Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul: Política de Recrutamento para as Comissões Permanentes
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Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul - Thiago Rodrigues Silame
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS - CIÊNCIA POLÍTICA
Para Paula, minha companheira na vida, João Gabriel e Iago, filhos queridos.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer ao professor Carlos Ranulfo, responsável pelo meu recrutamento
para o Centro de Estudos Legislativos (CEL) da UFMG. Todas as conversas e críticas contribuíram para o meu amadurecimento enquanto pesquisador e cientista político.
Gostaria de agradecer também aos pesquisadores do CEL com os quais tive contato durante a realização deste livro. Vocês fazem desse lugar uma estrutura estimulante à pesquisa e ao debate acadêmico. A interlocução, marcada pela pluralidade de pensamentos, foi extremamente importante para a realização desta obra.
Agradeço às diversas instituições que possibilitaram o desenvolvimento deste livro: à Capes, agradeço a bolsa de pesquisa para que esta realização fosse possível. Ao corpo técnico e aos funcionários das Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, agradeço toda a ajuda na obtenção dos dados necessários.
Pai e mãe, obrigado pelo incentivo e a confiança. E agradeço aos amigos André Drumond, Cássio Barbosa, Chico Meira, Eduardo Silame, Eliéser, Fred Batista, Fredinho, Felipe Nunes, Guilherme, Marcelo, Marcos, Orozimbo e Pablo. Amigos que dividiram comigo as angústias e os medos, mas que sempre tinham uma palavra de conforto e motivação.
APRESENTAÇÃO
Este livro pretende contribuir para o incremento da literatura sobre legislativos subnacionais, tendo como tema o recrutamento parlamentar para o sistema de comissões permanentes nas Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Argumenta-se que o padrão de recrutamento para comissões estratégicas varia em função do grau de desenvolvimento institucional do sistema de comissões e da capacidade de atuação das oposições. Em função do federalismo vigente no Brasil, percebe-se a existência de subsistemas partidários, o que permitiu verificar graus diferenciados de estruturação partidária da competição política nos estados pesquisados e assumir o suposto de que as oposições possuem maior possibilidade de ação em subsistemas partidários estruturados. Ademais, verificou-se, por meio de critérios objetivos, o grau de estruturação do sistema de comissões permanentes nas assembleias estudadas. Os resultados encontrados apontam no sentido de que as variáveis políticas e institucionais importam no recrutamento dos parlamentares para as comissões estratégicas. Em contextos políticos em que a oposição se faz representar e é atuante, a lealdade partidária é um critério importante considerado pelo líder para indicar o parlamentar para as comissões. Onde o sistema de comissões se apresentou mais desenvolvido, expertise e senioridade mostraram-se atributos importantes que o parlamentar deve possuir para integrar as comissões estratégicas. Em cenários de baixa competitividade das oposições e baixo desenvolvimento do sistema de comissões, observa-se ampla margem de ação dos parlamentares, sinalizando uma dinâmica distributiva dos trabalhos legislativos.
O autor
PREFÁCIO
Mais de 30 anos após a redemocratização, a produção científica sobre os legislativos estaduais brasileiros ainda se revela muito escassa. Uma primeira incursão nesse território havia sido feita por Fernando Abrucio (FGV-SP), nos anos 1990, e deixara um diagnóstico pouco alentador: as Assembleias Legislativas seriam presa fácil do Poder Executivo estadual. Eleitos diretamente desde 1982 e dotados de poderosos recursos, os governadores estariam em condição de impor sua vontade e comandariam o que veio a ser conhecido como um ultrapresidencialismo estadual
.
