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HIPÉRION - Hölderlin
HIPÉRION - Hölderlin
HIPÉRION - Hölderlin
E-book206 páginas4 horas

HIPÉRION - Hölderlin

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Sobre este e-book

Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770 — 1843) foi um filósofo, poeta lírico e romancista alemão que conseguiu sintetizar na sua obra poética o espírito da Grécia antiga, A obra Hiperion ou O Eremita na Grécia pode ser considerada uma autobiografia em cartas enviadas pelo personagem Hyperion sobretudo ao amigo Bellarmin, e a Diotima. O texto transcorre na Grécia antiga, mas, cerca de 200 anos após ter sido escrito, as palavras que descrevem forças invisíveis, conflitos, beleza e esperança continuam atuais. Quem nunca sentiu o anseio utópico de Hiperion pela harmonia com a natureza e Deus, livre da alienação. A obra Hiperion faz parte da coletânea: 1001 Livros para ler antes de morrer, de Peter Boxall.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de ago. de 2020
ISBN9786587921228
HIPÉRION - Hölderlin

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    HIPÉRION - Hölderlin - Friedrich Hölderlin

    cover.jpg

    Friedrich Hölderlin

    HIPÉRION

    Ou

    O Eremita da Grécia

    1a edição

    img1.jpg

    Isbn: 9786587921228

    LeBooks.com.br

    A LeBooks Editora publica obras clássicas que estejam em domínio público. Não obstante, todos os esforços são feitos para creditar devidamente eventuais detentores de direitos morais sobre tais obras.  Eventuais omissões de crédito e copyright não são intencionais e serão devidamente solucionadas, bastando que seus titulares entrem em contato conosco.

    Prefácio

    Prezado Leitor

    Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770 — 1843) foi um filósofo, poeta lírico e romancista alemão que conseguiu sintetizar na sua obra poética o espírito da Grécia antiga, os pontos de vista românticos sobre a natureza e uma forma não-ortodoxa de cristianismo, alinhando-se hoje entre os maiores poetas germânicos. Hölderlin é considerado, juntamente com Hegel e Schelling, um dos fundadores da corrente filosófica conhecida como idealismo alemão.

    Hiperion é uma espécie de autobiografia em cartas enviadas pelo personagem Hyperion sobretudo ao amigo Bellarmin, e a Diotima. O texto transcorre na Grécia antiga, mas, cerca de 200 anos após ter sido escrito, as palavras que descrevem forças invisíveis, conflitos, beleza e esperança continuam atuais. Quem nunca sentiu o anseio utópico de Hiperion pela harmonia com a natureza e Deus, livre da alienação. A obra Hiperion faz parte da coletânea: 1001 Livros para ler antes de morrer, de Peter Boxall.

    Uma excelente leitura

    LeBooks Editora

    Sumário

    APRESENTAÇÃO

    Sobre o autor

    Sobre a obra

    TOMO I

    LIVRO I

    LIVRO II

    TOMO II

    LIVRO I

    LIVRO II

    APRESENTAÇÃO

    Sobre o autor

    img2.png

      Pois nossa geração caminha como no Hades, sem o divino. 

       F. Hölderlin

    Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770 – 1843) estudou filosofia e teologia como bolsista em Tübingen onde manteve comunhão espiritual com Hegel e Schelling que se tornariam filósofos de monumental importância.

    Como muitos escritores alemães da época que queriam evitar a carreira religiosa Hölderlin embarcou então em um período de 10 anos em empregos instáveis, trabalhando como professor particular em casa de famílias ricas.

    Em 1806 Hölderlin estava completamente louco. Foi removido à força para Tubingen, onde foi internado em uma torre por 36 anos antes de morrer em 1843.

    Em seu período confinado, preferiu assinar seus poemas como Scardanelli a usar seu próprio nome. Seus poemas escritos após sua internação são considerados suas maiores obras, entretanto, até o século XX eram descartadas por serem julgados insanas.

    Foi apenas no século XX que sua genialidade foi reconhecida. Luminares tão diversos quanto o filósofo Martin Heidegger e o poeta Jonh Ashbery o citam como uma poderosa e desconcertante influência na história da poesia moderna.

