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Batismo de fogo
Batismo de fogo
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E-book231 páginas2 horas

Batismo de fogo

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Sobre este e-book

Quando a sirene da farmácia psiquiátrica soou em sua máxima forma, um tumulto acontecia ali dentro, com oito pacientes fora de si, abrindo caixas, gavetas, derrubando vidros, esparramando líquidos, quebrando tudo. Naquele momento, oito crimes que passaram inócuos sem que a polícia ou a sociedade soubessem de sua existência, conhecesse seus crimes, ou se fizesse justiça às vítimas sem nome, vem à tona. A Dra. Catrina Rey, uma psiquiatra recém-formada em busca de uma oportunidade de mostrar sua capacidade de penetrar a mente humana, se vê obrigada a navegar entre a insanidade e a lógica em buscar respostas onde nem sempre ela está. Catrina aceita o desafio de destrinchar a mente do jovem Hugo Crispim e seus crimes da escuridão, um piromaníaco que luta com seus próprios demônios, fazendo Catrina mergulhar num mar de crimes e insanidades.

IdiomaPortuguês
EditoraC. Ribeiro
Data de lançamento2 de dez. de 2018
ISBN9780463957424
Batismo de fogo
Autor

C. Ribeiro

Escrevendo romances policiais para um público infanto-juvenil, YA, e também adulto, a autora C. Ribeiro tem esse lado virtual impresso em alguns de seus livros, numa realidade que se passa dentro e fora dos computadores. C. Ribeiro escreve policiais da década de 50 e atuais, escreve suspense e terror, escreve ficção científica e fantasia além do nosso tempo e realidade.Ação e aventura adoráveis, que permeiam temas polêmicos, teorias de conspiração e mentes doentias.C. Ribeiro é uma autora que gosta de escrever personagens diversos, multiculturais, em todos os tipos de gêneros literários, permitindo que o leitor viaje pelas suas muitas histórias, conhecendo a maravilha que a literatura pode proporcionar.***********************Writing detective novels for children, YA and adults, C. Ribeiro has a virtual side imprinted in some of her books, a reality that takes place inside and outside computers.C. Ribeiro novels that takes place in the 50's and nowadays. Writes suspense, horror, science fiction and fantasy beyond our time.Also adorable action and adventure that permeate hot topics, conspiracy theories and sick minds.C. Ribeiro is an author who likes to write diverse, multicultural characters in all types of literary genres, allowing the reader to travel through her many stories, knowing the wonder that literature can provide.

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    Batismo de fogo - C. Ribeiro

    Hospital Psiquiátrico Démission.

    Bairro do Belenzinho, São Paulo.

    15 de setembro; 03h00min.

    A sirene da farmácia psiquiátrica soou em sua máxima forma, um tumulto acontecia ali dentro com pacientes fora de si, abrindo caixas, gavetas, derrubando vidros, esparramando líquidos, quebrando tudo.

    A enfermeira chefe Nadja Latif, foi acordada pelo barulho. De cabelos negros e desgrenhados, e perto de completar cinquenta e oito anos, levantou-se tão depressa que trocou os calçados do pé. Desceu a escada em duplas de degraus e alcançou o corredor onde ficava a farmácia invadida, onde a esmirrada enfermeira Thaís Takawada, vinte e cinco anos, com os cabelos ruivos tingidos, caindo tão desgrenhados quanto sob os olhos asiáticos, e o encorpado enfermeiro Marcello Tognolo, vinte e sete anos, tentava em vão controlar os oito pacientes ali debelados, em meio a gritos, uivos, e muitos flocos dos travesseiros rasgados, trazidos de seus quartos/cela, levantados pelo ventilador do teto acionado.

    Nadja alcançou o botão do alarme e desligou a sirene ensurdecedora, gritando logo depois:

    — O que está acontecendo aqui?! — berrou a plenos pulmões.

    E o mundo parou literalmente.

    MT, Mario Luís Teixeira, quarenta anos, conhecido como o ‘vampiro do sertão’, estancou com os caninos na jugular de Thaís, que arregalava os olhos verdes para o paciente tão próximo. Um grunhido foi só o que MT fez se afastando dela. Sabia que havia sido pego em sua forma transformada e aquilo podia ser perigoso para ele, para sua próxima consulta e relatório, contudo aquele chamado tinha que ser obedecido.

    MT então sorriu ainda babado pelos muitos líquidos que tomara, e ficou no canto da parede, de olhos arregalados e avermelhados, esperando a próxima ordem daquela Nadja, que ele sabia, também tinha que obedecer.

    Thaís olhou Marcello que olhou Thaís ainda tentando dar uma resposta à enfermeira chefe.