Com o tempo foi possível perceber que o cenário era mais diversificado. Foi o que mostrou estudo organizado no início dos anos 2000 por Fabiano Santos (Iesp-Uerj) que, com base na análise de seis estados, constatou diferenças expressivas entre eles no que se refere às relações entre os dois poderes. Por outro lado, estava claro também que não se poderia tratar os legislativos estaduais como cópias em miniatura da Câmara dos Deputados – agir dessa forma seria desconsiderar a existência de uma agenda e uma dinâmica político-partidária própria dos estados. O desafio estava lançado: tínhamos pela frente 27 unidades federadas a serem estudadas e comparadas. Em um país com a diversidade geográfica, social e econômica como a do Brasil, a análise do funcionamento do sistema político no plano nacional necessita ser complementada com a pesquisa realizada nos estados.
Mas em agudo contraste com o que se passou relativamente à Câmara dos Deputados, a Ciência Política brasileira ainda não deu conta do recado. Pelo menos três razões poderiam ser apontadas para tanto: a forte concentração dos centros de pesquisa nos estados do Sul e do Sudeste; a dificuldade na obtenção de dados para o conjunto dos estados; e a inexistência de recursos capazes de sustentar as pesquisas de campo na escala necessária. O fato é que o conhecimento sobre a realidade nos legislativos estaduais se ressente de estudos sistemáticos e comparados. O que temos são estudos de caso ou, no máximo, análises comparadas abrangendo alguns poucos estados. O trabalho apresentado por Thiago Silame encontra-se inserido nesse quadro.
Originalmente uma dissertação de mestrado, o livro foi desenvolvido no ambiente do Centro de Estudos Legislativos do Departamento de Ciência Política da UFMG, em meio a um projeto de pesquisa no qual opiniões, valores e atitudes dos legisladores eleitos em 12 estados eram tomados como objeto de análise.
Thiago concentra sua atenção no sistema de Comissões Permanentes na Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, no período compreendido entre 1999 e 2008. Mais especificamente, seu objetivo é explicar a maneira como se verifica a indicação dos presidentes e vice-presidentes das duas comissões mais importantes no âmbito do Poder Legislativo: a Comissão de Constituição e Justiça e a que, sob diferentes designações, encarrega-se da fiscalização orçamentária.
Seu ponto de partida é o de que o padrão de recrutamento para tais comissões irá variar a depender do grau de desenvolvimento institucional da Assembleia e da competitividade da oposição ao Executivo estadual. O grau de desenvolvimento institucional de cada Assembleia é avaliado com base na robustez de seu sistema de comissões. Sistemas mais robustos seriam aqueles capazes de incentivar a especialização dos deputados e, ao mesmo tempo, gerar mais informações no curso do processo decisório – para a avaliação, leva-se em conta o número de comissões; a quantidade de deputados por comissão; o número de comissões que cada deputado pode frequentar; o alcance de sua jurisdição; a qualidade da assessoria disponível e o controle sobre as matérias em discussão. A maior ou menor competitividade das oposições foi avaliada com base em um conjunto de fatores: o grau de estruturação do sistema partidário estadual; a existência de alternância no governo estadual; o tamanho das bancadas governista e oposicionista; e os recursos institucionais disponíveis à oposição.
A partir daí são formuladas as hipóteses de trabalho: (1) nos legislativos em que a oposição se mostra mais competitiva, a designação dos presidentes e vice-presidentes das comissões tenderia a priorizar a lealdade partidária do deputado; (2) nos legislativos em que o sistema de comissões se mostra mais desenvolvido, a tendência seria priorizar a expertise e a senioridade; e (3) em condições em que nem a oposição se mostra competitiva e tampouco esteja desenvolvido o sistema de comissões, os deputados teriam maior margem de manobra – vis-à-vis os líderes partidários – e tenderia a prevalecer a autoindicação.
O desenvolvimento da análise deixa claro que a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul reúne as melhores condições políticas e institucionais para a atuação dos partidos de oposição, ao passo que o legislativo mineiro é o que apresenta melhor desenvolvimento institucional ainda que, nesse caso, a diferença entre os dois estados seja pequena. De forma consistente com a hipótese formulada, é no Rio Grande do Sul que a lealdade partidária possui maior impacto sobre a designação dos presidentes e vice das duas comissões analisadas. Da mesma forma, em Minas Gerais, mas também entre os gaúchos, expertise e senioridade têm impacto significativo sobre as indicações para as duas comissões. A análise da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, por sua vez, mostrou uma oposição pouco competitiva e um grau de desenvolvimento institucional muito abaixo dos outros dois estados. No entanto, a hipótese da autoindicação foi apenas parcialmente confirmada, na medida em que a expertise apresentou algum impacto nas indicações.
