Estética do Labirinto: a poética de Marco Lucchesi
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Sobre este e-book
Enfim, a poética de Marco Lucchesi é uma espécie de prova, quase definitiva, de que literatura, acima de tudo, não se faz apenas com ideias vagas e pensamentos dispersos. E muito menos com intenções literárias. Ou seja, as famosas afirmações, sempre esgarçadas, de lugar comum, que banalizam o rigor da verdadeira literatura e subtraem a responsabilidade irrestrita de quem tomou para si desvendar os grandes mistérios que regem, não somente, o Universo. Eis uma literatura que dialoga, tranquilamente, com a História, Filosofia, Matemática, Astronomia, Física e outras áreas do conhecimento. Subjaz em todo seu diálogo poético interdisciplinar a compreensão de que, (especialmente com Octavio Paz, Gaston Bachelard, Gilles Deleuze e Ernesto Sabato), para os poetas existem zonas de realidade não apreensíveis pela racionalidade e que atravessam os possíveis determinismos históricos aos quais estamos, de certa forma, condenados.
A obra Estética do Labirinto: por uma poética de Marco Lucchesi reúne, sob as mais diversas perspectivas, ensaios que buscam compreender o universo literário do autor. Apresenta alguns conceitos-chave que poderão elucidar uma literatura plural e comprometida, fundamentalmente, com a vida. Nessa medida, buscou-se autores, para integrar esta obra, que tivessem diferentes formações e diferentes nacionalidades. Um dos objetivos deste livro é colocar em pauta e em diálogo contínuo diferentes vozes a respeito do conjunto de obras de Marco Lucchesi.
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Estética do Labirinto - Ana Maria Haddad Baptista
Sumário
Capa
Prefácio: cintilações-pluralidade-espessura
UNO – Por um poema visual: Hinos Matemáticos de Marco Lucchesi
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Posfácio I
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Posfácio II
Sobre encontros poéticos – Por Márcia Fusaro
Posfácio III
De uma leitora... para potenciais leitores... – Por Nádia Conceição Lauriti
Organizadoras:
Ana Maria Haddad Baptista
Márcia Fusaro
Nádia Conceição Lauriti
Estética do Labirinto: a poética de Marco Lucchesi
São Paulo | Brasil | Agosto 2019 – Ebook
1ª Edição
Big Time Editora Ltda.
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Conselho Editorial:
Coordenadora:
Ana Maria Haddad Baptista
Mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica. Pós-doutoramento em História da Ciência pela Universidade de Lisboa e PUC/SP onde se aposentou. Possui dezenas de livros, incluindo organizações, publicados no Brasil e no estrangeiro. Atualmente é professora e pesquisadora da Universidade Nove de Julho dos programas stricto sensu em Educação e do curso de Letras. Colunista mensal, desde 1998, da revista (impressa) Filosofia (Editora Escala).
Integrantes do Conselho
Abreu Praxe
Poeta angolano, licenciado pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), Luanda, onde trabalha como professor de literatura. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Membro da União dos Escritores Angolanos. Possui diversas obras publicadas (poesia) em diversos países.
Montserrat Villar González
Poetisa e crítica literária. Licenciada em Filologia espanhola e Filologia Portuguesa. Máster em ensino de espanhol como língua estrangeira. Doutoranda da Universidade de Salamanca. Tem vários livros publicados de materiais didáticos tanto de português como de espanhol. Possui vários livros de poesia publicados no Brasil, Portugal e na Espanha.
Catarina Justus Fischer
Professora de técnica vocal. Pós-doutoramento em Educação pela Universidade Nove de Julho, doutora em História da Ciência pela PUC/SP, mestra em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Bacharel em Canto Erudito pela Faculdade de Música Santa Marcelina. Possui dezenas de publicações, assim como inúmeras produções artísticas.
Lucia Santaella
Graduada em Letras Português e Inglês. Professora titular no programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP, com doutoramento em Teoria Literária na PUCSP em 1973 e Livre-Docência em Ciências da Comunicação na ECA/USP em 1993. Atuou como professora em diversas universidades estrangeiras. Coordenadora da Pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, Diretora do CIMID, Centro de Investigação em Mídias Digitais e Coordenadora do Centro de Estudos Peirceanos, na PUCSP. Possui mais de 50 livros publicados.
