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Educação e Audiovisualidades
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E-book328 páginas4 horas

Educação e Audiovisualidades

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Sobre este e-book

A coletânea que constitui Educação e audiovisualidades é o encontro do trabalho recente de pesquisadores, em alguns casos com a colaboração de seus orientandos, que estudam as imagens – visuais, sonoras etc. – como práticas e assunto da Educação, porquanto forças formativas.

O cinema, a televisão, o teatro, a videoarte, o videogame e tantas outras produções audiovisuais acompanharam nossas vidas ao longo do século XX e na atualidade impõem-se como recurso e desafio, ao entendimento do mundo, dos sujeitos e de seus coletivos, o que torna praticamente impossível pensar ou problematizar os nossos cotidianos desconsiderando as imagens de toda ordem. Presença inseparável das realizações culturais do nosso tempo, as imagens são cada vez mais úteis às reflexões sobre e com a Educação e a formação humana, sobretudo quando se considera a ideia da tessitura dos conhecimentos em redes e da invenção de si e do mundo, na contingência de uma cultura eminentemente imagética e imaginal. É esse feliz encontro de perspectivas que norteia e reúne os pesquisadores nesta coletânea.

Esperamos oferecer um panorama de enfoques e experiências oportunas à reflexão atual sobre as relações entre imagens e Educação e, assim, fomentar a ampliação do diálogo e da reflexão sobre o tema.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de jul. de 2019
ISBN9788547312183
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    Pré-visualização do livro

    Educação e Audiovisualidades - Aldo Victorio Filho

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    PREFÁCIO

    Inspirados pelas ideias de Deleuze e Larrosa, entendemos que um livro não tem objeto nem sujeito, mas é composto por muitas e diferentes linhas de segmentaridade, articulação, velocidades, intensidades e exterioridades. Sendo assim, não interessa e nem seria possível descrever, narrar, antecipar ou tentar elogiar uma livro-forma em seu conteúdo, pois não sabemos, de antemão, o que um escrito é capaz de produzir em cada pessoa que o lê.

    Com isso, pensamos as formas-livros como entidades imutáveis, fixas, com interioridades Orgânicas, cujos diferentes sentidos criados-provocados ou não, só seriam tecidos-externados à medida que cada um de nós se dispusesse a (com)por com as suas páginas. É como se, no lugar da ideia comum de acreditar que ao ler um livro nós arrancamos de suas palavras os sentidos lá impressos pelos seus autoresautoras, nós passássemos a considerar que, de fato, o que acontece é que são as leitorasleitores que imprimem diferentes sentidos nas folhas escritas.

    Assim, os livros seriam pensados como possibilidades potentes de produção e não de desvelamento de sentidos, provocando aberturas para constituição de territórios existenciais e, também, de processos de desterritorializações e reterritorializações. Ou seja, os livros só existem naquilo que conseguem agenciar pelo fora e no fora, isto é, nas afecções que são capazes ou não de produzir em leitoresleitoras, levando-nos a arriscar pensar que, de fato, não lemos um livro, somos lidos por eles.

    De início, o convite para prefaciar este livro foi aceito como uma tentativa de (com)por com a abordagem política proposta para a temática das audiovisualidades em suas múltiplas relações com a área da educação, resultando em uma efetiva ocasião de nos forçar a pensar e a produzir sentidos durante as leituras dos capítulos, tendo em vista que esse é um assunto recorrente nas pesquisas que coordenamos.

    Entretanto conforme íamos percorrendo os escritosimagens da obra fomos sendo mobilizados por outras forças, também políticas, além daquelas iniciais relacionadas ao tema. Forças outras que foram se constituindo em meio às relações de amizades-afetos que temos com as autorasautores deste livro. Forças outras que estão para além das leituras que somos obrigados a fazer, e que nos agenciam, nos movem pelos fluxos dos afetos que são capazes de provocar.

