Piara Tupinambá: Aquele que busca e traz o caminho
()
Sobre este e-book
O caminho ou método tupinambá, o Piara Tupinambá é, antes de tudo, desalienar-se, o que na prática nada mais é do que pensar por si mesmo, ver o mundo com os próprios olhos e de acordo com seus propósitos, e não com o aprendido e apregoado pela sociedade.
Relacionado a Piara Tupinambá
Ebooks relacionados
Batuque De Umbigada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÁguas, Flores & Perfumes: Resistência Negra, Atabaques e Justiça na República (Salvador - BA, 1890-1939) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO canto na Umbanda: uma Análise do Discurso dos pontos cantados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExplorando as teologias Umbandistas: percepções críticas sobre a tradição oral e acadêmica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Mundo dos Orixás Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÁfrica e Diásporas: Divergências, Diálogos e Convergências Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRaízes Sincréticas Da Umbanda E Do Candomblé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCultos afro-paraibanos: Jurema, Umbanda e Candomblé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUmbandas: Uma história do Brasil Nota: 5 de 5 estrelas5/5Viver e morrer no candomblé: moralidade yorubá e ensino de História Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ciranda Dos Orixás Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUmbanda Principais Entidades Nota: 5 de 5 estrelas5/5Catarina Juliana: Uma sacerdotisa africana e sua sociedade de culto no interior de Angola (Século XVIII) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs ciganos ainda estão na estrada Nota: 5 de 5 estrelas5/5Leituras Afro-Brasileiras – Volume 1: Ressignificações Afrodiásporicas Diante da Condição Escravizada no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDa Africa Ao Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEspaço Sagrado, Fé E Ancestralidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilhos de fé: Histórias da terreira da minha avó Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCandomblé no Brasil: Resistência negra na diáspora africana Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMemória brasileira em Áfricas: Da convivência à narrativa ficcional em comunidades Afro-Brasileiras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos De Uma África Mítica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ladinos e crioulos: Estudos sobre o negro no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCoisas nossas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBatuque de Mulheres: aprontando tamboreiras de nação nas terreiras de Pelotas e Rio Grande, RS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNo ritmo do ijexá: histórias e memórias dos afoxés cearenses Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma Rosa a Iemanjá: Nasce uma Nova Tradição Nota: 0 de 5 estrelas0 notasControversas: Perspectivas de Mulheres em Cultura e Sociedade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArruaças: uma filosofia popular brasileira Nota: 5 de 5 estrelas5/5Atabaque: O Ritmo E A Tradição Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Nova era e espiritualidade para você
Traga seu amor de volta em 21 dias Nota: 5 de 5 estrelas5/5Como Liderar Pessoas Difíceis: A Arte de Administrar Conflitos Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Quarta Dimensão Nota: 5 de 5 estrelas5/5Magia De São Cipriano Nota: 4 de 5 estrelas4/5Deus Não Tem Favoritos, Tem Íntimos Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Estranho Segredo Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Livro de Urântia: Revelando os Misterios de Deus, do Universo, de Jesus e Sobre Nos Mesmos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Capa Preta Nota: 4 de 5 estrelas4/530 minutos para mudar o seu dia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Violetas na janela Nota: 5 de 5 estrelas5/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/5As cinco fases do namoro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Odus Nota: 5 de 5 estrelas5/5A essência da verdadeira adoração: Descubra como adorar a Deus de todo coração Nota: 5 de 5 estrelas5/5Apaixone-se por você Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Sentimento é o Segredo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Stop ansiedade: O guia definitivo para você sair do ciclo da ansiedade emocional Nota: 5 de 5 estrelas5/5Ervas e benzimentos: O livro sagrado Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os reinos dos elementais: Os fascinantes reinos etéreos dos espíritos da natureza Nota: 3 de 5 estrelas3/5A Mesa que Fala Nota: 5 de 5 estrelas5/5A cabala do dinheiro Nota: 4 de 5 estrelas4/5Encantamentos, Rezas E Benzeduras Nota: 5 de 5 estrelas5/5A vontade de sentido: Fundamentos e aplicações da logoterapia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSociedades Secretas E Magia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Seres e mundos físicos e espirituais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Diário De Um Médium Iniciante Nota: 5 de 5 estrelas5/5A cura da alma feminina: Resgatando a verdadeira essência da mulher Nota: 4 de 5 estrelas4/5As Chaves Do Rei Salomão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Oração: Como Obter O Que Você Deseja Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Piara Tupinambá
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Piara Tupinambá - Luiz Alexandre Junior
YPYRUNGA, o início
Nossa meta não é mudar o mundo,
mas mudar a forma de pensar sobre ele.