Independente das limitações, reconhecidas pelo autor em suas considerações finais, o estudo, agora disponível ao público, é uma valiosa contribuição ao nosso conhecimento sobre o que se passa nos legislativos estaduais e ajuda a manter a expectativa de que seja possível reduzir a assimetria entre o que conhecemos sobre os legislativos estaduais e a Câmara dos Deputados.
Carlos Ranulfo Melo
Professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais
Sumário
INTRODUÇÃO
capítulo 1
DA IMPORTÂNCIA DE SE ENTENDER O FUNCIONAMENTO
DO SISTEMA DE COMISSÕES
capítulo 2
DA ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA PARTIDÁRIO: UM PASSO NECESSÁRIO PARA
SE ENTENDER AS FORÇAS DAS OPOSIÇÕES
2.1 Breve caracterização da evolução do sistema partidário brasileiro
2.2 Do grau de estruturação dos subsistemas partidários e algumas notas sobre competição política
2.3 Da caracterização da competição majoritária: reflexões sobre a estruturação partidária
capítulo 3
DA CAPACIDADE DA ATUAÇÃO DAS OPOSIÇÕES: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS RELAÇÕES EXECUTIVO-LEGISLATIVO E SOBRE O SISTEMA DE COMISSÕES PERMANENTES
3.1 Da força relativa dos partidos políticos na ALMG, Alerj e alergs e do espaço de atuação das oposições
3.2 Do cenário institucional: classificando o sistema de comissões permanentes
capítulo 4
DO RECRUTAMENTO PARLAMENTAR PARA O SISTEMA DE COMISSÕES PERMANENTES
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O processo de redemocratização e a posterior institucionalização da democracia no Brasil (pós-1985) possibilitaram à Ciência Política, o desenvolvimento e o aprofundamento de agenda de pesquisa sobre as instituições políticas vigentes no país a partir de um marco democrático. Os temas e objetos de análises foram os mais diversos. Emergiram debates em torno do sistema de governo, sistema partidário, sistema eleitoral dentre outros.
No que se refere ao sistema de governo, a primeira leva de trabalhos, realizados na década de 1990, apontava para possíveis problemas funcionais do presidencialismo, operando em um contexto de multipartidarismo e sistema eleitoral proporcional para a distribuição das cadeiras parlamentares na Câmara dos Deputados. A operação do sistema, em meio a esse contexto, poderia levar a um quadro de paralisia decisória. O grau de rigidez conferido ao presidencialismo, a existência de muitos atores com poderes de veto, a maior possibilidade de vigência de governos divididos eram os principais argumentos mobilizados por esses estudos. O diagnóstico era ruim e os prognósticos ainda piores. A própria estabilidade do regime democrático estaria em questão nesse contexto.¹
Contudo, com o passar do tempo, o presidencialismo brasileiro mostrou-se operacional. A tão temida paralisia decisória não se observou e nem a ordem democrática caiu por terra. Os presidentes brasileiros, desde a redemocratização, vêm obtendo considerável sucesso na condução de suas agendas de governo. Além do bom desempenho governamental, as instituições democráticas do país se mostraram vigorosas e capazes de processar crises políticas, que em outros momentos de nossa história política poderiam fornecer combustível para golpes contra o regime democrático. O processo de impeachment do presidente Collor, em 1992, e o episódio do mensalão
podem ser apontados como exemplos. Em ambos os eventos, a solução encontrada deu-se via instituições políticas e não a partir do questionamento delas. Se a operação conjunta de presidencialismo, multipartidarismo e voto proporcional contribuiu para conduzir a uma crise de paralisia decisória, que depois viria a se tornar