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Representações Sociais das Práticas Artísticas na Formação e Atuação de Professores do Campo
Representações Sociais das Práticas Artísticas na Formação e Atuação de Professores do Campo
Representações Sociais das Práticas Artísticas na Formação e Atuação de Professores do Campo
E-book559 páginas7 horas

Representações Sociais das Práticas Artísticas na Formação e Atuação de Professores do Campo

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Sobre este e-book

O livro Representações sociais das práticas artísticas na formação e atuação de professores do Campo lança um novo olhar para as práticas artísticas como formas de concepção, fruição e reflexão artística, presentes no processo de formação e atuação de professores do Campo. A autora constrói a análise das Representações Sociais a partir da abordagem processual e da perspectiva "Representações Sociais em Movimento", em busca de analisar as alterações nas formas de pensar, sentir e agir dos sujeitos diante de situações que os pressionam a movimentar. Parte-se de uma perspectiva longitudinal que abordou os sujeitos em seu processo de formação no curso superior e após formados em sua atividade docente. Por seu conteúdo que dialoga com referências das áreas de Ensino da Arte, Prática Docente, Educação do Campo e Representações Sociais, a obra caracteriza-se por uma linguagem didática e dinâmica, apresentando levantamentos do tipo "Estados da Arte" dessas áreas do conhecimento, revelando-se como referência fundamental para os pesquisadores que desejam compreender a fundo o processo de construção epistemológico do objeto de estudo. Destaca-se, ainda, o detalhamento dos procedimentos metodológicos utilizados de forma complementar: entrevista narrativa, questionários, análise documental e observação da realidade. Tal leque é um convite ao leitor para apreender informações detalhadas sobre o processo de coleta, categorização e análise de dados, realizado por meio de categorização, análise de trajetórias e análise léxica com o software Iramuteq, revelando-se, dessa forma, de fundamental importância para os pesquisadores que desejam conhecer tais procedimentos. A obra revela-se como leitura fundamental para compreender o crescente panorama de formação de professores do campo no Brasil, bem como um diálogo com a operacionalização do ensino das áreas do conhecimento no contexto real da escola do Campo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jul. de 2019
ISBN9788547318185
Representações Sociais das Práticas Artísticas na Formação e Atuação de Professores do Campo

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    Representações Sociais das Práticas Artísticas na Formação e Atuação de Professores do Campo - Cristiene Adriana da Silva Carvalho

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Dedico este trabalho às professoras e aos professores do Campo, que fazem de sua prática pedagógica um instrumento de luta pela educação como direito!

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço, em primeiro lugar, a Deus.

    Ao meu marido, Dr. Sabir Ribas, exemplo de pesquisador e profissional, pela compreensão da minha dedicação à pesquisa e por sempre se mostrar aberto a me ouvir sobre as teorias e análises. Você visualizou este livro antes mesmo que as palavras nascessem. Seu incentivo me fez acreditar que este sonho seria possível. Eu amo você!

    À minha família, em especial à minha mãe, Eunice, primeira educadora que conheci, por ter me apresentado os princípios da docência transformadora e pela fé depositada em mim, lembrando-me dia após dia que este seria um sonho possível. Ao meu pai, José Maria de Carvalho, que, mesmo estando no plano espiritual, proporciona-me inspiração e força. Lembro-me de que me dizia que o que era meu estava guardado, mas me restava o trabalho de sair à procura. Obrigada por isso! A meus irmãos, Ricardo, Adélia e Alexsandre, por compreenderem minhas tantas ausências e me doarem amor, combustível que me possibilita seguir adiante. Às minhas cunhadas/irmãs, Ana e Val, e aos meus sobrinhos, Dallyane, Kauan, Alhandra, Francisco e Miguel. É por vocês que luto por um mundo mais justo. Agradeço também a Róvia, Sávio, Karine, Lili e aos demais dessa família que me acolheu e muito me ensinou.

    À minha orientadora do mestrado e doutorado, Maria Isabel Antunes-Rocha, pessoa que me deu a ideia de uma nova consciência. Ser orientada por você foi uma oportunidade de construir uma parceria de aprendizado dotada de compromisso com uma visão de mundo, disciplina, carinho e garra. Tenho me inspirado em seu exemplo. Gratidão pela confiança em todos os trabalhos que fizemos juntas e especialmente por se fazer presente no prefácio deste livro!

    Ao companheiro de pesquisas, viagens e sonhos de um mundo melhor, Luiz Ribeiro. Agradeço-lhe pelos conselhos durante a escrita e por se fazer presente nas bancas e na escrita da orelha do livro.

    Aos companheiros do Grupo de Pesquisa em Representações Sociais (Geres), que me deram subsídios e argumentos para ancorar minhas representações. Aos meus amigos e funcionários da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), em especial, Roberto, Welessandra, Karol, Luiz, Beth, Ellen, Alexandre, Érica, Naiane, Alessandra, Anna, Cynthia, Cristhianne, Nalva, João, Andreia, Maria José, Camila, Bruno, Conde, Daniela, Adriana, André e Gilda. Cada um de vocês, à sua maneira, acolheu-me e fez com que essa trajetória também valesse a pena. Em especial, aos funcionários da pós-graduação FaE/UFMG, Rose, Daniele, Joanice, Gilson e Isabela, pela constante disponibilidade.

