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O Anarquista
O Anarquista
O Anarquista
E-book65 páginas54 minutos

O Anarquista

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Sobre este e-book

Na noite da "Marcha", O Professor terá seus ideais testados da forma mais profunda e libertadora.

Parte sátira política e filosófica, e parte horror de revirar o estômago, O Anarquista, provando mais uma vez que C.SeanMcGee não está nem à esquerda nem à direita da ideologia tradicional e escolarizada, aponta um dedo irônico, ácido e articulado ao idealismo e suas implicações literais.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de mai. de 2019
ISBN9781393192954
O Anarquista
Autor

C. Sean McGee

"I write weird books."

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    O Anarquista - C. Sean McGee

    Capítulo Zero

    Capítulo Um

    Capítulo Um Ponto Cinco

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Também por C. Sean McGee

    Capítulo Zero

    Viver enclausurado é viver vazio, disse O Professor, circulando pela sala de aula com passos lentos, olhando para as lajotas decoradas sob seus pés, e ignorando as expressões estupefatas dos alunos, já sabia que seus ares de espanto não eram por conta da definição abstrata que suas palavras carregavam, mas pelo porte do seu personagem.

    Vocês já sabem ele disse, tudo que tem para se saber. Já viram todos os filmes, já assistiram todos os documentários, vocês estão vivendo nisso, merda, se exaltou, as palavras, como pequenos estilhaços, voavam da sua boca e cortavam o ar de ingenuidade profissional que supostamente separava ele dos seus alunos, e o conhecimento da verdade. Vocês estão mergulhados nisso, mal conseguindo manter suas cabeças acima dessa água fétida e pungente, dessa latrina de ambição voraz.

    O Professor se portava como um messias e falava como um ditador. Articulava todas as suas palavras sem hesitação; sem dúvida, sem indecisão. Ele apertava suas mãos enquanto falava, como se estivesse estrangulando o pescoço esguio de todas as autoridades que condenava. E apesar de seus braços não serem definidos ou musculosos, ele tinha ares de alguém com quem ninguém gostaria de medir forças. Ele parecia — por trás de suas vestes acadêmicas — como os jovens adultos que ensinava, com um mar inflamado de motim e ódio, que poderia ser atiçado e atirado contra os limites da complacência a qualquer segundo.

    Sua barba era cultivada. Cheia, mas não descuidada. Parecia bem mantida e condicionada. Os rapazes da classe também usavam barbas, seus rostos eram como o traseiro achatado e macio de um urso pardo, todos inspirados pelo homem que lhes passava conhecimento, inspiração, direção, e que os fazia sentir como se eles próprios importassem.

    As garotas da classe, todas queriam transar com ele.

    E os garotos, todos queriam ser como ele.

    Seu nome era Stephan, mas não importava, eis que para seus alunos, aqueles que apreciavam cada palavra sua e se deleitavam com cada idéia concebida por ele, aqueles que sentavam, absortos em pensamentos e com atenção inquestionável, aqueles que eram uma versão muito mais jovem dele, referiam-se a ele por apenas um nome, apenas um título — Professor.

    Vejam os pobres de hoje. O salário mínimo, por exemplo. A família média irá receber apenas um quinquagésimo do que um banqueiro faz por mês. O que esse salário pode comprar? Um telhado de merda sobre suas cabeças em alguma baixada arruinada e desamparada. Sem água encanada ou saneamento básico, doenças e violência em abundância, e no final, mal sobra dinheiro para pôr arroz e feijão na mesa. Então, o que você vê é a maior parte do país, viajando longas distâncias para chegar ao trabalho e que acabam vivendo em condições miseráveis, com dinheiro suficiente apenas para comer, beber e se impressionar com as notícias, futebol, novelas e programas de auditório. Eles têm uma renda escassamente suficiente para sobreviver — para manter suas cabeças acima da água, mas não para fazer a diferença — para nadar de volta à margem. Olhem o passado, cerca de duzentos anos atrás mais ou menos, pegue a inflação de todos esses anos, e o que ela compreende — esse salário mínimo. Em quê isso culmina? Em quê resulta trabalhar dura e penosamente por horas exorbitantes, viver em condições esquálidas, com nada além de restos de comida e da esperança de não serem açoitados — a única vantagem que a servitude traz?.

    Os alunos deleitavam-se com cada palavra dita, e ele sabia, não era nenhum amador. O Professor já havia ministrado esse sermão dia após dia, mês após mês, e ano após ano, por tanto tempo que agora ele era um mestre dessa arte.

    Escravidão, ele disse, sentando com as pernas cruzadas na sua mesa, suas mãos batendo nas bordas encardidas dos seus sapatos puídos. Pensem nisso, continua. Escravos recebendo nada mais que um teto vagabundo sobre suas cabeças e restos de comida, partes de animais que não chegam a ser aptas para consumo. A escravidão ainda existe. Não se deixem enganar. Os pobres, nenhum deles pode mudar sua condição. Vocês não acham que um verme iria preferir um pedaço de presunto ao invés de um naco de merda fumegante?.

    A classe explodiu em risos, risos decadentes.

    Mas o que nós devemos fazer? O que podemos fazer?, perguntou um aluno, com ar abatido, "Parece que tem tanta coisa acontecendo, todos esses problemas conflitantes, que eu

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