Educação e linguagens: tecendo novos olhares
De Américo Junior Nunes da Silva, Emília Karla de Araújo Amaral Pignata, Marilde Queiroz Guedes e Nilza da Silva Martins
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Sobre este e-book
A partir dos dois eixos estruturantes – Educação e Linguagens – as vozes dos autores ganham uma dimensão polifônica que permeia temas como: pesquisa em educação, educação inclusiva, práticas de linguagem na educação, aspectos teórico-metodológicos da prática pedagógica e educação como práxis social, dentre outros de grande relevância para todos os envolvidos na gama de objetivos e metas que constituem as molas mestras da docência em seus diferentes níveis.
Com a finalidade de situar uma possível trajetória de leitura, a organização dos capítulos obedeceu a essa aproximação temática retomando a feição do volume anterior, constituído por blocos, na tentativa de entretecer um fio compositivo agregador das diferentes nuances presentes no discurso desses autores, destacadamente no que diz respeito aos lugares de fala de cada um(a) ou do grupo que se fez representar em cada capítulo. Resultaram dessa composição cinco blocos temáticos agregadores dos 11 capítulos que formam o corpo textual do livro.
O conjunto de trabalhos que compõem este livro representa mais um passo para a consolidação do Campus IX da UNEB como espaço articulador de pesquisas que respondam criticamente às demandas socioeducacionais do Oeste da Bahia. Diante dessa iniciativa, parabenizamos aos organizadores e autores pelo cuidado com a semente que foi lançada na I Semana Científica da UNEB.
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Educação e linguagens - Américo Junior Nunes da Silva
EDUCAÇÃO E LINGUAGENS
Tecendo novos olhares
EDUCAÇÃO E LINGUAGENS
Tecendo novos olhares
Organizadores:
Américo Junior Nunes da Silva
Emília Karla de Araújo Amaral Pignata
Marilde Queiroz Guedes
Nilza da Silva Martins
Curitiba - PR
2016
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
PREFÁCIO
Este segundo volume do livro Educação e linguagens tem como objetivo apresentar novos olhares
para as questões da educação pensadas pelo grupo de professores pesquisadores que participaram da II Semana Científica da UNEB, realizada em setembro de 2015 no DCH Campus IX. Sua composição, a exemplo do primeiro volume, retoma a proposta de organizar um mosaico multifacetado composto por um conjunto de textos que apresentam autonomia temática sem desvirtuar o entrecruzamento que lhes é peculiar, por se situarem todos no campo das práticas pedagógicas, da extensão e da pesquisa.
A partir dos dois eixos estruturantes – Educação e Linguagens – as vozes dos autores ganham uma dimensão polifônica que permeia temas como: pesquisa em educação, educação inclusiva, práticas de linguagem na educação, aspectos teórico-metodológicos da prática pedagógica e educação como práxis social, dentre outros de grande relevância para todos os envolvidos na gama de objetivos e metas que constituem as molas mestras da docência em seus diferentes níveis.
Com a finalidade de situar uma possível trajetória de leitura, a organização dos capítulos obedeceu a essa aproximação temática retomando a feição do volume anterior, constituído por blocos, na tentativa de entretecer um fio compositivo agregador das diferentes nuances presentes no discurso desses autores, destacadamente no que diz respeito aos lugares de fala de cada um(a) ou do grupo que se fez representar em cada capítulo. Resultaram dessa composição cinco blocos temáticos agregadores dos onze capítulos que formam o corpo textual do livro.
No primeiro bloco agrupam-se os dois primeiros capítulos do livro, que trazem contribuições relevantes para a compreensão do cenário educacional brasileiro; o primeiro contextualiza historicamente e discute as consequências do processo neoliberal, consolidado nas relações internacionais e transnacionais, para o cenário atual da educação, destacando as interferências dos organismos multilaterais (Banco Mundial, FMI e UNESCO) nesse cenário. O segundo capítulo aborda a questão da pesquisa em educação pelo viés histórico-dialético, enfatizando a iniciação científica como um processo transformador de práticas sociais.
