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Aninhá Vaguretê: Corpo e Simbologia no Ritual do Torém dos Índios Tremembé
Aninhá Vaguretê: Corpo e Simbologia no Ritual do Torém dos Índios Tremembé
Aninhá Vaguretê: Corpo e Simbologia no Ritual do Torém dos Índios Tremembé
E-book235 páginas2 horas

Aninhá Vaguretê: Corpo e Simbologia no Ritual do Torém dos Índios Tremembé

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Sobre este e-book

Invoco para estar presente nesta obra os "encantados", para nos inspirar de modo sagrado. E convido-os, antes da leitura, a tomar um pouco da bebida tradicional do povo Tremembé: o mocororó (a bebida alucinógena, feita do caju azedo), para, assim, adentrarmos o universo sagrado e profano desse ritual. O livro Aninhá Vaguretê: corpo e simbologia no ritual do Torém dos índios Tremembé adentra a cultura indígena, mais especificamente entre os Tremembé da grande Almofala, no município de Itarema, no estado do Ceará (Nordeste do Brasil), onde realiza um estudo sobre a simbologia acerca do ritual do Torém. Para compreender essa cosmovisão de mundo, a autora parte para uma compreensão de base fenomenológica, permitindo apreender como os índios Tremembé sentem suas vivências com o Torém (o ritual sagrado e principal sinal diacrítico entre a etnia). O livro atenua os debates das pesquisas sobre as questões indígenas em Educação Física, em que se tem um número escasso de pesquisadores e dando-se que ainda não há pesquisas sobre os Tremembé na área.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de jul. de 2020
ISBN9788547346096
Aninhá Vaguretê: Corpo e Simbologia no Ritual do Torém dos Índios Tremembé

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    Pré-visualização do livro

    Aninhá Vaguretê - Arliene Stephanie Menezes Pereira

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO FÍSICA

    À minha filha, Dandara,

    minha pequena curumim, minha erê,

    a quem eu amo mais que a mim mesma!

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço primeiramente a Deus, pela minha vida tão bela e preciosa, cheia de alegrias e por ter me conduzido com força e coragem até aqui.

    À minha filha, a pequena Dandara, que considero meu maior título e meu maior bem, que suportou os momentos da falta da mamãe que estava estudando e trabalhando, mas que sempre me recebia com um abraço caloroso ao retornar. Isso me dava forças nos momentos de cansaço físico e mental. Sem você eu não existo mais, filha!

    Ao meu marido, companheiro e melhor amigo, Daniel Pinto, que me encorajou a ir para Natal realizar o sonho de ser mestra em Educação Física e que junto de nossa pequena filha, suportou a minha distância. Te amo!

    À minha mãe, que desde criança me dizia que a maior e única herança que poderia deixar para mim eram os estudos. Que na morte de meu pai cuidou com muito amor e carinho de mim e da minha irmã, mesmo diante de todas as dificuldades financeiras que nós enfrentamos. Você é meu exemplo de mulher guerreira!

    À minha irmã, Maninha (Karliene), que suportou, junto a nossa mãe, todas as dificuldades e mesmo assim somos parceiras infinitamente!

    À minha sogra e à Tia Elisa, que também cuidaram de mim, da minha filha e do meu marido. Ajudavam-me nas tarefas domésticas para que eu tivesse mais tempo para desenvolver meus estudos.

    À minha família (irmã, avô, tios, tias, primos, primas), que constituíram minha caminhada ao longo de toda esta trajetória, embonitando ela com muitas risadas, histórias, abraços e muito amor.

    À minha orientadora, Rosie Marie, do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pelo olhar sensível, pela ternura que exalava nas suas orientações e pelas leituras atentas que embasaram fervorosamente este livro.

    Aos Tremembé, pela amizade, respeito e pela inspiração nas escritas de mais de uma década. Dediquei uma vida acadêmica a escrever sobre e por vocês! Orgulho-me disso e sem vocês eu também não estaria aqui.

    Aos professores Luciana, Luiz e Eduardo, por todo o conhecimento repassado, pelas publicações conjuntas, pela amizade e pelos convites que me reconheciam como professora, pesquisadora e principalmente enquanto pessoa.

