Por que amo Rosa
()
Sobre este e-book
A ideia é colocar em cena o pensamento acadêmico de ponta antes mesmo de sua publicação definitiva em livros e revistas especializadas, promovendo assim o debate e a inovação com a agilidade que somente edições digitais em formato breve podem realizar.
S/Z é um convite ao que o pensamento da área de humanas tem de mais fascinante: repensar o mundo em toda a sua complexidade através da arte e da cultura.
Neste número o crítico Silviano Santiago declara o seu amor ao escritor Guimarães Rosa e explica os motivos.
Leia mais títulos de Silviano Santiago
Genealogia da Ferocidade: Ensaio sobre Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma literatura nos trópicos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCaetano Veloso enquanto superastro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnônimos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuanto ao futuro, Clarice Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quarenta em quarentena: 40 visões de um mundo em pandemia Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Por que amo Rosa
Ebooks relacionados
O fauno nos trópicos: Um panorama da poesia decadente e simbolista em Pernambuco Nota: 5 de 5 estrelas5/5Lúcio Cardoso, Cornélio Penna e a retórica do Brasil profundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBorges após Auschwitz: ensaios sobre o nazismo nos contos de Jorge Luis Borges Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm operário em férias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNa Poesia Viva: A Poesia Contemporânea em Frente e Verso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Marca do editor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPeixe-elétrico #09: END Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPara além das palavras: Representação e realidade em Antonio Candido Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMedida por medida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCatatau, as meditações da incerteza Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÓdio à literatura: Uma história da antiliteratura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO esquecido de si, Dante Milano: Rastros de uma poética do esquecimento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO cinema-poesia de joaquim pedro de andrade: passos da paixão mineira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDigitais de um leitor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSobre Lima Barreto: Três ensaios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônica de segunda Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #193: Deixa ele entrar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesia e escolhas afetivas: Edição e escrita na poesia contemporânea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLer e escrever Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCoros, Contrários, Massa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs invisíveis: Tragédias brasileiras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGordos, magros e guenzos: crônicas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoéticas como políticas do gesto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJanelas para o outro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA grande fala do índio guarani e A catedral de colônia Nota: 1 de 5 estrelas1/5Haroldo de Campos: para sempre Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRealidade inominada: Ensaios e aproximações Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOsman Lins & Hermilo Borba Filho: correspondência : (1965 a 1976) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrajetória poética e ensaios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPastichos e miscelanea Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Crítica Literária para você
Coisa de menina?: Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo Nota: 4 de 5 estrelas4/5Olhos d'água Nota: 5 de 5 estrelas5/5O mínimo que você precisa fazer para ser um completo idiota Nota: 2 de 5 estrelas2/5Para Ler Grande Sertão: Veredas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHécate - A deusa das bruxas: Origens, mitos, lendas e rituais da antiga deusa das encruzilhadas Nota: 5 de 5 estrelas5/5História concisa da Literatura Brasileira Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Literatura Portuguesa Nota: 3 de 5 estrelas3/5Cansei de ser gay Nota: 2 de 5 estrelas2/5Comentário Bíblico - Profeta Isaías Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Lusíadas (Anotado): Edição Especial de 450 Anos de Publicação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA formação da leitura no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm soco na alma: Relatos e análises sobre violência psicológica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSobre a arte poética Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Jesus Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRomeu e Julieta Nota: 4 de 5 estrelas4/5Literatura: ontem, hoje, amanhã Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória da Literatura Brasileira - Vol. III: Desvairismo e Tendências Contemporâneas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFelicidade distraída Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Literatura Brasileira Através dos Textos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAulas de literatura russa: de Púchkin a Gorenstein Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFernando Pessoa - O Espelho e a Esfinge Nota: 5 de 5 estrelas5/5O tempo é um rio que corre Nota: 4 de 5 estrelas4/5A arte do romance Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPerformance, recepção, leitura Nota: 5 de 5 estrelas5/5Introdução à História da Língua e Cultura Portuguesas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Palavras Soltas ao Vento: Crônicas, Contos e Memórias Nota: 4 de 5 estrelas4/5Escrita não criativa e autoria: Curadoria nas práticas literárias do século XXI Nota: 4 de 5 estrelas4/5Atrás do pensamento: A filosofia de Clarice Lispector Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNão me pergunte jamais Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Por que amo Rosa
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Por que amo Rosa - Silviano Santiago
Sumário
Capa
Eu e as galinhas d’angola
Ceição Ceiçim
A arte de escrever à meia
Coleção S/Z
A Coleção S/Z foi idealizada pensando em oferecer a pesquisadores e apaixonados por artes e literatura, ensaios e artigos, sempre inéditos, escritos por intelectuais de grande relevância da área de estudos culturais.