O segundo bloco apresenta dois estudos sobre a utilização de softwares aplicados ao ensino da matemática. Compondo o terceiro capítulo, os autores problematizam a discrepância entre a formação do professor de matemática e sua atuação em relação ao uso das tecnologias em sala de aula. No quarto capítulo, relata-se uma experiência sobre o trabalho com o software Geogebra no ensino fundamental em uma escola de Barreiras-BA e os resultados a que se chegou com o manuseio de recursos virtuais para o ensino da Geometria.
No terceiro bloco, que agrega o quinto, sexto e sétimo capítulos, a temática apresentada diz respeito a um estudo sobre planos de carreira do magistério no oeste baiano e à atuação do coordenador pedagógico. No quinto capítulo sistematizam-se os dados sobre a implantação e funcionamento desses planos de carreira; no sexto capítulo o recorte analítico recai sobre os efeitos das demandas que a escola oferece para a formação, a função e a identidade do coordenador pedagógico. No sétimo capítulo, a análise contempla um estudo de caso que se debruçou sobre a observação do coordenador pedagógico para as cenas
de leitura e produção textual realizadas em sala de aula.
No quarto bloco temático, composto pelo oitavo e nono capítulos, estão presentes dois trabalhos pertencentes à área da linguagem, que discutem questões teórico-metodológicas referentes ao trabalho pedagógico. No primeiro, apresenta-se a sistematização de uma pesquisa pelo viés da linguística aplicada ao processo de alfabetização, por meio da análise de dados de um estudo comparativo feito em duas escolas do município de Barreiras-BA. O nono capítulo expõe o resultado de uma pesquisa de campo que observou os processos cognitivos referentes à compreensão dos efeitos expressivos do texto literário na leitura de alunos do ensino fundamental.
Agrupados no quinto e último bloco temático, composto por dois capítulos, definiu-se como eixo a educação inclusiva e diversidade. O décimo capítulo composto por diferentes vertentes psicopedagógicas que abordam as dificuldades de aprendizagem no âmbito escolar, e o décimo primeiro capítulo delineando um caráter crítico referente a aspectos psicológicos da sexualidade e sua estreita relação com os direitos humanos.
O conjunto de trabalhos que compõem este livro representa mais um passo para a consolidação do Campus IX da UNEB como espaço articulador de pesquisas que respondam criticamente às demandas socioeducacionais do Oeste da Bahia. Diante dessa iniciativa, parabenizamos aos organizadores e autores pelo cuidado com a semente que foi lançada na I Semana Científica da UNEB. Que outras obras sejam lançadas no terreno da Educação e linguagens é nosso desejo e nossa esperança.