Márcia Fusaro
Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e Mestra em História da Ciência (PUC-SP). Professora e pesquisadora do Programa Stricto Sensu em Gestão e Práticas Educacionais (PROGEPE) e da licenciatura em Letras da Universidade Nove de Julho. Líder do grupo de pesquisa Artes Tecnológicas Aplicadas à Educação (UNINOVE/CNPq). Membro dos grupos de pesquisa Transobjeto e Palavra e Imagem em Pensamento (PUC-SP/CNPq) e do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CICTSUL) da Universidade de Lisboa. Autora e organizadora de diversas obras.
Carminda Mendes André
Pesquisadora de arte contemporânea em espaços públicos e possíveis interfaces com o ensino das artes em espaços formais e não formais. Bacharel em Teatro pela Universidade de São Paulo (1989), Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1997), Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (2007); Pós-Doutora pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (2010). Pesquisadora e Docente colaboradora do Programa de Pós Graduação em Arte do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista - UNESP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Performatividades e Pedagogias Cnpq.
Márcia Pessoa Dal Bello
Doutora em Educação pelo PPGEDU/FACED/UFRGS. Mestre em Educação pelo PPGEDU/UNISINOS. Especialista em Psicopedagogia/ULBRA. Graduada em Pedagogia, com Habilitação em Supervisão Escolar, pela Universidade Mackenzie/SP. Coordenadora de Ensino na Fundação Municipal de Artes de Montenegro/FUNDARTE. Pesquisadora e membro do Grupo de Pesquisa Estudos em Educação Teatro e Performance-GETEPE/PPGEDU/FACED/POS.
Vanessa Beatriz Bortulucce
Historiadora da imagem, da arte e da cultura. Graduada em História pela Universidade Estadual de Campinas (1997), Mestra em História da Arte e da Cultura pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (2005). Possui Pós-doutorado pelo Departamento de Letras Modernas da FFLCH-USP. Atualmente é docente nas seguintes instituições: Centro Universitário Assunção (UNIFAI), Universidade São Judas Tadeu e Museu de Arte Sacra de São Paulo. Tem experiência na área de História da Arte, atuando principalmente nas áreas da cultura do século XX: Arte Moderna, Arte Contemporânea, Futurismo Italiano, Umberto Boccioni, arte e política.
Edson Soares Martins
Possui graduação, mestrado e doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (PPGL). Concluiu estágio pós-doutoral junto ao PROLING-UFPB. Atualmente é Professor Associado (Referência O) de Literatura Brasileira, na Universidade Regional do Cariri (URCA) e professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Letras, na mesma IES. Tem experiência na área de Literatura, com ênfase em Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura brasileira, poesia, narrativa moderna e contemporânea, romances de Clarice Lispector e Osman Lins e psicanálise. Editor-geral de Macabéa - Revista Eletrônica do Netlli.
Ubiratan D’Ambrosio
Matemático e professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reconhecido mundialmente pela comunidade acadêmica por seus estudos na área de Etnomatemática, campo científico que discute sobre o ensino tradicional da matemática e como o conhecimento pode ser aplicado em diferentes contextos culturais. Ele foi laureado em 2001 pela Comissão Internacional de História da Matemática com o Prêmio Kenneth O. May por contribuições à História da Matemática e também ganhou em 2005 a medalha Felix Klein, pela Comissão Internacional de Instrução Matemática, por conta de suas contribuições no campo da educação matemática.
Flavia Iuspa
Diretora e professora de programas internacionais e iniciativas do Departamento de Pós-Graduação em Ensino e Aprendizagem da Florida International University (FIU). Doutora em Educação, com foco em currículo e instrução. Possui MBA em Negócios Internacionais e especialização em Educação Internacional e Intercultural pela Florida International University (FIU). Suas áreas de pesquisa incluem: internacionalização de instituições de ensino superior, desenvolvimento de perspectivas globais em professores e alunos (Global Citizenship Education) e política de currículo.
Ficha Catalográfica
BAPTISTA, Ana Maria Haddad; FUSARO Márcia; LAURITI, Nádia Conceição. Estética do Labirinto: por uma poética de Marco Lucchesi. 100 pp. – São Paulo: BT Acadêmica, 2019.