    Sobre a obra

    Hiperion é uma espécie de autobiografia em cartas de Hyperion enviadas sobretudo ao amigo Bellarmin, mas com algumas a Diotima. O texto transcorre na Grécia antiga, mas, cerca de 200 anos após ter sido escrito, as palavras que descrevem forças invisíveis, conflitos, beleza e esperança continuam atuais.

    O romance atua em diversos níveis como uma reflexão ficcional sobre o Iluminismo e a Revolução Francesa.

    No nível filosófico, pode ser interpretado como uma investigação da separação entre sujeito e objeto, entre indivíduos e entre o homem e a natureza, como condição de sua unidade. No nível político, expressa a ambivalência em relação à razão e força revolucionária como instrumentos possíveis de progresso social e histórico - elementos que ainda existem em várias formas do século XX.

    A descrição crítica de Hölderlin da sociedade alemã de sua época continua aplicável à Europa Ocidental burguesa do terceiro milênio. Quem nunca sentiu o anseio utópico de Hiperion pela harmonia com a natureza e Deus, livre da alienação, que peça ao caixa divino o dinheiro de volta. As razões inexplicáveis estão ligadas ao amor, à linguagem e a Diotima. Mas para sentir isso é preciso mergulhar na experiência de ler o romance.

    TOMO I

    Non coerceri máximo, contineri minimo, divinum est{1}.

    LIVRO I

    Prólogo

    A esse livro gostaria de ver dedicado o amor dos alemães.

    Temo, porém, que alguns o haverão de ler como um compêndio, atentando em demasia à fabula docet, enquanto outros só chegarão a apreendê-lo com superficialidade e, assim, ninguém o compreenderá.

    Aquele que toma minhas plantas meramente para sentir-lhes o odor não as conhece nem aquele que as colhe para estudar-lhes o teor.

    A resolução das dissonâncias em um certo caráter não se oferece nem para a simples reflexão nem para o prazer vazio.

    O cenário em que se desenrolou o que deverá seguir-se não é novo e confesso que até já fui bastante infantil ao tentar modificar o livro nesse aspecto. Convenci-me, porém, de ser esse o único cenário adequado ao caráter elegíaco de Hipérion. E senti vergonha de me ter deixado amoldar, exageradamente, pelo provável desligamento do público.

    Lamento que, por agora, ainda não seja possível uma avaliação do plano. Mas o segundo tomo deve seguir o mais rápido possível.

    Hipérion a Belarmino

    O solo amado da terra, mais uma vez, me oferece alegria e sofrimento.

    Encontro-me, agora, toda manhã, no alto do istmo de Corinto e, tal como as abelhas nas flores, minha alma vagueia entre os mares que, à direita e à esquerda, refrescam os pés de minhas esplendorosas montanhas.

    Um dos dois golfos haveria de alegrar-me, em particular, se aqui me tivesse detido há um milênio.

    Como um semideus vitorioso, jovem Corinto flutuava, em meio ao encanto selvagem de Hélicon e de Parnaso, ali onde a aurora abraça centenas de cumes recobertos de neve, em meio ao prado paradisíaco de Sícion, ali onde o golfo saliente adentrou a cidade da alegria, depositando aos pés de sua favorita a riqueza capturada de todos os confins da terra.

    Mas em que isso me concerne? O grito do chacal, elevando sob os escombros da Antiguidade seu canto selvagem e tumular, arrancou-me de meus sonhos.

    Feliz o homem que possui uma pátria em flor para fortalecer e alegrar seu coração! Comigo, porém, acontece como se me tivessem lançado num poço, cerrado a tampa do ataúde e, quando alguém me chama de grego, é como se a coleira de um cão me estrangulasse a garganta.

    E vê, meu Belarmino! e quando, mesmo assim, por vezes, uma palavra me fugia, quando, mesmo na ira, uma lágrima me alcançava os olhos, acorriam, então, os doutos senhores que, entre vós alemães, tanto se comprazem em aparecer como fantasmas, esses miseráveis, para quem basta um ânimo sofrido para suscitar todos os seus ditames, regozijando-se e enchendo o coração de bondade para me dizer: não te lamentes, age! Oh, se jamais tivesse agido! de quantas esperanças não estaria mais rico!

