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Arquivo morto
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E-book200 páginas2 horas

Arquivo morto

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Sobre este e-book

A década de 20 ganhava novo impulso, a capital da cidade de São Paulo crescia, e o café sofria mais uma grande crise. No entanto, a elite paulistana, num clima de incerteza, mas de muito otimismo, frequentava os salões de dança, assistia as corridas de automóvel, partidas de futebol, ia a bailes de máscaras e participava de alegres corsos nas avenidas principais da cidade, com seus prédios hoje icônicos, mas que também faziam sucesso naquela época.
O Hotel Carlton era um deles, na importante Rua Líbero Badaró, se preparando para o Réveillon de 1923 quando um corpo foi encontrado amarrado e morto em suas dependências. Mas um caso que deixou marcas e memórias perdidas ao longo dos anos na família Holanda, do delegado Luiz Felipe Holanda, do DEIC, chefe do inspetor Benício Valcarengue, que entrou na loucura de permitir que Catrina Rey, uma psiquiatra conhecedora de mentes, reabrisse o caso.
Um caso que vai fazê-los caminhar pela história, muitas vezes falhas, de lembranças, de memórias prejudicadas pela idade, pela doença, mas também pelo medo de ver revelado o assassino daquele caso; de uma mulher chamada Simone Figueiredo, dançarina conhecida nos cabarés de São Paulo por Fifi paulistana, sufragista, morta por uma entidade eugenista da época, 'A Liga', que quer que o passado continue passado. A Dra. Catrina Rey está pronta para abrir uma caixa de Pandora, trazendo à tona a morte de Fifi paulistana, rainha dos cabarés de 1923, que estava na lista dessa 'A Liga', que levantava a bandeira da limpeza racial, social, e dos bons costumes, num caso morto, arquivado.

IdiomaPortuguês
EditoraC. Ribeiro
Data de lançamento28 de mai. de 2020
ISBN9780463879252
Arquivo morto
Autor

C. Ribeiro

Escrevendo romances policiais para um público infanto-juvenil, YA, e também adulto, a autora C. Ribeiro tem esse lado virtual impresso em alguns de seus livros, numa realidade que se passa dentro e fora dos computadores. C. Ribeiro escreve policiais da década de 50 e atuais, escreve suspense e terror, escreve ficção científica e fantasia além do nosso tempo e realidade.Ação e aventura adoráveis, que permeiam temas polêmicos, teorias de conspiração e mentes doentias.C. Ribeiro é uma autora que gosta de escrever personagens diversos, multiculturais, em todos os tipos de gêneros literários, permitindo que o leitor viaje pelas suas muitas histórias, conhecendo a maravilha que a literatura pode proporcionar.***********************Writing detective novels for children, YA and adults, C. Ribeiro has a virtual side imprinted in some of her books, a reality that takes place inside and outside computers.C. Ribeiro novels that takes place in the 50's and nowadays. Writes suspense, horror, science fiction and fantasy beyond our time.Also adorable action and adventure that permeate hot topics, conspiracy theories and sick minds.C. Ribeiro is an author who likes to write diverse, multicultural characters in all types of literary genres, allowing the reader to travel through her many stories, knowing the wonder that literature can provide.

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    Arquivo morto - C. Ribeiro

    Capítulo 1

    São Paulo.

    Dezembro de 1923.

    A sociedade dos anos 20 trazia animados homens e mulheres ao som das jazz-bands. E eram mulheres modernas para a época que tinham na cantora e dançarina Josephine Baker, sua musa.

    A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade. Ela trouxe ao teatro artistas plásticos, arquitetos, escritores, compositores e intérpretes para mostrar seus trabalhos, os quais foram recebidos, ao mesmo tempo, debaixo de palmas e vaias.

    Era uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda para o modernismo.

    Foi a semana de 22 que trouxe também Simone Figueiredo à capital de São Paul, que assumia os ares de Metrópole.

    Menina rica vinda de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo, de família produtora de algodão, ela fugiu de casa aos 18 anos para encontrar aquilo que sempre fora seu sonho e que acreditava ser a sua sina; a arte.

