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PANDEMIA ZUMBI: Contágio
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PANDEMIA ZUMBI: Contágio
E-book275 páginas3 horas

PANDEMIA ZUMBI: Contágio

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Sobre este e-book

A Central Diferencial de Doenças, CDD, fabricava armas biológicas, e vinha se tornando um grande governo dentro dos grandes governos, que não governava nada se o CDD assim não quisesse. O ano era 2026 e o aquecimento global destruía mais que animais e vegetação, destruía toda uma forma de vida dependente da energia, que se extinguia, deixando a CDD fora de controle, sem refrigeração. Na ironia do destino, novas bactérias e vírus se misturaram no fim da CDD, com cepas se espalhando ao redor do mundo, que hoje sabemos, pouco sobreviveu. Havia a necessidade urgente dos poucos que sobraram se unir; medicamentos e alimentos deveriam ser realocados, tuneis e locais seguros para se protegerem e recomeçarem. Estevan Laguna, Coronel do exército, especializado em sobrevivência e caos, precisava entrar em ação, porque precisava tomar o controle da situação contra homens que se armaram até os dentes para defender o pouco que lhes sobrou na Pandemia Zumbi, com uma população pequena sobrevivente e despreparada para se defender deles e do fim do fim que se aproximava. Por isso que Estevan precisava da ajuda dela, de Valentina Zcavtsi, uma escritora reclusa, com Síndrome do pânico, incapaz de tomar conta da sua própria vida, mas a única capaz de salvar a espécime humana do contágio "Z", que transformou vivos em ‘não-mortos’, em zumbis.

IdiomaPortuguês
EditoraC. Ribeiro
Data de lançamento25 de nov. de 2018
ISBN9780463779736
PANDEMIA ZUMBI: Contágio
Autor

C. Ribeiro

Escrevendo romances policiais para um público infanto-juvenil, YA, e também adulto, a autora C. Ribeiro tem esse lado virtual impresso em alguns de seus livros, numa realidade que se passa dentro e fora dos computadores. C. Ribeiro escreve policiais da década de 50 e atuais, escreve suspense e terror, escreve ficção científica e fantasia além do nosso tempo e realidade.Ação e aventura adoráveis, que permeiam temas polêmicos, teorias de conspiração e mentes doentias.C. Ribeiro é uma autora que gosta de escrever personagens diversos, multiculturais, em todos os tipos de gêneros literários, permitindo que o leitor viaje pelas suas muitas histórias, conhecendo a maravilha que a literatura pode proporcionar.***********************Writing detective novels for children, YA and adults, C. Ribeiro has a virtual side imprinted in some of her books, a reality that takes place inside and outside computers.C. Ribeiro novels that takes place in the 50's and nowadays. Writes suspense, horror, science fiction and fantasy beyond our time.Also adorable action and adventure that permeate hot topics, conspiracy theories and sick minds.C. Ribeiro is an author who likes to write diverse, multicultural characters in all types of literary genres, allowing the reader to travel through her many stories, knowing the wonder that literature can provide.

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    PANDEMIA ZUMBI - C. Ribeiro

    14 de outubro de 2026.

