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Ken Saro-Wiwa: Um Olhar do Fronte, Uma Voz do Delta
Ken Saro-Wiwa: Um Olhar do Fronte, Uma Voz do Delta
Ken Saro-Wiwa: Um Olhar do Fronte, Uma Voz do Delta
E-book180 páginas2 horas

Ken Saro-Wiwa: Um Olhar do Fronte, Uma Voz do Delta

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Sobre este e-book

Conhecer um país, suas múltiplas populações e faces é algo que, muitas vezes, parece simples, pela crença de que tal conhecimento está disponível ao alcance das mãos, em diferentes tipos de fonte. No entanto nenhuma perspectiva compara-se à daqueles que fazem parte de tais territórios e de seus acontecimentos.

Ao considerar a história da Nigéria, mais precisamente de regiões como a do Delta do Níger, por exemplo, vê-se o problema da distorção de muitos discursos que apresentam aquelas terras e povos pelo mesmo olhar homogeneizador sob o qual descrevem boa parte do continente africano; isso, sem contar a famigerada "ação salvadora" e desenvolvimentista que o elemento estrangeiro estabeleceu, tão divulgada pelas ditas versões oficiais. Tomando, então, uma "voz original" (não só por seu berço nigeriano, mas por sua coragem e atuação únicas), pode-se perceber que há muito o que se descobrir sobre os efeitos da presença do colonizador europeu na Nigéria, principalmente sobre a guerra e a falência da noção de nacionalidade.

Ken Saro-Wiwa: um olhar do fronte, uma voz do Delta é, portanto, uma das possibilidades de compartilhar a perspectiva de um dos maiores nigerianos, escritores, ativistas e combatentes da luta intelectual que viveram e morreram, no final do último século, pela defesa da Nigéria.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mai. de 2019
ISBN9788547324926
Ken Saro-Wiwa: Um Olhar do Fronte, Uma Voz do Delta

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    Pré-visualização do livro

    Ken Saro-Wiwa - Celina de Oliveira Barbosa Gomes

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Aos amores que fazem o coração pulsar de verdade.

    Ao meu marido, Maurílio...

    Ao amor que comigo originou outro amor, nossa Manuela.

    Books and all forms of writing have always been

    objects of terror to those who seek to suppress truth.

    (Wole Soyinka)

    APRESENTAÇÃO

    Estudar a África sob uma perspectiva que diverge dos discursos imperialistas e colonialistas é contemplar sua pluralidade e caracterizações de forma a construir uma leitura mais coerente dos modos de vida e de sobrevivência dos habitantes daquele continente; é possibilitar uma compreensão alternativa sobre contextos pré-coloniais, coloniais e pós-coloniais e sobre as consequências das empreitadas europeias naqueles cenários.

    Pensando no escopo da Nigéria, país considerado nesta investigação, tal perspectiva pode elucidar como a ação das forças inglesas no período colonial e pós-colonial enfraqueceram conceitos de identidade, autonomia e sociedade, bem como a importância de heranças étnicas e culturais. Por outro lado, está, também, atenta para questões como as disputas internas entre as maiorias étnicas, a saber, os grupos Ioruba, Igbo, Haussá e Fula, e as minorias, como é o caso da etnia Ogoni, localizadas no Delta do Níger, região de farta concentração de petróleo e palco, por conseguinte, de intensos conflitos territoriais. Esta abordagem evidencia, a partir da análise do romance Sozaboy: a novel in rotten English, do escritor nigeriano Ken Saro Wiwa, e de extensa pesquisa bibliográfica, o caos provocado pela guerra em uma dessas problemáticas regiões nigerianas e o processo de desalienação pelo qual passam seus habitantes, metaforizados na comunidade de Dukana e, mais especificamente, no personagem Mene, o Sozaboy. Tem-se, nesse cenário, uma desalienação que, na realidade, é sintomática do próprio autor, haja vista as profundas correspondências entre ele e o protagonista do texto.

    A obra tenta demonstrar de que forma problemas como a corrupção, a falência da liderança estatal, a ganância pelo poder e o desprezo pela identidade autóctone colaboraram para a dizimação ambiental, humana e social de Dukana, ao mesmo tempo em que propiciaram o amadurecimento do jovem Mene, num processo que considero próprio do Bildungsroman.

