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Lazer e educação
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E-book191 páginas2 horas

Lazer e educação

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Sobre este e-book

"É de saudar com entusiasmo a contribuição do presente trabalho de Nelson Marcellino, ao tomar como tema de seu esforço de reflexão filosófica o lazer, como elemento pedagógico de significação, propondo, assim, alguns elementos para uma pedagogia da animação e pleiteando o reconhecimento da relação lazer-escola-processo educativo.
Trata-se da incorporação do lazer na educação para o movimento da vida, mediante a criação de um ânimo, a provocação de estímulos, a cobrança da esperança, longe da simples representação de uma civilização do lazer que fosse apenas uma compensação da sociedade racionalista e produtivista dominada pela exploração do trabalho, onde o lazer tem sido visto tão somente num sentido funcionalista."

Antonio Joaquim Severino - Papirus Editora
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de jun. de 2017
ISBN9788544902486
Lazer e educação

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    Lazer e educação - Nelson Carvalho Marcellino

    LAZER E EDUCAÇÃO

    Nelson Carvalho Marcellino

    >>

    A coleção Fazer/Lazer publica pesquisas, estudos e trabalhos técnicos fundamentados em teorias, ligados ao fazer profissional, no amplo campo abrangido pelas atividades de lazer, entendido como manifestação cultural contemporânea, que ocorre no chamado tempo livre.

    Dedico este trabalho

    à Mavília, mãe e amiga,

    pelas oportunidades e estímulos.

    Agradeço:

    ao professor doutor Antonio Joaquim Severino, pela orientação livre e segura;

    aos professores do Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUC-Campinas, pelos conhecimentos transmitidos sem preconceitos;

    aos colegas, de cursos e de lutas, pela troca de experiências;

    às amigas: Áurea Maria Guimarães e Rita Vaz da Costa, pelas sugestões e discussões estimulantes;

    aos professores Constança Marcondes César e Regis de Morais, pelas contribuições.

    SUMÁRIO

    PREFÁCIO

    INTRODUÇÃO

    1. DOIS TEMAS POLÊMICOS: DUAS FONTES DE MAL-ENTENDIDOS

    2. O DUPLO ASPECTO EDUCATIVO DO LAZER >

    3. LAZER E ESCOLA: UM AMONTOADO DE EQUÍVOCOS

    4. ELEMENTOS PARA UMA PEDAGOGIA DA ANIMAÇÃO

    CONCLUSÃO

    BIBLIOGRAFIA

    NOTAS

    SOBRE O AUTOR

    OUTROS LIVROS DO AUTOR

    REDES SOCIAIS

    CRÉDITOS

    PREFÁCIO

    Quando buscamos entender o significado mais profundo da educação brasileira em seu desdobramento histórico, constatamos que ela recebeu seus fundamentos substanciais de duas grandes vertentes filosóficas que, em última análise, respondem até hoje por suas orientações metodológicas, por suas concepções curriculares e pelas concepções de homem e de mundo em que ela se apoia. De um lado, a educação brasileira é herdeira da tradição metafísica clássica, de inspiração tanto aristotélica-tomista quanto platônico-agostiniana, que nos chegou por intermédio da pedagogia escolástica, assumida pela Igreja Católica e que influenciou profundamente a tradição escolar brasileira de todos os níveis, mesmo nas escolas que institucionalmente nem eram ligadas à Igreja; de outro lado, em suas fases mais recentes, a experiência educacional brasileira recebe as marcas da revolução epistemológica iluminista que acontece na Europa com a modernidade e que chega ao Brasil sobretudo por meio do positivismo, que vai impondo sua cosmovisão naturalista e cientificista no universo educacional, na medida em que busca fundar a educação nos alicerces do conhecimento objetivo e rigoroso, ora manifestado também no campo das ciências humanas.

    Assim, a história da educação brasileira pode ser escrita também sob o ângulo desse permanente confronto entre duas pedagogias que até hoje tiveram presenças significativas no nosso processo educacional.

    É interessante observar que, apesar das grandes diferenças entre a pedagogia católica e a pedagogia escolanovista, há em comum entre elas um aspecto muito importante, relacionado com a educabilidade do homem. Ambas veem o homem como um ser predominantemente racional e a tarefa de sua educação guia-se prioritariamente pela educação da e pela racionalidade. Se para a pedagogia escolástica a razão era o instrumento para que o homem tivesse acesso à natureza metafísica de si mesmo e do mundo, para a pedagogia escolanovista ela serve de acesso às leis naturais que dão conta de sua existência concreta e histórica. Mas é sempre a razão a grande diferença.