    Aos professores da FaE/UFMG que atuam na licenciatura em Educação do Campo, em especial à Fátima, Penha, Wagner, Orlando, Álida e Naiara. Aos amigos do NEPCampo (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo), especialmente ao projeto Escola da Terra, que me possibilitou uma vivência intensa de trabalho e luta pela Formação dos Sujeitos do Campo.

    Aos estudantes do curso de licenciatura em Educação do Campo, FaE/UFMG, em especial à Camila e Lucas, alunos da habilitação em Língua, Arte e Literatura, ingressantes no ano de 2010, por serem mais do que sujeitos da pesquisa, mas atores que possibilitaram a construção dos argumentos aqui apresentados.

    Ao professor e amigo da EBA/UFMG Ricardo Carvalho de Figueiredo, agradeço por ser uma grande referência em meu caminho. Aos professores da Ufop, Glícia Gripp, Rosa Coutrim, Célia Nunes, Adriana Marusso e Sandra Augusta, obrigada por me incentivarem a encontrar o caminho. Aos professores da FaE/UFMG, Luiz Alberto, Leôncio Soares, Lucinha Alvarez, Luiz Alberto, Rogério Cunha, Rogério Correia, Maria Amália, Marco Scarassatti, Regina Helena, Rogério Cunha, Rogério Correia, Sérgio Cirino, agradeço os valiosos ensinamentos. À equipe da Biblioteca, professora Alaíde Lisboa, da Faculdade de Educação − UFMG. Agradeço a paciência, o carinho, a presteza e o apoio fundamental para a minha trajetória como pesquisadora.

    Aos professores e pesquisadores Aracy Alves Martins, Clarilza Prado de Sousa, Denise Jodelet, Luiz Paulo Ribeiro, Maria de Fátima Almeida Martins e Neide das Graças, obrigada pela leitura atenta e contribuições nos momentos das bancas de mestrado, qualificação e doutorado. Contar com o olhar de vocês durante a trajetória de escrita foi uma grande honra.

    Aos amigos do Centro Cultural Jardim Guanabara, Marisa Cunha, Ana Martins, Agne Murça, Priscilla Pereira e Janete Aguilar, por serem companheiras de trabalho e de sonhos de mudar o mundo.

    Aos amigos da Rede Professores Transformadores, com quem dividi escritas, aprendizados e esperança, em especial à coordenadora Elô Lebourg, por me fortalecer a cada texto e estar junto a mim no sonho de transformar a educação.

    Gratidão!

    Cristiene Carvalho

    APRESENTAÇÃO

    A proposta de construção deste livro parte do desejo de registrar o caminho analítico percorrido em minhas pesquisas de mestrado e doutorado, desenvolvidas na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a valiosa orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Isabel Antunes-Rocha. O sonho em transformar tais pesquisas em apenas um livro surgiu diante da observância da complementaridade temática, metodológica e epistemológica. Tal complementaridade permitiu realizar um processo analítico observando o movimento das Representações Sociais nos momentos de formação e prática docente dos sujeitos.

    As duas pesquisas apresentadas têm como contexto e matriz epistemológica a Educação do Campo. Na pesquisa de mestrado, abordei as Representações Sociais das práticas artísticas no processo formativo de 22 alunos do curso de licenciatura em Educação do Campo – LeCampo, da Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já na pesquisa de doutorado, analisei as Representações Sociais das práticas artísticas de dois egressos da LeCampo, a fim de acompanhar o movimento de mudança das Representações Sociais de suas práticas artísticas a partir das práticas pedagógicas.

    A análise das práticas artísticas no processo de formação da LeCampo buscou investigar como se deu o movimento de construção das Representações Sociais dos licenciandos do curso de Educação do Campo diante de um panorama de dicotomias em tais práticas. Entre essas dicotomias, foi feito um recorte para as relações entre o erudito e o popular nessa formação.

    Foi possível notar a presença de um modelo de formação por área do conhecimento, requerendo dos sujeitos uma nova forma de posicionar-se em relação ao seu aprendizado e também propondo desafios para a sua prática futura como docentes transformadores. Busquei, então, registrar essas novas formas de posicionamento a partir de uma análise dos tempos e espaços de formação, chegando a três categorias: conhecimentos prévios, formação no curso e estágio supervisionado. Tais categorias permitiram analisar os movimentos de modificação e manutenção, bem como analisar as características das diferentes trajetórias percorridas nesses movimentos.

    A análise das práticas artísticas na atuação de professores do Campo, egressos da licenciatura em Educação do Campo, buscou investigar o que acontece quando os professores do campo, egressos da LeCampo (FaE/UFMG), começam a atuar como docentes e desenvolvem suas práticas artísticas e pedagógicas nas escolas do campo. Foi possível compreender que os dois sujeitos pesquisados, Camila e Lucas, realizavam em sua prática docente um diálogo entre o conteúdo acadêmico de sua formação e a afirmação de sua identidade do campo, incorporando elementos de reflexão, fruição e construção artística à dimensão da luta pela Educação do Campo.