    Para nós, essa é a maravilha que acontece ao ler um livro! Deixar-se (co)mover por uma força-política que não se explica pela razão. Uma política-força que não se reduz nem ao tema-forma, nem à simplificação da leitura como decodificação do que está escrito. Uma força política maior e mais intensa que, em nosso caso em relação a este livro, foi expressa pelas redes de amizades-políticas das quais temos participado no decorrer de nossa vida acadêmica.

    Assim, fazendo minhas as palavras de Larrosa, se vocês, leitoresleitoras, são do tipo que não se deixam diminuir, são do tipo que não gostam que te digam o que devem fazer e como deveriam pensar... Se vocês não são daqueles que procuram nos livros um modo de se sentir maiores e mais importantes pelo recurso infame de se colocar acima dos demais com citações e verborragias... Se vocês não são daqueles que se autorizam, arrogantemente, a falar em nomes dos outros... Se vocês estão fartos que se dirijam a vocês constituindo-os como qualquer genérico...

    Enfim, se vocês buscam nas leituras que fazem outras-diferentes possibilidades de produzir sentidos para a vida, de modo a tentar furar os clichês que, muitas vezes, paralisam-nos diante dos acontecimentos cotidianos, então vocês gostarão deste livro.

    Boa leitura!

    Vitória, março de 2017

    Carlos Eduardo Ferraço

    Prof. Dr. da Universidade Federal do Espírito Santo

    Vice-presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e

    Pesquisa em Educação – ANPEd/Região Sudeste

    Sumário

    CONVERSAS COM PESQUISAS SOBRE EDUCAÇÃO E AUDIOVISUALIDADES

    Aldo Victorio Filho

    Aristóteles Berino

    Maria da Conceição Silva Soares

    1 - EDUCAÇÃO E INICIAÇÃO

    Michel Maffesoli

    Gustavo Coelho

    2 - GESTOS TECNOLÓGICOS: O QUE SE PASSA NA REDE QUANDO NADA PARECE SE PASSAR?

    Maria Jacintha Vargas Netto

    3 - CULTURA VISUAL: CIDADE, ARTES VISUAIS E EDUCAÇÃO

    Aldo Victorio Filho

    4 - A INVENÇÃO DE SI, DO OUTRO E DA DIFERENÇA SEXUAL NAS TELAS DO YOUTUBE: SEXO E GÊNERO COMO PRÁTICAS CULTURAIS

    Leonardo Nolasco-Silva

    Maria da Conceição Silva Soares

    Simone Gomes da Costa

    5 - ENTRE TEATRO E AUDIOVISUALIDADES: PARA DESFAZER AS RIVALIDADES NA SALA DE AULA

    Mônica Torres Bonatto

    Gilberto Icle

    6 - AS PESQUISAS COM OS COTIDIANOS E IMAGENS: USOS, CONSUMOS E FORMAÇÃO COM IMAGENS DE PROFESSORES NO CINEMA

    Nilda Alves

    Rebeca Brandão Rosa

    Nilton Alves

    7 - POR OUTROS MODOS DE FORMAÇÃO EM GÊNERO, SEXUALIDADES E CINEMA

    Hugo Souza Garcia Ramos

    Alexsandro Rodrigues

    8 - A ESCOLA VIVIDA NO YOUTUBE: IMAGENS, PRESENÇAS E FULGURAÇÕES JUVENIS

    Aristóteles Berino

    9 - PÓS-64/1970, OS 50 ANOS DA DITADURA MILITAR NO BRASIL & "O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS": ENSINO-APRENDIZAGEM DA RESISTÊNCIA.