    Esta situação é plenamente explicável à luz da evolução cultural do Ocidente, a partir do momento em que as raízes judaicas do cristianismo passaram a se fixar no solo da cultura grega. A helenização do cristianismo, a incorporação pelo Evangelho do logos grego, bem mostra, já nos primeiros momentos de sua consolidação histórica, que esta aproximação e esta convivência eram possíveis e viáveis, como veio a testemunhar toda a posterior história espiritual do Ocidente.

    Assim, esta dupla tradição da pedagogia ocidental, uma apoiando-se numa concepção essencialista, outra numa concepção mais fenomenista do homem, constrói um humanismo pedagógico fundado na afirmação da racionalidade humana como referência básica. É por isso mesmo que os demais aspectos da manifestação do existir humano não ocupam lugar de igual importância nas preocupações pedagógicas. Não que sejam esquecidos ou que não sejam mencionados aqui e ali: eles o são de vez em quando, mas nunca com a devida relevância. Tanto é assim que a filosofia da educação dá pouco espaço para a reflexão sobre esses aspectos relacionados com as múltiplas dimensões da sensibilidade humana, da corporeidade, do desejo, dos sentidos. Entre nós, psicólogos e sociólogos, ainda voltam, de quando em vez, suas investigações sobre esse campo, embora quase sempre com o olhar enviesado de um comportamentalismo quantificador. Mas o filósofo é bastante reticente a esse respeito. A estética, em suas mãos, transforma-se muitas vezes numa lógica da esteticidade, e não em acompanhamento e descrição do ato criador do sujeito.

    À luz de tais considerações, é de saudar com entusiasmo a contribuição do presente trabalho de Nelson Marcellino, ao tomar como tema de seu esforço de reflexão filosófica o lazer, como elemento pedagógico de significação, propondo, assim, alguns elementos para uma pedagogia da animação e pleiteando o reconhecimento da relação lazer-escola-processo educativo. Trata-se da incorporação do lazer na educação para o movimento da vida, mediante a criação de um ânimo, a provocação de estímulos, a cobrança da esperança, longe da simples representação de uma civilização do lazer que fosse apenas uma compensação da sociedade racionalista e produtivista dominada pela exploração do trabalho, em que o lazer tem sido visto tão somente num sentido funcionalista.

    O esforço dessa proposta de recuperação pedagógica do lazer vai no sentido de considerá-lo uma força positiva, autêntica e autônoma, válida de per si, de encará-lo numa perspectiva de mudança, relacionada a todo um processo amplo de educação, que considere as relações entre as possibilidades da escola e as potencialidades educativas do lazer, não como a ‘redenção’ de uma situação social injusta, mas como canal possível para busca de transformações, aqui e agora (pp. 143-144). Não se trata, de modo algum, de entulhar o currículo de mais componentes formais, dos quais se deveria dar conta racionalmente. O que está em jogo e o que é uma tarefa desafiadora para os educadores brasileiros é transformar a nossa escola em centro de animação cultural (dar animus), não no plano da mera representação racional, ou da folclorização mecânica, mas dando seiva e vitalidade ao potencial cultural da comunidade em que se situa. Fazer a escola entrar na circulação do espírito cultural da comunidade, partindo e participando de suas experiências. O lazer é visto, então, enquanto espaço da vivência cultural, momento de expressão da vitalidade e da sensibilidade dos homens. À escola enquanto equipamento institucional, e enquanto organização de educadores, caberia fortalecer esse movimento possibilitando o desabrochar do potencial pedagógico do lazer.

    A reflexão filosófico-educacional de Nelson Marcellino, que se gestou também a partir de experiências concretas de trabalho de animação cultural, não coloca apenas questionamentos, mas já adianta algumas sugestões práticas que poderão nos ajudar, a todos, repensarmos o trabalho pedagógico que se desenvolve em nossas escolas, no âmbito da educação artística, da educação física, da educação cultural, enfim, de todo o esforço de educação da sensibilidade. Trabalho este que ainda está muito comprometido e equivocado, desnorteado, talvez, porque ainda continuamos enfeitiçados pelo mito da racionalidade iluminista.

    Antonio Joaquim Severino

    INTRODUÇÃO

    Já podaram seus momentos

    desviaram seu destino

    seu sorriso de menino

    quantas vezes se escondeu

    mas renova-se a esperança

    nova aurora a cada dia

    e há que se cuidar do broto

    pra que a vida nos dê flor e fruto[1]

    Este estudo, originalmente apresentado como dissertação de mestrado, na área da filosofia da educação, tem como objetivo básico verificar quais as relações existentes entre o lazer, a escola e o processo educativo, e de que forma essas possíveis relações podem ser consideradas tendo em vista a formulação de uma alternativa pedagógica – a pedagogia da animação. Procuro, assim, analisar mais detidamente a importância do papel da escola, quando se considera o lazer, quer como instrumento, quer como objeto de educação.