    Tais análises tiveram como referência teórico-metodológica o Materialismo Histórico e Dialético, de Marx (1846), e a concepção de educação transformadora de Freire (2000). Tais referências possibilitaram compreender esses educadores por meio de uma reflexão histórica da luta pela Educação do Campo e pela superação da exploração dos trabalhadores do campo, trazendo para a interpretação de suas práticas pedagógicas e artísticas o movimento de resistência, transformação e esperança diante dessas vivências.

    Diante da crescente necessidade de se debater o papel da formação de professores e a atuação na escola do Campo, foi possível perceber as articulações das formas de pensar, sentir e agir desses sujeitos diante dos desafios cotidianos da formação e da docência. Tal análise foi viabilizada a partir do referencial teórico-metodológico das Representações Sociais, buscando em Moscovici (1978; 2010; 2012) e Jodelet (2001) a compreensão do processo de construção e modificação das Representações Sociais.

    Destaco que a abordagem das Representações Sociais em Movimento, abordada por Antunes-Rocha (2012), Ribeiro et al. (2017) e pelo Grupo de Estudos em Representações Sociais, foi essencial para compreender os contextos que provocavam as reelaborações dos sujeitos, bem como os posicionamentos tomados após situações que provocavam a mudança.

    Espero que este livro venha dar respaldo a produções futuras de pesquisadores das áreas de Educação do Campo, Representações Sociais, Artes e Prática Docente, e seja também um provocador de transformações nas formas de se compreenderem os processos educativos a partir de uma perspectiva crítica.

    A autora

    PREFÁCIO

    A ARTE NÃO IMITA A VIDA, ELA É UMA DAS PRÁTICAS QUE PRODUZEM A VIDA: O QUE CRISTIENE CARVALHO NOS ENSINA

    Ser convidada para prefaciar este livro é uma distinção que aceitei com muita honra. Honra por ter acompanhado a autora, Cristiene Adriana da Silva Carvalho, em sua trajetória como aprendiz de pesquisadora e agora ver que essa caminhada produziu excelentes frutos. Como professora de uma disciplina optativa no Programa de Pós-Graduação em Educação na UFMG, deparei-me com uma aluna com vontade de entender as lógicas e práticas produtoras das desigualdades. Aliando generosidade, disciplina, bom humor e inteligência, mostrou-me que era indignada com a injustiça, mas que era movida pela esperança. Daí por diante, iniciamos uma convivência que incluiu mestrado, doutorado, participação em projetos de ensino e extensão, produção de artigos, a criação do Grupo de Estudos em Representações Sociais (Geres) e uma infinidade de práticas cotidianas em torno da luta pela Educação do Campo conjugada com a luta pela construção de uma sociedade mais justa. Por isso só posso ler, analisar e falar sobre o livro, síntese desse processo, a partir do lugar que ocupei como orientadora do movimento empreendido pela autora para constituir-se como uma mulher comprometida com os processos emancipatórios no nível pessoal e coletivo.

    Este livro é, no meu entendimento, uma síntese dos últimos 10 anos do que foi produzido pela Cristiene ao articular a área das Artes, da docência e da Educação do Campo no mestrado e no doutorado. Na tessitura, é possível ver que a autora vai constituindo sua discussão sobre as práticas artísticas, sobre a Educação do Campo e sobre a formação de educadores que acontece no curso de licenciatura em Educação do Campo como um processo de formação de si mesma. A educadora-pesquisadora-militante vai forjando-se à medida que se aproxima dos sujeitos e dos seus contextos. É interessante observar que, em vários momentos, encontramos um registro da importância das experiências vivenciadas para que se formasse [...] a ideia de uma nova consciência. Este livro é, sem dúvida, o resultado de um trabalho que formou a pesquisadora como uma cientista comprometida com a luta pela superação das desigualdades. Nessa perspectiva, é uma obra que merece ser lida por todos e todas que estão nessa caminhada, pois, ao longo das páginas, vamos aprendendo como pesquisar militando e como fazer a militância pesquisando.

    Entre as inúmeras possibilidades apresentadas no livro, valendo citar as escolhas metodológicas, o uso se softwares, a revisão primorosa da literatura, a escrita objetiva e comprometida, escolhi três que considero como contribuições inovadoras que podem contribuir para orientar as lutas dos sujeitos campesinos e, possivelmente, as lutas de sujeitos em outros contextos: a produção de conhecimentos sobre as Artes como área do conhecimento em sua produção sócio-histórica; a elaboração da teoria das Representações Sociais a partir da proposta do movimento; e as relevantes contribuições para a formação e a prática de educadores egressos do curso de licenciatura em Educação do Campo (LeCampo).

    Práticas artísticas, e não artes, o que já nos indica que se procura uma nomeação que faça referência a uma compreensão diferenciada do que seja a produção e o uso das diferentes manifestações artísticas ao longo da História. E, já de antemão, compreendemos que as populações campesinas tiveram o direito de acesso a concepções e fruições negado, bem como de conhecimento quanto a um montante significativo da produção artística produzida historicamente. Por isso o debate entre práticas artísticas populares e eruditas se faz relevante. Compreender como uma determinada concepção de arte foi desqualificada em detrimento da valorização de outra é um dos pontos fortes deste trabalho.

