Como fazer projetos de lazer: Elaboração, execução e avaliação
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Sobre este e-book
O livro traz propostas para a gestão de projetos de lazer, considerando sua cultura e seus estilos específicos. Os autores analisam as fases que constituem o ciclo de um projeto, fornecendo subsídios conceituais e metodológicos para a identificação, a elaboração, o gerenciamento e a avaliação de projetos de lazer, facilitados pelos instrumentos de planejamento e gestão conhecidos como Matriz Lógica (ou Marco Lógico), Teoria Sociológica da Decisão e Ação Comunitária. Além disso, detalham passos decisivos para o desenvolvimento de cada um desses instrumentos e apresentam práticos roteiros para a preparação de ações na área. - Papirus Editora
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Como fazer projetos de lazer - Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto
COMO FAZER PROJETOS DE LAZER
ELABORAÇÃO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO
Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto (org.)
Nelson Carvalho Marcellino
Patricia Zingoni
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A coleção Fazer/Lazer publica pesquisas, estudos e trabalhos técnicos fundamentados em teorias, ligados ao fazer profissional, no amplo campo abrangido pelas atividades de lazer, entendido como manifestação cultural contemporânea, que ocorre no chamado tempo livre
.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto
1. MARCO LÓGICO: UMA METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DE PROJETO SOCIAL DE LAZER
Patricia Zingoni
Introdução
Identificação e elaboração de projetos de lazer
Gerenciamento do projeto
Bibliografia
2. A TEORIA SOCIOLÓGICA DA DECISÃO E A AÇÃO COMUNITÁRIA COMO ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO EM AÇÃO
Nelson Carvalho Marcellino
A Teoria Sociológica da Decisão
Pressupostos da Ação Comunitária: Estruturas e canais de participação
Bibliografia
ANEXO 1
ANEXO 2
NOTAS
SOBRE OS AUTORES
OUTROS LIVROS DA COLEÇÃO FAZER/LAZER
REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
APRESENTAÇÃO
Tive o privilégio de organizar um livro com dois conceituados profissionais atuantes no campo do lazer, desejosos de socializar seus estudos e suas experiências com projetos nessa área.
Este livro e as atividades dos grupos de estudos que se vinculam com os trabalhos dos dois autores desta obra demonstram que as discussões sobre projetos de lazer se encontram em um processo de transformação que vem instigando a elaboração e a execução de projetos de lazer orientados por objetivos. Transformações que requerem que não percamos o foco da dimensão concreta da realidade, uma vez que vivemos uma época cada vez mais dominada pelos interesses econômicos e, ao mesmo tempo, pela busca de comportamentos compatíveis com a postura cidadã.
Os trabalhos dos autores aqui reunidos mostram justamente isso, destacando o papel e a importância dos sujeitos no desempenho das organizações, inter-relacionando a dimensão subjetiva com a dimensão objetiva da existência humana.
Nas contribuições publicadas, os sujeitos estão no centro das tomadas de decisão das ações. E em cada um deles – seja público beneficiário das ações, seja técnico, gerente, dirigente, parceiro – encontramos pessoas que mobilizam desejos, ressaltam necessidades, apontam dilemas e também potencialidades de soluções, a fim de realizar as atividades propostas pelos projetos que elaboram e executam.
O trabalho com prefeituras, a exemplo das que integram as experiências dos autores deste livro, vem mostrando caminhos promissores na promoção de políticas, programas e projetos de lazer comprometidos com mudanças sociais conscientes da responsabilidade de todos para a garantia dos direitos da população.
Os relatos dessa natureza tornam-se fontes privilegiadas de informação tanto para quem estuda quanto para quem também atua com projetos sociais de lazer realizados em prefeituras, empresas, escolas e outros âmbitos e organizações que buscam concretizar ações baseadas nos princípios da democratização social.
Vários instrumentos que têm sido usados para esse fim ainda não encontraram no campo do lazer no Brasil uma visibilidade compatível com a que merecem em virtude de, ainda, não serem (re)conhecidos da mesma forma como o são em outras áreas da ação social.
Os artigos aqui reunidos procuram contribuir nesse sentido, sendo dois textos com estilos e fundamentações diferentes e, ao mesmo tempo, complementares, representativos de uma produção brasileira extraída das teorias sociológicas em projetos sociais.
Com isso, não somente os temas propostos são colocados para a apreciação do leitor, mas também são levantadas questões relativas à dinâmica da gestão de projetos de lazer, considerando sua cultura e seus estilos específicos, detalhando passos decisivos para o desenvolvimento de cada instrumento estudado.