(Milton Santos)
Este não é um livro, mas uma dívida, um carma que tardiamente estou quitando. Contudo, é também uma forma de gratidão ao Caboclo Tupinambá por ter me dado a oportunidade de ser seu aprendiz e pensar numa realidade antes não percebida. Embora não tenha sido um aprendiz exemplar, o pouco que aprendi me faculta neste momento a falar aos filhos em seu nome, em especial aos membros e frequentadores do Cecure (Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas e Terapias de Cura Espiritual) em São Paulo e do Templo da Liberdade Tupinambá em Paraty – Rio de Janeiro.
Cabe inicialmente apresentá-lo. O Caboclo Tupinambá é a entidade sobrenatural, ou encantada, que se apresenta e incorpora na médium Claudia Regina Alexandre desde a década de 1980, e é o orientador espiritual dessas duas casas fundadas no início do século XXI. A palavra caboclo em português se origina do tupi antigo, Kuriboka, Curiboca, Cariboca, que significa filho de pai indígena e mãe africana, que posteriormente nos livros didáticos passou a designar filha de mãe índia e pai branco, ou simplesmente a miscigenação do índio e do branco. Alguns tupinólogos defendem a origem advinda do termo kaa-boc, que significa aquilo que vem da floresta ou nasce dela. Já o termo Tupinambá é originário da junção da palavra Tupi, que significa o personagem mítico que deu origem a todos os seres ou o primeiro pai, anam (família) e mba (todos).
O significado do seu nome traduz com precisão quem ele é e de onde veio: o Caboclo Tupinambá representa a reunião ou, se preferir, a mistura (monan) de todas as etnias, credos e filosofias existentes na terra brasileira. Configura um ideal de miscigenação espiritual capaz de versar em técnicas de cura espirituais que vão desde a umbanda e o candomblé até o esoterismo, percorrendo as linhas orientais do hinduísmo, taoísmo e budismo até os troncos hegemônicos do judaísmo, cristianismo e islamismo. Atuando como um grande pai de todas as famílias, um pai que mostra o caminho que leva ao Pai maior e à vontade Dele, sem que haja sobreposição ou qualquer tipo de incongruência moral e filosófica.
Infelizmente, essa exaltação não traduz a realidade do nosso contexto. No Brasil, essa mistura ameríndia, africana e europeia, que constrói a chamada alma mestiça
do país, com raras exceções, sempre foi rebaixada. Um caboclo nem de longe é visto pela sociedade brasileira como um modelo intelectual ou cultural, tampouco como um ideal de vida espiritual – nesse aspecto, até mesmo quando seu conhecimento terapêutico é reconhecido, o senso comum prefere chamá-lo de xamã e não de pajé.
É importante notar que, embora esteja falando do caboclo como resultado de toda a miscigenação, este é visto tão somente como a parte indígena, uma subcategoria que na maioria das vezes é considerada atrasada, inimputável diante da lei, um estorvo para os interesses econômicos do grande capital inculto e preguiçoso. Toda essa adjetivação agrava-se mais ainda quando esse mesmo caboclo é associado à parte africana da sua constituição.
O Brasil é um país que hoje tem 519 anos, 388 deles vividos em um sistema escravocrata, que na história do Ocidente é um dos últimos a virar uma república e o último a abolir a escravidão. Uma terra em que, doze mil anos antes de Cabral, em 1500, já habitavam mais de seis milhões de pessoas divididas em aproximadamente 208 tribos – tamoios, tupiniquins, tupinambás, guaranis, tapuias, macro-jês, xavantes e outros. Suas sociedades, embora não tivessem construções monumentais como as das civilizações europeias, tinham lei, trabalho coletivo, obras públicas, rede comercial e organização. Calcula-se que só na área em que os tupinambás habitavam existia uma população estimada em um milhão de pessoas. Em 1548, três mil deles já estavam escravizados e trabalhando nos engenhos, outros tantos em aldeias missionárias ou foragidos pelos cantões do Brasil, e o restante dizimado pelas guerras e epidemias. Tempos mais tarde, com a escassez da mão de obra indígena e a necessidade de expansão da cultura açucareira, e posteriormente com a da mineração e do café, chegam angolas, cabindas, manjolos, botolos, minas, jejes, nagôs e outros, trazendo com eles sua tecnologia em mineração, pastoreio e agricultura (Schwarcz, 2015).
Dados recentes atestam que em três séculos mais de cinco milhões de negros africanos foram trazidos ao Brasil e escravizados. Nesse aspecto, índios e negros foram aviltados com a mesma crueldade; enquanto um vê sua terra ser tomada de assalto e passa a ser escravo onde antes era livre, o outro se vê escravizado em sua própria terra, sendo depois dela expurgado para ser escravizado em terras desconhecidas. Mas se engana quem até hoje pensa que toda a subjugação cometida tenha sido passiva e dócil por parte dos índios e negros. Essa história foi marcada por