher brava: ele se escondeu.

    Ele passou noites no escritório, e se convenceu de que o que ele estava fazendo era pelos dois. Eu tenho que sustentar duas pessoas agora, declarou quando os dias no escritório passaram a começar mais cedo e terminar mais tarde.

    Edwin balançou a cabeça tristemente e olhou ao redor do escritório que havia se tornado seu refúgio. Ele jogou o resto de café de uma caneca em uma planta, e serviu uma dose do conhaque.

    Bebeu o líquido de uma vez, causando um ardor nos lábios. Conhaque não era sua bebida favorita, mas parecia apropriada para a ocasião. Foi um conhaque que o sogro oferecera quando Edwin pediu a mão de Eleanor em casamento. Ele serviu outra dose, e ergueu o copo no escritório vazio, um brinde de gozação ao fim do casamento.

    Depois de várias doses, Edwin pegou o envelope novamente. Estava com dificuldade de focar os olhos para ler o motivo que Eleanor citou para o divórcio: diferenças irreconciliáveis, tão vago quanto só poderia ser possível em um documento legal.

    Mas Edwin sabia o que isso significava. O casamento estava balançado desde que eles tentaram começar uma família. Eles fingiram, para os outros e para eles mesmos, e tentaram se convencer do contrário, mas nunca superaram a morte do filho deles, Drew.

    Não é como se Edwin não tivesse se esforçado. Antes de Drew nascer, Edwin tirou uma licença de paternidade para decorar o quarto dele. Já era fim de setembro, e um friozinho já se instalava na casa deles, na área de Belgravia, em Londres.

    A casa precisava de alguns reparos. Era segura e em uma das áreas residenciais mais caras de Londres, mas o interior era um desastre.

    O quarto que Eleanor escolheu para o bebê estava no último andar, em frente ao quarto do casal. Era frio demais para uma criança. Alguma coisa teria que ser feita antes da chegada de Drew, e não pouparam despesas para deixar o quarto apropriado para um rei.

    Sob a supervisão atenta de Edwin, tudo ficou pronto rapidamente. Ele colocou uma segunda parede, preenchendo o meio com uma espuma isolante. E pintou de uma mistura de verde e azul. A cor foi recomendação da melhor amiga de Eleanor, uma psicóloga infantil, por ser calmante. Edwin não conseguia entender o que tinha de tão especial na cor, mas para manter a paz, valia à pena o preço das duas latas de tinta especial.

    Era dia 30 de outubro quando Eleanor sentiu as contrações, em um jantar em família. A comida foi esquecida, e Edwin a levou direto para o Centro Barkantine de Maternidade no Hospital St. Bartholomew. Assim que eles chegaram, ficou evidente que alguma coisa estava errada.

    A pressão de Eleanor estava muito alta, e ela foi levada para uma cesariana de emergência, mas era tarde demais. O bebê estava invertido, na chamada posição pélvica, e nasceu com o cordão umbilical preso no pescoço.

    Logo depois, Eleanor entrou em depressão profunda, que não melhorou até ela engravidar de novo quatro anos depois. Eles permaneceram juntos – unidos primeiro pelo luto, depois pela chegada da pequena Chelsea. Mas alguma coisa havia mudado, e eles se afastaram.

    Edwin apoiou a cabeça em uma mão, e folheou o documento com a outra. Passou por páginas e páginas com papo jurídico até chegar ao fim do documento: um resumo financeiro de tudo que eles tinham que dividir. O casamento inteiro reduzido a uma série de avaliações. Ações, extratos bancários, até a coleção de livros dele estava citada. Abaixo dos bens havia um conjunto de números vermelhos indicando dívidas.

    Edwin deu risada do total impresso em negrito no fim da página. A soma total era triste, considerando tudo. Eles tinham ótimos empregos. Eram donos da própria casa. Para o mundo, eram um exemplo de casal profissional e perfeito.

    Mas o destino não tratou as finanças deles tão bem. Eles investiram muito em ações, principalmente em bancos. É a coisa certa a fazer, segundo o pai de Eleanor.

    Mas tudo que sobe, uma hora cai. No fim de 2007 o mercado de ações entrou em colapso.