    — Não sabemos… — foi Marcello quem conseguiu responder em meio aos oito pacientes paralisados pela ordem e grito da enfermeira chefe.

    Marcello era o oposto da pequena Thaís. Era alto, musculoso, de pele morena jambo, dono de uma vasta cabeleira sempre escondida na touca de crochê. Já a asiática Thaís parecia ter a metade de tudo que Marcello tinha, mas ambos faziam uma bela dupla de enfermagem.

    E ambos voltaram a olhar Nadja Latif, que não tinha só força na voz, também tinha no olhar, que amedrontava a todos, que sabiam, tinha que obedecê-la.

    Nadja então deu alguns passos pisando vidros quebrados e se aproximou de uma das duas pacientes femininas ali.

    — Muito bonito não NV? Aposto que isso aqui foi ideia sua! — e Nadja não esperava mesmo uma resposta de NV, Neli Varela, uma cleptomaníaca jovem, na casa dos vinte anos, e longos e finos cabelos morenos, feito trigo.

    Mesmo porque Neli tremia; mãos e todo o corpo magro, encolhido dentro da camisola branca de algodão, agora suja de tudo o que os rodeavam.

    Era óbvio que não fora apenas uma entrada forçada na farmácia, nem uma brincadeira ou um ato de destruição. Com todos seus anos de prática, Nadja sabia que havia ali um intuito muito maior.

    Qual, não sabia ainda.

    Ela então tentou outra abordagem, agora com PP, Paulo Pereira, vinte e dois anos. Marcado por uma infância de abusos dos mais diversos, ao ser preso meses antes, estava nu na vitrine de uma loja de roupas femininas num shopping da Lapa, fazendo sexo com bonecas.

    Nadja não gostava dele; nem dele nem de suas muitas ‘filias’ da psique humana. Ficava incomodada quando o novo médico chefe fazia reuniões de ‘mistura de pacientes’ na sala de muitas tintas, pinceis e figuras, e PP estava lá.

    Foi quando o encorpado Marcello deu alguns passos e entregou o que parecia uma arma, uma faca rudimentar feita com um cabo de colher.

    — Isso escapou da vistoria de Cezar! — e Marcello viu a face da enfermeira chefe Nadja esticar.

    Armas rudimentares eram especialidades de GN, Graziela Nunes, uma infanticida de quarenta anos, que matou os três filhos do sexo masculino com um garfo de macarrão e uma tesoura de frango. Nadja olhou-a e GN não moveu um único músculo no corpo. Porque ao contrário de Neli, nada tremia nela.

    Nadja sabia que o segurança Cezar Augusto não podia ter deixado escapar aquilo em suas revistas, aquilo não podia acontecer sob-hipótese alguma dentro de um hospital prisão, com trinta pacientes psicóticos, de alta periculosidade, com suas medicações diminuídas após o novo diretor, o Dr. Cláudio Tokie, um cinquentão médico psiquiátrico forense, que assumiu o Hospital Psiquiátrico Démission definindo novas diretrizes medicamentosas.

    O que obviamente Nadja não concordava.

    Ela deu mais alguns passos sob o vidro que acabara de estourar por suas passadas, e o próximo foi WR, Wladimir Rodrigues, um paciente de quase cinquenta e oito anos, que sofria de licantropia. Nascido numa família de artistas de circo itinerante, e que acreditava ser um lobisomem por causa de sua anomalia genética, a encarou e desviou o olhar, e a encarou e voltou a desviá-lo.

    — Algo a dizer WR? — e um uivo foi o que Nadja ouviu. — Não comigo WR! — exclamou com força.

    WR voltou a uivar até desviar o olhar e não fazer mais nenhum som.

    Nadja o conhecia, ele chegara ali junto com ela, há vinte e oito anos. O Démission nem havia chegado ao Brasil, e ali ainda era o HPG, o Hospital Psiquiátrico Geral.

    Era muito tempo para conhecer cada detalhe daquela personalidade dissociada.

    Nadja prosseguiu na vistoria, porque o sexto paciente ali na esbornia era AQ, Arnaldo Queiroz, o ‘Arlindo picadinho’; quarenta e oito anos, alto e bonito na juventude, e que ganhara o simpático apelido por desmembrar, picar e comer suas vítimas. Dez ao todo, pelo o que ele lembrava. E vê-lo ali, controlado de certa forma, sem mordaça, e sem comer nenhum coleguinha, era inusitado.

    Canibal, AQ foi preso por uma denuncia anônima, com policiais lá chegando a sua casa, encontrando sua geladeira abastecida de pedaços humanos, alguns já em estado de deterioração. E Nadja não se conformava que nenhum único verme, ou parasita foi encontrado em seu sistema digestivo.