    E não só a pintura, a poesia, mas a dança e o canto.

    Simone veio e não foi mais embora, conhecendo Dodô Laurent, na verdade Dominique Laurent, de pais africanos do Senegal, porém nascida na Franca, chegada a São Paulo há quatro anos, que se encantou com os olhos cor de mel de Simone e que não a deixou mais sozinha.

    E como Simone já era maior de idade, a família não conseguiu levá-la de volta quando a polícia foi acionada atrás dela.

    A família chocada e muito religiosa, resolveu que ela havia morrido para eles, já que as más línguas diziam que ela era uma messalina, uma mulher sensual e libertina.

    Porque as mesmas más línguas da época, diziam que não foi somente os olhos cor de mel que encantaram Dodô, mas todo corpo e alma de Simone, a quem se tornou sua protetora e professora na arte da prostituição, como teria dito, ‘arte de enganar velhotes’.

    Simone aprendeu da pior maneira que nem sempre a relação entre meretrizes e fregueses se caracterizava pela harmonia. Para o freguês, a prostituta representava fundamentalmente uma peça na engenhoca da produção de prazer.

    Não interessava a prostituta como pessoa, nem suas ideias ou ideias, nem medos, nem apreensões, nem desejos, muito menos suas expectativas na sociedade, porque Simone era uma revolucionária, uma sufragista, que buscava fazer parte da política.

    O que não combinava muito com sua atual situação.

    Vez ou outra se metia em confusão com outras mulheres atrás da permissão política de poder votar, como também direito à educação, propriedades e posses de bens, divórcio, pelo poder de opinar num mundo de homens, por uma reivindicação por direitos iguais de cidadania.

    Era uma a primeira onda do feminismo.

    E por isso mesmo, Simone foi presa algumas vezes, travando dentro das delegacias desafetos, mas também conhecimento, o que levou a buscar conhecimento também lá pelos arredores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a proteção de advogados professores, de futuros advogados, homens que a ajudariam vez ou outra em suas apreensões.

    Porque Simone conhecia o poder de seu corpo, sabia como provocar alvoroço em suas apresentações, sempre em trajes ousados. Tinha uma voz melosa, mas picante, com sons nasais arrastados, que faziam os homens levantarem da plateia e terem que ser contidos pelos ‘leões de chácara’ que tomavam conta da segurança do Cabaré Flor da noite, um que ficava na Rua Libero Badaró próximo à Rua São João.

    Foi numa dessas apresentações no cabaré que o Visconde de Barnaúba, rico empresário, morador de um palacete na Avenida Paulista, casado com Ana Rosa Sillas Branco, pai de três filhas e cinco netos, conheceu a belíssima Simone ‘olhos de mel’ e sua voz arrastada.

    Um conhecimento que se tornou assíduo, com o romance deles explodindo nas noites paulistanas, com o visconde investindo na carreira artística de Simone Figueiredo, nome artístico adotado ‘Fifi paulistana’, a permitindo gravar um disco com cinco músicas totalmente autorais, porque ela era uma artista nata, ninguém podia negar.

    Cabaré Flor da noite.

    31 de dezembro de 1923, 23h00min.

    Quem hoje transita pela movimentada Avenida São João pode não imaginar o quão estreita era esta via há pouco mais de 100 anos atrás, no início do século 20.

    Era um local bem frequentado, mas que também permitia marginais.

    Uma mistura bombástica.

    Livre dos espartilhos, usados até o final do século 19, Fifi tinha total liberdade no que vestia, e já se permitia mostrar as pernas, o colo e usar maquilagem.

    Sua boca era carmim, pintada para parecer o desenho de um coração, com os cílios e pálpebras marcadas, de sobrancelhas tiradas e delineadas a lápis, com muito pó-de-arroz deixando a pele branca, o que acentuava os tons escuros da maquilagem mais ainda.

    Era assim que Fifi estava naquela apresentação de Réveillon, com o cabaré em sua lotação máxima, esperando contagem para um novo ano, 1924, quase na porta.

    — Vamos ‘pappi’! Pombas! Não fique nervoso — Fifi fez um charminho com o dedo na ponta do nariz dele.

