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Lazer em estudo: Currículo e formação profissional
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E-book314 páginas4 horas

Lazer em estudo: Currículo e formação profissional

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Sobre este e-book

Esse livro tem como objetivo discutir e construir fundamentos que contribuam para a sólida formação dos profissionais que atuam, direta ou indiretamente, na área do lazer, a fim de que se promova uma ação comprometida com o avanço dos conhecimentos teórico-práticos desse campo de estudos.
Entre tantos elementos que demandam atenção nesse processo educacional, destacamos a importância de que sejam fornecidas condições para o desenvolvimento de agentes críticos e criativos, capazes de pesquisar e articular ideias de modo interdisciplinar, praticando efetivamente as teorias que defendem.
O leitor encontrará dois conjuntos de textos nessa coletânea. O primeiro apresenta relações entre o lazer e temáticas recorrentes no contexto da formação profissional, como currículo, teoria e prática, pesquisa, saberes profissionais e formação cultural. O segundo grupo analisa as interações do lazer com a educação física, o turismo, a terapia ocupacional e a administração, campos que historicamente vêm possibilitando a ação nessa área. - Papirus Editora
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de mai. de 2015
ISBN9788544900987
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    Lazer em estudo - Hélder F. Isayama

    Isayama

    1

    FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO ÂMBITO DO LAZER: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

    Hélder Ferreira Isayama

    Introdução

    O processo de globalização da sociedade do conhecimento trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho e vem substituindo a ideia do emprego pela de trabalho. A atividade produtiva passa a depender de conhecimentos, e o trabalhador precisa ser um sujeito criativo, crítico e reflexivo, preparado para agir e se adaptar rapidamente às mudanças desse novo contexto social. Além disso, vivemos uma realidade na qual o desenvolvimento tecnológico vem afetando diretamente a produção e a difusão do saber, bem como a criação e a exploração de novos espaços de conhecimento.

    Juntamente com essas transformações observa-se uma sensibilização da sociedade para com os valores éticos, políticos e sociais, o que obriga todas as profissões a rever as competências requeridas e consequentemente a formação de seus profissionais. É nesse contexto que este texto se propõe a refletir sobre a formação de profissionais para atuar no âmbito do lazer, apresentando um panorama das possibilidades identificadas na realidade brasileira.

    Ao refletir sobre a formação de profissionais para atuar no âmbito do lazer, inicialmente é necessário reforçar que este se configura como um campo multidisciplinar que possibilita a concretização de propostas interdisciplinares, por meio da participação de indivíduos com diferentes formações. Lamentavelmente, ainda se pensa que, para atuar na área, não é necessário ter formação específica e aprofundada sobre o tema. Por isso, é preciso (re)pensar os pressupostos que encaminham a formação de profissionais e como ela está sendo processada na realidade brasileira.

    Características da formação profissional em lazer

    De acordo com Sant’anna (1994), o incremento na produção científica sobre o lazer, que aconteceu a partir dos anos 1970, auxiliou no desenvolvimento de novos instrumentos, mais precisos e diversificados, de descrição, avaliação, cálculo e organização dos usos do tempo livre, e foi nessa produção que se evidenciaram esforços mais amplos para transformar o meio sociocultural. Emergiram livros, artigos científicos, monografias, dissertações e teses, bem como se avolumaram relatórios de observações das técnicas empregadas e dos resultados obtidos na aplicação dos programas de lazer. Esse incremento na produção sobre o lazer contribuiu de forma significativa para a ampliação das ações no âmbito da formação profissional em nosso país, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de cursos centrados no fazer por fazer, em receitas de atividades ditas recreativas.[1]

    Portanto, as ações vinculavam a recreação às atividades práticas desenvolvidas e atuavam no intuito de que os alunos se tornassem meros executores e tivessem como objetivo aprender atividades, para que fosse possível facilitar a vivência do público-alvo de sua ação. Tolerância, animação e prazer pelo trabalho passaram a ser os pilares básicos para a atuação dos recreadores, e, por isso, a formação profissional fundava-se na cooperação e no amor ao trabalho assistencialista. Por esse motivo, ganhou força a ideia de que, para ser um recreador, era necessário possuir um dom; dessa forma, mesmo que formados por universidades e/ou outras instituições, nem todos detinham o poder do saber recrear (Pinto 1995). Essa visão reproduz em nosso contexto a compreensão de que o recreador nasce, basicamente, pronto.