Emília Karla de Araújo Amaral Pignata
Professora assitente da universidade
do estado da Bahia - campus IX
Maria das Dores Pereira Santos
Professora assistente da universidade
do estado da Bahia - campus VIII
Sumário
1 - OS ORGANISMOS MULTILATERAIS E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS E IMPACTOS EM DISCUSSÃO
Daniela da Costa Britto Pereira Lima
Tatiane Custódio da Silva Batista
João Ferreira de Oliveira
2 - DA PRÁTICA SOCIAL INICIAL À PRÁTICA SOCIAL FINAL: A PESQUISA NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-DIALÉTICA
Nilza da Silva Martins
Emília Karla de Araújo Amaral Pignata
Marilde Queiroz Guedes
3 - A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA: ENCONTROS E DESENCONTROS
José Cirqueira Martins Júnior
Ilvanete dos Santos de Souza
Charlâni Ferreira Batista Rafael
4 - A UTILIZAÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DA GEOMETRIA
Eloísia da Cruz Camandaroba
Fabiana Menezes da Silva
Américo Junior Nunes da Silva
5 - PLANOS DE CARREIRA DO MAGISTÉRIO EM MUNICÍPIOS DO OESTE DA BAHIA: IMPLANTAÇÃO E FUNCIONAMENTO
Gabriela Sousa Rêgo Pimentel
Carla Jovina de Oliveira Alves
Marilia Tavares Santos
6 - DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DO TRABALHO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO CENTRADO NAS DEMANDAS DA ESCOLA: IDENTIDADE, FORMAÇÃO E A FUNÇÃO PROFISSIONAL
Claudenice Costa de Souza
Francisco Cleiton Alves
Rosiane Cristina Muniz de Oliveira
7 - CENAS DE AULAS SOB O OLHAR DO COORDENADOR PEDAGÓGICO: PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL
Jânia Cardoso dos Santos
Marta Maria Silva de Faria Wanderley
8 - A IMPORTÂNCIA DA SISTEMATIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO PARA A PRODUÇÃO DE TEXTOS DE CRIANÇAS EM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
Débora Anunciação Cunha
9 - PROCESSOS COGNITIVOS DE COMPREENSÃO DE EFEITOS DE SENTIDO EXPRESSIVOS NA LEITURA LITERÁRIA DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Dulcelice de Alcântara Santos Brito
Julianne Ribeiro da Silva Brandão
Maria das Dores Pereira Santos
10 - POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Raquel Lima Besnosik
Carla Cassiana Lima de Almeida Ribeiro
Tatiane Alves Gusmão de Quadros
11 - SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS: UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA EDUCACIONAL E EM DEFESA DAS DIFERENÇAS
Ariana Sassi
Aline Teixeira de Matos
Adriana dos Santos Marmori Lima
SOBRE OS AUTORES
1
OS ORGANISMOS MULTILATERAIS E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS E IMPACTOS EM DISCUSSÃO
Daniela da Costa Britto Pereira Lima
Tatiane Custódio da Silva Batista
João Ferreira de Oliveira
O presente texto analisa as diretrizes e proposições formuladas por organismos multilaterais empregadas em propostas e ações no âmbito da educação brasileira. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, voltada para a apreensão crítica do modus operandi dessas instituições e suas possíveis influências nos sistemas de ensino, nas escolas e nas práticas educativas brasileiras.
Nessa direção, tornou-se fundamental apreender o objeto de estudo a partir de uma visão histórica e contextual da influência neoliberal na educação básica e superior brasileira, uma vez que é essa doutrina político-econômica que orienta a ação dos organismos multilaterais. Cabe destacar ainda que, a nosso ver, as ações educacionais no Brasil têm acompanhado as tendências internacionais de submissão à política neoliberal e às orientações de organismos multilaterais, principalmente do Banco Mundial (BM) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Como consequência desse alinhamento, há uma forte adequação da educação acadêmica e profissional às demandas produtivas e mercadológicas.
Inicialmente, apresentamos considerações de alguns autores que se dedicam à análise do tema, destacando os principais organismos multilaterais que influenciam a educação brasileira, bem como suas áreas de atuação. Em seguida, tecemos considerações sobre os impactos da política desses organismos e dessa visão neoliberal na educação básica e superior do Brasil, com destaque para a formação acadêmica e profissional e para produção do conhecimento, de uma forma geral.
A relação entre o Brasil e os organismos multilaterais
Catani, Oliveira e Dourado (2001) afirmam que há em curso uma reestruturação produtiva que interfere diretamente na oferta de educação, na formação acadêmica e profissional e na produção de conhecimento. Vivemos, dizem eles, um momento histórico e contraditório que afeta diversas esferas da vida, mas principalmente o mundo do trabalho. Para os autores, a formação e a produção de conhecimento tornaram-se de interesse fundamental das empresas nacionais e transnacionais, tendo em vista a geração de lucro e a competitividade que geram.