ISBN 978-85-9485-104-8 | 1. Educação. 2. Ensaios. 3. Crítica Literária. I. Título
Produção Editorial
Editor: Antonio Marcos Cavalheiro
Capa: Rose Marie Silva Haddad
Diagramação: Pedro Monte Cavalheiro
Revisão: Autores
Prefácio: cintilações-pluralidade-espessura
Marco Lucchesi possui um conjunto extenso de obras. De uma pluralidade onde o conceito de gênero e interdisciplinaridade, uma vez mais, deveriam ser repensados seriamente. Ensaios, poemas, romances, traduções, textos jornalísticos, projetos experimentais (tão bem conceituados por Haroldo de Campos). Labiríntico, o percurso poético de Lucchesi não se perfaz em linhas de sucessões, mas por cintilações desestabilizadoras. Não há uma direção a seguir. Estética do Labirinto. Lucchesi compreende a formulação poética enquanto um pensamento que se deve dizer. Mas não desenvolver. O inacabado. A incompletude.
Enfim, a poética de Marco Lucchesi é uma espécie de prova, quase definitiva, de que literatura, acima de tudo, não se faz apenas com ideias vagas e pensamentos dispersos. E muito menos com intenções literárias. Ou seja, as famosas afirmações, sempre esgarçadas, de lugar comum, que banalizam o rigor da verdadeira literatura e subtraem a responsabilidade irrestrita de quem tomou para si desvendar os grandes mistérios que regem, não somente, o Universo. Eis uma literatura que dialoga, tranquilamente, com a História, Filosofia, Matemática, Astronomia, Física e outras áreas do conhecimento. Subjaz em todo seu diálogo poético interdisciplinar a compreensão de que, (especialmente com Octavio Paz, Gaston Bachelard, Gilles Deleuze e Ernesto Sabato), para os poetas existem zonas de realidade não apreensíveis pela racionalidade e que atravessam os possíveis determinismos históricos aos quais estamos, de certa forma, condenados.
A obra Estética do Labirinto: por uma poética de Marco Lucchesi reúne, sob as mais diversas perspectivas, ensaios que buscam compreender o universo literário do autor. Apresenta alguns conceitos-chave que poderão elucidar uma literatura plural e comprometida, fundamentalmente, com a vida. Nessa medida, buscou-se autores, para integrar esta obra, que tivessem diferentes formações e diferentes nacionalidades. Um dos objetivos deste livro é colocar em pauta e em diálogo contínuo diferentes vozes a respeito do conjunto de obras de Marco Lucchesi.
O universo literário lucchesiano é movido pela vivacidade e mobilidade de uma rara inteligência e erudição. Abre veredas para o leitor descortinar novos caminhos a explorar, capazes de mudar a imagem pétrea que se faz do mundo. Está presente, em todos os seus textos, o que os pesquisadores de sua obra têm denominado "estética do labirinto", marcada por potencialidades poéticas imprevisíveis e pela pulverização da realidade. Torna-se possível, assim, a criação de outros mundos, por meio de diferentes níveis de percepção, como redutos de inéditos espaços-tempos que oportunizam condições para que se recarreguem forças capazes de modificar o mundo factual. Não se trata de mera fuga onírica, mas do exercício consciente de novas formas de entender e expressar o mundo sob outra lógica, liberta de toda forma de opressão que aprisiona tanto as existências quanto o próprio fazer literário. Seus alcances de erudição, nesse sentido, dão conta inclusive de incomuns aproximações entre o Oriente e o Ocidente.
Seus textos redobram e multiplicam o próprio tempo-espaço literário que cria, por meio de referências intertextuais a bibliotecas reais e imaginárias, aos catálogos dessas bibliotecas, a línguas inventadas, a leituras clássicas ou eruditas que são revisitadas por sua surpreendente intimidade e desenvoltura com o signo literário.
Suas obras descortinam a relação íntima estabelecida com a palavra poética. Ele a constrói artesanalmente e nela instala-se com significados que são continuamente reinventados em um movimento espiral.