Os detalhamentos contidos em cada texto buscam ajudar na compreensão das características e das dinâmicas fundamentais de cada instrumento, procurando melhor situar seus fundamentos na relação direta com o cotidiano dos projetos de lazer, campo que fornece vasta possibilidade de desenvolvimento de projetos.
É importante destacar que os instrumentos aqui estudados ou são muito recentes – como é o caso do Marco Lógico, ou Matriz Lógica – ou, ainda, insuficientemente discutidos no campo do lazer, como são os casos da Teoria Sociológica da Decisão e da Ação Comunitária. Porém, todos têm respondido de modo especial aos desafios colocados aos projetos de lazer desenvolvidos na atualidade brasileira.
Que instrumentos são esses?
O Marco Lógico constitui-se em um dos instrumentos de elaboração e gestão de projetos mais difundidos internacionalmente e com crescente utilização no Brasil desde a década de 1980. Como destaca Markus Brose em seu livro Metodologia participativa (2001), o Marco Lógico tem se destacado principalmente por seu potencial de aperfeiçoamento de programas e projetos, sua contribuição à transparência dos processos de gestão social e por consistir em um instrumento complementar valioso às ações participativas. É um processo de definição conceitual que permite tomar decisões sobre os principais elementos constituintes do projeto, criando entendimento comum aos sujeitos envolvidos e aumentando a possibilidade de corresponsabilidade de todos.
Foi testado pela United States Agency for International Development (Usaid) nos anos de 1970 e 1971 na avaliação de 30 projetos de cooperação técnica em diversos países. Os bons resultados dessa experiência motivou a Usaid a ampliar seu apoio a projetos sociais e a partir de 1975 a Agência Canadense de Cooperação (Cida) também o adotou. Com o tempo passou a ser utilizado também pelo Bird, BID, OIT, GTZ e outras organizações internacionais.
Por sua vez, a prática da Teoria Sociológica da Decisão surgiu na década de 1940 na Inglaterra, com o apoio do governo norte-americano, constituindo-se a partir da chamada pesquisa operacional
, que fora aplicada a diversos fins, inclusive em ações militares, no período de guerra.
No Brasil, foi difundida como pesquisa ativa, destacando a implicação dos agentes sociais engajados com a ação social democrática e comprometidos com sua ação como educadores. No campo do lazer, foi o sociólogo francês Joffre Dumazedier o principal divulgador dessa teoria, cujas experiências vividas entre nós foram registradas em seu livro Planejamento de lazer no Brasil: A teoria sociológica da decisão (1980). Essa obra relata o trabalho desenvolvido por esse estudioso na qualificação de lideranças locais e pesquisadores do Centro de Estudos do Lazer (Celazer) do Sesc-São Paulo, trabalho iniciado com a realização de Seminário, em 1977, em Águas de São Pedro (SP).
Com base na questão como os resultados de uma ação prática podem estar o mais próximo possível das intenções dos agentes?
, a Teoria da Decisão propõe ser aplicada a questionamentos práticos do conhecimento e a questionamentos teóricos da ação no campo do lazer urbano.
Por outro lado, a Ação Comunitária representa um instrumento de gestão de projetos sociais cuja metodologia aqui tratada é parte de um conjunto de teorias e práticas de trabalho e educação comunitária que, no Brasil e na América Latina, teve grande prosperidade na década de 1950. Nos anos 70, agregou novos movimentos sociais como os de educação de base.
Em várias experiências com Ação Comunitária, tais como as relatadas neste livro, alguns pontos são convergentes: a valorização da vida; a postura pautada na escuta, numa relação dialogada entre os sujeitos envolvidos; a consideração da ética da alteridade e da democracia na base do processo de construção das relações vividas; a produção coletiva do conhecimento e a politização da relação educador-educando; o estímulo à participação, à cooperação, à organização e à mobilização de todo o processo de transformação do cotidiano do cidadão; e a tentativa de transformar o ato de educar num dispositivo de pesquisa e ação transdisciplinar com vistas à autonomia dos sujeitos.
Vivências que nos ensinam que o termo comunidade
não se refere a comum – unidade
– algo que unifica, é coeso, harmônico. Ao contrário, comunidade e grupo
são termos que se referem a processos permanentemente em transformação, à produção e à decomposição de novas ordens, a novos encontros entre pessoas, ideias, projetos e desejos; onde persistem a multiplicidade, a singularidade e a articulação entre o todo e a exceção.[1]
Assim, o livro que você tem em mãos apresenta fundamentos e exemplos de experiências que não se propõem a ser modelos fechados
, mas que pretendem ajudar na qualificação de pessoas e ações no lazer, que têm como pontos de partida a interpretação da realidade vivida pelos projetos e a participação das pessoas.