    — Carta aberta à humanidade: ‘Quando eles, os cientistas, vieram a público, já não havia mais o que fazer. Muitos correram para o interior, muitos correram para abrigos, túneis e metrôs, e muitos correram em torno de si próprios, perdidos. Estávamos fadados à extinção. Acredito mesmo que não houvesse nada que pudéssemos empreender; então o medo tomou conta de nossos corações. Uns mais do que outros. O mundo nem sempre foi composto de almas boas, almas totalmente altruístas, capazes de só fazer o bem. Porque o solidário não é a maioria, infelizmente. Há aqueles que lucram até com a morte, com a desgraça alheia. Quando os cientistas negaram que o CO2 estava aquecendo a Terra, que pesquisas climáticas poderiam ser um tanto exageradas no que tange ao aquecimento das cidades e os efeitos de ilha de calor, acreditamos que o ar mais quente estava por conta do calor retido pela infraestrutura urbana, poluída, sufocada. Mas não era o que estava acontecendo. Em setembro de 1931, um bacteriologista encontrou Corpúsculos de Negri no cerebelo de um morcego. Em 1932, descobriu-se que morcegos infectados podiam transmitir o Lyssavírus, Vírus da raiva, para humanos e outros animais. A partir da ferida de entrada, o vírus da raiva viajava rapidamente ao longo das vias neurais do sistema nervoso periférico. O transporte do vírus da raiva ao SNC acometia de fatalidade, ocorrendo de dois dias a algumas semanas. Em 1941, um surto de Bacillus anthracis, antraz, aconteceu na região da Sibéria, Rússia, após uma chuva de meteoros, e a CDD se encarregou de estocar para sempre essa bactéria dita alienígena, chegada do espaço. Já que a preocupação dos cientistas era que as endemias da bactéria se tornassem mais comuns conforme o planeta continuava a esquentar. Mas ela permaneceu ali, no permafrost, até que um novo surto de antraz, as mesmas bactérias raras que infectavam animais e seres humanos voltaram a aparecer, agora na região de Yamal-Nenets, depois que a temperatura ficou mais de 5ºC acima do normal. E agora mais forte, comendo a carne e músculos. Foi lá que meus pais, jovens cientistas da já grande CDD, Central Diferencial de Doenças, se conheceram em 2006. Eles eram uma das almas altruístas do mundo. A área do surto foi outra vez isolada e toda a população, humana e animal, ficaram em quarentena, com o governo declarando estado de emergência, e a CDD resgatando corpos. E não foi só isso que a CDD fez. E se hoje estou aqui escrevendo isso, é porque vinte anos antes, meus pais previram a catástrofe, a pandemia que nos atingiu. Agora no ano de 2026, com essa bactéria antraz sendo manipulada, evoluída, contaminada pela Febre hemorrágica, uma série de doenças virais causadas por quatro famílias distintas de vírus RNA, o Arenaviridae, Filoviridae, Bunyaviridae e Flaviviridae, terminada pela contaminação do Vírus de Marburgo, o vírus da raiva explodiu; e não foi nada metafórico. Quando Estevan Laguna salvou-me de mim mesma, dos meus muitos medos, fobias, eu era uma eremita da Nova Era. Com 20 anos, me afastei da civilização conturbada, da violência que assolava as ruas e casas, daqueles que ajudavam; eu estava fugindo de uma violência comum ao ser humano. Contudo, nada próximo ao que o calor provocou, trazendo a Pandemia Zumbi, que nos assolou, que destruiu a Terra e criou uma nação de Zumbis, restos humanos sem controle, contaminados por essa nova mistura de muitos vírus e bactérias. Até hoje não tenho muita certeza que o que as rochas alienígenas trouxeram em 1941, já não estiveram sendo manipuladas há muito tempo, já que a constituição de o meteorito ser em geral três vezes mais densa do que uma rocha terrestre, trouxe DNA, um que foi estudado sem o conhecimento do mundo, ou quase de todo mundo. Porque a CDD, a Central Diferencial de Doenças, grande empresa das ciências, tinha uma fachada. Uma que escondia a existência dessa patogênese que nos infecta o cérebro, que consome a carne. Com a temperatura subindo e destruindo tudo, energia e sistemas de refrigeração, também edifícios militares, de pesquisas militares, com militares nas mãos do CDD, a que fabricava armas biológicas, se desligaram. Porque a CDD vinha se tornando um grande governo dentro dos grandes governos, que não governava nada se o CDD assim não quisesse. Não sei se foi ironia do destino, mas novas bactérias e vírus se misturaram no fim da CDD, ao redor do mundo, que hoje sabemos, pouco sobreviveu. E se estou aqui relatando isso, para uma prosperidade, é porque acredito que talvez consigamos concluir a loucura que ele, Estevan, programou para salvar-nos. Porque havia outra ironia embutida em tudo isso, eu, que não sabia que havia sido programada desde a minha concepção, ainda uma mistura de DNA de minha mãe e meu pai, cientistas da CDD, que viram ali, a oportunidade de salvar o mundo, caso aquilo um dia Z se tornasse a arma biológica que eles queriam; uma arma que causa não a morte, mas a ‘não-morte’, porque 85% da população terrestre hoje são ‘não-mortos’ dessa Pandemia Zumbi! Fim da carta!’ — Valentina Zcavtsi dobrou a folha de papel e a colocou no canto esquerdo da prateleira, na sala dos trilhos subterrâneos abaixo da outrora glamorosa Avenida Paulista, São Paulo, capital.

    Ela encarou Estevan Laguna e ambos ficaram ouvindo os grunhidos que aconteciam metros acima de suas cabeças.

    — Acha que eles vão nos achar aqui?