    Parasita ali, só ele, AQ.

    E Nadja também não se conformava de vê-lo ali, porque AQ havia sido afastado definitivamente da sociedade. Medicado ao extremo, teve sua dose reduzida também, o que fez o coração de Nadja saltar por AQ estar tão controlado.

    O próximo a passar por sua vistoria foi FJ, Fabiano Jurandir, que começou na adolescência pelo troilismo, passando para a raptofilia, até chegar à gerontofilia e começar a matar idosos, após agressões sexuais severas, os levando muitas vezes a morte antes mesmo da satisfação, o permitindo experimentar a necrofilia.

    FJ, com quarenta anos, era mesmo um paciente interessante, porque poderia se dizer que havia dois FJ; o FJ mau, como ele próprio se chamava, capaz de fazer maldades mil, e o FJ bom, como ele se identificava nesses últimos anos, incapaz de fazer mal a uma mosca.

    Nadja era experiente o suficiente para saber que nenhum dos FJ ali era verdadeiro, porque FJ estava a ponto de explodir. O Dr. Cláudio Tokie dava créditos a FJ, coisa que ela não concordava.

    Mas a enfermeira chefe Nadja jurava por tudo que lhe era sagrado, que não esperava ver ali, era o piromaníaco HC, Hugo Crispim; um jovem bonito, de pele clara e cabelos castanhos, magro, na casa dos vinte e dois anos, formado em filologia, o que para ela já era o motivo de vê-lo enrustido, antissocial, em meio aos seus muitos livros, que os advogados e tutores imploraram para que ele pudesse levar.

    Poder-se-ia até dizer que apesar de jovem, era um erudito.

    Por isso, HC nunca havia se manifestado em grupo desde sua chegada há dois meses. Nenhuma palavra, nenhuma interação, nenhum único movimento de decisão. HC acordava, comia e dormia. Então nunca reclamava, nunca expressava, nunca nada para estar ali, na confusão armada, com líquidos diversos escorrendo da boca aberta, no sorriso cínico esboçado, no olhar negro, profundo, mal, e que a devorava.

    Nadja engoliu tudo aquilo sem chamar-lhe a atenção e ordenou a Thaís e Marcello que voltassem todos aos seus quartos/cela, com 120 MG de diazepínicos em cima da mediação já habitual, quisesse o Dr. Cláudio Tokie ou não. Estava nervosa, a ponto de perder o controle que a guiara por toda sua carreira, por causa daquela invasão.

    Foi para seu quarto no andar acima do corredor dos quartos/cela psiquiátricos e da farmácia, agora trancada com mais dois cadeados.

    Estava uma pilha de medo.

    A raposa muda de pelame, não de caráter.

    Estônio.

    Capítulo 2

    Residência de Catrina Rey.

    Bairro do Ipiranga, São Paulo.

    Uma semana depois.

    Catrina Rey acordou. O quarto já estava iluminado pela manhã de primavera. Ela adorava setembro, com suas flores exalando um odor especial, o Sol quentinho, mas manso, irradiando o suficiente.

    Desde a morte da mãe Rúbia Rey, aos quatro anos, que Catrina odiava o inverno, as manhãs geladas, de céu fechado. Um aperto no peito e lá vinha a tristeza. E mesmo passados vinte e dois anos de sua fatídica morte, da desgraça que caiu sobre a família Rey, que Catrina, vinte e seis anos, não gostava do frio, da sensação de perda que aquilo acarretava.

    Catrina era bonita em toda sua essência. Mexicana de nascimento chegou ainda bebê com a família, com seu pai vindo ao Brasil para uma viagem de estudos e daqui não saindo mais. Morena, com grandes e expressivos olhos verdes, e grossos lábios, Catrina tinha a pele branca, avermelhada quando sob emoção.

    Era uma mulher encantadora, que conhecia seus dons femininos, que nunca passavam despercebidos. E apesar de todos darem certo de que Catrina seguiria carreira de modelo ou coisa parecida, pelas horas de moda que curtia vestir, comprar, desenhar, nada a fez mudar sua ideia de estudar medicina, de ser uma médica da mente.

    De família tradicionalmente legista, bisavô, avô e pai, Catrina inovou pela escolha da psicopatologia descritiva, um ramo da psiquiatria usada como ferramenta diagnóstica exclusiva do psiquiatra. Uma área que seu pai relutou a aceitar já que sua única irmã Guadalupe, também seguiu a medicina legal.