    Hiran Pinel

    10 - A VIGILÂNCIA COMO SABER ARCAICO: NARRATIVA MODERNA E CONTROLE

    João Barreto da Fonseca

    11 - UMA EX-POSIÇÃO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO FILMES E CONVERSAS: POR UMA ESTÉTICA DOS ENCONTROS

    Sandra Kretli da Silva

    Jair Miranda de Paiva

    12 - OS DENTROFORA DAS ESCOLAS E A TESSITURA DE REDES: CONVERSANDO COM OS FILMES A BUSCA E VALENTIM

    Erika B. Arantes

    Joana Ribeiro dos Santos

    Sônia Maria Santos Pereira Rocha

    13 - fábulas e o mito de baianidade

    Danillo Barata

    14 - Pensar as imagens a partir do papel docente: Um olhar a partir da cultura visual

    Gonzalo Vicci

    SOBRE OS AUTORES

    CONVERSAS COM PESQUISAS SOBRE EDUCAÇÃO E AUDIOVISUALIDADES

    Aldo Victorio Filho

    Aristóteles Berino

    Maria da Conceição Silva Soares

    A coletânea que apresentamos é uma reunião de artigos de pesquisadores, em alguns casos com a colaboração de seus orientandos, que estudam as imagens, visuais, sonoras etc., como práticas e assunto da educação e da formação.

    O cinema, a televisão, o teatro, a videoarte, o videogame e tantas outras produções audiovisuais marcaram presença constante em nossas vidas ao longo de todo e século XX e se agudizam na atualidade, o que torna praticamente impossível pensar nossos cotidianos sem as imagens de toda ordem que os povoam, atravessam e constituem. Presença inseparável das realizações culturais do nosso tempo e mesmo dos processos formativos e da educação. São experiências que o cineasta Cacá Diegues¹ assim qualificou: Tudo que aprendi de importante na vida, aprendi primeiro vendo filmes. Reconhecimento que ultrapassa a influência do interesse profissional, do mercado e da indústria audiovisual. As imagens como as do cinema e demais suportes e mídias são inseparáveis do nosso contato com mundo, da invenção de nossas histórias e memórias, da produção de subjetividades e da criação das narrativas do presente.

    As formas de exibição das imagens se multiplicam a cada dia e as produções se disseminam, circulam e convergem por entre variadas plataformas, em uma migração incontrolável por diferentes telas (impressos, cinema, televisão, telões, computador, tablets, celulares). Do mesmo modo, a produção audiovisual se intensifica e se realiza por meio de dispositivos cada vez mais baratos e de fácil operacionalidade (smartfones, tablets, máquinas fotográficas que filmam, pequenas filmadoras etc.), resultando em uma produção/consumo/produção sem precedentes. A própria compreensão do que é uma imagem caminha para o transbordamento das fronteiras antes postas e que produzem clivagens entre produtores, espectadores, formatos, lugares de exibição e linguagens. O termo imagem embaralha fronteiras entre emissor e receptor, profissional e não profissional, comunicação, educação e arte, gêneros e códigos, entre outras categorias ou classificações anteriormente impostas pela técnica, pelos aparelhos, pelo mercado, pela crítica e pelas teorias. As narrativas imagéticas contemporâneas, associadas aos sons ou não, são efêmeras e híbridas, produzidas e consumidas em redes, apropriadas, mixadas e tecidas pelos usuários das mídias e das tecnologias, a partir composições e enfrentamentos entre diferentes regimes visuais, sonoros e imaginais em diversas combinações.

    Atualmente, com um celular em mãos é possível assistir, produzir, comentar, armazenar e compartilhar imagens, incluindo-se aí fotografar, filmar, editar e veicular, a qualquer hora, em qualquer lugar, em tempo real (não diferido), em movimento ou não. Além dos celulares, as câmeras de vigilância, as webcam, as máquinas fotográficas, os tablets e as filmadoras estão por toda parte, coengendrando atitudes e posturas que mobilizam não só o olho, mas todo o corpo e todas as nossas redes de conhecimentos e significações, diante e atrás das lentes. Nessas circunstâncias, precisamos pensar, antes de tudo, nos processos e dispositivos implicados na construção social do olhar. No que forma e disforma a experiência da criação e fruição das imagens.