    Assim, o texto contempla as relações entre a literatura e a história da África, especialmente da Nigéria, empregando a categoria genérica do Bildungsroman, a fim de acentuar tanto o processo de desalienação e maturação do personagem principal quanto sua estrutura – conceitual e ideológica ‒ antiguerra.

    A autora

    PREFÁCIO

    Como era apregoado pelo próprio Ken Saro-Wiwa, sua literatura não se dissociava da política, da defesa daqueles cuja voz foi há muito silenciada. Para ele, o intelectual deveria valer-se de sua condição para mobilizar corpos e pensamentos em defesa de sua nação, a Nigéria – e de muitas nações dentro dela, como a comunidade dos Ogoni, por exemplo –, adulterada pela presença do colonizador europeu. Por isso, seus textos promovem, por meio de uma tessitura estética peculiar e por uma genialidade na condução da palavra, sucessivos questionamentos, mas também elucidações sobre como muitos nigerianos foram (e estão sendo) assaltados em sua soberania nacional; mais do que isso, em sua própria condição de sujeitos, de seres humanos. Apresentar a obra de Saro-Wiwa é celebrar seu legado, mas, ao mesmo tempo, dar continuidade ao seu combate literário em prol dos segregados, oprimidos e assassinados pela elite estatal e étnica, cooptada, sobretudo, pelo poder estrangeiro; é lutar, ainda, pela desconstrução de verdades que promovem a ideologia de uma dependência autóctone em relação ao colonizador europeu, o qual tinha um interesse muito mais financeiro do que necessariamente altruísta no continente africano.

    Ken Saro-Wiwa: um olhar do fronte, uma voz do Delta apresenta-se como uma das possíveis leituras e apreciações que se pode fazer da vida, da atuação e da obra de Saro-Wiwa, atestando sua identidade plural (de ex-soldado, ex-funcionário do governo, escritor, professor, editor, intelectual, ativista político, ambiental, étnico e cultural) amalgamada na de um intelectual da ação. O texto é introduzido pela apresentação do romance antiguerra do autor, Sozaboy: a novel in rotten English, o qual servirá como metonímia para o conhecimento de sua produção; a obra é mesmo sintomática de sua própria vida e de sua desilusão com os rumos que seu país vinha tomando.

    Em seguida, como forma de orientar o leitor sobre a temática e até mesmo sobre a gênese da luta de Saro-Wiwa, o primeiro capítulo trará um panorama da história da colonização africana pelos europeus, especialmente da dominação britânica da Nigéria. Esse capítulo tratará também da questão da exploração do petróleo em regiões como o Delta do Níger e da segregação e subjugação de minorias étnicas, como o povo Ogoni. Finalmente, mostrará aspectos da vida e da atuação política de Ken Saro-Wiwa, questões que determinaram sua escrita e que acabaram por levá-lo à prisão e à condenação à morte.

    O segundo capítulo discutirá a obra plural do autor e sua recepção crítica, explorando características de sua escrita e as interfaces que sua arte política estabelecia com o contexto de produção. Alguns de seus textos de maior expressividade serão apreciados nessa seção, a fim de enfatizar sua coerência política e artística.

    No terceiro capítulo serão apresentadas particularidades do romance Sozaboy: a novel in rotten English. Aqui também será abordado o aspecto linguístico-discursivo da obra. Como se deduz pelo título do livro, o uso da língua inglesa no romance é um tema que merece atenção.

    O romance será propriamente analisado no quarto capítulo, que se foca no problema da desalienação e da formação do indivíduo, o que contempla algumas características do chamado Bildungsroman.

    Finalmente, o quinto capítulo tratará das Considerações Finais sobre a obra.

    Ainda, um Glossário será relacionado ao final do livro, como forma de mediar a compreensão de termos do chamado rotten English, bem como dois anexos, que ilustrarão a localização e a configuração linguística do contexto de atuação de Ken Saro-Wiwa, o qual é considerado em seu Sozaboy e em outras de suas produções; são duas figuras, nominadas respectivamente como Mapa Étnico da Nigéria – Localização da Etnia Ogoni e Mapa Linguístico da Nigéria – Línguas utilizadas pela Etnia Ogoni.

