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As Máscaras Vermelhas de Montevideu, por James Dargan
As Máscaras Vermelhas de Montevideu, por James Dargan
As Máscaras Vermelhas de Montevideu, por James Dargan
E-book211 páginas2 horas

As Máscaras Vermelhas de Montevideu, por James Dargan

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AS MÁSCARAS VERMELHAS DE MONTEVIDEU

 “Vá devagar quando caminhar sobre as pedras.” – Provérbio Uruguaio

As Máscaras Vermelhas de Montevideu é um romance que abrange a história de uma pequena República Sul Americana chamada Uruguai. Dos primeiros anos de assentamento Espanhol no século 16 até os dias modernos da Montevideu em 1970 quando o país passava por uma turbulência violenta e política. É um conto de paixão e carnificina, do seu povo e lugares, das lendas que formam a psique de uma nação pintada sobre a tela da passagem e do tempo.

Se você quer realmente entender o Uruguai, então este é o livro.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de set. de 2020
ISBN9781071566633
As Máscaras Vermelhas de Montevideu, por James Dargan
Autor

James Dargan

James Dargan was born in Birmingham, England, in 1974. Coming from an Irish background, he frequently writes about that experience. As well as England, he has also lived in the United States, Ireland, and - for the best part of fifteen years - in Warsaw, Poland, his home from home from home.

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    As Máscaras Vermelhas de Montevideu, por James Dargan - James Dargan

    O ESCRITÓRIO

    Pietro ‘Pedro’ Abate aceitou o trabalho por capricho. Criado em Allentown, Pensilvânia, o policial nascido na Itália se juntou a força policial logo após o ensino médio e traçou sua trajetória. Na sequência foi o FBI, onde ele passou alguns anos na Áustria e em Berlim Ocidental, cobrindo a Stasi, trabalhando para a Cooperação Administrativa Internacional. Sua próxima tarefa foi no Brasil. Em 1964, seguiu para Assunção, capital do Paraguai, onde Abate foi roubado, baleado e deixado para morrer. Mas ele acabou sendo um homem de sorte: um pulmão perfurado e um raspão no pescoço foram o pior de tudo. Porém, o sofrimento nunca ficou sem recompense e, por causa do seu bom histórico no continente, ele foi cogitado para o Uruguai, pelo secreto Escritório de Segurança Pública, ou abreviado ESP (OPS), para vigiar a luta do partido Colorado do Presidente Jorge Pacheco Areco contra o movimento de guerilha urbana esquerdista.

    Abate trouxe com ele sua família, a esposa de vinte anos e três filhos pequenos. Para o italiano-americano Abate, Montevideu era a terra latina das maravilhas, muito parecida com sua cidade natal, Cagliari, na Sardínia.

    Ele já havia tido duas semanas para se estabelecer, encontrando ele mesmo uma casa e escolas para as crianças. Mas agora, ele estava preparado para o seu primeiro dia de trabalho.

    A sede do Escritório de Segurança Pública era um prédio discreto em uma pequena rua da Avenida España no centro de Montevideu. Ele estava lá para conhecer o Chefe de Inteligência Policial uruguaio, Pablo Portero, seu chefe durante a estada no país sul americano.

    O inglês de Portero era excelente, portanto a comunicação nunca seria um problema. Formado pela Acadêmia de Polícia na capital do seu país, Portero havia passado um tempo em Washington D.C e Texas para aprender técnicas avançadas de contrainsurgência. Seu governo estava em Guerra com o Movimento de Libertação Nacional, ou MLN-T, mais conhecido popularmente por Tupamaros. O Uruguai, uma vez potência econômica da América Latina, sofrera um declínio ao longo da última década. O Presidente Pacheco implementou um congelamento dos salários, em uma tentativa de combater a inflação. Um estado de emergência também havia sido declarado quando, por todo o pequeno país de apenas dois milhões e meio, disputas trabalhistas envolvendo trabalhadores e estudantes explodiram. O governo perdeu o rumo – assim como Portero e sua força policial. Algo deveria ser feito. Foi por isso que eles chamaram o americano: para limpar a capital dos revoltosos, de uma vez por todas.

