Capoeira: Uma herança cultural afro-brasileira
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Capoeira - Elisabeth Vidor
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
V698c
Vidor, Elisabeth
Capoeira [recurso eletrônico]: uma herança cultural afro-brasileira / Elisabeth Vidor e Letícia Vidor de Sousa Reis. - 1.ed. - São Paulo: Selo Negro, 2013. recurso digital: il.
Formato: ePub
Inclui Bibliografia
ISBN 978-85-87478-94-8 (recurso eletrônico)
1. Cultura afro-brasileira - História. 2. Capoeira - Brasil - História. 3. Capoeira. 4. Livros eletrônicos. I. Reis, Letícia Vidor de Sousa. II. Título.
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CAPOEIRA
Uma herança cultural afro-brasileira
Copyright © 2013 by Elisabeth Vidor e Letícia Vidor de Sousa Reis
Direitos desta edição reservados por Summus Editorial
Editora executiva: Soraia Bini Cury
Editora assistente: Salete Del Guerra
Capa: Alberto Mateus
Imagem de capa: Palê Zuppani/Pulsar Imagens
Projeto gráfico, diagramação e produção de epub: Crayon Editorial
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Este livro é dedicado à memória do amigo Frede Abreu (1946-2013),
competente historiador de capoeira e grande
em sua simplicidade e generosidade.
SUMÁRIO
Capa
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Prefácio
CAPÍTULO 1 - Capoeira: doença moral
e gymnastica nacional
Introdução
O mundo da capoeira carioca no século 19
A repressão
Proclamação da República: por lei, a capoeira se torna crime
A gymnastica brazileira
CAPÍTULO 2 - Duas modalidades esportivas: regional e de angola
Introdução
Bimba é bamba
: a capoeira regional
Pastinha já foi à África pra mostrar capoeira do Brasil
CAPÍTULO 3 - O mundo de pernas para o ar
Introdução
A roda de capoeira: um universo simbólico
O privilégio do baixo corporal: a ginga e os pés
Regional e de angola: duas propostas sociais
Glossário
Referências Bibliográficas
Agradecimentos
PREFÁCIO
O RECONHECIMENTO DA CAPOEIRA no ambiente escolar era, há muito tempo, esperado por todos aqueles que puderam tomar contato direto com essa arte/luta e comprovaram sua relevância na formação do ser humano.
Apresentar esta obra traz-me, portanto, grande alegria e satisfação, ainda mais por ter sido escrita por pessoas que, além do conhecimento científico, também tiveram experiências práticas com o mundo da capoeira.
Essa condição habilita as nossas autoras a ter uma visão objetiva e subjetiva dessa cultura, o que lhes permite reviver traços importantes da história do Brasil, destacando a presença dos negros e suas formas de vida com uma perspicácia e atenção próprias. Elas descrevem os fatos históricos de maneira sutil, o que provoca uma reflexão mais atenta no leitor.
Há muitos anos tenho dito que a capoeira transformou a maneira como olho para as coisas. E, assim, penso que ela também pode transformar a vida das pessoas de modo geral. Costumo dizer que aprendi a gingar na vida com as situações que nos chegam, sejam elas agradáveis ou não. A capoeira, a partir do princípio da esquiva e da flexibilidade, permite-nos olhar os desafios de diferentes ângulos e amplia as possibilidades de solução.
O conjunto de saberes expressos na capoeira é enorme, sendo vasto o que essa arte/luta tem feito por milhares de pessoas ao redor do mundo, a começar pelo Brasil. Entre as várias culturas de resistência negra construídas em solo brasileiro, a capoeira é uma das mais significativas, constituída com base em culturas oriundas da África, em especial as de matriz banto.
O Brasil é conhecido em vários países por sua cultura, marcada por traços heterogêneos e multiformes e trazendo a contribuição africana como um dos seus selos de relevância. As Leis Federais n. 10.639/2003 e n. 11.645/2008, que alteram a LDB de 1996, tornam obrigatório o ensino das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas nas escolas, possibilitando o reconhecimento e a valorização de sua presença no Brasil por meio da educação. Dessa forma, os grupos africanos e nativos do país poderão ter sua contribuição valorizada na formação do povo brasileiro, de preferência da mesma forma que a cultura europeia.
Ao mostrar que a capoeira educa, demonstra-se a sua capacidade, ainda pouco utilizada, de compor a educação formal ministrada nas escolas brasileiras. A capoeira, ao trabalhar com valores humanos, o faz integrando uma série de práticas, entre elas a música, a ginga e a luta. É uma das poucas manifestações culturais-desportivas que agrega tantos elementos.
De prática perseguida tanto na Monarquia quanto no início da República, a capoeira teve a sua trajetória profundamente alterada a partir de sua liberação oficial. Dessa maneira, não estava apenas livre para acontecer no Brasil, mas também para conquistar o mundo; e assim o fez.
Hoje, a capoeira está espalhada em mais de 170 países, sendo aclamada em todos os lugares. Por meio dela, se divulgou o idioma falado no Brasil e outras culturas do país, como o maculelê, o samba de roda e a puxada de rede. Por isso, pode-se dizer que os capoeiristas têm atuado como embaixadores
do Brasil pelo mundo, fato que nos faz lembrar a música Chuck Berry Fields Forever, de Gilberto Gil, na qual o compositor baiano demonstrou o alcance da música africana nos seguintes versos: E assim gerados, a rumba, o mambo, o samba, o rhythm’n’blues/Tornaram-se os ancestrais, os pais do rock and roll
.
A capoeira, assim como a música negra, alterou as estruturas do convencional e estabeleceu uma reinvenção da lógica dada. Ao longo de sua história, ela vem se reestruturando com base em suas heranças mais tradicionais e no diálogo que desenvolve com a atualidade. É tradicional porque guarda em si os valores da ancestralidade e o respeito aos mais velhos, além da oralidade e da transmissão geracional como mais importante forma de continuidade. Mas, acima de tudo, é tradicional porque não está presa a um passado remoto; muito pelo contrário, permanece viva e dinâmica no mundo de