    No começo parecia que a crise era só do banco francês La Société, mas logo deu para perceber que afetara os bancos numa esfera global. Edwin balançava a caneca de conhaque enquanto lembrava de fazer reportagens sobre os colapsos bancários. Ele nunca pensou que hipotecas em países de outros continentes afetariam o pequeno império que ele tinha. Mas afetaram. Em poucos meses, o investimento em bancos considerado prudente dos Murphy fez com que a família perdesse dois terços do que tinha, no período de um ano.

    Os danos eram só no papel, até que eles precisassem vender as ações, mas as consequências deixaram a família em circunstâncias precárias. Eles haviam escolhido uma hipoteca baseada em juros, e a queda da bolsa os afetou diretamente.

    Eleanor culpou o marido por perder milhares de Libras, e várias brigas começaram por isso. Pratos foram jogados, xingamentos proferidos, e Edwin passou várias noites no sofá.

    Eles tentaram passar um tempo separados. Eleanor começou a passar um fim de semana sim e outro não com os pais dela em Sandbanks. Quando isso não melhorou as coisas, um teste de separação fez com que Edwin saísse da casa e fosse morar em um apartamento de um quarto em Angel. Logo eles estavam saindo com outras pessoas, pelo menos era o que Eleanor estava fazendo.

    Edwin mergulhou no trabalho, chegando a passar catorze horas por dia no escritório. Mesmo aos domingos, Edwin estaria na escrivaninha, digitando sem parar no laptop, revisando trabalhos e expondo as próprias opiniões na coluna do editor de domingo.

    O divórcio era inevitável. Edwin suspirou, escreveu um bilhete para a secretária encontrar os melhores advogados de divórcio e resolveu tirar uma folga pelo resto do dia.

    ***

    Na segunda feira seguinte, a manhã estava clara e bonita. A névoa do fim de semana se dissipou, e o pequeno apartamento de Edwin parecia um lugar iluminado, com a luz refletindo na parte metálica da bancada da cozinha.

    Edwin acordou cedo naquela manhã. Ele tinha uma reunião às oito com Derek Wood, o americano dono do O Imparcial, e o Sr. Wood não gostava de ter que esperar. Edwin comeu só uma torrada pura. Não dava para arriscar nada além disso, com medo de que o estômago sensível o traísse. Enquanto tomava banho, repassou os números mais uma vez.  Só dava para mascarar as estatísticas até certo ponto. Hoje seria o dia em que ele finalmente teria que revelar para o Sr. Wood que os lucros com propagandas caíram pelo terceiro trimestre seguido.

    Tomando a decisão de ser direto, Edwin se secou e vestiu o terno preferido. Era um azul marinho, completo com três peças. Eleanor costumava chamá-lo de terno do poder. Ele vestiu uma gravata combinando, e usou o espelho acima da pia do banheiro para dar o nó. Depois de se julgar apropriadamente vestido, saiu do apartamento e chamou um táxi.

    ***

    Na margem norte do Rio Tâmisa, uma parede de prédios altos e imponentes preenchia a vista, indo desde a cidade até Westminster e além.

    Na Cidade de Londres, também conhecida como a Square Mile, prédios de escritórios erguiam-se em direção ao céu. Homens vestindo ternos, trabalhando principalmente para grandes bancos e companhias de seguros, poderiam ser avistados por detrás das janelas. Muitos deles bebendo café, para tentar reviver seus olhares com uma injeção de cafeína.

    Para o Oeste, a vista era outra. A Catedral de St. Paul contrastava os prédios, com a sua abóbada icônica 111 metros acima dos turistas.

    Mais para o Oeste, encontravam-se alguns dos endereços de mais prestígio em Londres, e em um deles, na Rua Fleet, nº163, estava a sede do O Imparcial. Poucos turistas iam até lá, mas era uma área tão importante quanto as outras.

    O Imparcial estava no coração da parte jurídica de Londres, perto do Palácio Real da Justiça. Muitos jornais tiveram que deixar a área por causa do preço, mas O Imparcial mantinha sua sede no lugar que sempre ocupou, a um minuto de distância do Tâmisa.

    O prédio original já não existia há muito tempo, fora destruído por uma bomba na Segunda Guerra Mundial. Mas O Imparcial ressurgiu das cinzas em um novo prédio, feito de aço e vidro.

