Sons do cativeiro
De C. Ribeiro
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Sobre este e-book
Um telefonema para a emergência da polícia desencadeia uma busca pelo corpo de uma sequestradora que anuncia seu suicídio e uma criança deixada no cativeiro, o qual ela jura que ninguém vai encontrar. Mas ninguém sabia sobre os sequestros, nem sobre ela. Então por que se matar se não estava no radar da polícia. São essas intricadas perguntas que fazem a psiquiatra Catrina Rey ir em busca de tempo perdido para salvar a vida de uma garotinha que foi abandonada por seu algoz, esquecida. Catrina só não esperava encontrar respostas com uma paciente do hospital psiquiátrico Démission; uma mulher que se dizia rastreadora paranormal, e que tinha mais a esconder do que revelar sobre os sons de um cativeiro.
C. Ribeiro
Escrevendo romances policiais para um público infanto-juvenil, YA, e também adulto, a autora C. Ribeiro tem esse lado virtual impresso em alguns de seus livros, numa realidade que se passa dentro e fora dos computadores. C. Ribeiro escreve policiais da década de 50 e atuais, escreve suspense e terror, escreve ficção científica e fantasia além do nosso tempo e realidade.Ação e aventura adoráveis, que permeiam temas polêmicos, teorias de conspiração e mentes doentias.C. Ribeiro é uma autora que gosta de escrever personagens diversos, multiculturais, em todos os tipos de gêneros literários, permitindo que o leitor viaje pelas suas muitas histórias, conhecendo a maravilha que a literatura pode proporcionar.***********************Writing detective novels for children, YA and adults, C. Ribeiro has a virtual side imprinted in some of her books, a reality that takes place inside and outside computers.C. Ribeiro novels that takes place in the 50's and nowadays. Writes suspense, horror, science fiction and fantasy beyond our time.Also adorable action and adventure that permeate hot topics, conspiracy theories and sick minds.C. Ribeiro is an author who likes to write diverse, multicultural characters in all types of literary genres, allowing the reader to travel through her many stories, knowing the wonder that literature can provide.
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Sons do cativeiro - C. Ribeiro
Capítulo 1
Base da Polícia Militar de Iporanga.
Iporanga, São Paulo.
22 de outubro; 23h30min.
O telefone 190 tocou na Base da Polícia Militar de Iporanga, interior do Estado de São Paulo:
— Polícia militar, emergência... — falou a atendente de plantão, a soldada Paula Leite, naquela noite.
— Eu quero... — e a ligação falhou.
— Polícia militar, emergência... — a atendente soldada Paula voltou a falar.
— Eu quero... — e a ligação falhou outra vez.
— Alô! Pode repetir? — um ruído na linha não deixava a soldada Paula escutar.
— Vocês estão longe... — a voz da mulher parecia cansada.
— Alô! De que cidade está falando? Alô! Senhora? Preciso informações suficientes para o atendimento adequado da ocorrência.
— Quero anunciar um suicídio...
— Um... Você disse ‘suicídio’?
— Vocês estão longe...
— Longe
? Como assim ‘longe’?
— Longe de compreender...
— De onde está falando Senhora? — e a soldada Paula ergueu o braço para chamar a atenção do Sargento ali de plantão.
— Todos eles, e vocês nunca perceberam...
— Senhora? Pode repetir o que havia dito?
— Todos eles... Almas perdidas...
— Senhora? Pode repetir o que havia dito antes? Há um suicídio em andamento?
— Levadas... Todas elas... Almas sofridas...
— Que almas Senhora?
E o sargento Vanderlei Correa e Silva se aproximou da atendente soldada Paula.
— O que houve Soldada?
Paula tremia toda.
— Alguém está falando sobre um suicídio em andamento, sargento Vanderlei... — e voltou ao telefonema de emergência. — Senhora? Senhora? — e somente ruídos eram ouvidos. — Senhora?
— Rastreie a ligação! — ordenou o sargento Vanderlei.
A atendente soldada Paula, de plantão, acionou a busca pelo GPS do celular.
— Não é um celular Sargento. É um telefone público.
— Pergunte onde ela está? — Vanderlei quis saber.