    Um texto de fôlego, portanto, Ken Saro-Wiwa: um olhar do fronte, uma voz do Delta pretende colaborar para o projeto primeiro desse grande escritor e ativista nigeriano: o de contar, pela voz literária, as muitas histórias que ficaram no desvão da História, da Nigéria e, por assim dizer, de muitos outros espaços do território africano tocados pelo colonizador.

    Vicentônio Regis do Nascimento Silva

    Doutor em Letras, escritor e crítico literário

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    capítulo 1

    A COLONIZAÇÃO NA ÁFRICA, A NIGÉRIA E KEN SARO-WIWA

    1.1. A COLONIZAÇÃO EUROPEIA NA ÁFRICA E O ESTABELECIMENTO DE TRADIÇÕES INVENTADAS

    1.2. A DOMINAÇÃO INGLESA NA NIGÉRIA, SUAS CONSEQUÊNCIAS E A BUSCA PELA INDEPENDÊNCIA

    1.3. KEN SARO-WIWA: ASPECTOS DA VIDA E DAS LUTAS DE UM INTELECTUAL DA AÇÃO

    capítulo 2

    KEN SARO-WIWA: UM ESCRITOR DE MUITAS FACES

    2.1. UMA ESCRITA, DIVERSOS GÊNEROS

    2.1.1. Romances

    2.1.2. Peças teatrais e adaptações para a TV e o rádio

    2.1.3. Contos e poesias

    2.1.4. Memórias e diários

    capítulo 3

    SOZABOY: A OBRA ANTIGUERRA DE KEN SARO-WIWA

    3.1. ENREDO: MENE E A GUERRA DE BIAFRA

    3.2. SOZABOY E O ROTTEN ENGLISH: A LÍNGUA COMO SUBVERSÃO

    3.3. RECEPÇÃO CRÍTICA DE SOZABOY

    capítulo 4

    SOZABOY: DESALIENAÇÃO E O BILDUNGSROMAN

    4.1. ALIENAÇÃO E DESALIENAÇÃO EM SOZABOY

    4.2. SOZABOY E O BILDUNGSROMAN: RELAÇÕES

    4.2.1. O conceito de Bildungsroman

    4.2.2. Sozaboy: um romance do gênero Bildungsroman?

    capítulo 5

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    GLOSSÁRIO

    ANEXOS

    ANEXO A – AMAPA ÉTNICO DA NIGÉRIA – LOCALIZAÇÃO DA ETNIA OGONI

    ANEXO B – MAPA LINGUÍSTICO DA NIGÉRIA – LÍNGUAS UTILIZADAS PELA ETNIA OGONI

    INTRODUÇÃO

    Considerar a produção literária de Ken Saro-Wiwa, propriamente a obra Sozaboy: a novel in rotten English, é, sem dúvida, uma tarefa que ultrapassa os limites da análise textual e coloca ao pesquisador o desafio de buscar compreender a história da Nigéria e, em certa medida, do continente africano. Isso, a partir de uma perspectiva capaz de confrontar a biblioteca colonial, nos termos de Mudimbe (1994), e subverter um discurso imperialista produtor, em última instância, de estereótipos e pré-conceitos.

    Sua escrita politizada evidencia não só a falência de instituições políticas e sociais na Nigéria, mas ressalta as consequências de uma história de subjugação e resistência, a cooptação de autoridades locais e a manipulação do poder em detrimento das camadas desfavorecidas da sociedade. Em seus textos, Saro-Wiwa expõe e condena os desmandos do capitalismo financeiro, sobretudo no que tange à devastação do meio ambiente por companhias como a Shell e a Chevron, e ao massacre do seu povo, os Ogoni. Reescreve, portanto, a história de um presente que pode ser chamado de neocolonial, mas que tem suas raízes no colonialismo britânico do século XX.

    Considerando o teor de Sozaboy, vê-se que a narrativa saro-wiwiana denuncia sem reservas as consequências da alienação na condução da vida de uma população, de uma comunidade e mesmo de uma nação. Isso, no sentido de que essa alienação pode lhes tolher a possibilidade de reflexão sobre as reais situações em que estão vivendo. Em seu romance antiguerra, esse alheamento vai ser tão expressivo que o confronto armado arrasará com as vidas de muitos que sequer entenderão como e por que razão tudo está acontecendo. Só no desfecho

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