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Anatomia de um crime
Anatomia de um crime
Anatomia de um crime
E-book195 páginas2 horas

Anatomia de um crime

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Sobre este e-book

A palavra apofenia foi um termo proposto em 1959 por Klaus Conrad para o fenômeno cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios, como enxergar figuras humanas em nuvens, em vidros embaçados.
Então quando alguém começou a enxergar mensagens subliminares num livro antigo de anatomia de 1543, crimes horrendos começaram a aparecer, com corpos de crianças com síndromes especiais sendo dissecados.
Mas a psiquiatra Catrina Rey acaba por ser chamada para investigar tais crimes, não pelo DEIC, não pelo inspetor Benício Valcarengue, mas pelo Tenente-coronel Alfonso Gutiérrez, que havia encontrado o corpo do filho de um ex-professor e ex-secretário adjunto da Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Com a pressão vinda por todos os lados, Catrina outra vez se volta aos ‘monstros’ do hospital psiquiátrico Démission, atrás de sombras do passado de um homem ali levado em 1997, com sua história confusa, seu histórico perturbado, atrás de respostas para deter um Serial killer capaz de matar para encontrar respostas às suas próprias doenças e maldades.

IdiomaPortuguês
EditoraC. Ribeiro
Data de lançamento15 de mar. de 2020
ISBN9780463425787
Anatomia de um crime
Autor

C. Ribeiro

Escrevendo romances policiais para um público infanto-juvenil, YA, e também adulto, a autora C. Ribeiro tem esse lado virtual impresso em alguns de seus livros, numa realidade que se passa dentro e fora dos computadores. C. Ribeiro escreve policiais da década de 50 e atuais, escreve suspense e terror, escreve ficção científica e fantasia além do nosso tempo e realidade.Ação e aventura adoráveis, que permeiam temas polêmicos, teorias de conspiração e mentes doentias.C. Ribeiro é uma autora que gosta de escrever personagens diversos, multiculturais, em todos os tipos de gêneros literários, permitindo que o leitor viaje pelas suas muitas histórias, conhecendo a maravilha que a literatura pode proporcionar.***********************Writing detective novels for children, YA and adults, C. Ribeiro has a virtual side imprinted in some of her books, a reality that takes place inside and outside computers.C. Ribeiro novels that takes place in the 50's and nowadays. Writes suspense, horror, science fiction and fantasy beyond our time.Also adorable action and adventure that permeate hot topics, conspiracy theories and sick minds.C. Ribeiro is an author who likes to write diverse, multicultural characters in all types of literary genres, allowing the reader to travel through her many stories, knowing the wonder that literature can provide.

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    Anatomia de um crime - C. Ribeiro

    Capítulo 1

    Perus, São Paulo.

    28 de junho; 10h50min.

    Havia sangue por todo o lado; paredes, piso, móveis, os que ainda permaneciam ali em péssimo estado, com madeira descascada, pintura danificada e lanças de madeiras para empalar, com líquido escuro, escorrendo dela; alguns demonstrando ser sangue seco.

    Tudo bagunçado, tomado por um cheiro de chorume, pelo cheiro da morte, com pedaços de animais pendurados por ganchos, numa espécie de varal, com alguns empalhados, outros recentemente abatidos; pedaços humanos também.

    O telhado era aparente, feito rudemente com palha seca, amarrada entre si, com um enxame de moscas que vez ou outra era afastada pela mão que usava luva, por alguém que usava jaleco, óculos de proteção, botas e touca, que embaçava e fazia o rosto largo se tomar pelo suor, na cabana abafada, que cheirava morte.

    Alguém de rosto largo se viu no espelho já deteriorado pendurado na parede. Mas não se viu na camada de prata do espelho que já não refletia uma imagem precisa. Nem mais se enxergava como um ser humano naquele momento.