Percorrer a obra do artista é acompanhar "pari passu" um processo de (re) criação interminável e sempre inacabado cujos conteúdos irrompem acima da lógica cartesiana e da gramática esvaziada, atualizando os potenciais universos que seus textos abrigam. Equivoca-se o leitor que tenta buscar refúgio na solidão monológica do sentido literal das palavras em suas obras. Sua palavra é sempre dialógica e aberta para a compreensão (nem sempre fácil) dos seus intertextos, das eruditas referências, dos seus silêncios e até dos subentendidos presentes nas entrelinhas que não foram esmagados pelo sentido literal e pela realidade factual.
Entre os diferentes elementos que concorrem na composição do universo literário de Marco Lucchesi, sobressai-se a capacidade de instigar seus leitores a penetrar nos desafiadores labirintos que sua estética propõe, a buscar no mundo figurativo da sua vasta cultura os indícios do mundo real que foram interiorizados por sua experiência sensível, por trás da transfiguração onírica dessa realidade.
O fantástico em sua obra brota dessa realidade transfigurada que, de modo recorrentemente irônico, cria mecanismos narrativos que acentuam o poder do estranhamento, das fantasias e das potencialidades de sentidos em um processo criativo que abre as portas para uma experimentação literária.
Desconfiado da realidade pronta e ideologicamente formatada, Lucchesi por vezes desconfia de sua própria narrativa e, como Borges, reinventa-se como narrador, chamando à cena frequentemente seus diferentes duplos desdobrados. Essa renúncia à autoridade da voz do autor permite a eclosão de um texto irremediavelmente enigmático do qual emerge uma voz narrativa fragmentada que entrelaça diferentes universos. Poética matemática do caos.
O leitor poderá encontrar nesta obra compartilhada um painel que, embora não cubra a extensa produção literária de Marco Lucchesi – "[...] um cidadão de Babel, de uma dezena de línguas e de todas as literaturas", como o denomina o escritor brasileiro Alberto Mussa – configura-se como uma introdução à estética lucchesiana, partindo de diferentes obras e perspectivas analíticas que dialogam entre si e por essa razão se complementam. Trata-se de um tributo ao autor e manifesta-se como uma obra múltipla como o é a sua própria safra literária, substituindo a unicidade solitária de um olhar e da monológica voz de um sujeito central, pela plasticidade de diferentes sujeitos-admiradores da obra de Lucchesi, que com diferentes timbres orquestram, em conjunto e de forma polifônica, um convite ao leitor para participar da aventura de enveredar-se pela obra do laureado escritor.
As organizadoras
UNO
Por um poema visual: Hinos Matemáticos de Marco Lucchesi[1]
Miguel de Frias e Vasconcellos Filho
[2]
Estética do labirinto-tempo-memória na literatura de Marco Lucchesi
Ana Maria Haddad Baptista
[3]
[4]
Laberinto[5]
No habrá nunca una puerta. Estás adentro
y el alcázar abarca el universo
y no tiene ni anverso ni reverso
ni externo muro ni secreto centro.
No esperes que el rigor de tu camino
que tercamente se bifurca en otro,
que tercamente se bifurca en otro,
tendrá fin. Es de hierro tu destino
como tu juez. No aguardes la embestida
del toro que es un hombre y cuya extraña
forma plural da horror a la maraña
de interminable piedra entretejida.
No existe. Nada esperes. Ni siquiera
en el negro crepúsculo la fiera.
A estética do labirinto-tempo-memória pode ser:
[6]
E ainda:
e das coisas que nos cercam[7] porque somente o tempo e a memória podem dar a segurança de uma continuidade e identidade que nos revela, a cada instante (se pretende eterno, mas passa) dando a permissão necessária para que o homem se reconheça enquanto um eu. Arremessado em abismos? Ou nas incertezas que nos atiram para o nada?
A estética do labirinto-tempo-memória pode ser:
a + ib[8]
Ou[9]:
Uma teia de números vertiginosa
[Ouço por exemplo, à noite, sete badaladas e sei que, no círculo noturno das doze horas, meia-noite corresponde às 17 horas, subtraio então cinco de sete e obtenho assim 14 horas
[10].]