    Na atualidade, por mais que se tenha superado a ideia do profissional nato, continua muito difundida a visão do profissional que já vem pronto, pouco tendo a aprender técnica, científica e pedagogicamente, a não ser a logística – a ordenação das etapas e dos recursos do trabalho –, que varia de acordo com o local de trabalho e muda constantemente.

    Apesar das críticas efetuadas sobre a tradicional visão de recreação e de recreador, ressalto a importância de diferentes práticas culturais disseminadas até mesmo nessa perspectiva para a compreensão de seu processo de construção. Penso, entretanto, ser necessário buscar um entendimento ampliado sobre essas práticas, por meio da análise dos significados sociais, pedagógicos e culturais por elas incorporados em nossa realidade.

    Com base nisso, observo que, no Brasil, é cada vez mais crescente o interesse de alunos e professores pela discussão da temática do lazer, tendo em vista as diferentes opções de estudo e de intervenção profissional que o campo de trabalho vem abrindo, nesse âmbito, para os profissionais formados. Especialmente nos últimos anos, vem aumentando a preocupação com o lazer como um dos fatores fundamentais para a promoção da melhoria de qualidade de vida. Além disso, o lazer vem sendo amplamente destacado pelos meios de comunicação de massa como uma das áreas mais promissoras do século XXI. Em virtude disso, ampliam-se as possibilidades de formação profissional nesse campo, mas estas devem ser analisadas com cuidado por aqueles que desejam participar dessas ações.

    Segundo Werneck (2000), formar significa fecundar um conjunto de ideias e reflexões, criar possibilidades que nos retirem de posições acomodadas, mobilizando-nos e transformando-nos. É uma maneira de nos colocarmos avessos às certezas cristalizadas, com curiosidade e desejo de saber para construirmos juntos o conhecimento. Nesse sentido, o desafio é agregar esforços para formar profissionais capazes de construir coletivamente ações teórico-práticas sobre o lazer que sejam significativas, a fim de não mascarar ou atenuar os problemas sociais dos sujeitos envolvidos.

    No Brasil, a formação profissional no âmbito do lazer vem concretizando-se, principalmente, por duas perspectivas: a primeira tem como ênfase a preocupação em formar um profissional mais técnico, que tenha como orientação primordial o domínio de conteúdos específicos e metodologias. Nesse caso a formação privilegia a familiarização com as práticas e atividades que se apresentam no dia a dia do animador cultural. A preocupação central é com a instrumentalização técnica e com o domínio de procedimentos e metodologias.

    Como resultado surge o tecnicismo que restringe o profissional a um simples técnico, e a mediação técnica se torna substantiva, norteando os fins e valores do processo de formação e não o contrário. A prática torna-se o eixo da formação e sua realização tende a minimizar o papel da teoria na ação profissional. Dessa forma, reafirma-se a dicotomia entre teoria e prática, enfatizando-se a segunda e atribuindo menor importância às reflexões de cunho filosófico, político, cultural e sociológico, fundamentais no processo de atuação profissional nesse âmbito. Muitas vezes, os sujeitos de diferentes cursos de formação na área do lazer anseiam por receitas prontas de atividades e reforçam o interesse por um número bastante variado de modelos e alternativas.

    É importante frisar que um sólido referencial teórico possibilita a compreensão da prática por meio de novos olhares, permitindo a consolidação da práxis. Um animador cultural que atua em clubes, por exemplo, e conhece questões sobre diferentes faixas etárias (crianças, adolescentes, adultos e idosos) e grupos sociais (portadores de necessidades especiais, negros, índios, homossexuais etc.) tem sua prática direcionada por outra perspectiva. Dessa forma, a relação teoria-prática adquire função muito diferente de um simples fazer mecânico e técnico.

    A segunda perspectiva aponta como prioridade a formação centrada no conhecimento, na cultura e na crítica, que se dá por meio da construção de saberes e competências que devem estar alicerçados no comprometimento com os valores disseminados numa sociedade democrática, bem como na compreensão do papel social do profissional na educação para e pelo lazer. A formação deve possibilitar o domínio de conteúdos que têm de ser socializados, por meio do entendimento de seus significados em diferentes contextos e articulações interdisciplinares. Deve, ainda, promover o conhecimento de processos de investigação que auxiliem no aperfeiçoamento da ação do animador cultural e no gerenciamento do próprio desenvolvimento de ações educativas lúdicas, críticas e criativas.

    A formação de profissionais no campo do lazer deve, portanto, ser pautada na competência técnica, científica, política, filosófica e pedagógica e no conhecimento crítico da realidade. É preciso romper com a visão essencialmente tecnicista, comum em nosso meio, tendo em vista uma práxis consciente. A ação deve ser comprometida com mudanças que considerem as lutas contra as injustiças sociais, na intenção de concretizar uma sociedade mais igualitária, que respeite as diferenças culturais e que crie possibilidades de participação e de democratização social (Marcellino 1995).