    Assim como em outros contextos da nossa vida cotidiana, os aparelhos de produção e de veiculação de imagens habitam as salas de aula, com ou sem a permissão dos professores, independente dos planos de curso ou dos projetos pedagógicos. Eles entram nos espaços-tempos escolares nas mochilas e/ou nos bolsos dos alunos (mas também de professores e demais funcionários), deixando para trás a exibição apenas em lugares e horários reservados para isso, como é o caso dos arquivos pessoais ou coletivos ou as salas de vídeo, em que ainda são exibidos, geralmente em televisores, os DVDs selecionados pelos professores em função dos conteúdos demandados pelas disciplinas ou então aqueles que visam ao entretenimento em dias especiais na falta um professor ou quando chove e não se podem usar as quadras; o mesmo ocorre com os suportes físicos das escolas sempre e imediatamente alcançados pelos olhares, paredes e muros.

    O meio virtual é crescentemente ocupado pelos personagens da vida nas escolas para realização de atividades escolares e variados registros com imagens sonoras e visuais. As chamadas redes sociais são pontos de encontro para alunos, professores e educadores. Encontros muitas vezes segmentados: grupos são criados para correspondência entre professores ou entre alunos. Outras vezes grupos são criados para dar segmento ao encontro da sala de aula − ou mesmo para um contato exclusivamente realizado por meio da internet. São relacionamentos em que as imagens são parte da linguagem e das conversas, mesmo quando não são seu assunto principal. Novas mídias e meios contam com imagens como parte constante das suas produções, inclusive quando exploradas por educadores e educandos.

    Nas redes sociais vamos encontrar narrativas sobre as escolas − seus cotidianos, suas fantasias, suas sociabilidades etc.− e uso de imagens e sons fazem parte das inúmeras tessituras que fabulam. Fotos e audiovisuais em diferentes formatos são postados comunicando acontecimentos ou fantasias que transcorrem nas escolas ou a partir delas. Novos dispositivos e também novas subjetividades se encontram com outras possibilidades narrativas. Com maior frequência, talvez até de forma dominante, hoje conhecemos melhor, mediante criações audiovisuais realizadas por alunos e disponibilizadas, por exemplo, no YouTube, como a escolas são vividas e vistas pelos próprios estudantes.

    Não apenas os espaços virtuais são conquistados como espaços de educação. As imagens, em nossos tempos, habitam também as múltiplas redes educativas e os espaços e tempos das cidades. Diferente de uma desconfiança lançada em direção ao mundo virtual, nossa relação com as ferramentas digitais não nos fixaram ao redor das máquinas. As cidades são redescobertas e percorridas de outras formas quando as possibilidades de registrar, filmar e intervier foram potencializadas por novos equipamentos eletrônicos, miniaturizados, portáteis e com múltiplas funções reunidas em poucos objetos.

    Pensar a educação e a formação considerando a ideia da tessitura dos conhecimentos em redes e da invenção de si e do mundo, na contingência de uma cultura eminentemente imagética e imaginal, é o que propõem os pesquisadores reunidos nesta coletânea.

    No primeiro capitulo, intitulado Educação e Iniciação, Michel Maffesoli e Gustavo Coelho questionam a dicotomia entre essas duas maneiras diferentes de promover a integração das crianças à vida coletiva. Eles refletem sobre como uma ideia de educação baseada em fundamentos da cultura judaico-cristã e na perspectiva da transformação, por meio da condução dos indivíduos e da sociedade de uma condição indesejável a outra almejada (da animalidade à humanidade, da barbárie à civilidade) está no cerne da constituição da modernidade e da racionalidade científica, que ao longo dos tempos caracterizou-se por um conformismo intelectual.