Insubmissa e que não cede
ao horizonte exacerbado do silêncio
{Fico sozinha para encontrar a resposta. Agora os números são significam coisa alguma. O sentido se foi. O relógio tiquetaqueia. Os ponteiros são comboios marchando por um deserto. As listras negras na cara do relógio são oásis verdes. O ponteiro comprido marchou para encontrar água [
Um copo de água (Alguém se afoga/ na solidão impérvia/ dessas águas
[11]) Morro-me de sede[12]] O outro cambaleia penosamente entre pedras ardentes no deserto. A porta da cozinha bate. Cães selvagens latem ao longe. Vejam, a curva do algarismo começa a encher-se de tempo e contém em si o mundo. Começo a desenhar um algarismo e o mundo está contido na sua curvatura, e eu própria fora dela; agora, fecho essa curva – assim – e a cerro e torno-a inteiriça
[13].}.
Centelha que esplandece
aos olhos do futuro
E tudo o que não diz
é como se dissesse
E, também,[14]:
a máquina
do mundo
Mas pode ser[15]:
Quatro e dez. Quatro e vinte.(...) Quatro e vinte. Quatro e meia. (...) a litania dos relógios, esses, que adquirem à noite nova epiderme. De cordeiros passam a monstros, ruidosos, como se anunciassem o fim do mundo.
Assim como:
Transfinito
[16]
O conjunto de obras de Marco Lucchesi, sob nosso ótica, apenas pode ser entendido, em sua abrangência, se pensarmos numa Estética do Labirinto[17], cujo fio de Ariadne é tecido pelo sublime. Fio de ouro que cintila. Eterno fascínio. Nas palavras de Deleuze: Dioniso é a afirmação do Ser, mas Ariadne é a afirmação da afirmação, a segunda afirmação ou o devir-ativo
[18]. A Estética do Labirinto da literatura de Marco Lucchesi balança (linhas sísmicas, como se nada/ mais pudesse/ permanecer de pé[19]) a arquitetura do próprio labirinto visto que a torna sonora e musical. Uma música que faz desmoronar os territórios e tremer a arquitetura (flutua /em mil pedaços[20]) do labirinto[21]. Sob tal ótica nossas convicções abrem-se e dividem-se em intervalos. O fio de Ariadne, neste caso, lança, relança, dança e define uma flutuação... "o momento musical : a passagem do tempo para fora do tempo, a composição dos presentes passados e por vir num presente que não é o da presença dada, mas o do lembrete e da espera, o presente composto de uma tensão em direção ao retorno infinito de uma presença nunca dada, sempre essencialmente – eternamente – escapada"[22].
Convolados, somos convidados aos silêncios e conceitos que se dissolvem ao ressoar da ramagem que recorda a melodia dos tempos[23]. Nesta escala... el camino bajava y se bifurcava, entre las ya confusas praderas. Una música aguda [
Sou muitas vezes capturado pela melopeia, como um fio de Ariadne, quando meu labirinto, ou, laborintus, segundo alguém disse, torna-se mais incerto, escuro e tormentoso. A música é o fio de ouro, uma janela aberta, luminosa e alta, que me faz prosseguir às cegas. Tenho um piano dentro de mim e não sei até que ponto esqueceram de afiná-lo[24].] y como silábica se aproximava y se alejaba en el vaivén del viento, empañada de hojas y de distancia
[25].
El Laberinto[26]
Zeus no podría desatar las redes
de piedra que me cercan. He olvidado
los hombres que antes fui; sigo el odiado
camino de monótonas paredes
que es mi destino. Rectas galerías
que se curvan em círculos secretos
al cabo de los años. Parapetos
que ha agrietado la usura de los días.
En el pálido polvo he descifrado
rastros que temo. El aire me ha traído
en las cóncavas tardes de un bramido
o el eco de un bramido desolado.
Sé que en la sombra hay Otro, cuya suerte
es fatigar las largas soledades
que tejen y destejen este Hades
y ansiar mi sangre y devorar mi muerte.
Nos buscamos los dos. Ojalá fuera
éste el último día de la espera.
Caminhar pela estética do labirinto-tempo-memória do conjunto de obras de Marco Lucchesi é ir ao encontro,(além da superfície e do rumor das coisas, aos claustros e aos jardins cultivados
[27]) misterioso (paradoxal?) do Pabellón de la Límpida Soledad do Jardín