    Manuel Flores, empregado como motorista para a ESP, buscou Abate em seu Ford Falcon Sedan preto às nove horas em ponto na moradia de quatro quartos no bairro de Pocitos. Da mesma forma que Portero, Flores falava bem o inglês.

    Olá, Manuel, da porta disse Abate à Flores.

    Bom dia, senhor, Flores respondeu.

    Flores sabia onde tinha que ir. Eles percorreram a maioria do caminho em silêncio.

    As ruas de Montevideu estavam inundadas de viaturas e policiais com cassetetes e armas. Pessoas normais viviam com medo de serem sequestradas, ou pela polícia ou pelas guerilhas. A Guerra urbana era brutal, porém como de costume, eram os civis normais que sentiam o peso disso tudo.

    Flores entrou no prédio, seguido por Abate. O motorista levou ele para o andar de cima, até Portero.

    O Sr. Portero está aí, Flores disse à Abate antes de desaparecer.

    Abate bateu na porta.

    Entre, Portero disse em espanhol. O americano entrou. Ah, Sr. Abate, você conseguiu, ele acrescentou em inglês. Portero colocou na mesa seu mate e a bombilla - um canudo de metal - contendo Yerba, a bebida nacional dos uruguaios. Por favor, entre e sente-se.

    Portero estava vestido de maneira impecável, em um terno cívico escuro e parecia no papel de policial no poder.

    Eles apertaram as mãos.  

    Portero já havia encontrado com Abate algumas vezes, uma vez em uma conferência internacional de segurança na capital brasileira, Brasília, dois anos antes.

    Gostaria de beber algo? Portero perguntou.

    Não, obrigado.

    O que você acha?

    "Acho do quê?"

    Seu escritório?

    "Este é o meu?" Abate respondeu surpreso.

    Sim... Eu sei que está um pouco escasso no momento, mas estou em processo de conseguir tudo o que você precisa, como uma máquina de escrever, um armário de arquivos, material de escritório, esse tipo de coisa.

    "E que tal uma secretária?" Abate disse enquanto olhava ao redor apreensivo. Os brasileiros haviam sido muito mais acolhedores no Rio, dando à ele um escritório de rei.

    Eu sei que você acha que não é muito, mas veja bem, sua estada por aqui não pode ser a notícia de amanhã e-

    Eu não entendo? Abate disse, interrompendo-o.

    Seu governo não quer que ninguém saiba que você está aqui nos auxiliando.

    Eu já conversei com o secretário pessoal de Byron Engle, Luke Millington: ele disse que o Diretor da USAID deu permissão para isso.

    E ele deu.

    O ESP estava sob o controle do USAID,  a Agência Internacional dos Estados Unidos para o Desenvolvimento.   

    Mas você sabe como funciona no seu país, Sr. Abate, as coisas nem sempre são o que parecem.

    Quando cabia qualquer decisão definitiva, era Richard M. Helms, Diretor da Central de Inteligência, que tinha a palavra final.

    Aqueles filhos da mãe, Abate disse, referindo-se ao seus chefes em Washington D.C.

    Nós temos um ditado em meu país, Sr. Abate, e eu acredito que você deve levá-lo em consideração enquanto estiver por aqui.

    E qual é? Abate pediu, pegando a bombilla e o mate de Portero que estavam na mesa.

    Galinhas empoleiradas no topo querem cagar naquelas abaixo.

    Eu não entendi?

    Ah, por favor, Sr. Abate, Portero disse, enquanto tirava a bombilla dele, você é um homem esperto e astuto. Seu governo nunca o teria mandado à nós se você não fosse... Agora, vou deixá-lo para que se acomode no seu escritório. Direi a Manuel para esperar do lado de fora do prédio. Você sabe que ele está a sua disposição, não sabe?

    Isso significa que não terei meu próprio carro?

    Eu lamento.

    Eu não sabia que isso fazia parte do acordo?

    Melhor falar com seus chefes em Washington então, Sr. Abate.

    Vou levar em consideração o seu conselho.

    Portero andou até a porta, abriu-a, e disse quando estava na metade do caminho da saída:

    "Ah, minha esposa e eu teremos um jantar no sábado. Gostaríamos de convidá-lo... Sua esposa e o senhor, correto?"

    Eu lamento, mas já temos compromisso marcado esse final de semana.