    Mas Catrina sabia que podia sim inovar, penetrar a mente humana além dos limites impostos pela própria medicina e farmacêutica. Considerava-se nova, cheia de entusiasmo, e com ideias próprias do que acreditava ser um atalho para o mais profundo conhecimento do ‘eu’.

    Era uma desbravadora.

    O que não passou a ser uma tarefa tão fácil quanto imaginava. Estudar medicina psiquiátrica trouxe à tona toda uma infância e adolescência conturbadas pela morte da mãe, levada pelo tiro disparado da arma do assaltante, do jovem mascarado que invadiu sua casa para roubar.

    O disparo do alarme, os muitos vidros quebrados na janela da cozinha e o corpo da sua mãe caído, ensanguentado, sorrindo-lhe num último adeus, tomado pelo fogo que seguiu a sua morte. Tudo aquilo permeou sua escolha, a mente assassina, sem remorso, capaz de tirar a vida de semelhante. E apesar de toda objeção de pai e irmã por aquela escolha, Catrina seguiu em frente em busca das respostas em meio a tantas perguntas.

    Todo aquele dilema chamou a atenção do professor Dr. Cláudio Tokie, que apesar da barreira etária e hierárquica de um professor universitário envolvido amorosamente com uma aluna, não o intimidou a se declarar a Catrina, sua total fascinação por ela, por toda sua beleza e inteligência.

    O romance não durou nem um ano, mas a amizade e a chama do amor quase platônico do Dr. Cláudio Tokie pela agora Dra. Catrina Rey não se apagou. Quando a invasão a ala da farmácia do hospital psiquiátrico em que trabalhava, aconteceu, Cláudio viu ali, na busca por uma profissional que perfilasse um paciente especial, a oportunidade de ter Catrina perto dele outra vez.

    Era o que significava aquele telefonema às oito da manhã.

    — Alô!

    La Calavera Garbancera?

    — Não acredito… — soou charmosa do outro lado da linha. — Cláudio?

    Os olhos do Dr. Cláudio Tokie brilharam do outro lado da linha e seu tique nervoso o fez piscar algumas vezes. Estava feliz por ter sido reconhecido. Afinal La Calavera Garbancera’ era sua maneira própria de chamá-la, pelo nome Catrina e pela La Catrina de los toletes, já que a Caveira Garbanceira era uma personagem de ficção criada pelo ilustrador mexicano Juan Posada e popularizada pelo ilustre pintor mexicano, Diego Rivera, simbolizando o esqueleto de uma dama da alta sociedade; uma das figuras mais populares da Festa do dia dos mortos no México.

    — Aposto que foi o timbre da minha voz!

    — Quase isso… Já que é o único que me vê ‘La Catrina’ — soou ainda charmosa. — O que tem para mim Cláudio?

    — Por que acha que tenho algo Garbancera?

    — Disse que não mais ligaria.

    — E você acreditou Garbancera?

    Ambos riram.

    — Não! Porque nos ensinava que mudar de opinião fazia parte da natureza humana. Como dizia Immanuel Kant, o sábio pode mudar de opinião, o idiota nunca.

    E ambos voltaram a rir.

    Cláudio gostava dela.

    — Tem um compromisso profissional para o final da tarde?

    — Sabe que acabei minha especialização em…

    — E precisa de um emprego!

    — Está me propondo algo?

    — Queria saber se aceita perfilar um de meus pacientes.

    — Não sou perfiladora Cláudio.

    — Eu sei! Eu sei! Mas acredito que vai gostar do que vai encontrar.

    — Não acha que ‘gostar’ é uma palavra forte?

    — Acredite Garbancera! Você vai gostar!

    Os olhos de Catrina Rey também brilharam ao encerrar aquele telefonema.

    Ela olhou a sua volta e viu a sala pequena do apê em que morava sozinha; uma bancada de madeira de demolição onde cozinhava, dois armários de vidros na parede, uma geladeira de inox, um fogão elétrico e na sala sua coleção de caveiras coloridas na estante, uma TV de LED na parede, do que era um quarto/sala conjugado à cozinha. Estava sozinha no sofá-cama desarrumado, porque sempre esteve sozinha, mesmo quando estava rodeada de gente.

    Por escolha ou não, dizer que iria gostar de perfilar assassinos psicóticos talvez fosse a máscara que vestia naqueles últimos anos, na escolha profissional, nas amizades quase ausentes, no afastamento da família e na morte brutal da mãe, na sua frente, pelo homem que também vestia máscaras.

    Catrina Rey se levantou e prosseguiu com os afazeres domésticos sabendo que talvez, ela fosse gostar de algo mórbido no final daquela tarde, afinal, era La

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