    Talvez algo primitivo, um ser primário, tomado pela matemática, pelos números e letras, ocultos naquele livro de anatomia, que revirava, páginas e mais páginas, para frente e para trás, decifrando-o, para então encriptá-lo, transformando aquela informação bizarra em algo impossível de sua leitura senão a ele próprio, capaz de uma identificação particular.

    — No X... Isso... No quadrado... Isso... Com um ponto agora... Isso... Agora invertido... Isso... — suava o homem de rosto largo. — No X outra vez... Isso... — escrevia no caderno velho, tão sujo quanto o entorno. — Dez centímetros... Isso... Isso... — e parou para ouvir o gemido, prosseguindo logo depois, porque tinha que fazer, era mandado fazer, tinha que completar aquilo, porque precisava ir para o ‘céu’.

    Ou quase isso.

    Um gemido abafado escapou outra vez da mesa onde um garoto de não mais que dezesseis anos agonizava pela lâmina que estirava sua musculatura.

    Lágrimas surgiram no corpo pequeno e amarrado, de cabelos encaracolados e escuros, aos poucos dissecado por alguém de rosto largo, que parecia não se importar com a dor do garoto, com suas lágrimas nos olhos que pediam, imploravam misericórdia.

    Porque aquele alguém de rosto largo não era misericordioso, porque estava seguindo as regras, toda uma ação decifrada ali naquele livro de anatomia, o livro da sua redenção, da sua entrada nos céus, na beleza dos jardins floridos, dos cantos dos anjos, da pureza.

    A morte era só um começo para entrar nos céus, como decifrava no livro, que seguia à risca, dissecando o jovem de corpo pequeno, que não se comunicava com facilidade, que agonizava em gritos abafados, cheios de súplicas, que giravam os olhos em seu entorno, buscando uma ajuda que não vinha.

    Porque ninguém sabia que ele estava li, enganado, sequestrado no meio da tarde, agora amarrado à mesa suja, com animais e insetos mortos sob ele, dependurados ou presos por alfinetes, que provável sofreram como ele, na lâmina afiada de alguém de rosto largo, o encarando; ele e sua morte lenta.

    Não se deve indagar sobre tudo: é melhor que muitas coisas permaneçam ocultas.

    Sófocles.

    Capítulo 2

    Parque Anhanguera

    Km 18, Rod. Anhanguera

    28 de agosto; 05h50min.

    — Sabe que se formos um pouco mais lentos queimamos mais gordura? — afirmou mais que perguntou um homem quase careca, na casa dos quarenta anos estancando a corrida, esbaforido e sibilante, pelo aparelho nos dentes, tardio.

    — De onde tirou essa ideia Alfonso? — perguntou Gaia, uma mulher jovem e bonita, de corpo fitness, com cabelo tingido de loiro platinado balançando por dentro do boné que usava.

    E que não parou de se movimentar mesmo tendo sido obrigada a parar de correr

    — Da Internet. Provável a mesma que disse que tínhamos que correr desse jeito para emagrecer mais rápido — respondeu Alfonso Gutiérrez fazendo as palavras ditas parecerem escorregar por entre os dentes afastados que tentava corrigir com o aparelho.

    — A ideia de correr não é só para emagrecimento, Alfonso. Se bem que correr ajuda a diminuir o apetite, pois durante a corrida há produção de Dopamina, que é um hormônio responsável pela sensação de bem-estar e pela redução da fome, além de melhorar o humor e reduzir a ansiedade.

    — Eu sou ansioso, querida, sou policial. Não há maior ansiedade nisso — sorriu o Tenente-coronel da PM, Comandante-geral da Polícia Militar área 5.

    — Viu? Por isso corremos.

    Alfonso só bufou olhando as árvores lotadas de pequenas crostas de gelo. Fazia frio naquela manhã até mais que em outras daquele inverno. Até o chão estava escorregadio.

    Por isso achava-se um louco por se permitir concordar com sua mulher Gaia, doze anos mais jovem que ele, que pedia para correr de manhã muito cedo, antes mesmo de o parque abrir; um bônus por ser policial na região.