    Por isso, é necessário pensar a construção de saberes e competências que estejam relacionados ao comprometimento com os valores alicerçados numa sociedade democrática e à compreensão do papel social do profissional na educação para e pelo lazer. Além disso, a formação deve proporcionar o domínio de conteúdos a serem socializados, por meio do entendimento de seus significados em diferentes contextos e articulações interdisciplinares, e, por fim, o conhecimento de processos de investigação que auxiliem no aperfeiçoamento da ação profissional no campo do lazer e no gerenciamento do próprio desenvolvimento de ações educativas lúdicas.

    Com isso, uma sólida formação profissional voltada para o lazer não pode visar à simples transmissão de saberes, mas à constituição e ao posicionamento de nossa própria inserção como sujeitos, e à busca do nosso lugar nas várias divisões socioculturais apresentadas em nossa realidade (Werneck 2000).

    Ao pensar na formação profissional no campo do lazer, penso ser importante destacar quatro pontos fundamentais para orientar as ações, tendo em vista o entendimento do animador cultural em uma perspectiva educacional ampla, de transformação da realidade social.

    O primeiro ponto está relacionado à unidade entre teoria e prática, que só tem sentido se rompermos com a ideia da racionalidade técnica criticada por Schön (1992). Mesmo que muitos dos trabalhos de Schön estejam voltados para pensar a formação docente, suas ideias podem trazer grandes contribuições para refletirmos sobre a formação em lazer. O autor afirma que a racionalidade técnica defende a tese de que os profissionais solucionem problemas instrumentais mediante a aplicação de teoria científica ou de uma técnica. Assim, para os problemas da prática profissional devem ser aplicados os conhecimentos científicos, os procedimentos racionais da ciência.

    Schön critica a visão de que o conhecimento não se aplica à ação e aponta que ele está intimamente encarnado nela, chamando-o, por isso, de conhecimento na ação. O autor argumenta que o conhecimento é sempre uma relação que se estabelece entre a prática e as interpretações que dela fazemos; é a isso que chamamos de teoria, isto é, um modo de ver e interpretar nosso modo de agir no mundo.

    Por isso, concordo com Santos (2007) quando afirma que não devemos defender a sólida formação teórica e repudiar a formação instrumental, nem denunciá-la como recurso utilizado para formar profissionais dóceis, adequados às demandas externas, do mercado. No entanto, a autora aponta que as polarizações precisam ser bem-examinadas, pois o profissional precisa adquirir conhecimentos, competências e habilidades que o ajudem a instrumentalizar a sua prática. Uma intervenção profissional de qualidade é caracterizada por uma boa prática profissional; no entanto, só existe boa prática com sólida formação teórica.

    Nesse mesmo sentido, Pérez Gómez (1992) fala da importância do conhecimento prático, no qual o profissional mantém um diálogo reflexivo com a situação problemática concreta. Destaco a necessidade de distinguir três conceitos diferentes que integram o pensamento prático do profissional: a) conhecimento na ação; b) reflexão na ação; c) reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação. O conhecimento na ação é o saber fazer e saber explicar o que se faz. A reflexão na ação, apesar de todas as dificuldades e limitações, é um processo de extraordinária riqueza na formação do profissional reflexivo, pois é o espaço de confrontação empírica com a realidade, com base em um conjunto de esquemas teóricos e de convicções implícitas do profissional. Já a reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação é a análise que o indivíduo realiza a posteriori sobre as características e os processos de sua própria ação. Esse último conceito – reflexão sobre a ação – é um componente essencial do processo de aprendizagem permanente em que consiste a formação profissional.

    Entendo que teoria e prática devem ser consideradas o núcleo articulador da formação de profissionais no campo do lazer; para tanto, esses dois eixos devem ser trabalhados simultaneamente, como elementos indissociáveis. É preciso superar uma das tendências encontradas no campo do lazer que considera a recreação como a prática e o lazer como as teorias.

    A teoria deve ser pensada, formulada e aplicada com base na realidade concreta da animação cultural, que acredito ser fundamental para a transformação das vivências de lazer presentes no mercado. Para tanto, todos os componentes da formação devem trabalhar a unidade teoria-prática de diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de pensar a totalidade da intervenção profissional e da formação como possibilidade de minimizar as distorções decorrentes da priorização de um dos dois eixos.