A ideia é colocar em cena o pensamento acadêmico de ponta antes mesmo de sua publicação definitiva em livros e revistas especializadas, promovendo assim o debate e a inovação com a agilidade que somente edições digitais em formato breve podem realizar.
S/Z é um convite ao que o pensamento da área de humanas tem de mais fascinante: repensar o mundo em toda a sua complexidade através da arte e da cultura.
Boa leitura.
Heloisa Buarque de Hollanda
Eu e as galinhas d’angola
Para Florencia Garramuño
Nas primeiras cinquenta páginas do Grande sertão: veredas, Riobaldo, narrador do romance, lembra algumas figuras que se destacaram na região, cujas experiências de vida merecem ser emuladas e o estão sendo. As várias histórias exemplares − em discreto pedido de ajuda a Cervantes − que salpicam o exórdio entusiasmam o narrador e servem para ajudá-lo a ganhar fôlego e coragem para a aventura da travessia romanesca.
A primeira das histórias exemplares é a do Aleixo, vizinho dele, que alimentava traíras no açude e, junto aos semelhantes, era assassino destemperado e cruel. Sertanejo capaz de ruindades calmas, um dia o Aleixo mata um velhinho esmoler. A justiça divina não tarda a castigá-lo. Seus filhos, três meninos e uma menina, caem doentes, ficam cegos. Mas o Aleixo não perde o juízo, lê-se, mudou
: agora vive da banda de Deus, suando para ser bom e caridoso
.
A sexta história exemplar ecoa a primeira e é a do Zé-Zim. Transcrevo as palavras de Riobaldo, o narrador: O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: – ‘Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d’angola, como todo o mundo faz?’ ‘ – Quero criar nada não...’ − me deu resposta: – ‘Eu gosto muito de mudar...’
Se o meeiro é aquele que planta a meias com o dono das terras, a quem tem de dar parte do rendimento da plantação, não lhe estaria faltando siso ao afirmar que não quer criar animais domésticos nas proximidades do lar? Caso controlasse sua vontade de mudar e sem grandes trabalhos adicionais, não estaria ganhando e alimentando melhor a si e à família? O ganho suplementar com a criação de galinhas d’angola não está em jogo para o Zé-Zim, embora esteja para o proprietário das terras, que oferece a sugestão e, diante do não taxativo, se afunda na curiosidade investigativa. Siso, como se verá, é o que menos falta ao Zé-Zim.
Apesar de a primeira e a sexta histórias rodopiarem em torno do verbo mudar, a última é mais enigmática do que a primeira, pois dela não participa a divindade suprema e justiceira que, na qualidade de deus ex machina, fecha por assim dizer o causo narrado. Destaca-se a sexta por se tratar duma história exemplar sobre a virilidade no sertão, contada de homem para homem. Seu enigma será transmitido de pai para filho, ou de Riobaldo para o seu interlocutor silencioso, e é vedado às mulheres.
Na verdade, é uma história sobre plantas e crias no sertão mineiro.
A disjunção entre o trabalho com o plantio e o cuidado com a criação de galinhas d’angola só pode estar, e de maneira em nada paradoxal, na cabeça de quem por fatalidade é meeiro e no coração de quem se apieda das aves que transmigraram da costa africana