    Sim, mas esquece que existem homens, coração atormentado, carente e de mil modos enfurecido! E retorna para o lugar de onde vieste, para os braços da natureza, permanente, serena e bela.

    Hipérion a Belarmino:

    Nada possuo que me permita dizer: isso é meu próprio.

    Distantes e mortos encontram-se meus amados, e deles nada mais escuto-o.

    Minha tarefa na terra já terminou. Cheio de vontade, parti para o trabalho, ali sangrei e não enriqueci o mundo de um centavo sequer.

    Sem fama e sozinho retorno, e andarilho em minha pátria que, ao meu redor, assemelha-se a um cemitério, onde, à minha espera, talvez se encontre apenas a faca do caçador, que se compraz em cercar a nós gregos como a um selvagem da floresta{2}.

    Mas ainda apareces, sol do céu! Ainda verdejas, terra sagrada! Ainda murmuram os rios em direção ao mar, e as árvores em sombras enfileiram-se como colunas ao meio-dia. O delicioso canto da primavera embala e adormece meus pensamentos mortais. O mundo, em toda a efusão de sua vida, nutre e embriaga a carência de meu ser.

    Natureza bem-aventurada! Não sei o que em mim se passa quando meu olhar se eleva à tua beleza, mas todo o prazer do céu reside nas lágrimas que verso diante de ti, a bem-amada das amadas.

    Todo meu ser silencia e escuta a terna onda do vento tocar-me o peito. Perdido na vastidão azul, olho muitas vezes, lá no alto, para o éter e, cá embaixo, para o mar sagrado e, em mim, é como se um espírito fraterno me abrisse os braços e a dor da solidão se dissipasse na vida do divino.

    Ser um com o todo, essa é a vida do divino, esse, o céu dos homens.

    Ser um com a vida do todo, retornando, numa venturosa abnegação de si mesmo, ao todo da natureza, esse é o ápice do pensamento e da alegria, o cimo sagrado da montanha, o lugar do descanso eterno, em que o meio-dia perde seu calor entorpecente, o trovão a sua voz e o mar em ebulição se assemelha às ondas de um trigal.

    Ser um com a vida do todo! Com essas palavras a virtude despe-se da armadura enraivecida, o espírito humano perde o cetro e todos os pensamentos desaparecem diante da imagem do mundo eterno e uno. É como desaparecem, diante de sua Urânia, os embates do artista pela regra, como o destino de bronze escapa ao domínio e a morte desprende-se da aliança dos seres, quando a união inviolável e a eterna juventude abençoam e embelezam o mundo.

    Sobre esse ápice encontro-me com frequência, meu Belarmino! Um instante de meditação, porém, de lá me arranca. Penso e vejo-me, então, como era antes, sozinho, com todas as dores da mortalidade, e o asilo de meu coração, o mundo eterno e uno, me abandona: a natureza fecha seus braços e, diante dela, ponho-me de pé, como um estranho, e não a compreendo{3}.

    Ah! Se jamais tivesse frequentado vossas escolas. A ciência que segui até o fundo do poço, da qual esperei, jovem estúpido, a confirmação de minha pura alegria corrompeu tudo em mim.

    Junto a vós, tornei-me tão reto e prudente, aprendi a me distinguir fundamentalmente do que me cerca e envolve, e eis que me vejo tão isolado num belo mundo, tão deslocado do jardim da natureza, aquele em que cresci e floresci, ressecando ao sol do meio-dia.

    Quando sonha, o homem é um deus, mas quando reflete, um mendigo. E quando a admiração lhe atravessa, ele ali sé põe de pé, como um filho desgarrado, expulso da casa paterna, a olhar o pobre centavo atirado em seu caminho, por compaixão.

    Hipérion a Belarmino

    Agradeço por teres pedido que eu fale de mim, já que, assim, me devolves à memória os tempos idos.

    Isso me obrigou, igualmente, um retorno à Grécia e a tal ponto que quis viver mais próximo dos jogos de minha juventude.

    Como o operário em seu sono reparador, meu ser atormentado mergulha, muitas vezes, nos braços do passado inocente.

