A favela: Protagonismo na educação e no trabalho
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A favela - Astrid Maciel Motta
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2015 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico esta obra a todos os moradores das favelas do
Rio de Janeiro que estão buscando sua formação profissional
e inserção no mercado de trabalho formal.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos representantes das empresas e às pessoas que colaboraram e fizeram parte da realização deste livro.
Em especial à Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), aos gestores do Programa SESI Cidadania.
À Hilda Nogueira Alves Rocha, pela contribuição na construção do instrumento de pesquisa.
Aos professores Antonio Carlos de Azevedo Ritto, Gaudêncio Frigotto, Francisco de Paula Nunes Sobrinho, Marinilza Bruno (estes da UERJ) e Saulo Barroso Rocha (da UFF).
Aos meus pais, Ordelino e América, às irmãs Natércia e Nathália e aos sobrinhos Jairo filho, Gustavo, Virgínia e Bruna.
Ao meu companheiro, Nelson Cardoso, pelo apoio integral.
À minha madrinha, Nezy Peixoto Quintela Kheirallah, por sua vibração e seu constante incentivo ao meu estudo, eterna saudade.
A construção do ser social,
feita em boa parte pela educação,
é a assimilação pelo indivíduo
de uma série de normas e
princípios – morais, religiosos, éticos
ou de comportamento – que balizam
a conduta do indivíduo num grupo.
O homem, mais do que formador da sociedade,
é um produto dela.
Émile Durkheim
APRESENTAÇÃO
O Hino Nacional Brasileiro coloca a pátria como amada e idolatrada, como mãe gentil, como se todos os filhos fossem tratados de forma igualitária ou pelo menos semelhante. É fácil perceber que não é assim que acontece. Na cidade do Rio de Janeiro, essa separação fica clara quando olhamos para o alto dos morros. Ali estão as favelas, onde vivem principalmente grandes parcelas da população de baixa renda, sem acesso a muitos recursos da sociedade em que está inserida e que desenvolvem atitudes, valores e práticas que dificultam seu ingresso no mercado formal de trabalho. O objetivo deste livro é retratar e analisar as condições, os comportamentos e os fatores que podem romper essas barreiras.
No esboço deste material, optei pelo termo comunidade para definir o território popularmente conhecido por comunidade de baixa renda
, morro
e favela
. Entretanto, preferi adotar para esta publicação o termo favela
para denominar esses territórios, em função da sua utilização em maior parte pelos órgãos oficiais e estudos acadêmicos e pela familiaridade desse termo fora do meio acadêmico.
As subjetividades relacionadas aos temas no contexto da educação, trabalho, conhecimento socialmente robusto, inclusão social e protagonismo no âmbito das favelas do Rio de Janeiro são a tônica desta obra. O ponto de partida deste estudo deriva-se da minha observação não sistemática de elementos relacionados à desvantagem de moradores das favelas do Rio de Janeiro no momento do seu ingresso e permanência no mercado de trabalho formal.
Então, com o propósito de oferecer um diagnóstico complexo que trata de temas transversais no âmbito das favelas, compartilho aqui minha experiência, com a esperança de que este conteúdo contribua para subsidiar outros estudos e auxilie na elaboração de políticas públicas, programas e projetos no campo da educação, da geração de trabalho e renda, de protagonismo e inclusão social de moradores desses territórios e com profissionais das organizações privadas comprometidas com a inclusão social para o desenvolvimento de programas internos destinados a esse fim.
A obra está dividida em dez capítulos. O primeiro apresenta os principais conceitos e definições adotados no estudo; em seguida, abordo a dimensão da Educação acerca do papel do Estado, educação, trabalho e cidadania; no segundo capítulo, busco levantar os aspectos relacionados às políticas educacionais e à problemática da educação e pobreza, bem como as desvantagens educacionais para os alunos de baixa renda, estudando a teoria do sistema de ensino como instituição autônoma que permite a reprodução da cultura dominante, a qual reforça, como poder simbólico, a reprodução contínua das relações de fora na sociedade, o que permite analisar a organização das relações entre o sistema de ensino e a estrutura das relações entre as classes.
No terceiro capítulo, para compreensão das subjetividades desenvolvidas no local, está uma abordagem histórica das favelas do Rio de Janeiro. Para essa apreensão adoto a teoria de habitus desenvolvida por Bourdieu e o conceito de subjetividade adotado no campo social. Utilizo como base teórica os estudos antropológicos realizados pela norte-americana Janice Perlman desde o surgimento das favelas, em meados da década de 1960, até o atual contexto das favelas e da globalização contemporânea.