    Permanecer na Rua Fleet custou caro a Derek Wood, o dono do O Imparcial, mas valeu a pena cada centavo do investimento. Em um dia claro, Wood conseguia ver do terraço até quase 20km de distância. Ainda mais importante que isso, Londres podia vê-lo. Os banqueiros podiam ser os mestres do universo, mas era Derek quem decidia quem aparecia nas notícias.

    Na sala de conferências no último andar, próximo ao terraço particular de Wood, uma secretária preparava uma mesa de café da manhã com frutas frescas e pães. Uma garrafa de café recém coado, esperando para ser servido.

    Wood sempre começava suas manhãs com um pão e um café (puro, sem açúcar). Ele não acreditava muito em chá, portanto a bebida nunca era servida nas reuniões organizadas por ele, o que irritava muito o editor chefe do O Imparcial, Edwin Murphy. Wood considerava isso um bônus.

    O assistente particular de Wood, um rapaz sorridente que acabara de se formar em Oxford, colocou uma seleção de jornais no topo da mesa e ficou olhando sem jeito enquanto Wood lia as manchetes. Esse era o ritual que ele sempre seguia, ele tinha que saber o que acontecia nos outros jornais. Três batidas na porta anunciaram a chegada de Edwin.

    Wood olhou para o relógio de pulso e apreciou a pontualidade dele. Apontou para uma cadeira de couro, indicando-a para que ele se sentasse, e continuou lendo o jornal. Quando terminou colocou os jornais na mesa e olhou para Edwin sobre a armação escura de seus óculos.

    Wood observou Edwin sentar e servir-se de um copo de água. Depois de beber um gole, Edwin disse: Bom dia, senhor. Espero que esteja bem.

    O homem apontou para o relógio e fez sinal para que ele prosseguisse com a apresentação do mês.

    O nosso total de leitores permaneceu o mesmo esse mês. Enviamos 3,06 milhões de cópias por dia nos dias da semana, e quase 4,7 milhões na edição de domingo. É um aumento de 0,12% desde o mês passado.

    Isso é bom. A renda aumentou, então. Quanto?

    Bom... nós previmos uma entrada de £2,2 milhões por trimestre, mas a nossa renda desse trimestre foi de £2,1 milhões. Isso aconteceu por conta das quedas dos valores.

    Qual a comparação da renda de propagandas ao mesmo trimestre do ano passado?

    Edwin evitou olhar nos olhos do chefe, e se preparou para o que viria a seguir.

    Apesar disso, senhor, as nossas rendas de propagandas tiveram uma queda por causa do...

    Quanto? Wood interrompeu.

    Bom, senhor, por causa do mercado e das condições...

    Os olhos de Wood se estreitaram. "Os números, Murphy, ."

    62% comparando os anos.

    Sr. Wood era um empresário experiente e sabia que tinha que lidar com as situações, mas nenhum executivo era capaz de manter o controle ao saber que o investimento dele que antes lucrava bem, era de repente um desperdício de dinheiro. Ele explodiu de raiva.

    O quê? Bradou, com saliva voando na direção de Edwin. Por que caralhos eu só estou sabendo disso agora? Deveriam ter me falado meses atrás!

    Edwin se acovardou, olhando para baixo.

    Responda!

    Bom... senhor... tem sido um... bom.... tem sido um momento de difíceis negociações. Não é minha culpa que...

    Não é sua culpa? Wood caçoou; o tom de voz dele tornou-se frio, os olhos repletos de um fogo que Edwin nunca tinha visto.

    Não, senhor. Foi o Palmer do departamento de propaganda. Foi ele quem...

    E para quem o Palmer trabalha?

    Para mim, senhor.

    Então é responsabilidade sua. Acabou para você, Murphy. Wood apertou um botão debaixo da mesa, acionando os seguranças. Dois homens enormes apareceram como mágica na porta.

    Levem o Sr. Murphy para fora, por favor. Depois tragam-me Palmer.

    Enquanto Wood virou a cadeira, Edwin se viu sendo levantado pelos seguranças. Ele tentou se desvencilhar deles.

    Eu saio sozinho. Declarou, tentando manter um pouco de dignidade.

    Nós temos ordens, Sr. Murphy. Cada um dos guardas segurou-o por um braço, praticamente arrastando-o da sala de conferência até a sala dele.