    A busca de uma nova denominação nos remete ao movimento de luta pela Educação do Campo, quando, no final dos anos 90 do século XX, pautou o termo campo como superação ao sentido material, espacial e simbólico de rural. Falar em artes, sem dúvida, liga-nos a manifestações artísticas vinculadas ao erudito, ao valorizado socialmente em termos estéticos e, por que não dizer, ao que foi produzido pelos povos colonizadores. Conhecemos bem a luta dos pintores, músicos e escultores brasileiros, que, utilizando todos os requisitos solicitados pelas normas cultas, tiveram dificuldades para serem reconhecidos como artistas. Sendo assim, este livro provoca-nos a reconhecer outro nome e, consequentemente, outra prática, outras intencionalidades.

    Ao buscar na Teoria das Representações Sociais (TRS) o olhar teórico para analisar a apropriação e o uso das práticas artísticas no processo de formação e na prática dos egressos da LeCampo, é possível que o trabalho da autora vá deixando marcas significativas em sua trajetória como pesquisadora. A apropriação consistente da TRS e a construção das Representações Sociais em Movimento (RSM) é, sem dúvida, outro momento marcante do livro. Vale ressaltar que somente a prática da pesquisa como ação transformadora é que pode conduzir a esta construção: saberes que se movimentam, seja alterando, modificando ou permanecendo em uma dinâmica enraizada na vida concreta dos sujeitos. A densidade da construção teórica pode ser compreendida ao longo das análises criteriosas das entrevistas e nas reflexões finais. Segundo Denise Jodelet, uma das principais representantes da teoria, a proposta da RSM está emergindo como uma nova corrente na TRS. Leva-nos a pensar que as práticas dos sujeitos campesinos no Brasil exigem novos olhares teóricos e metodológicos, novos conceitos e novas formulações, provocando os pesquisadores realmente comprometidos a buscarem novas lógicas e proposições para compreenderem essa realidade.

    Ao fazer esse debate no processo de formação e prática de professores, encontramos a proximidade das práticas artísticas em um território onde esse tema é certamente um dos mais destacados em termos do acesso aos direitos. É importante como a autora nos mostra os mecanismos por meio dos quais essa exclusão acontece dentro da escola, por meio da didatização e da valorização da arte erudita como aquela que pode ser considerada como produção artística. Ao fazer esse debate para o contexto campesino, mostra-nos a dupla exclusão, por ser arte popular e arte dos camponeses. A discussão da Cristiene leva-nos a construir uma analogia entre a ocupação das artes e a ocupação de terra. Ambos são espaços representativos de um modelo social excludente e explorador. Ambos são direitos dos sujeitos, por isso a importância de destacar posição contrária à mercadorização das terras e das artes. Esse é um assunto que se torna denso, em algumas partes da obra, com informações relevantes para todos e todas que precisam conhecer como acontece a expropriação, por parte da escola, dos direitos de acesso ao conhecimento produzido historicamente pela sociedade.

    Enfim, é uma produção em e sobre uma experiência fecunda em termos da formação de educadores. Queremos ressaltar que o livro deixa ver uma contribuição relevante por parte dos sujeitos que estão construindo o curso de licenciatura em Educação do Campo. Cada capítulo traz a marca e os sujeitos que estão construindo essa experiência. O que se lê são descrições densas, análises consistentes, metodologias adequadas e o compromisso com a produção de conhecimento como parte indissociável da formação. Está presente uma produção de conceitos, de categorias e de metodologias que podem estar sinalizando para formas diferenciadas de articular ensino, pesquisa e extensão no âmbito acadêmico, no que diz respeito à formação de professores.

    Ao articular esses três temas, práticas artísticas, representações sociais em movimento, formação e prática de educadores do campo, a autora produziu um conhecimento consistente, comprometido, mas quero deixar registrado uma contribuição, que, no meu ponto de vista de leitora, sintetiza seu trabalho. A arte não imita a vida; ela é uma das práticas que produzem a vida. Esse é um dos ensinamentos do livro produzido por Cristiene Adriana da Silva Carvalho a partir de suas práticas como pesquisadora. Essa é uma das aprendizagens que vivenciei ao ler o livro: as práticas artísticas anunciam possibilidades de se constituírem como instrumentos a serem utilizados pelos povos campesinos e, por que não dizer, pelos trabalhadores explorados pelo capital, na luta pela construção de um projeto popular de sociedade.

    Março/2018

    Maria Isabel Antunes-Rocha

    Professora associada da Faculdade de Educação, do Programa de Pós-Graduação Conhecimento e Inclusão Social e do mestrado profissional em Educação /Universidade Federal de Minas Gerais.