    Há muitos anos, venho militando na área da animação cultural, fazendo da atuação no campo do lazer o meu trabalho e base para o esforço de reflexão. No início, muito mais que o verificado atualmente, essa atuação foi marcada por uma série de preconceitos, do meio e interiores, que só a prática diária e o contato com a população foram se encarregando de modificar. O principal deles era o questionamento da validade de desenvolver esforços numa área que sempre foi considerada supérflua; era como se me encarregasse de ajudar a preparar e servir a sobremesa para uma população que nem sequer poderia ter a refeição principal. E esse comportamento ainda se verifica em amplos setores da intelectualidade brasileira, setores que, afastados das aspirações populares, tentam, a partir de teorias muito bem elaboradas, ditar o que o povo precisa, muitas vezes fechando os olhos para a realidade e as aspirações desse mesmo povo.

    Em decorrência do quadro de situação verificado nos planos social e cultural, em setores significativos da nossa sociedade, de características urbano-industriais, o lazer vem se firmando, gradativamente, como área de atuação de uma série de profissionais ou voluntários, das mais variadas formações, que estabelecem com as clientelas uma relação que pode ser classificada como relação pedagógica. Entretanto, enquanto a quase totalidade dos autores que se dedicam ao estudo do tema tem insistido na chamada função educativa do lazer, quer do ponto de vista meramente reprodutor, quer de uma perspectiva reformista, ou mesmo como um instrumento possível de transformação da ordem social, o pensamento pedagógico vem abordando apenas circunstancialmente a questão.

    Na prática profissional como animador cultural, sempre procurei aliar a atuação específica à observação e análise que minha formação acadêmica – na área de Ciências Sociais – permitia. Sempre senti necessidade, no entanto, de uma reflexão mais sistematizada sobre os valores que cercam a produção teórica alimentadora da ação de grupos e instituições voltadas para o desenvolvimento de atividades no campo específico do lazer. E essa motivação me levou a desenvolver este trabalho. Ele é fruto de minha vivência como animador cultural, das observações empíricas do sociólogo e do aprofundamento da pesquisa teórica, a partir de documentação bibliográfica, desenvolvida no decorrer do curso de mestrado. Em termos de observações empíricas, sua limitação é restrita a uma área geográfica mais próxima, especificamente a região Sudeste, e, mais particularmente, ao meio urbano, aliás, onde a problemática do lazer se apresenta com maior ênfase; mesmo porque, devido à heterogeneidade social e cultural do nosso país, é muito difícil falar-se em Brasil, abrangendo todas as regiões. Em termos de documentação bibliográfica, o referencial básico de análise é a produção de alguns autores brasileiros ligados ao estudo do lazer e da educação, tendo recorrido a autores estrangeiros somente na medida em que fosse necessário para o esclarecimento de pontos ainda não abordados na produção nacional, ou para tentar detectar a origem de determinadas linhas de pensamento. A ênfase, no entanto, recai sobre os estudos mais diretamente ligados ao campo do lazer, uma vez que, nessa área, os esforços de sistematização são muito mais incipientes que no campo da educação.

    Na seleção dos textos e dos autores procurei adotar um critério, na medida do possível, sem preconceitos ideológicos ou de área de atuação. Essa atitude – longe de significar uma posição marcada pelo ecletismo – tem por fundamento a necessidade de conhecer – mais especificamente na área do lazer – as várias concepções, os diferentes valores atribuídos. Portanto, a validade e a qualidade deste estudo não poderão ser avaliadas, como acontece algumas vezes, em se tratando de trabalhos acadêmicos, pela qualidade da bibliografia indicada. Pelo menos sua seleção não foi elaborada nessa perspectiva. Alguns dos autores aqui analisados não são sequer conhecidos nos meios acadêmicos; entretanto, suas formulações teóricas alimentam a prática de grupos e instituições que atendem um número significativo de pessoas, canalizando consideráveis somas em termos de recursos. Também, pela própria natureza do tema, a produção teórica analisada não é específica de uma área de conhecimentos, abrangendo formulações de sociólogos, psicólogos, filósofos, pedagogos, arquitetos, assistentes sociais, especialistas em arte, educação física etc.

    O estudo será baseado: na consideração do lazer como cultura vivenciada no tempo disponível, não em contraposição, mas em estreita ligação com o trabalho e as demais esferas de obrigação da vida social, combinando os aspectos tempo e atitude; no valor da atuação no plano cultural, numa perspectiva gramsciana, como instrumento de mudança social; e na crítica

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