No quarto capítulo, adoto o conceito de habitus e subjetividade em Bourdieu para a compreensão das subjetividades produzidas no contexto socioeconômico e cultural das favelas do Rio de Janeiro; por conseguinte, tomamos como aporte teórico o pensamento de Boaventura de Sousa Santos, que trata das cinco lógicas das ausências da produção da não existência e a superação das ausências, dialogando com Antonio Carlos Ritto e de novo Janice Perlman.
No quinto capítulo, aprofundo o conhecimento dos problemas sociais das favelas do Rio de Janeiro, iniciando com o pensamento de Milton Santos, que propõe um novo modelo de globalização, relacionando com Ritto sobre o conceito da produção do conhecimento socialmente robusto para a intervenção no local.
No capítulo seis, para compreender o modelo de gestão de pessoas com base no modelo de competências das empresas e com seus desdobramentos e conceitos de conhecimento, habilidades e atitudes, abordo os aspectos relacionados ao contexto das competências e práticas cotidianas do trabalho exigidas pelas empresas no atual mercado de trabalho, tendo como aporte teórico os estudos de Joel Souza Dutra e Rogério Leme.
Nos capítulos sete e oito, sintetizo as informações sobre a metodologia adotada no estudo e os resultados obtidos nos relatos verbais.
No nono capítulo, apresento iniciativas que complementam a formação de alunos das favelas, a fim de propor intervenções no âmbito da formação e educação para o mercado de trabalho formal. O último capítulo traz as conclusões.
Além disso, está disponível, ao final, a transcrição dos relatos verbais dos respondentes que representam as dez empresas que integram este estudo.
Com esses passos e este livro, acredito que tenha traçado um panorama das características atuais dessa população, das condições e dos objetivos do mercado de trabalho e do que é necessário fazer para que, : no âmbito do acesso ao trabalho formal, o Brasil seja efetivamente uma mãe atenta a todos os seus filhos.
PREFÁCIO
Esta obra trata de uma questão própria e inerente ao ambiente diverso, plural e repleto de complexidades e contradições em que estamos todos inseridos.
As pessoas, nos ambientes em que vivem e convivem, desenvolvem subjetividades que são próprias desses ambientes, mas não são universais. Não raro, diferentes ambientes produzem subjetividades que podem chocar-se.
No caso deste escrito, está muito bem tratada a questão dos conflitos dessas subjetividades na inserção de pessoas de baixa renda no mercado formal de trabalho, sobretudo nas médias e grandes empresas.
O livro parte de uma observação da autora a respeito das dificuldades de inserção das pessoas de baixa renda, moradoras em favelas do Rio de Janeiro, no mercado de trabalho formal.
A pesquisa aponta como os aspectos comportamentais dos moradores das favelas do Rio de Janeiro interferem na sua inserção e permanência no mercado de trabalho formal. Subjetividades, aspectos da cultura que se refletem no comportamento, formas de pensar, agir e sentir criam aderência, mas também promovem exclusão.
A educação, com destaque neste texto para a formação profissional, precisa preocupar-se com a formação técnica, com os conhecimentos técnicos, mas precisa incluir também aspectos subjetivos, sobretudo aqueles referentes a atitudes e comportamentos das pessoas.
A Universidade, que produz, formaliza e passa conhecimentos, desenvolve suas atividades, tradicionalmente em ambiente privilegiado, com erudição, na maioria das vezes apartado de realidades vizinhas. Se vistas mais de perto e consideradas as possibilidades e oportunidades dessas vizinhanças de baixa renda, perceber-se-á uma distância grande de linguagem, de problemas e de soluções necessárias e possíveis.
A Universidade pode e deve inaugurar, à luz dessa constatação, segmentos ou partes de seus esforços e de suas atividades para produzir conhecimento socialmente robusto, com ênfase nessas camadas sociais que enfrentam dificuldades para inserção no mercado formal de trabalho, conforme apontado pela pesquisa que sustenta este livro.
A Universidade pode mesmo pensar a produção de conhecimento socialmente robusto como meio para a transformação e emancipação social. Envolvendo-se com essa proposta, poderia ter programas para um público não habitual de seu ambiente universitário e investir esforços