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO

    1

    PRÁTICAS ARTÍSTICA

    1.1 DIMENSÕES HISTÓRICAS NA CONSTRUÇÃO DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS 

    1.2 TENSIONAMENTOS EM DIÁLOGO NAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS

    1.2.1 O erudito e o popular 

    1.2.2 A arte engajada e a neutralidade 

    1.2.3 Conhecimento, entretenimento, técnica e instrumento didático nas práticas artísticas 

    1.3 ENSINO DE ARTE NO BRASIL

    1.3.1 Legislação e ensino de Arte 

    1.3.2 O que ensinar? Por que ensinar? Como ensinar Arte?

    1.4 PRÁTICAS ARTÍSTICAS DO CAMPO

    2

    EDUCAÇÃO DO CAMPO

    2.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO − UM ESTADO DA ARTE 

    2.2 LUTA E PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 

    2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E MARCOS LEGAIS

    2.4 FAE/UFMG NO CONTEXTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO

    3

    PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E OS EGRESSOS QUE AS REALIZAM

    3.1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS − UM ESTADO DA ARTE 

    3.2 CONSTRUINDO UM CONCEITO PARA AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

    3.3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA ESCOLA DO CAMPO

    4

    REFERENCIAL TEÓRICO EPISTEMOLÓGICO METODOLÓGICO

    4.1 REFERENCIAL TEÓRICO EPISTEMOLÓGICO

    4.1.1 Materialismo Histórico e Dialético

    4.1.2 Concepção de educação transformadora na Educação do Campo

    4.2 REFERENCIAL TEÓRICO EPISTEMOLÓGICO METODOLÓGICO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 

    4.2.1 As Representações Sociais na discussão acadêmica do Brasil 

    4.2.2 Teoria das Representações Sociais 

    4.2.3 Grupo de Estudos e pesquisas em Representações Sociais 

    5

    DESENHO METODOLÓGICO 119

    5.1 DESENHO METODOLÓGICO DA PESQUISA PRÁTICAS ARTÍSTICAS DOS ESTUDANTES DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 

    5.2 DESENHO METODOLÓGICO DA PESQUISA REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS NA ATUAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO 

    6

    REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO

    6.1 TEMPOS E ESPAÇOS DA CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS EDUCANDOS DA LECAMPO 

    6.1.1 Perfil dos Sujeitos 

    6.1.2 Experiências formativas anteriores à LeCampo 

    6.1.3 Tempos e espaços formativos na LeCampo 

    6.1.4 Tempos e espaços formativos no estágio 

    6.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS EM MOVIMENTO: A TRAJETÓRIA DAS FORMAS DE PENSAR/SENTIR/AGIR DOS EDUCANDOS SOBRE AS PRÁTICAS ARTÍSTICAS 

    6.2.1 Sujeitos que mantiveram suas representações 

    6.2.1.1 Mantendo as Representações Sociais das práticas eruditas 

    6.2.1.2 Mantendo as Representações Sociais de práticas artísticas populares 

    6.2.2 Sujeitos que modificaram as suas práticas artísticas 

    6.2.2.1 Sujeitos que desconheciam as práticas artísticas e modificaram as representações para uma perspectiva erudita 

    6.2.2.2 Sujeitos que desconheciam as práticas artísticas e modificaram as representações para uma perspectiva popular 

    6.2.2.3 Sujeitos que modificaram suas práticas artísticas de uma perspectiva popular para uma perspectiva erudita 

    6.2.2.4 Sujeitos que mudaram de uma perspectiva erudita para uma relação de diálogo entre o erudito e o popular 

    6.2.2.5 Sujeitos que mudaram de uma perspectiva popular para uma relação de diálogo entre o erudito e o popular

    6.3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS EM MOVIMENTO 

    7

    REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS NA ATUAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO

    7.1 O VALE DO JEQUITINHONHA 

    7.1.1 Município de Rubim 

    7.1.2 Município de Jordânia 

    7.2 PROFESSORA CAMILA: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA E CATEGORIAS DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS E PEDAGÓGICAS 

    7.2.1 Categorias das práticas artísticas e pedagógicas da educadora Camila 

    7.2.1.1 Práticas pedagógicas 

    7.2.1.2 Práticas artísticas 

    7.2.1.3 Formação 

    7.2.1.4 Educação do Campo 

    7.2.1.5 Mística 

    7.2.1.6 Educação transformadora 

    7.2.1.7 Materialismo Histórico e Dialético 

    7.3 PROFESSOR LUCAS: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA E CATEGORIAS DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS E PEDAGÓGICAS 

    7.3.1 Categorias das práticas artísticas e pedagógicas do educador Lucas 

    7.3.1.1 Práticas pedagógicas 

    7.3.1.2 Práticas artísticas 

    7.3.1.3 Formação 

    7.3.1.4 Educação do Campo 

    7.3.1.5 Mística 

    7.3.1.6 Educação transformadora 

    7.3.1.7 Materialismo Histórico e Dialético 

    8

    REPRESENTAÇÕES SOCIAIS EM MOVIMENTO NA ATUAÇÃO DE CAMILA E LUCAS

    8.1 O MOVIMENTO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: DA FORMAÇÃO À SALA DE AULA 

    8.2 OBJETIVAÇÃO E ANCORAGEM NO MOVIMENTO DE CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 

    8.3 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A PARTIR DO SOFTWARE IRAMUTEQ 

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    Eis algumas coisas que me construíram e seguem me construindo. Não sou tudo isso, sou um pouco disso tudo.