    ***

    Edwin não se apressou em recolher as coisas que estavam no escritório, colocou cuidadosamente os porta-retratos em uma caixa de papelão. Ainda pegou um dos grampeadores industriais da firma.

    Os seguranças fingiram não ver o furto do grampeador e acompanharam Edwin até o elevador. Logo ele estava do lado de fora do prédio que chamara de lar pelos últimos cinco anos, enquanto o tráfego da manhã continuava como se nada tivesse acontecido.

    Um mendigo cutucou o braço dele.

    Tem um trocado, moço?

    Edwin ia dar uma resposta rude, mas olhou para o homem sentado na calçada. Ele tinha cabelos brancos, e estava sentado numa pilha de edições velhas do O Imparcial, com um cachorro deitado ao lado.

    Contrário do que geralmente faria, Edwin colocou a mão no bolso do terno e tirou a carteira. O mendigo mal acreditou na própria sorte quando Edwin lhe deu algumas notas.

    Antes que o homem pudesse agradecer, Edwin chamou um táxi e pediu para ir ao bar mais próximo que servisse bebidas alcoólicas antes das nove da manhã.

    ***

    O relógio já se aproximava das onze quando o barman do Finnigan’s Wake decidiu que Edwin já tinha bebido o suficiente.

    Amigo, que tal pedir um pouco de comida?

    Mais duas doses. Agora. Edwin abriu a carteira e colocou o dinheiro no balcão. Comida era a última coisa que ele queria.

    Sem mais bebida até você pedir algo para comer.

    Tá bom. O que tem no cardápio? Edwin falou arrastando as palavras. Ele tentou ler o menu na parede, mas as letras se recusavam a ficar paradas.

    Que tal um hambúrguer e fritas?

    Ok. E uma cerveja. Enquanto Edwin falava, outro homem soltou uma risada e revirou os olhos para o barman.

    O barman olhou com reprovação para Edwin, mas serviu-lhe um copo de London Pride. Pelo menos ele largou o uísque.

    Cara, o que é tão ruim que te fez beber sozinho numa segunda feira de manhã?

    Edwin, bêbado e sem vontade de conversar, deu de ombros e bebeu a cerveja em um gole só, pedindo outra.

    O barman ficou cauteloso; era a licença dele que estava em jogo.

    Mais uma, se você me deixar ligar para alguém vir te buscar, ou chamar um táxi.

    Feito.

    ***

    Na casa dos Murphy em Belgravia, uma linda casa de frente à embaixada Portuguesa, Chelsea Murphy tinha faltado na escola porque estava doente. Ela estava só com uma gripe fraca, mas Eleanor quis que ela ficasse em casa. Ela enrolou a menina em cobertores deitada no sofá, e passou a manhã inteira checando se ela estava bebendo líquidos o suficiente, e monitorando a temperatura. Eleanor sabia que ela nunca conseguiria lidar direito se tivesse uma doença séria na família.

    Mãe, por que você fica me perguntando se eu gosto de Nova York? perguntou Chelsea enquanto a mãe tirava o suor da testa dela com uma toalha.

    Bom, o que você acharia de morar em um lugar novo? Você não gostou do nosso fim de semana de compras lá?

    Gostei, mamãe, mas todos os meus amigos estão aqui! ela protestou.

    Você faz novos amigos, filha. Ofereceram um trabalho para a mamãe lá, e sem o papai por aqui, eu preciso trabalhar. Vamos ser só nós meninas numa cidade linda. Não vai ser maravilhoso, querida?

    ***

    Meio dia e meia Finnigan’s Wake estava enchendo de pessoas para o almoço. O barman decidiu que Edwin poderia afastar alguns dos clientes e colocou-o em uma das mesas no fundo quando seu cunhado Mark chegou.

    Mark era sempre o primeiro a concordar em ir a um pub, e logo estavam enchendo a mesa de copos de cerveja. As fritas do almoço de Edwin ficaram abandonadas enquanto os dois bebiam.

    Em algum momento durante a terceira cerveja com Mark, o telefone de Edwin tocou. Ele normalmente odiava atender telefonemas de números bloqueados, mas tudo que ele queria no momento era descarregar a raiva em algum atendente de telemarketing tentando vender algo.