    — Espero mesmo que não, Valentina. Porque se isso acontecer, não haverá ninguém para saber da sua carta — Estevan também estava cansado, com a perna direita ainda ensanguentada pela queda nos trilhos, no torniquete feito com pedaços de tecido rasgado da calça, do uniforme da CDD.

    Valentina olhou para a esquerda, para a prateleira, no subterrâneo do metrô onde ambos conseguiram se refugiar do tiroteio do lado de fora.

    E suspirou.

    A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.

    Epicuro.

    Capítulo 2

    Duas semanas antes.

    30 de setembro de 2026.

    A fome bateu fazendo o estômago de Valentina Zcavtsi roncar. E foi um som, só abafado por algo caindo no corredor do 23° andar do edifício onde morava. Escondia-se, era bem verdade.

    Com vinte anos, finos cabelos castanhos e olhos de um verde quase cristalino, Valentina sofria de Síndrome do pânico, um que a deixava sem contato humano, com o mundo exterior. E nem o avanço da medicina havia conseguido lidar com a química do seu cérebro.

    Valentina se afastou dos pais, dos amigos dos pais, já que não fazia amigos, também da sociedade em geral, que ela odiava e temia na mesma proporção.

    E a fome, que a fazia se lembrar de que há cinco dias ninguém trazia suas compras, que os sites e aplicativos de alimentação estavam fora do ar. Cinco dias que algo estava errado do lado de fora da sua porta, uma que nunca abria.

    Ou teria sido há muito mais tempo? se perguntou.

    Valentina havia desenvolvido estratégias, já que diagnosticada com pânico e bipolaridade aos quatro anos, ela estudava em casa. Com o advento de uma Internet cada vez mais rápida e ágil, facilitadora em todos os aspectos, ela tinha tudo o que precisava pelo computador; comida, medicação, roupas, aulas. Até achava que sua doença psiquiátrica foi uma graça a seus pais, que enquanto vivos, criaram uma filha que não dava trabalho, já que a CDD os consumia.

    Literalmente.

    E ela odiava a CDD, a Central Diferencial de Doenças, que roubou a atenção de seus pais, cientistas renomados, mortos há dois anos por uma enfermidade não muito explicada.

    Valentina acreditava mesmo que a CDD os havia contaminado quando eles entregaram sua carta de aposentadoria, semanas antes de morrerem. Porque de uma hora para outra seus pais desistiram da aposentadoria e trabalharam até seus corpos serem consumidos, longe dela, uma jovem isolada em seu mundo, mais sozinha do que nunca.

    E ela prosseguiu mesmo assim, com a Central Diferencial de Doenças cuidando de sua alimentação, fazendo o estoque chegar sempre no começo do mês, com medicação e livros, muitos deles ainda em papel, escritos por ela.

    Valentina Zcavtsi era uma escritora de romances, que passava as horas de seu tempo sentada à frente de um computador, escrevendo dramas melados, romances pouco verossímeis, carregados de muito sofrimento, com o belo casal ficando juntos ao final da valsa, entrelaçados em beijos.

    Contudo seu último livro havia sido enviado à editora há quase três meses e ela não obteve respostas, nem a comida chegara. Nem seus medicamentos. E seu estômago roncava quando outro som abafado, de algo caindo, ela ouviu no final do corredor.

    Valentina inclinou a cabeça de cabelos castanhos e finos, de pele branca pela falta de Sol, pela aparência meio anêmica perante o excesso de psicotrópicos, e nada mais ouviu.

    Só o silencio.

    E era um silêncio incomodativo, com as janelas antirruídos que nunca a protegeram do buzinaço do fim de tarde na Avenida Paulista, que nunca a protegeram do burburinho de gente conversando abaixo da marquise do Edifício Nacional, onde ela vivia em um andar inteiro, mas que agora mergulhava em silêncio. Porque nada a protegia de nada, porque Valentina tinha medo da própria sombra.

    E o silêncio.

    Valentina voltou a inclinar a cabeça, que pendia no pescoço, com a testa se deformando pela careta. Como se espremer-se toda, a fizesse escutar mais longe. Mas não havia nada a se ouvir, há bem mais que cinco dias que ela havia percebido que o som vinha diminuindo, a Internet falhando, as buzinas cedendo e as vozes se calando, e algo abafado voltou a cair no seu corredor.

    — Ahhh! — Valentina sobressaltou.