    O segundo ponto está relacionado à característica multidisciplinar do lazer. Nesse sentido, apesar de certa dificuldade presente na formação, tendo em vista as diferentes áreas que se relacionam com esse objeto de estudo e intervenção, é fundamental pensar em possibilidades coletivas e interdisciplinares de trabalho por meio da formação dos profissionais, superando, dessa forma, a ideia de que esse campo é propriedade particular dessa ou daquela área.

    Magnani (2000, p. 20) aponta que a multidisciplinaridade, que é intrínseca ao objeto lazer, tem levado à realização de estudos com ênfases e orientações diferentes, e reforça a importância de ter novos e amplos olhares sobre o assunto: É estimulante perceber a forma como um texto, uma vez tornado público, é apropriado segundo novos olhares: são justamente estes novos olhares que levam a descobrir ângulos não inteiramente visualizados na abordagem inicial.

    Portanto, a multidisciplinaridade contribui de forma substancial para avanços qualitativos sobre o lazer. As diferentes reflexões teóricas remetem à construção de novas ideias e abordagens, estimulando o interesse e o engajamento nos estudos do tema. Olhares múltiplos devem ser considerados e analisados, pois podem fomentar a reflexão e a crítica, referenciando diferentes perspectivas e questionamentos e, dessa forma, contribuindo para o debate e o aprofundamento de conhecimentos sobre o assunto.

    Para tanto, é fundamental recorrer à história, à educação física, ao turismo, à sociologia, à psicologia, à educação, à administração, à terapia ocupacional, entre outras, o que já vem acontecendo, mas não de maneira sistemática. É fundamental realizar parcerias, mas é preciso saber o que se quer delas e como trabalhar as especificidades de cada uma das áreas envolvidas.

    Um terceiro ponto a ser ressaltado é a sólida formação teórica e cultural dos profissionais que atuam com o lazer; nesse sentido, acredito ser fundamental um maior interesse, por parte dos animadores, na busca dos conhecimentos que envolvem os estudos sobre o lazer, tornando seu trabalho mais coerente com os objetivos propostos. Além disso, é importante que o profissional busque sua participação crítica e criativa em diferentes práticas culturais como forma de manter constantemente atualizada a sua cultura geral, priorizando uma ampliação de suas próprias vivências de lazer, de modo condizente com sua prática profissional.

    Melo e Alves Júnior (2003) apontam a necessidade de que a formação de profissionais assuma a função de educar as sensibilidades, possibilitando experiências que ampliem as vivências culturais dos sujeitos. Para tanto, sugerem que as ações de formação preocupem-se com atividades para além da exclusiva discussão teórica em sala de aula, e promovam o estímulo à compreensão de que a preparação profissional deve incluir um maior número de referências, expandindo os espaços e as iniciativas para além dos limites que são tradicionalmente instituídos.

    O quarto e último ponto que ressalto é a necessidade de pensar a formação continuada nesse campo. Analisando os projetos de formação continuada no campo do lazer é possível identificar a perspectiva clássica, como descrita por Candau (1996). Nesse caso, a ênfase é atribuída à reciclagem dos profissionais, o que significa voltar e atualizar a formação recebida. Assim, os sujeitos retornam à universidade para fazer cursos de diferentes níveis, além de terem a possibilidade de participar de simpósios, congressos, encontros de alguma forma orientados para seu desenvolvimento profissional.

    Entretanto, essa não é a única maneira de promover uma formação profissional continuada. Acreditamos que essas iniciativas são necessárias e fazem parte desse processo, mas não se deveriam restringir a esse formato. Nesse caminho, Candau (1996) aponta para a construção de uma nova concepção de formação continuada, na qual o lócus se configura no próprio local da prática. O simples fato de estar no local e de desenvolver uma prática concreta não garante a presença das condições mobilizadoras desse modelo formativo. Para que ele se dê, é importante que essa prática seja reflexiva, ou seja, capaz de identificar os problemas e tentar buscar soluções para eles.

    Penso que o processo de formação continuada em lazer deva acontecer por uma perspectiva que focalize três eixos: o espaço de intervenção deve ser o lócus privilegiado de formação; a formação continuada tem de ter como referência fundamental o saber profissional, o reconhecimento e a valorização desse saber; as diferentes etapas do desenvolvimento profissional do projeto precisam estar presentes para que ele se dê adequadamente, já que não podemos tratar do mesmo modo o animador em fase inicial do exercício profissional e aquele que já se encaminha para a aposentadoria.