Espero que este livro chame a atenção dos profissionais/educadores para a potencialidade dos projetos sociais desenvolvidos nos vários âmbitos de atuação no lazer.
Seja bem-vindo à leitura que se inicia!
Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto
1
MARCO LÓGICO: UMA METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO,
GESTÃO E AVALIAÇÃO DE PROJETO SOCIAL DE LAZER
Patricia Zingoni
Introdução
Nas últimas quatro décadas, houve amplo desenvolvimento de metodologias que subsidiam o planejamento, a gestão e a avaliação de projetos de investimento empresarial, que alcançam, inclusive, complexos modelos matemáticos. O PMBOK é uma dessas metodologias de gerenciamento considerada como a fórmula para o sucesso dos projetos mercadológicos (PMI 2000).
Já no campo dos projetos sociais, os reflexos do conhecimento sistematizado ainda são tênues. Isso acarreta a proposição de ações, na maior parte das vezes e apesar das melhores intenções, sem uma análise criteriosa das condições para a consecução mais eficaz dos objetivos almejados e sem uma preocupação com a utilização mais eficiente dos recursos destinados ao projeto.
Algumas agências de cooperação e alguns consultores procuraram desenvolver e divulgar metodologias de planejamento e gerência de projetos que fossem instrumentos úteis e facilmente aplicáveis para projetos sociais. Merecem destaque dois exemplos que, num certo sentido, se aproximam: de um lado, a Agência de Cooperação Internacional do Governo Alemão (GTZ) desenvolveu o método Zopp (das iniciais de Zielorienterte Projektplanung, que, em alemão, significa planificação de projetos orientada para objetivos
); quase ao mesmo tempo, a Agência de Cooperação Norte-Americana (Usaid) desenvolveu um instrumento semelhante denominado Logical Framework (Estrutura Lógica ou Marco Lógico). Ambos oferecem conceitos e uma abordagem prática úteis para a formulação de projetos sociais, contendo elementos e instrumental que também contribuem para a gerência da implementação e da avaliação. Tanto o Zopp como o Marco Lógico se autoclassificam como instrumentos de gerência de projetos.
O Marco Lógico é um instrumento muito útil para a elaboração, a análise e o gerenciamento de projetos. É um método de construção dos principais elementos que os compõem – objetivo geral, objetivos específicos, produtos ou resultados imediatos, atividades, indicadores, meios de verificação e premissas. Baseia-se no método científico de pesquisa social, estruturando os projetos sobre uma cadeia de hipóteses acerca de relações de causa e efeito envolvidas no enfrentamento da problemática em questão.
Cresce a cada dia o número de organizações sociais que realizam sua ação e que obtêm recursos por meio de projetos de lazer. Cresce também o número de instituições que os financiam com fins sociais, que oferecem capacitação e prestam assessoria na área. Nesse contexto, o nível de exigência quanto à qualidade da ação nunca foi tão grande como atualmente. É notável ainda o interesse recente da opinião pública e da mídia sobre projetos socioculturais. Por isso tudo, torna-se fundamental, para as atividades de lazer, uma intervenção organizada a fim de garantir melhores possibilidades para o alcance de seus objetivos.
Numa época em que os recursos destinados à área social são escassos e as demandas são, em contrapartida, elevadas, a exigência de uma gestão eficaz, eficiente e efetiva dos projetos e programas sociais de lazer torna-se categórica. Para isso, no entanto, é necessário o desenvolvimento de uma cultura voltada para a elaboração, o monitoramento e a avaliação, que compreenda tais processos não apenas como instrumentos de definição de metas e acompanhamento de cronograma e fluxo de caixa, com vistas à captação de recursos e posterior prestação de contas aos financiadores, mas também como excelentes ferramentas de aperfeiçoamento no processo de tomada de decisão da gestão dos projetos. Nesse sentido, a atenção entre as agências financiadoras tem-se voltado para a efetividade das ações, e não apenas para a eficiência e a eficácia no cumprimento das metas. Importa saber se, além de uma utilização eficiente dos recursos, as ações alcançaram resultados e se contribuíram para uma mudança positiva na situação-problema enfocada pelo projeto.
Todo projeto tem como resultado a prestação de serviços específicos ou a produção de determinados bens. Portanto, quando se pensa em projeto de lazer, pensa-se também em planejamento.