    Ninguém podia chegar ao seu corredor, nem ao seu andar. Tudo chegava até ela pelo elevador de carga, com cabine de um metro por um metro, que foi instalado na cozinha, usado para receber coisas do mundo de fora, e que ela esterilizava com medo de germes.

    E o silêncio, e o silêncio, e o silêncio.

    Valentina desistiu.

    Droga! devia haver uma explicação para tudo aquilo, mas ela estava cansada demais, porque ultimamente pensar doía, provocava câimbras e outros tiques nervosos, que a descontrolavam.

    Ela tentou mais uma vez a Internet e não havia conexão. A luz piscou e Valentina olhou para cima. A luz se firmou e ela voltou a seu romance, um que havia largado quase pronto, só esperando o próximo lançamento acontecer.

    E o mundo aliviou para Valentina:

    — Madeleine se pôs a chorar. Nada em sua vida havia sido fácil, apesar da beleza delicada, da fortuna da família, dos homens que a desejaram anos a fio. Nada era tão sublime e fantástico quanto aquele beijo apaixonado — teclava. — ‘Oh! Javier!’, exclamou Madeleine, ‘Por que demoraste a dizer seu amor Javier?’, se questionava em lágrimas — e Valentina parou de escrever para secar suas lágrimas também. Era uma escritora que vivenciava cada palavra, cada linha construída.

    A sala estava à meia-luz se não pela ínfima iluminação do teclado do computador e pelo também pequeno e verde abat-jour aceso na mesa redonda do canto. As paredes eram forradas de madeira, lustrosas, como uma decoração clássica exigia. Alguns quadros pequenos, mas de bons artistas na parede e um lustre de cristal adquirido pela mãe davam um ar aristocrático àquela sala.

    E o som das teclas voltaram:

    — ‘Querida e doce Madeleine’, dizia Javier, ‘Hoje viveremos o começo de nossas vidas. Amo-te Madeleine!’ pronunciou em alto e bom som para que todo o vilarejo escutasse — e algo voltou a cair no corredor. Valentina apurou o ouvido e o som se extinguiu. Ficou na duvida se o fato dos psicotrópicos terem terminado há cinco dias a estavam afetando. Se a falta de comida e o sono também. Voltou a inclinar a cabeça e o silêncio tomou conta, se não pelas teclas que voltaram a bater. — ‘Oh! Javier!’, voltou a exclamar a bela e delicada mulher, ‘Seremos felizes para sempre!’ — enxugou mais lágrimas. — E fim! — exclamou Valentina se pondo a chorar outra vez.

    Mas algo voltou a cair do lado de fora do seu apartamento, agora fazendo um estrondo.

    Valentina se ergueu e atravessou a sala excepcionalmente limpa caminhando por um tapete excepcionalmente varrido, e tocou a parede após espirrar álcool nela. Olhou uma mão, outra e se deu por satisfeita. Depois se aproximou da porta que dava para o corredor, para o mundo, e recuou.

    Lá, só o silêncio.

    Droga!, Valentina estava começando a não gostar daquilo.

    Porque aquilo talvez fosse alucinação, algo que sabia, vinha com seu Transtorno bipolar do humor, podendo apresentar delírios de perseguição, com um quadro clínico confundido com esquizofrenia, com ela tendo visões inspiradoras para seus livros, aparentemente legais, com ela até gostando de ver, mas que no fundo sabia, não devia gostar daquilo.

    Valentina enfim tomou-se de coragem maior ainda, foi até a cozinha, e tirou o interfone do gancho.

    Havia um estranho som de nada acontecendo ali.

    — Alô! — e nenhum som. — Alô! Sr. Manoel? — Valentina nunca tinha visto ‘Sr. Manoel’, mas sabia que era esse o nome dele. Porque vinha rubricado em suas cartas, que ela esterilizava quando o elevador instalado na cozinha subia com suas encomendas. — Alô! — tentou mais uma vez.

    Nada! Só o silêncio! Que a incomodava!

    Droga! pensou voltando o interfone no gancho.

    A luz rareou e se firmou. Rareou e demorou alguns segundos para voltar. E enfim rareou e não voltou mais. Só uma luz fraca, avermelhada, do gerador, e que tomou conta de todo o apartamento.

    E o som dele se ligando.

    — Ahhh! — Valentina se assustou, o som era de uma engrenagem velha, oca, que navegou pelas paredes do edifício de 26 andares.