Na intenção de elucidar tais questões, Catani, Oliveira e Dourado (2001), a partir da contribuição de Harvey (1992), entendem que a acumulação capitalista ocorre cada vez mais por meio da mobilidade geográfica, da dispersão da produção, da flexibilização do mercado de trabalho e da ampliação dos mercados de consumo. Assim, conforme os autores, a inovação tecnológica de produtos e processos também é uma estratégia fundamental para a ampliação da competitividade empresarial e dos países ricos, uma vez que ela é responsável pela ampliação do lucro e pela diminuição da mão de obra utilizada nos processos produtivos mais modernos.
Nesse sentido, Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) afirmam que a diminuição do trabalho assalariado, especialmente no campo e na indústria, é uma consequência dos avanços tecnológicos proporcionados pelo capitalismo da Terceira Revolução Industrial, ou Revolução Técnico-Científica-Informacional. Esses autores afirmam ainda que, sob a influência neoliberal, desde os anos 1990 o Brasil vem implementando políticas educacionais e econômicas de ajuste, com diretrizes e medidas de modernização, na intenção de adquirir condições para sua inserção no mundo globalizado. Orienta essas políticas, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), um discurso de modernização educativa, diversificação, flexibilidade, competitividade, produtividade, eficiência e de qualidade dos sistemas educativos, da escola e do ensino.
Dalberio (2009) destaca que a política neoliberal ganha força a partir do momento em que os países começam a seguir à risca a política de ajuste do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Consenso de Washington¹ (1989) e do Banco Mundial (BM), que exigia a abertura de seus mercados internos, a desestruturação do Estado nacional, a implementação de amplo programa de privatização das empresas estatais estratégicas e mais lucrativas, o rebaixamento dos níveis de vida dos trabalhadores e das grandes massas, o aplastamento da classe média e cessão dos recursos estratégicos não renováveis.
Por sua vez, Ferreira (2009) entende que o neoliberalismo é a expressão ideológica da globalização que, diferentemente do liberalismo clássico, defende a minimização do papel do Estado e a crença fundamentalista na sociedade de mercado. Todavia, considerando as crises do capitalismo a partir dos anos 2000, os neoliberalistas já sustentam a necessidade de o Estado tornar-se parceiro para a consecução dos objetivos do capital, pois entendem que os governos são necessários e que o mercado, além de não ser tão perfeito, não se autorregula, conforme acreditavam anteriormente.
Tal como Dalbério (2009), Ferreira (2009) também atribui ao FMI, ao BM e ao Consenso de Washington a pressão para a implantação de reformas estruturais, incluindo a do Estado, nos países periféricos a partir dos anos 1980, com foco na liberalização da economia, e acrescenta a esses três organismos a Organização Mundial do Comércio (OMC). A autora destaca, nessas reformas, a centralidade do mercado para o provimento de recursos e, assim, a diminuição do papel do Estado.
Também para Decicino (2009), os organismos multilaterais tiveram papel fundamental nessas reformas. Conforme o autor,
[...] essas organizações podem ser definidas como uma sociedade entre Estados. Constituídas por meio de tratados ou acordos, têm a finalidade de incentivar a permanente cooperação entre seus membros, a fim de atingir seus objetivos comuns. Atuam segundo quatro orientações estratégicas: Adotar normas comuns de comportamento político, social, etc. entre os países-membros; Prever, planejar e concretizar ações em casos de urgência (solução de crises de âmbito nacional ou internacional, originadas de conflitos diversos, catástrofes, etc.); realizar pesquisa conjunta em áreas específicas; prestar serviços de cooperação econômica, cultural, médica, etc. (DECICINO, 2009, p. 01)
Entre os organismos multilaterais de maior influência na economia, nas políticas públicas e nas políticas educacionais brasileiras, podem ser destacados, conforme o Quadro a seguir, o FMI, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Unesco, a Organização das Nações Unidas (ONU), o BM, o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com suas respectivas funções.