    Edwin J. Murphy falando. Edwin deixou o celular longe do rosto e deu uma risadinha.

    Boa tarde, Sr. Mruphy, aqui é Caroline Flack da Huntingdon Fox e Associados. Semana passada a sua secretária me contatou em seu nome. Eu falei com os advogados da sua esposa. Ela nos informou que pretende sair do país. Você está disponível para discutir a sua posição legal?

    A minha posição? Fico feliz que ela esteja indo embora. Que ela faça uma boa viagem. Edwin respondeu, sem perceber as repercussões da mudança de sua esposa.

    Ela pretende levar Chelsea para Nova York com ela. a mulher disse hesitante.

    Impeça-a. Não me importo como, só faça isso.

    Sr. Murphy, pode ser... difícil achar uma forma de fazer isso.

    Um suspiro angustiante escapou dele antes de jogar o telefone contra a parede, vendo-o quebrar em vários pedaços.

    "Aquela vadia. Queria que ela estivesse morta!"

    Mark levantou uma sobrancelha, e disse depois de uma pausa prolongada: Ei, é da minha irmã que você está falando. Acho que é hora de eu te interromper.

    ***

    Na manhã seguinte, parecia que tinham colocado uma furadeira na cabeça de Edwin e colocado na velocidade máxima. Ele tentou sentar, mas o esforço foi em vão. Quando conseguiu focar os olhos, percebeu que estava no sofá de Mark.

    Mark estava jogado na poltrona. Os dois usavam as mesmas roupas do dia anterior.

    Água. Edwin pediu para o anfitrião.

    Com um barulho, Mark jogou uma garrafa para ele. Caiu na barriga de Edwin. Ele reclamou, com dor.

    Isso não é água! disse, sempre ranzinza de manhã, principalmente ao acordar de ressaca.

    É tudo que você vai conseguir, a não ser que queira levantar. Mark respondeu com um sorriso, sabendo que Edwin não levantaria tão cedo.

    Ele abriu a garrafa de isotônico e bebeu tudo, derramando algumas gotas pelo rosto e na camisa.

    Mark se espreguiçou, pegou o controle remoto com os pés, o jogou para cima e pegou com a mão esquerda.

    Alguma preferência? perguntou, ligando a televisão e o sistema de som que sua irmã lhe dera no Natal anterior.

    Qualquer coisa menos Jeremy Kyle.

    Mark sorriu, e mudou o canal para ITV.

    Eu te odeio, sabia? E com essa declaração, Edwin se virou e voltou a dormir.

    ***

    A ressaca de Edwin durou até tarde naquele dia, e a cabeça dele ainda estava doendo quando ele chegou em Huntington Fox para a reunião das quatro horas. Edwin estava vagamente atento à opulência do edifício do grupo Grosvenor em que se encontrava o escritório de advocacia. Ele se perguntou quanto das quatrocentas Libras por hora que ele estava pagando seriam usadas para manter a decoração. A antessala em que ele estava podia ser descrita como nada menos do que luxuosa, e o café visivelmente não era instantâneo. Pouco tempo depois ele estava sentado numa sala, de frente para sua advogada. Não foi ele quem a escolheu, mas sua ex secretária o assegurou de que ela era a melhor disponível, e Betty nunca tinha se enganado. Uma pontada de solidão atingiu Edwin quando ele percebeu que nunca tinha pensado que poderia ficar sem a presença reconfortante de Betty.

    Boa tarde, cumprimentou ele. A cabeça ainda doendo quando leu a placa na mesa da advogada que, além de seu nome, Sra. Caroline Flack, indicava um mestrado em Cambridge e uma graduação em Direito.

    Sr. Murphy, pedi que viesse aqui hoje para falar sobre sua esposa. Você tem mantido contato com ela?

    Edwin balançou negativamente a cabeça, e a advogada continuou.

    Eleanor nos notificou que ela pretende mudar para Nova York para trabalhar com um escritório de advocacia lá. Ela obviamente pretende levar Chelsea com ela. Ela pode fazer isso sem a sua permissão, mas podemos tentar requerer uma solicitação para tentar impedi-la. Precisaríamos dar à Corte um bom motivo para isso.

    Ok. Faça isso.

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