    Também a fome, o silêncio e o escuro; Valentina nunca havia se sentido tão frágil quanto naquele momento.

    Olhou a geladeira e ela estava desconectada da rede Internet. Abriu a geladeira e só um pouco de suco orgânico, um ou dois ovos, e um resto de pasta de queijo parmesão. Agora sem luz, o pouco ali iria estragar se a luz não voltasse. Porque talvez um blackout, como vinha acontecendo nos últimos meses por causa do aquecimento global, fosse à causa da falta de Internet, dos sons, porque tudo estava mergulhado no silêncio.

    Valentina comeu pensando, comeu olhando para os lados, para a cozinha extremamente limpa, para as paredes e a lâmpada avermelhada que acendeu no apartamento todo; e olhou a janela fechada hermeticamente.

    Algo a estava incomodando, algo que nunca lhe chamou a atenção, o que havia além da janela, do seu mundo.

    Levantou-se e caminhou com receio até a sala espaçosa, até a parede da sala forrada de madeira, a janela sem cortinas, e a tranca eletrônica que se desligou com a falta de energia.

    Malditos cientistas! pensou nervosa.

    O aquecimento vinha dando panes elétricas, afetando sistemas refrigerados, carros que eram dirigidos por computadores, por robôs que precisavam ser resfriados, para dirigirem suas vidas, cada vez mais computadorizadas. Já que os cientistas faziam projeções, executavam modelos, faziam pesquisas exaustivas de estimativas, através de simulações, onde o impacto do aumento da temperatura até o ano de 2069 afetaria a demanda de energia elétrica; a demanda residencial por conforto térmico, derivada a partir do problema de otimização do consumidor.

    Estava evidenciada a importância de se incorporar os fatores climáticos nos estudos empíricos sobre demanda de eletricidade. E embora de forma global fosse esperado aumento na energia elétrica em resposta à elevação da temperatura média, os cientistas advertiam que o efeito do clima não se daria de forma linear.

    E agora o nada! Porque nada funcionava sem a energia que superaquecia mundos e vidas. E também empresas e computadores, que paravam de funcionar.

    — Tanta modernidade... — disse para si mesma, sabendo que precisava abrir a janela que nunca abrira, enxergar o lado de fora e seus habitantes, buscar respostas.

    E recuou! Porque precisava recuar quando um novo som abafado no corredor a alertou. Havia alguém ali. Um que não podia estar ali com o sistema de segurança ativado.

    Ou não estava ativado? também pensou.

    — Olá! — e algo grunhiu do lado de fora. — Olá! — insistiu Valentina no silêncio que se seguiu, na iluminação avermelhada que rareou e voltou.

    Droga! explodiu por toda Valentina.

    Ela correu até o um dos quartos há muito fechado, porém limpo, intocável, e abriu gavetas e armários atrás de uma lanterna de bateria de lítio, que acendeu no momento que tudo se apagou.

    — Ahhh... — e o breu.

    Agora era Valentina e um fio de luz no grande apartamento vazio.

    Seus pés se moveram com toda adrenalina se esparramando pelo corpo, com toda sua química alterada e o medo lhe tomando. Porque agora o silêncio já não mais lhe era normal. Contudo outra vez ela estancou, recuou até a porta do quarto não sabendo bem o que ia fazer, porque nunca fizera aquilo, nunca mais saíra do apartamento, do contato com seu cheiro, seus pertences, seus livros, e sua solidão.

    Ela sabia que tinha que voltar a movimentar os pés, que precisava carregar seu corpo magro e longilíneo, e tudo mais dentro dela até a porta, até a maçaneta da porta, que precisava abrir.

    Mas o medo lhe impediu. Impedia-lhe que há anos saísse dali, da segurança de estar sozinha acima de tudo, e seus pés lhe levaram até a cozinha, até a gaveta, até a faca afiada que pegou.

    E mais nada. Porque nada nela se movia outra vez. O medo havia tomado conta, como sempre lhe tomara, imersa numa ansiedade irracional, e o som de um novo grunhido a alertou.

    Havia algo, um animal ali.

    Valentina ergueu a porta do elevador da parede da cozinha. Lá embaixo o som do ar passando pelas arestas. Mais abaixo, o escuro. Valentina acionou o elevador e novamente um som de engrenagem oca se fez. O elevador subia até o 23°, até seu apartamento, sua cozinha. Quando ele chegou não havia nada, só um líquido viscoso, ainda morno,

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