    (Pedro Munhoz¹)

    Este livro tem como tema as Representações Sociais das práticas artísticas e pedagógicas na formação e na atuação de professores do Campo, egressos do curso de licenciatura em Educação do Campo (LeCampo) da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tal obra surge com o intuito de reunir e dar visibilidade para as reflexões construídas em minhas pesquisas de mestrado e doutorado em Educação, desenvolvidas na FaE/UFMG sob a valiosa orientação da Prof.ª Dr.a Maria Isabel Antunes-Rocha.

    No mestrado, analisei o processo de construção das Representações Sociais das práticas artísticas durante a formação de licenciandos em Educação do Campo da FaE/UFMG. A partir da referida pesquisa, pude constatar que o momento de formação desses educadores era marcado pela provocação de mudanças em suas Representações Sociais, principalmente no que se referia à presença do tensionamento existente entre práticas artísticas eruditas e populares. No doutorado, analisei as Representações Sociais das práticas artísticas na atuação de dois desses egressos do grupo pesquisado anteriormente, tentando apreender o movimento de reelaboração das Representações Sociais das práticas artísticas na atuação desses sujeitos como professores.

    A escrita desta obra carrega a marca de minha formação na licenciatura em Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), onde desenvolvi pesquisas sobre práticas pedagógicas em Arte. Aliado a isso, minha experiência como professora de Artes nas redes municipal, federal e privada possibilitou a percepção do lugar da Arte nas escolas e as contradições que a perpassavam. Na especialização em Teoria e Métodos de Pesquisa em Educação, na instituição supracitada, pude pesquisar as Representações Sociais dos professores de Artes e relacioná-las à sua formação e atuação artística e pedagógica. Tal oportunidade me abriu a porta para o universo das Representações Sociais como forma de entendimento das relações construídas entre os sujeitos e os objetos em contextos coletivos.

    No percurso do mestrado em Educação na Universidade Federal de Minas Gerais, tive a oportunidade de inserir-me como bolsista na LeCampo. Essa experiência aproximou-me dos sujeitos do campo, dos movimentos sociais e sindicais e das tensões presentes na referida área de formação, na qual pude perceber, entre outras coisas, a dinamicidade e a multiplicidade das representações atribuídas às práticas artísticas no processo de formação da FaE/UFMG. Ainda durante o mestrado, iniciei minha segunda graduação, buscando na formação em Pedagogia, na Universidade de Uberaba, respostas para questionamentos sobre os elementos dialéticos pertencentes às práticas pedagógicas. Nesse curso, pude entender os elementos organizadores dessas práticas e as escolhas político-pedagógicas como formas de transformação da educação básica. Dessa forma, esta obra carrega meu olhar de arte-educadora e pedagoga, que me possibilitou compreender as práticas artísticas a partir da dimensão de seus métodos, processos pedagógicos e significados sociais no ensino.

    Durante a realização do doutorado, atuei como coordenadora pedagógica do Curso de Formação Continuada de Professores do Campo − Escola da Terra, no estado de Minas Gerais. Essa experiência de acompanhamento do processo formativo de mais de 1.200 professores do ensino fundamental trouxe para meu olhar a necessidade de analisar a concretude das práticas pedagógicas presentes na educação básica, a partir da dimensão transformadora da Educação do Campo. Ainda durante o doutoramento, tive a oportunidade de elaborar reflexões a respeito da ação docente, no que se refere às práticas artísticas, durante o período em que organizei, com a professora Aracy Alves Martins, o livro Práticas Artísticas do Campo, oitavo volume da coleção Caminhos da Educação do Campo, da Editora Autêntica. Nesse trabalho, pude perceber a pluralidade das formas das práticas artísticas presentes no Campo, que se destacam pela variedade de linguagens artísticas, articulação com as práticas de memória e identidade, bem como a inserção em projetos que visam à emancipação dos sujeitos do Campo. Tal experiência provocou-me a pensar na dinamicidade e na potência das práticas artísticas desenvolvidas na escola e em seu diálogo com os atores sociais que as constroem.

    As questões propostas neste livro foram construídas a partir das discussões elaboradas em dois grupos de pesquisa. Em termos teóricos, vincula-se ao Grupo de Estudos em Representações Sociais (Geres), na linha de pesquisa Psicologia e Psicanálise em Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE/UFMG. Em termos do objeto de estudo, vincula-se ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo (NEPCampo/FaE/UFMG), integrando-se ao leque de pesquisas pertencentes ao projeto de pesquisa Formação de educadores do campo em Minas Gerais (2004-2015): repercussões na trajetória docente de egressos do curso de licenciatura em Educação do Campo LeCampo/FaE/UFMG, coordenado pela professora Maria Isabel Antunes-Rocha.