    A iniciação, por sua vez, encontrada nas sociedades tradicionais, é compreendida pelos autores como uma maneira em fazer acontecer o que, supostamente, ou talvez virtualmente, já está lá, à altura do cotidiano. Nessa perspectiva, Maffesoli e Coelho propõem retomar a ideia de iniciação como possibilidade de reverter o desencantamento produzido por esse tipo de educação, fundamentada nas ideias de civilidade, progresso, racionalidade, redução da heterogênese e perfeição. A imagem que eles propõem para essa retomada não é a do círculo, como na ideia do eterno retorno de Nietzsche, mas a do espiral, em que elementos de culturas tradicionais no contexto da pós-modernidade possibilitam reinvenções de modos considerados arcaicos de se integrar à coletividade, agora antenados com as possibilidades tecnológicas engendradas no presente.

    Quais os regimes de audiovisualidades, de educação e de diferença que estão sendo tecidos a partir de nossas vidas na web? Essa é a questão que mobiliza o pensamento desenvolvido no segundo capítulo, Gestos tecnológicos: o que passa na rede quando nada parece se passar?, de Maria Jacintha Vargas Netto. No caminho trilhado pela autora, a tecnologia é tomada como um dispositivo programado para determinados fins, mas ressignificado pelas possibilidades inauguradas a partir de seus usos pelas pessoas, nas culturas. Assim, os gestos que praticamos criam mundos.

    Os gestos tecnológicos, nesse contexto, são criados com os próprios usos das tecnologias e estão implicados na fabricação das subjetividades e na invenção de sentidos atribuídos ao mundo. O que está em questão é como esses novos gestos vêm provocando aberturas estéticas nas nossas relações com os regimes de audiovisualidades praticados no digital em rede, como eles vêm provocando aberturas epistemológicas em nossas relações com o ato educativo a partir do digital em rede.

    No terceiro capítulo, Cultura visual: cidade, artes visuais e educação, Aldo Victorio Filho problematiza aspectos que considera centrais nas relações entre a educação formal e a superprodução/circulação das imagens visuais que caracterizam a atualidade do mundo. Nessa contingência, somos produtores e produtos de uma intensa relação com o universo simbólico, estético e visual, por meio dos quais configuramos a vida e suas histórias e narrativas. Diante do aprimoramento das tecnologias que acompanha a crescente sofisticação dos sistemas simbólicos, cabe às Artes Visuais, na lógica curricular da Educação, o enfrentamento elucidador do jogo das visualidades contemporâneas.

    Assim entendendo, Victorio Filho reflete sobre a rede que compõe a formação docente e sugere que ela é atravessada pelas energias dos valores mais dominantes na sociedade. Para o autor, é no âmbito da atuação determinante das imagens visuais nos tempos de agora que os desafios não livram nem quem olha nem quem é visto e, por isso, a fabricação do olhar ganha importância e significação inéditas nesse contexto.

    No capítulo intitulado A invenção de si, do outro e da diferença sexual nas telas do YouTube: sexo e gênero como práticas culturais, o quarto desta coletânea, Maria da Conceição Silva Soares, Leonardo Nolasco-Silva e Simone Gomes da Costa discutem modos cotidianos de fazer-narrar, produzir e atrapalhar as significâncias na contemporaneidade, destacando as múltiplas formas de praticar audiovisualidades e, por meio delas, problematizar as redes de significações hegemônicas sobre gênero e sexualidade. Em seus questionamentos, os autores indagam: que corpos-gêneros-sexualidades os usuários do digital em redes fabricam com as práticas no online dos dias? Como nos tornamos inteligíveis para nós mesmos a partir dos gestos de ver, produzir, compartilhar e comentar audiovisualidades? Como o devir de nossa autoimagem, em sua imprevisibilidade, transforma-nos em outros?