    Caldeira (2001) nos chama a atenção para a valorização da subjetividade do profissional no seu processo de formação. Sobre esse aspecto, reforço a necessidade de levar em conta a subjetividade dos sujeitos que estão intervindo, sem deixar de destacar que ela é socialmente condicionada, e isso implica considerá-la resultante de diferentes aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos. A autora afirma ainda que considerar a subjetividade significa reconhecer que os próprios indivíduos contribuem para a formação e a transformação dos contextos.

    De acordo com a autora, é necessário compreender tais influências para que o profissional construa a capacidade de exercer um controle consciente sobre suas próprias ações. E é nesse contexto que não se podem desconsiderar a precarização do trabalho e a perda da proteção social, fatores que interferem diretamente na subjetividade do profissional. Para o profissional do lazer, são visíveis a insegurança, a instabilidade e a precariedade nos vínculos estabelecidos com o trabalho, associadas à ausência de mecanismos de proteção social.

    Portanto, as dificuldades para vivenciar e sistematizar um processo contínuo de formação profissional no campo do lazer são inúmeras. A começar pelas longas jornadas de trabalho que não possibilitam esse tipo de ação, bem como a limitação financeira, os preconceitos vinculados a visões restritas de lazer, a prestação de serviço que envolve a competição e a insegurança no mercado de trabalho, entre outros aspectos relevantes.

    Na atualidade, existe ainda uma tendência à comercialização das propostas de formação profissional na área, focalizada como um filão no mercado que abre amplas possibilidades de ganhos. Essas ações são associadas ao consumo exacerbado e alienado de bens materiais e de serviços recreativos e podem auxiliar a fuga e a distração dos problemas apresentados em nosso cotidiano. Nesse caso, a expansão desenfreada de ações de formação profissional que apresentam essa tendência é preocupante e vem reforçando cada vez mais uma visão reducionista de lazer.

    Possibilidades de formação profissional em lazer na realidade brasileira

    Analisando as propostas de alguns cursos de reciclagem, aperfeiçoamento, atualização, bem como de disciplinas ministradas em diferentes cursos de graduação, pode-se observar uma ênfase na reprodução de atividades diversas, mediante o ensino de uma variedade de jogos e brincadeiras. Essas propostas disponibilizam receitas de atividades, não superando a tradição prática e com dificuldades de fomentar a sistematização de conhecimentos efetivamente teórico-práticos.

    Além disso, muitas propostas ainda privilegiam as atividades físicas e esportivas em detrimento de outras práticas culturais que podem ser vividas no âmbito do lazer, em virtude dos vínculos históricos estabelecidos entre os campos da educação física e do lazer. Esse aspecto, já apontado por Melo e Fonseca (1997), se constitui como uma das grandes polêmicas no que se refere à formação de profissionais nesse campo multidisciplinar. Os profissionais de cada área específica teriam condições de atuar efetivamente com as diferentes possibilidades de vivências que o lazer pode contemplar?

    Mesmo com esses limites, já existem iniciativas de algumas universidades, grupos de pesquisa e órgãos públicos que procuram enfocar o lazer de maneira abrangente e contextualizada.

    Apesar do crescimento da discussão sobre o lazer nos cursos de administração, artes, educação física, fisioterapia, hotelaria, pedagogia, terapia ocupacional e turismo, a análise de muitos desses currículos demonstra que a discussão dos conhecimentos sobre o lazer tem pequeno espaço no interior das propostas. Isso caracteriza uma incompatibilidade entre a forma como esses temas são tratados nos currículos e as diferentes oportunidades de estudo e atuação que o campo vem abrindo para profissionais formados (Isayama 2002). Isso exige a formulação de novas propostas curriculares, que possam suscitar um redimensionamento do lazer no interior dos cursos de formação profissional, superando a tradição prática arraigada e delineando com mais coerência os programas das disciplinas desenvolvidas nesse âmbito. É necessário lidar com esses saberes por meio não apenas da oferta de disciplinas, mas de uma série de ações expressivas que possam contribuir com uma sólida formação e estreitar vínculos entre essa formação e a intervenção profissional.

    Um aspecto importante a ser ressaltado é que no Brasil, desde 1998, já vêm sendo ofertados cursos de graduação específicos sobre o lazer, demonstrando uma nova tendência que se abre no mercado. Alguns desafios permeiam a implantação e o desenvolvimento desses cursos, como: a necessidade de buscar referências locais que norteiem a construção curricular; a falta de recursos humanos especializados e qualificados; e, ainda, a inadequação das estratégias de implantação e difusão geralmente adotadas pelas instituições. Desse modo, essas iniciativas se constituem em importantes experiências, mas têm

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