    — Eu tinha que estar em casa nessa hora! — soou agressivo.

    — Achei que havia dito a mexeriqueira da sua mulher Ana Rosa que ia viajar a negócios?

    — Disse! Mas precisei voltar atrás.

    — Pombas! Isso quer dizer que não vai mais haver viagem?

    — Vai haver, Simone. Só que não hoje, não agora — o Visconde de Barnaúba nervoso, observava todos ao redor, no cabaré lotado.

    Mas Simone era incapaz de entender a dificuldade de um homem da posição dele, casado, em não deixar a sociedade saber que ele tinha um caso com uma prostituta, meretriz, ou que nome ela teria na época.

    — Vai ver, é outra vez aquele sacripanta do Jorge Henrique?

    — Não estou nem aí para aquele almofadinha do filho do Barão. Jorge Henrique nem saiu das fraldas.

    — Safado, pilantra, desprezível.

    — Chega Simone! — o Visconde nem se deu conta que já não mais a chamava de ‘Fifi’. — Sabe que aqueles caras, daquele grupo é que me preocupam, que eles são perigosos.

    — São gângsteres pappi. A polícia que se preocupe com eles.

    — Não são gângsteres, Simone. São algo muito pior, com aquelas flâmulas e tudo mais, levantando bandeiras de limpeza étnicas e morais — e olhou para Simone que parecia não entender o que aquela ‘liga’ era capaz de fazer com prostitutas, drogados e com a homossexualidade, tanto a feminina quanto a masculina, sempre escondidas nas malhas da sociedade.

    — Vamos pappi. Nos encontramos no hotel então. Realmente o anunciante não mente quando diz ‘a melhor posição da cidade’ — sorriu passando a mão pela barba grisalha do Visconde de Barnaúba.

    — Não faça isso em público, mulher! — o Visconde arrancou a mão dela com força. — Não foi o combinado.

    — Nunca sei o que é o combinado, pappi. Vocês dois me irritam, sabe? — Simone o fuzilou com um olhar cor de mel e só, voltou para dentro do seu camarim, chateada pelo que seu ‘pappi’ e amante fez, inerte aos movimentos que a rodeavam.

    Entrou no camarim para se trocar e terminar a garrafa toda de champanhe, com Dodô lá, a esperando.

    — Aquele velhote não te merece — falou no que Simone entrou.

    Simone deu um salto do chão, assustada pela presença dela dali, vestindo um vestido escandalosos, de flores, e a maquiagem borrada, típica da bêbada que Dodô Lambert se tornara.

    — Já havia dito a você que não a quero aqui.

    E Dodô se levantou com toda sua corpulência, a encarando.

    — Não chegou até aqui sozinha, sua messalina. Devia lembrar-se disso — disse uma Dodô furiosa.

    — Vou para Europa com meu velhote. Não preciso mais de você.

    E Dodô caiu em gargalhada.

    — Sua ridícula!!! — gritou Dodô ferozmente sendo ouvida por todos que passavam pelo camarim de ‘Fifi paulistana’. — Acha mesmo que aquele velho empolado vai deixar a família rica dele, por causa de você? Uma rameira? Uma meretriz?

    — Sou o que sou e ele me ama.

    — Ele gosta é da sua...

    — Cale-se!!! — foi a vez de Simone gritar jogando a taça de champanhe em Dodô.

    Dodô só arregalou os olhos, pegou um lenço de seda ali na mesa, parte do show de Simone no palco, se limpou, e saiu.

    Hotel Carlton.

    São Paulo, capital.

    31 de dezembro de 1923, 23h58min.

    O hotel localizado no ponto mais elegante e badalado, o Parque Anhangabaú e a rua Líbero Badaró número 26, ficava à esquerda do estabelecimento gráfico dos irmãos Weiszflog, próximo do Cinema Central, de propriedade da Cia Antarctica Paulista na região do Vale do Anhangabaú.

    Frequentado pelos intelectuais modernistas, estava iluminado e cheio para o Réveillon, com uma festa particular acontecendo em seu salão.