    Ele a viu se afastando, com seu corpo modelado, seu cabelo tingido de loiro platinado balançando por dentro do boné que ela usava.

    De carreira exemplar, Alfonso era conhecido também pelo físico em ordem ganho na academia de polícia, pelos quarenta e um anos em forma apesar dos cabelos que se despediam dele rapidamente, das horas de patrulha em rua que ainda prestava serviço vez ou outra para desestressar, como havia dito, para diminuir a ansiedade do Batalhão de choque quando percebeu o contato imediato com o piso.

    — Ahhh!!! — e o estrondo do corpo no chão fez a revoada de pássaros acontecerem.

    Gaia estancou pelo susto.

    — Alfonso?! — corria Gaia já na frente ao ouvir os gemidos.

    Nem havia percebido que ele se distanciara.

    — Ai... Ai... — Alfonso sentiu que toda sua perna havia virado ao contrário.

    — Oh!!! — gritou ao encontrá-lo. — Meu Deus! O que houve?

    — O gelo, o que mais querida?

    — Não viu onde pisa Alfonso?

    — Sério? Onde eu piso só tem gelo querida — soou até um tanto irônico. O bastante para a cara dela ‘fechar’. — Vamos! Vamos! Chame o SAMU. Não vou muito longe hoje.

    Gaia não sabia se estava assustada com a perna virada do marido ou por ter que abandonar a corrida naquela manhã fria.

    Adorava manhãs frias.

    Ela abriu a pochete que carregava na cintura e ligou o celular. Mas seu celular não conseguia linha, nem conexão com a Internet.

    — Você aguenta ficar aqui?

    — Por quê? — Alfonso a olhou com seus olhos negros.

    — Não tem linha Alfonso — mostrou a tela do celular.

    — Não tenho muita alternativa, não querida?

    Gaia saiu correndo entrando pela mata, para ganhar tempo, para cortar caminho, para muitas coisas que passavam pela sua cabeça quando estancou.

    E estancou porque seu pé afundou em algo, com um cheiro de chorume subindo até suas narinas.

    Ela mal teve tempo de olhar para baixo e o que lhe mostrava ali ia estragar mais ainda seu dia.

    Mas Gaia não se deteve, correu o mais rápido que sua constituição física permitia, porque Alfonso também precisava dela; ele e o corpo morto onde ela tropeçara.

    DEIC - Departamento Estadual de Investigações Criminais.

    Bairro do Carandiru, São Paulo.

    28 de agosto; 10h30min.

    O investigador de polícia Benício Valcarengue do DEIC, Departamento Estadual de Investigações Criminais, amava madrugar, ninguém duvidava daquilo.

    O amanhecer era sempre um apelo para ele, um homem de com 1.93 m, cabelos ondulados, e queixo proeminente. Com uma barba pesada, de bigode e cavanhaque cheio e alongado, um verdadeiro ‘lenhador’, Benício gostava de trabalhar logo cedo, mesmo que aquele ‘cedo’ ainda significasse estar ali com a escuridão da madrugada.

    Formado pela Academia de Polícia Dr. Coriolano Nogueira Cobra, Polícia Civil do Estado de São Paulo, ele tinha seus predicativos, e não era só sua beleza máscula. Era o constante acerto de seus casos, mesmo os que o assombravam por anos.

    O telefone tocou:

    — Olá Beni... — foi curto assim.

    — Ainda não consta no meu currículo ‘leitura de mentes’.

    — Mas sabe que não passariam esse telefonema se não fosse importante.

    — Não... Não passariam...

    E o silêncio.

    Porque Benício sabia que só o agora Tenente-coronel Alfonso Gutiérrez o chamava assim, desde a escola militar, que abandonou.

    — Preciso da sua ajuda — falou Alfonso.

    — Sério? Logo você? Tão superior.

    E o silêncio.

    — Como vai o Sr. Carlos?

    — Não vejo meu pai há um longo tempo — Benício foi frio.

    — O pequeno Luccas?