    Busco, nesta obra, analisar o movimento das Representações Sociais a partir de dois problemas de pesquisa explorados em minhas pesquisas de mestrado e doutorado, respectivamente. O primeiro deles refere-se a como os licenciandos em Educação do Campo da FaE/UFMG, da habilitação em Línguas, Artes e Literatura, organizaram seus saberes e práticas artísticas em termos da dicotomia erudito e popular, historicamente presente nessa área do conhecimento. Para isso, foram analisados os saberes prévios produzidos no cotidiano (trabalho, família, movimento social, religião, lazer), as práticas apreendidas no processo de formação e a ressignificação destas no estágio de Artes do curso de graduação. O segundo problema de pesquisa centrou-se na análise do que acontece quando os professores do campo, egressos da LeCampo (FaE/UFMG), começam a atuar como docentes e desenvolvem suas práticas artísticas e pedagógicas nas escolas do campo. Pretendeu-se analisar como são construídas as Representações Sociais das práticas artísticas e pedagógicas desses sujeitos. Essas representações carregam os conteúdos apreendidos na universidade ou são construídas a partir de elementos presentes nas demandas escolares, incorporando também características culturais marcantes da identidade camponesa?

    Para o primeiro problema, parti da hipótese de que os estudantes chegavam ao curso com saberes vinculados às práticas artísticas populares, e a graduação na LeCampo apresentava práticas artísticas eruditas que lhes provocavam a reelaborar suas Representações Sociais. Para o segundo problema, propus a hipótese de que as práticas artísticas dos professores do campo eram marcadas pela tentativa de estabelecer diálogo entre o conteúdo acadêmico de sua formação e a afirmação de sua identidade do campo, incorporando elementos de reflexão, fruição e construção artística. Esse diálogo é permeado por um movimento de construção e reelaboração das suas Representações Sociais, caracterizados por diferentes posicionamentos diante das práticas artísticas, que podem ser analisadas a partir dos conceitos de objetivação e ancoragem pertencentes à Teoria das Representações Sociais.

    A reelaboração das Representações Sociais, neste trabalho, é interpretada como a movimentação nas formas de pensar, sentir e agir dos professores da Educação do Campo, no que se refere às práticas artísticas na sua formação e atuação docente. Para compreender essa reelaboração, analisamos, na pesquisa de mestrado, 22 alunos da LeCampo/FaE/UFMG, especificamente da turma com habilitação em Língua, Arte e Literatura (LAL) ingressante em 2010. Já na pesquisa de doutorado, analisamos a prática pedagógica de dois sujeitos de pesquisa, egressos da turma LAL 2010 LeCampo, que concluíram o curso em janeiro de 2015 e estavam inserindo-se na docência há pouco mais de um ano. A escolha de sujeitos dessa turma deu-se como tentativa de dar continuidade à análise das Representações Sociais estudadas durante o mestrado, em busca de perceber a relação existente entre formação e prática docente na construção e alteração de suas RS no tocante às práticas artísticas.

    Parti da compreensão de práticas artísticas como formas de concepção, compreensão e fruição das manifestações de arte pelos sujeitos. Essa concepção, definida por Barbosa (2008), é um convite para pensar nas manifestações artísticas a partir dos valores, crenças e tensionamentos presentes na arte e a partir de seu significado social. Para Barbosa (2008), os estudos que propõem compreender as práticas artísticas são importantes, pois garantem uma reflexão sobre as mudanças que ocorrem na concepção e na fruição da arte e seu ensino na sociedade, atuando como agentes de mudanças em prol de uma compreensão histórica, cultural e social da arte.

    Na educação, as práticas artísticas ganham especial relevância a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases − LDB nº 9.394/96 −, na qual o ensino de arte foi instituído como componente curricular obrigatório, e da Lei nº 13.278/2016, que inclui as linguagens Artes Visuais, Dança, Música e Teatro nos currículos da educação básica. Essas mudanças nortearam as temáticas dos trabalhos acadêmicos da última década, que se situavam, em sua maioria, relativamente às metodologias de ensino e práticas artísticas nas escolas (BARBOSA, 2008). Portanto, destacamos a importância de desenvolver estudos que abordem as práticas artísticas de professores do campo, considerando-se a necessidade de ampliação da discussão sobre o objeto da arte no contexto do campo.

    Ao pensar nas práticas artísticas construídas pelos sujeitos do Campo, busquei em Bogo (2010) a compreensão destas como elementos que carregam as características de identidade com o território campesino, militância pela busca de direitos e resistência diante dos tensionamentos da constante ameaça de silenciamento dos sujeitos do campo e do apagamento de sua cultura.

    A escolha da Teoria das Representações Sociais (TRS) justificou-se pelo fato de esse referencial possibilitar a elaboração de reflexões sobre as transformações nas formas de pensar, sentir e agir dos grupos sociais por meio de um olhar psicossocial. Tal epistemologia permitiu a análise das características de identidade e elaboração social, elementos que, segundo Jodelet (2001), são constitutivos da TRS, pois possibilitam a compreensão das ressignificações que as representações assumem no cotidiano das pessoas. Estudos como o de Antunes-Rocha (2012) demonstraram a importância da TRS como interpretação de conflitos da área da Educação, especificamente da Educação do Campo, sendo fundamentais para a escolha desse referencial teórico-metodológico.

    No momento atual, a Educação do Campo tem se expandido em instituições de ensino superior e tecnológico, existindo hoje mais de 48 licenciaturas em diferentes instituições de ensino superior, incluindo universidades federais, estaduais e autarquias em todo o Brasil. Diante desse fato, justifica-se a importância do desenvolvimento deste estudo, a fim de se produzir material acadêmico sobre o assunto e lançar acerca da formação e da atuação dos professores do Campo, especialmente no que se refere às suas práticas artísticas.