    Soares, Nolasco-Silva e Costa sublinham que a investigação que realizam acontece em um instante da história no qual o Brasil discute a viabilidade de abolir o debate sobre gênero e sexualidade nas escolas e sugerem que seu trabalho aposta na resistência das falas e dos gestos que não se calam e não se dobram. Com essa perspectiva, destacam vídeos contra a homofobia produzidos como trabalhos escolares e compartilhados pelos estudantes de várias regiões do país no YouTube, situando-os no contexto de uma rede de produções audiovisuais produtoras e problematizadoras de significâncias em relação às questões LGBT.

    No quinto capítulo, Entre teatro e audiovisualidades: para desfazer as rivalidades na sala de aula, Gilberto Icle e Mônica Torres Bonatto discutem as relações entre teatro e tecnologia, em especial, no uso das audiovisualidades como dispositivos produtivos na Pedagogia Teatral na educação escolarizada.

    Os autores buscam demonstrar que, apesar de certa resistência da Pedagogia Teatral, os aparatos tecnológicos, naturalizados na vida dos estudantes, produzem dois movimentos que reconfiguram a sala de aula de teatro: o primeiro reporta ao vínculo das práticas teatrais em sala de aula com o teatro contemporâneo e o segundo se refere à possibilidade de alargamento das fronteiras do que vamos compreendendo como sendo o teatro que se deve ensinar e aprender na sala de aula. Trata-se de pensar a interface entre a tecnologia e a presença, entre o corpo como fonte de ação e movimento e o corpo como lócus dos aparatos tecnológicos.

    O modo como as imagens operam nas pesquisas nos/dos/com os cotidianos é a questão que anima o capítulo seis, As pesquisas com os cotidianos e imagens: usos, consumos e formação com imagens de professores no cinema, de autoria de Nilda Alves, Rebeca Brandão Rosa e Nilton Alves. Para eles, as imagens nessa tendência em pesquisa são compreendidas como personagens conceituais, numa apropriação singular da teorização de Deleuze e Guattari, inferindo no que suas presenças nos convocam a pensar.

    Tendo em vista essa discussão, Nilda Alves, Rebeca Brandão Rosa e Nilton Alves trazem para o texto uma experiência com cineclube, vivenciada com "discentesdocentes" do curso de pedagogia da Uerj, destacando a composição de um mosaico com imagens de professores apresentadas nos filmes vistos. Os autores apostam nos clichês como modo de produção de conhecimentos e significações, que possibilitam identificação e reconhecimento, mas também transgressão.

    No sétimo capítulo, Por outros modos de formação em gênero, sexualidades e cinema, Alexsandro Rodrigues e Hugo Souza Garcia Ramos questionam as políticas oficiais de formação docente que muitas vezes separam a formação do espaço do cotidiano e da própria vida e propõem, numa direção contrária, o que definem como uma formação inventiva. Trata-se de uma política de formação que pensa o processo formativo como invenção de si e do mundo. Nessa contingência, o cinema é tomado como uma componente da formação docente, como coengendramento de si e de mundo, pois ele age sobre a vida, faz ver o nosso mundo diferentemente.

    Nessa perspectiva, Ramos e Rodrigues apresentam e analisam nesse capítulo uma experiência em formação de professores em que diferentes filmes operavam como disparadores de afetações, produzindo diversos diálogos, desvios, bifurcações, lembranças de relatos de experiência pessoal e profissional. Ainda segundo os autores, nesse processo foi possível constituir uma experiência compartilhada em meio a um plano comum e, ao mesmo tempo, heterogêneo.

    Refletir sobre as imagens que apresentam/narram a vida nas escolas e que circulam nas novas mídias, sem controle das instituições e dos especialistas, é a proposta que Aristóteles Berino desenvolve no capítulo oito, A escola vivida no YouTube: imagens, presenças e fulgurações juvenis. O autor nos alerta que com a produção e circulação dessas imagens o cotidiano escolar se transfigura em cenas que não são apenas aquelas que sabemos da existência a partir das narrativas dos seus personagens ou

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