    Por isso mesmo o Maître d'hôtel, ou simplesmente Maître Anfitrião, era o responsável por agendar as reservas, acomodar os clientes nos estabelecimentos e garantir a eficiência no atendimento e a satisfação do cliente lidando com as reclamações.

    Era o encarregado naquela noite pelo próprio Visconde de Barnaúba de levar lagosta e champanhe ao quarto número 43, e ele não quis se atrasar. Tinha já sua bandeja preparada no carrinho de metal, pronto a subir e entregar ao casal ali hospedado antes que as vinte quatro badaladas se fizessem anunciando o ano novo que nascia.

    — Toc! Toc! Toc! — se fez na porta do quarto número 43.

    — Serviço de quarto! — anunciou, mas não havia sons vindo de dentro do quarto. O Maître d'hôtel olhou no relógio de bolso para confirmar a hora e as badaladas logo começariam. — Toc! Toc! Toc! Serviço de quarto! — voltou a falar quando uma barulheira começou ali.

    — Dez! Nove! Oito! Sete!

    — Toc! Toc! Toc!

    — Serviço de quarto! Há alguém aí? — Maître d'hôtel quis saber.

    — Seis! Cinco! Quarto! Três!

    — Toc! Toc! Toc!

    — Serviço de quarto! Por favor! Abram a porta!

    — Dois! Um! Feliz Ano Novo!!! — gritavam por todos andares do hotel Carlton, pelas ruas, por toda Capital de São Paulo.

    O Maître d'hôtel abriu a porta e seu grito se perdeu no barulho das pessoas comemorando a nova data.

    Na cama, o corpo de uma mulher jovem, de cabelos curtos e negros, bonita, nua, de olhos arregalados e petequeias se misturando a cor de mel. Seus braços estavam amarrados na cabeceira da cama, e seus pés amarados a peseira da cama.

    Havia uma garrafa inacabada de champanhe que foi utilizada de muitas maneiras dentro do corpo dela, e também muitas lacerações pelo corpo.

    O Maître d'hôtel saiu correndo para chamar a polícia.

    Ali perto, o prédio que abrigou o Cinema Central foi uma das primeiras obras da então nova Avenida São João, no final de 1916. Neste mesmo local, até 1914, funcionavam duas salas de exibições bem conhecidas dos paulistanos daquela época; o Bijou Theatre e o Polytheama, destruídos no incêndio de 1914.

    Tudo aquilo se misturou ao escândalo da morte de Simone Figueiredo, a Fifi paulistana, a prostituta assassinada pelo Visconde de Barnaúba, que jurava inocência, que pagou bons advogados, que se apagaria dos diz-que-me-diz da imprensa sensacionalista, em meio a construção do Prédio Martinelli que se iniciaria em 1924, que iria superar os doze pavimentos e cinquenta metros de altura, do edifício Sampaio Moreira.

    Tudo para cair no esquecimento e se tornar um arquivo morto, arquivado.

    A angústia surge do momento em que o sujeito está suspenso entre um tempo em que ele não sabe mais onde está, em direção a um tempo onde ele será alguma coisa na qual jamais se poderá reencontrar.

    Jacques Lacan.

    Capítulo 2

    Hospital Psiquiátrico Démission.

    Bairro do Belenzinho, São Paulo.

    19 de dezembro, 07h00min.

    Catrina Rey havia começado a trabalhar no Hospital Psiquiátrico Démission há coisa de dois anos, levada até ali pelo mentor, ex-professor e também ex-namorado Dr. Cláudio Tokie, um homem carismático, médico psiquiatra de renome, mas que tinha tantas parafilias em seu interior quanto os pacientes que tratava ali.

    E desde a morte de Cláudio que Catrina, La Calavera Garbancera, como era chamada, gerenciava com mãos firmes, não deixando nada escapar à sua maneira de desmitificar a ala humana; uma verdadeira Caveira Garbancera, personagem de ficção criada pelo ilustrador mexicano Juan Posada, ‘Catrina’ era uma figura popular da Festa do dia dos mortos no México.

    Catrina Rey era bonita em toda sua essência.

    Mexicana de

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