    Ao professor João Figueiredo e aos amigos do Gead, pela amorosidade, risos, conversas e possibilidade de descoberta dos estudos sobre os Tremembé, sobre decolonialidade e aprofundamento no pensamento de Paulo Freire.

    Ao professor Claudio Henrique e à Simone Castro, pela iniciação na pesquisa científica. Foi por intermédio deles que me iniciei pesquisadora.

    Ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), instituição na qual sou docente e amo, pelo afastamento parcial concedido para que eu pudesse estudar e retornar à instituição com uma bagagem maior.

    Ao Renan, dono da república em que me hospedei em Natal. Ele era um super parceiro de conversas e auxílio nos momentos longe da minha família e da minha terra.

    Enfim, o meu muito obrigado a todos que de alguma forma contribuíram nessa jornada e torceram por este livro, que não se iniciou aqui, pois faz parte de uma longa jornada percorrida com muitas pedras no caminho, choros, mas com um final de risos e muito amor envolvido.

    Seria pouco dizer que vivemos num mundo de símbolos:

    um mundo de símbolos vive em nós.

    Chevalier e Gheerbrant (1994)

    Sumário

    JORNADA INTRODUTÓRIA

    Das primeiras aproximações aos caminhos

    percorridos 13

    CAPÍTULO 1

    Os Tremembé de Almafala: histórias e memórias 45

    CAPÍTULO 2

    Uma imersão no ritual do Torém: entre o sagrado e

    o profano 75

    Parte 1 – Chama pros cuiambá: cartografia cosmológica do Torém 76

    Parte 2 – A experiência estesiológica do Torém: considerações acerca do ritual

    e suas simbologias 99

    CAPÍTULO 3

    Do retorno as coisas mesmas: implicações simbólicas

    do Torém para a Educação Física 129

    Considerações finais

    O Torém faz vibrar meu corpo 145

    REFERÊNCIAS 153

    LISTA DE ENTREVISTADOS 163

    Índice Remissivo 169

    JORNADA INTRODUTÓRIA

    Das primeiras aproximações aos caminhos percorridos

    O corpo é o primeiro e mais natural instrumento do homem. O mais exatamente, sem falar de instrumento, o primeiro e mais natural objeto técnico do homem é seu corpo [...] Esta adaptação a um fim físico, mecânico (químico, por exemplo quando bebemos) é perseguida em uma série de atos montados, e montados no indivíduo não somente por ele mesmo, mas por toda a sociedade da qual ele faz parte, no lugar que nela ocupa. (MARCEL MAUSS, 1974, p. 217-218)

    Inicio esta obra (que eu poderia afirmar que é um mundo-vida) com uma pequena prosa de meu corpo próprio encarnado no mundo: esse que chamo de meu. Antes de iniciar a percepção da revisitação desse mundo, lanço-me na abordagem fenomenológica para relembrar algumas histórias e pessoas que passaram por ele. Essas histórias, que não são o mundo que está ou esteve diante de mim, mas o mundo que sou. Rememoro então aqui um mundo anterior, que foi o mundo que conheci, com presença de mim nos outros e dos outros em mim. Para essa rememoração trago as palavras de Paulo Freire (1989, p. 8) que afirma que A leitura do mundo, precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente..

    Este livro tem muito a falar sobre o povo indígena Tremembé, porém também discorre sobre minha relação com esse povo. Em razão de que

    [...] nossas relações são construídas a partir das trocas que estabelecemos cada dia, cada minuto, a partir de cada movimento que lanço meu corpo no mundo e a partir das relações humanas que são produtoras de conhecimento. O conhecimento é construído nessa relação, ele não está dado, ele é, sim, experiência do corpo construído com os objetos, com o mundo, com o outro. Não aquele outro, que apenas é útil pra mim, mas esse outro que faz parte da minha carne, que nos evidencia constantemente que estamos vivos no mundo. (MEDEIROS, 2016, p. 111)

    Dado isso, o movimento fenomenológico do livro se inicia, portanto, com uma intencionalidade – que nas ciências exatas, talvez, seria chamado de conflito de interesses. Mas é a palavra que colhe neste livro o sentido do vivido, recolhendo as experiências, reunindo a um só tempo o espaço, o eu, os outros e o mundo vivido. Eu diria que esta obra se confunde com a minha existência como pessoa. Pois,

    Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, precisamos primeiramente despertar essa experiência do mundo da qual ela é a expressão segunda. (MERLEAU-PONTY, (1945/1994, p. 3)

    Essa jornada introdutória abre as portas da exploração de um mundo percebido. De todos os questionamentos possíveis que ouvi, talvez alguns tenham marcado mais intensamente essa trajetória de mundo. Quantas vezes, no meu cotidiano, rememorando minhas pesquisas e declarando-as a outros sujeitos, não escutei: E tem índio no Ceará? Pensei que era só na Amazônia!. Ou ainda: O que a Educação Física tem a ver com os índios?. Ora, o corpo se apresenta como objeto de pesquisa na construção dos saberes da Educação Física, não só por estar vinculado ao movimento, mas por estar estritamente vinculado à cultura humana. Sendo toda cultura construída por meio do corpo, estabelecendo esse contato inerente ao mundo. Endosso ainda que Eliade (2010) nos traz que a cultura é permeada de significações simbólicas.

    Permeio a afirmação de Eliade com o pensamento de Zumthor (1993), que diz que a cultura é

    [...] um conjunto complexo e heterogêneo de condutas e de modalidades discursivas comuns, determinando um sistema de representações e uma faculdade de todos os membros do corpo social de produzir certos signos, de identificá-los e interpretá-los da mesma maneira: como – por isso mesmo – um fator entre outros de unificação das atividades individuais. (p. 22-23)

    Os povos indígenas também produzem cultura, mas ficam à mercê de uma sociedade que os despreza socialmente, e que parecem só existir em datas rememorativas, assim como, a Educação Física tem pouco interesse em vinculá-los as pesquisas. Assim, Ao tecer essa rede de sentidos, permeamos a cultura como campo criador e construtor da própria existência ao estabelecer o contato inerente ao mundo (FREIRE; MEDEIROS, 2018, p. 158).

    Neste livro faço um movimento contrário a esse mencionado. Vinculo as experiências étnicas ao entendimento de corpo e corporeidade. Aqui não falo de fenomenologia, vivo a fenomenologia. Esse movimento metodológico que dá relevância aos fenômenos da consciência. E tudo que devemos saber do mundo são exatamente esses fenômenos. Cada sujeito designa tais fenômenos, representando neles uma essência, uma significação. Descrevendo incialmente uma experiência preambular que me afetou de modo significativo.

    Assim, abraço o movimento fenomenológico para viver uma experiência estesiológica, parte da estesiologia, que é o estudo das sensações e aspectos sensíveis vistos, ouvidos, vividos e percebidos.

    Para tanto, não caberia iniciar contando apenas sobre uma mera coleta de dados, ou ainda tentando justificar apenas a importância deste trabalho, visto que antes de tudo este livro tem uma importância para mim mesma. Pois, se talvez não tivesse eu nem poderia falar de fenomenologia. Considerando, também, que esta obra está implicada em outros saberes, imbricada em outras histórias, e no mergulho intenso de uma vasta leitura sobre os indígenas, além de vivências ímpares entre os Tremembé.

    Assim, em fenomenologia é necessário mais que a exposição de um tema, é necessário sempre mais. Faz-se necessário uma fenomenologia nas profundezas, aliada a uma experiência estesiológica, esta que narra a experiência vivida, praticando-a e vivendo-a de algum modo. Compreendendo-se por experiência estesiológica do corpo uma ciência dos sentidos que é ampliada sobre as experiências e sensações corpóreas, abrangendo o corpo como sentido existencial entre o corpo vivo e vivido; e criando possibilidades de compreensão da corporeidade que reúnam as dimensões descontínuas entre o corpo e sua experiência vivida.

    Então, dou início a esta narrativa, partindo de uma descrição em forma de monólogo da minha história particular e sob meu próprio relato pessoal; ilustrando-o com várias imagens dos momentos relatados, como forma de expressar minha experiência no mundo e compartilhá-la comigo mesma e com os outros. Esta introdução preambular é uma forma de versar sobre a iniciação de uma pesquisa que não se iniciou agora.

    Este livro me atravessa enquanto professora, enquanto pesquisadora, enquanto pessoa... Esse movimento fenomenológico tem desdobramentos inaugurais bem antes dessa pesquisa, ainda na minha infância, quando escutava as

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