    — Morto.

    E outra vez o silêncio, agora pesado.

    — Eu sinto...

    — O que quer Alf?

    Alfonso se permitiu ter sua frase cortada, não tinha boas relações com Benício Valcarengue.

    — Preciso da ajuda de sua namorada.

    Benício paralisou, no melhor teor da palavra. Porque aquela pergunta sobre um pai com quem não falava, ou sobre um filho que morreu ainda pequeno não condizia com alguém que sabia quem ele namorava. E mesmo sabendo que aquilo era só o começo de algo que precisava do conhecimento de Catrina Rey, psiquiatra forense do Démission, ela era sua ex, atual, ela nunca deixava ele saber a que passo seu relacionamento com ela existia.

    — Catrina não mais trabalha para o DEIC — foi o que respondeu.

    — Achei que ela fosse consultora.

    — Consulte-a então! — e Benício desligou.

    Alfonso ficou sem saber o que aquela atitude significava.

    Sabia, porém que tinha que alcançar a consultoria da famosa Dra. Catrina Rey, talvez usando outros métodos.

    Capítulo 3

    Hospital Psiquiátrico Démission.

    Bairro do Belenzinho, São Paulo.

    29 de agosto; 07h40min.

    A manhã de Catrina Rey havia começado mais fria ainda, aliás, como todas as outras daquele inverno atipicamente congelante. Às vezes ela se permitia um doce mais forte para gerar caloria, mas sabia que pessoas de corações gelados como aquele inverno não se aqueciam com doces.

    Não que Catrina se considerasse uma pessoa sem sentimentos, que não se importava com as pessoas, ela só não derramava lágrimas facilmente. Alguns diziam até que ela era insensível, com pouca empatia, mas a verdade é que ela simplesmente não se emocionava fácil e dificilmente algo conseguia tocar seu coração naqueles últimos tempos.

    Desde a morte da mãe Rúbia Rey, aos quatro anos, que Catrina odiava o inverno, as manhãs geladas, de céu fechado. Um aperto no peito e lá vinha a tristeza. E mesmo passados vinte e dois anos de sua fatídica morte, da desgraça que caiu sobre a família Rey, que Catrina, agora com vinte e sete anos, não gostava do frio, da sensação de perda que aquilo acarretava.

    Catrina era bonita em toda sua essência. Mexicana de nascimento chegou ainda bebê com a família, com seu pai vindo ao Brasil para uma viagem de estudos e daqui não saindo mais.

    Com cabelos castanhos, grandes e expressivos olhos verdes, e grossos lábios, Catrina tinha a pele branca, avermelhada quando sob emoção. Era uma mulher encantadora, que conhecia seus dons femininos, que nunca passavam despercebidos.

    E apesar de todos darem certo de que Catrina seguiria carreira de modelo ou coisa parecida, pelas horas de moda que curtia vestir, comprar, desenhar, nada a fez mudar sua ideia de estudar medicina, de ser uma médica da mente.

    De família tradicionalmente legista, bisavô, avô e pai, Catrina inovou pela escolha da psicopatologia descritiva, um ramo da psiquiatria usada como ferramenta diagnóstica exclusiva do psiquiatra. Uma área que seu pai relutou a aceitar já que sua única irmã Guadalupe, também havia seguido a medicina legal.

    Mas a morte da irmã também a afetara, como também dizer não a ele, Benício Valcarengue, depois de um tórrido romance.

    E agora o vazio, o nada, nas manhãs geladas da cama fria, da falta do calor humano.

    Opção, claro, livre arbítrio. Sua escolha por não o ter ao seu lado, de não precisar se importar com ele, da perda dele, do perigo que envolvia sua vida de psiquiatra forense, agora no comando daquele hospital psiquiátrico, local de dores e mentes psicopatas, perigosas, mortais.

    Na ideia dela, achava que Benício ficava mais seguro longe dela, que sabia que aos poucos estava dominada pela loucura, pelos seus pacientes,

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