— Senhora? Senhora? De onde está ligando? — mas só ruídos indecifráveis eram ouvidos. — Senhora? Precisamos da sua localização para mandar uma viatura.
E mais ruídos.
— Almas fracas... Em busca do destino... — a voz feminina se fez outra vez.
— Senhora?
— Todos eles... Almas perdidas indo ao meu encontro...
— Senhora? Senhora? De onde está ligando? — a soldada Paula rastreava o sinal para um posto de gasolina na estrada do PETAR.
— A Rodovia SP-165 tem muitas pousadas — o sargento Vanderlei ficou pensando em algo. — Continue falando com ela até rastrear a ligação por completo.
— Está bem Sargento! — e a soldada Paula voltou ao microfone. — Senhora? Senhora?
— Vocês nunca vão encontrá-la...
— Senhora? Quem nunca vamos encontrar? Do que está falando?
— Nunca vão encontrá-la... — e som de um disparo penetrou no sistema de áudio da atendente que impactou.
A soldada Paula correu um olhar de pânico para o sargento Vanderlei ali ao lado dela e a ligação caiu.
Toda central de emergência da Polícia Militar de Iporanga e região foi alertada.
As pessoas vão fazer qualquer coisa, não importa o quão absurdo, para evitar enfrentar suas próprias almas
.
Carl Jung.
Capítulo 2
Hospital Psiquiátrico Démission.
Bairro do Belenzinho, São Paulo.
25 de outubro; 08h00min.
O Démission era o que se podia chamar de uma franquia hospitalar bem-sucedida, com hospitais franqueados pelo mundo todo.
Démission que significava ‘renúncia’ era uma ideia de construir hospitais psiquiátricos nos moldes do Démission francês, com concepções de autarquias, onde o paciente participava das decisões sobre como governar sua vida, o que trazia uma avalanche de reclamações da área médica, com milhares de processos contra indivíduos considerados fora do sistema comportamental e legal, sem quaisquer condições de tomar as rédeas de sua vida, nem retornar.
E já que o Hospital Psiquiátrico Démission de São Paulo, capital, era um hospital psiquiátrico, ele também recebia indivíduos do sistema prisional, condenados por assassinatos, e sem totais condições de voltar a viver em sociedade.
A psiquiatra Dra. Catrina Rey Catrina era bonita em toda sua essência. Mexicana de nascimento chegou ainda bebê com a família, com seu pai, médico legista Dr. Juan Carlos, sua mãe, irmã, agora mortas, vindo ao Brasil para uma viagem de estudos e daqui não saindo mais.
De cabelos negros, com grandes e expressivos olhos verdes, e grossos lábios, Catrina tinha a pele branca, avermelhada quando sob emoção.
Era uma mulher encantadora, que conhecia seus dons femininos, que nunca passavam despercebidos. E apesar de todos darem certo de que Catrina seguiria carreira de modelo ou coisa parecida, pelas horas de moda que curtia vestir, comprar, desenhar, nada a fez mudar sua ideia de estudar medicina, de ser uma médica da mente.
De família tradicionalmente legista, bisavô, avô e pai, Catrina inovou pela escolha da psicopatologia descritiva, um ramo da psiquiatria usada como ferramenta diagnóstica exclusiva do psiquiatra. Uma área que seu pai relutou a aceitar já que sua única irmã Guadalupe, também seguiu a medicina legal.
Mas Catrina sabia que podia sim inovar, penetrar a mente humana além dos limites impostos pela própria medicina e farmacêutica. Considerava-se nova, cheia de entusiasmo, e com ideias próprias do que acreditava ser um atalho para o mais profundo conhecimento do ‘eu’.
Era uma desbravadora de mentes.
Estava no comando do Démission já há dois anos, e tinha sob seu comando, dois enfermeiros noturnos, e dois enfermeiros diurnos; a enfermeira psiquiátrica Thais Takawada, mignon, asiática, de cabelos compridos e tingidos de ruivo além do enfermeiro Marcello Tognollo, vinte e sete anos, encorpado, alto, musculoso, de pele morena jambo, dono de uma vasta cabeleira sempre escondida na touca de crochê.
E apesar de jovem, 27 anos, Catrina acumulava vitórias em casos complicados como consultora do DEIC, o Departamento Estadual de Investigações Criminais, auxiliando o inspetor Benício Valcarengue, a quem ainda nutria um grande amor.