    Repouso da infância! Repouso dos céus! Quantas vezes me sereno diante de ti numa observação amorosa, e desejo lembrar-te! Sim, mas só possuímos conceitos do que, alguma vez, já foi ruim e novamente se fez bom; da infância, da inocência não temos conceito algum.

    Porque era ainda uma criança serena e nada sabia de tudo o que nos cerca, não era então mais do que agora sou, após todas as penas do coração, todas essas ponderações e embates?

    Sim! a criança é um ser divino enquanto não desponta a cor de camaleão própria dos homens.

    Ela é inteiramente o que é, sendo bela por isso.

    A constringência da lei e do destino não a toca. Na criança, há liberdade apenas.

    Nela, há paz; ela ainda não se dividiu dentro de si mesma. Nela, há riqueza. Conhece o próprio coração, mas não a indigência da vida. É imortal, pois nada sabe da morte.

    Mas isso os homens não podem suportar. É preciso que o divino se assemelhe a algo seu, que faça a experiência de que eles aí também se encontram e antes que a própria natureza o expulse de seu paraíso, os homens o adulam e o lançam no campo da maldição, a fim de que também o divino trabalhe, como eles, com o suor do próprio rosto.

    Belo, porém, é o tempo do crescimento desde que não seja apressado intempestivamente.

    Oh! Dias sagrados em que nosso coração exercita, pela primeira vez, suas asas, em que nos erguemos no mundo magnífico, pela força de um crescimento rápido e ardente, como as plantas jovens que se abrem para o sol da manhã e os pequenos braços se alçam para o céu infinito.

    Como errei pelas montanhas e pela costa marítima! Ah! quantas vezes, ali, nas alturas de Tinos, sentei-me com coração palpitante e avistei falcões e grous, navios alegres e audaciosos desaparecerem, lá embaixo, no horizonte. Lá embaixo. Pensei, ali também haverias de peregrinar e senti-me como um enfermo ardendo em febre que se precipita no banho refrescante e versa sobre a fronte a água espumante.

    Ofegante retornei a casa. Pensei, então, se pudesse acabar com esses anos de aprendizagem.

    Jovem bom! Ainda é preciso atravessá-los.

    Que, em sua juventude, o homem se acredite tão perto do alvo! Essa é a mais bela de todas as ilusões com que a natureza consola a fraqueza de nosso ser.

    E quando, tantas vezes, deitado entre as flores e ensolarado a doce luz da primavera, admirava o azul fascinante que envolvia a terra quente, quando me sentava entre olmos e prados, no seio da montanha, após uma chuva revolvedora, quando os galhos ainda se mexiam pelos toques do céu e, sobre a floresta gotejante, moviam-se nuvens áureas, ou quando a estrela vespertina surgia cheia de um espírito livre juntamente com os antigos discípulos, os últimos heróis do céu, e via, então, como neles a vida prosseguia numa ordem eterna e apaziguada pelo éter, e a calma do mundo me abraçava e alegrava a ponto de eu atentar e ouvir, sem saber, como me acontecia... Se tu me amavas, bondoso pai do céu, perguntava, sorrateiramente, e sentia, no coração, a sua resposta tão segura e aventurada.

    O tu, a quem clamava, como se estivesse sobre as estrelas, a quem chamava de criador do céu e da terra, ídolo amigo de minha infância, haverás de querer-me se eu te esquecer? - Por que o mundo não é suficientemente pobre para buscar fora de si ainda um outro{4}?

    Se existe um pai para a natureza maravilhosa, não será o coração de sua filha o seu próprio coração? O seu interior mais resguardado não será Ele? Mas eu o possuo? Eu o conheço?

    Era como se o visse, mas eis que, de novo, me assusto como se tivesse visto minha própria figura. Era como se o sentisse, o espírito do mundo, mas acordo e guardo a impressão de a mão quente de um amigo ter apertado meus próprios dedos.

    Hipérion a Belarmino

    Sabes o quanto Platão e sua Stella se amaram?

    Assim amei, assim fui amado. Fui um rapaz feliz.

    É tão regozijante quando o mesmo se acompanha do mesmo, mas é divino quando um grande homem atrai para si os

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