    A divulgação dessas pesquisas de mestrado e doutorado em um único livro justifica-se como uma maneira de se tentar compreender o movimento de construção das práticas artísticas dos licenciandos e dos professores da Educação do Campo, percebendo os elementos que demarcam as mudanças ocorridas nas Representações Sociais das práticas. Essa compreensão pode ser vista como possibilidade de aprofundar o debate sobre a formação desenvolvida no curso de licenciatura em Educação do Campo − LeCampo (FaE/UFMG) − e as realidades das escolas do Campo do Brasil.

    Esta obra foi organizada em oito capítulos. No primeiro capítulo, apresento as práticas artísticas como objeto de estudo. Para tal, construí uma breve contextualização histórica a respeito da presença da arte nas práticas sociais, a fim de evidenciar os principais tensionamentos, bem como alguns elementos-chave que permitiram a criação dos diversos sentidos das manifestações artísticas. A partir daí, são apresentadas as práticas artísticas no ensino brasileiro de Arte, percebendo como elas estiveram presentes na formação e prática de professores. Interessa-me também perceber a presença das práticas artísticas no contexto campesino, a fim de perceber as manifestações e os sentidos delas nas práticas dos sujeitos do Campo.

    No segundo capítulo, apresento o contexto da Educação do Campo. Para tal, percebo a necessidade de trazer a retomada histórica do movimento de luta, além de abordar os princípios da Educação do Campo no processo de construção de políticas públicas em diálogo com o paradigma de articulação de um Projeto de Campo e de sociedade. Trouxe também o histórico da inserção da FaE/UFMG na constituição desse histórico. Além disso, apresento o estado da arte das pesquisas que tratam da LeCampo FaE/UFMG, bem como das produções e ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pelo NEPCampo que se encontram em diálogo com esta pesquisa.

    No terceiro capítulo, é realizada uma reflexão a respeito das práticas pedagógicas, partindo das obras de Franco (2015) e Verdum (2013), que as conceituam como práticas sociais de intencionalidade educativa ocorridas em espaços escolares e não escolares com o objetivo de construir conhecimentos científicos, tradicionais, sociais e políticos. Essas autoras, em diálogo com Arroyo (2004) e Caldart (2003), também ajudam a compreender as práticas pedagógicas no contexto específico do campo, a partir do diálogo delas com os princípios de direito e protagonismo dos sujeitos presentes no movimento de luta pela Educação do Campo. Nesse capítulo, também é feita uma reflexão a respeito da opção de estudo das práticas pedagógicas de egressos do Curso de licenciatura em Educação do Campo.

    No quarto capítulo, construo o referencial teórico epistemológico que orientou as discussões e a análise, sendo ele dividido em duas partes. Na primeira parte, trago o referencial teórico epistemológico desta pesquisa. Busquei construir a concepção de sociedade, com fundamento na perspectiva do Materialismo Histórico e Dialético de Karl Marx (1846). Tal referencial permitiu compreender as formas de organização da sociedade para pensar a perspectiva de luta de um Projeto de Campo em busca de terra, trabalho e educação. Procurei também discorrer sobre a perspectiva de educação transformadora, tomando como referência a obra de Paulo Freire (1921-1997). Na segunda parte desse quarto capítulo, apresento o referencial metodológico da Teoria das Representações Sociais, proposto por Moscovici (1978), destacando a inter-relação entre essa teoria e o objeto de estudo das práticas em seu contexto em movimento. Nesse capítulo, também justifico a escolha da abordagem processual de Jodelet (2001), como uma abordagem que permite analisar os processos constitutivos das Representações Sociais e o contexto de pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Estudos em Representações Sociais (Geres), o qual tem trabalhado na análise de Representações Sociais de sujeitos que se encontram em contextos em movimento.

    Já no quinto capítulo, descrevo os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa: questionário semiestruturado, entrevista narrativa e observação participante. Nesse capítulo, abordo também o desenho analítico utilizado para compreender o processo de construção das Representações Sociais dos sujeitos.

    No sexto capítulo, apresento as Representações Sociais das práticas artísticas na formação de educadores do Campo, trazendo a análise dos questionários semiestruturados e entrevistas narrativas desenvolvidas com os 22 licenciandos em Educação do Campo. Para isso, são apresentados os tempos/espaços da construção das Representações Sociais dos sujeitos, a partir das categorias que permitiram a análise, compreendendo estas como fundamentais para se observar o movimento das Representações Sociais, sendo elas: "Saberes Prévios das Práticas Artísticas, Práticas artísticas desenvolvidas nos Tempos Escola e Estágio no Tempo Comunidade. Ainda nesse capítulo, analiso os dois movimentos de Representação Social das práticas artísticas dos entrevistados: Manutenção e Modificação. Para tal, descrevo as sete trajetórias de tomada de posição, partindo dos movimentos ocorridos nas suas práticas artísticas entre a chegada dos entrevistados no curso e o momento de realização e construção de seu estágio de

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