Um amor afetado pelo seu trabalho, pela insegurança que sentia ao diagnosticar os pacientes do Démission, que a afetava cada vez mais, toda sua estrutura psicológica.
Benício nunca soube ao certo o porquê de ela ter se afastado dele, do seu amor. Se preguntava se seus demônios internos também não a afetavam, a bela Catrina.
A campainha tocou e Catrina colocou o jaleco se encaminhando para o andar dos trinta quartos-cela, onde trinta pacientes, ainda dormiam; uma recém-chegada ali há dois dias.
E era a paciente número 7, Yala Ferraz, de 44 anos, quem interessava Catrina naquele momento, porque foi ela própria quem autorizou a transferência dela para o Démission após sua prisão um dia antes; uma paciente que ocupava o lugar do antigo paciente número 7 que havia morrido.
Yala sofria de TPE, Transtorno de Personalidade Esquizotípica, e tinha o que chamavam de ‘sexto sentido’, ou ela acreditava nisso.
O diagnóstico médico de tal transtorno de personalidade esquizotípica era tomando por base em alguns sintomas específicos, incluindo desconforto intenso com relacionamentos íntimos, pensamento e percepções distorcidas e comportamento estranho.
E Yala chegou ali sem contato com ninguém até agora, ou muito poucos, como os enfermeiros que lidava com ela, a fazendo se afastar, se encostando espremida à parede do fundo do quarto-cela antes pintadas de preto e agora com as paredes recém pintadas de branco.
Por isso mesmo Catrina preferiu a observar apenas, sem que ela a visse, sendo preparada para ser levada a sala de diagnóstico número 1, uma que Catrina quase nunca usava.
Yala era uma mulher rechonchuda, de pele avermelhada, de origem indígena, não se sabia ao certo de que origem, porque não havia marcadores nela sendo estudados.
Tinha olhos grandes e expressivos, e postura bonita, o que demonstrava que havia sido uma menina bonita na infância, talvez até na adolescência, mas que havia abandonado o que chamaríamos de amor próprio.
Não deixava que pintassem seu cabelo, o que trazia uma faixa destoando do cabelo originalmente preto e comprido, quase na cintura, e que não permitia prender.
Seu tratamento diário incluía medicamentos antipsicóticos, antidepressivos e terapia cognitivo-comportamental, o que Catrina era contra.
E como Yala vinha de outro hospital psiquiátrico, ela sabia que não conseguiria uma resposta imediata dela.
Mesmo porque a ficha dela era controvérsia, o Démission só aceitava ‘monstros’, doentes que haviam causado uma infinidade de mortes, mal-estar a sociedade, e Yala Ferraz vinha com uma ficha criminal em branco, com comportamento esquizoide, e o que ela própria chamava possuir um ‘sexto sentido’ e trabalhava como rastreadora de mistérios, com sua ficha chamando de ‘paranormalidade’, passando por médicos psiquiatras e psicólogos ao longo da sua vida.
Mas Catrina Rey acreditava naquilo de alguma forma, nos ditos poderes paranormais.
Se havia cientistas que rejeitavam, não só os métodos, como o próprio objeto de estudos desse tipo de fenômeno, em outro extremo, havia pesquisadores que se empenhavam em provar que a mente humana tinha capacidades inexploradas.
Yala Ferraz chegou à sala de diagnóstico trazida por Marcello, andando aos pulinhos pelas correntes, e foi colocada em frente à Catrina, separadas na mesa retangular de dois metros de comprimento, tendo suas algemas retiradas e presas à mesa e ao chão.
E Marcello saiu.
Yala instintivamente olhou para cima.
— Bom dia Yala. Sou a Dra. Catrina Rey e de agora em diante...
— Eu sei — Yala cortou a fala de Catrina.
— Você sabe?
— Sim. Eu sei tudo — sorriu para ela uma mulher de poucos mais de 40 anos, de corpo avantajado, com muito seios e braços musculosos, lembrando mais uma atleta que uma ex-professora do nível primário.
Porque era aquele o último emprego que ela exercia antes de acordar um dia e se autoproclamar uma rastreadora.
— O que você sabe tudo Yala? —