    Abate já estava construindo muros e queimando pontes no Uruguai.

    Tudo bem. Portero acendeu um cigarro. Então, vemo-nos amanhã.

    "E a secretária?"

    Veremos.

    Portero deixou o cômodo.

    "E certifique-se que ela seja bilíngue!" Abate gritou.

    O escritório era a sua primeira reclamação: os uruguaios não se curvariam aos americanos como a administração brasileira, sob o comando do Presidente Castelo Branco, havia feito, banhando com vinho, mulheres e música os agentes americanos que lá estavam para suprimir as forças contra-revolucionárias contrárias ao regime.

    Era isso então, e agora o que: Abate teria de se acostumar com isso.

    O SOBREVIVENTE

    A caravela de quinze metros, capitaneada pelo piloto-major Juan Díaz de Solís, navegava rio acima durante dias. Estava agora perto da cofluência do que um dia seriam os rios Uruguai e Paraná, tendo navegado até o Rio  de la Plata, o qual De Solis já tinha nomeado em homenagem ao seu patrocinador, Rainha Joanna de Castela – e a partir daquele ano também Aragão. Eles já haviam entrado em contato com uma tribo nativa, os Charrúa: alguns ficaram felizes em vê-los, porém os outros bem menos.

    "O que você acha que devemos fazer, Capitão?" disse o Tenente Pedro Durán, seu Segundo em comando, enquanto olhavam da proa do navio.

    Ir adiante – o que mais?

    Durán era o mais precavido dos dois. Eles já haviam perdido trinta homens pelo caminho. Agora, os dois oficiais e onze altamente armados ‘Conquistadores’ estavam assumindo o maior risco desde que haviam partido em sua jornada, meses antes, de Sanlúcar de Barrameda na Espanha.  A tarefa de Díaz de Solís era explorar os extremos da região sul da recém-unificada Coroa Espanhola e acrescentar detalhes cartográficos ao Registro Real – o modelo usado em todos os navios espanhóis. O trabalho era importante, e o piloto-major não queria falhar.

    Dos soldados comuns, dois terços estavam descontentes com o que estavam sendo atraídos.

    Ele está nos levando para o inferno, Simon Padilla, um soldado com dez anos de experiência no Novo Mundo reclamou com seus melhores amigos, Patricio Ramirez e   Francisco del Puerto.

    Era o auge do verão, a umidade e o calor os estava matando em seus capacetes e peitorais de aço, assim como as armas que tinham de carregar: alabardas e arcabuzes. Em batalha, a armadura e as armas poderiam salvar suas vidas, mas no restante do tempo, elas eram um incômodo de usar e transportar.

    A noite caiu e o grupo acampou nas margens do rio. Depois de seus mais recentes conflitos com as tribos nativas da região, Díaz de Solís decidiu que enquanto metade dos seus homens dormia, o restante deveria ficar de guarda em turnos de três horas.

    Paimaca Tacuavé, chefe dos Charrúa na região, estava na grande cabana do ancião da vila, Pamayo Incayam, conversando com o segundo em comando, Tomárahon Zamúca. Os guerreiros estavam prontos para outro ataque. O chefe estava procurando vingança – seu irmão mais novo, Maputi, foi morto dias antes por ‘uma vara mágica que fazia brotar fogo’. A unidade política entre as diferentes vilas Charrúa que estavam espalhadas nas margens – e no interior adentro – do Rio de la Plata era, na melhor hipótese, instável. Eles estavam em guerra com uma tribo conhecida como os Yaro por duas gerações – o aparecimento de homens estranhos com pele pálida e cabelo loiro era uma distração que eles não precisavam.

    Vão. Mate-os. Tragam os corpos de volta para que possamos nos deliciar com eles, disse o mais velho da vila.

    Uma jovem mulher – neta de Pamayo Incayam – estava assando um tamanduá gigante em um espeto para a festa pré-batalha.

    Então, não faremos prisioneiros? Paimaca Tacuavé perguntou.

    Não – o shaman ordenou que não o fizéssemos.

    No dia anterior, Talú Tavé, o homem da medicina local, havia dado à Pamayo Incayam aconselhamento perspicaz usando as vinte e seis costelas de um jaguar recentemente morto. A previsão profética, como sempre, deu muito o que pensar ao ancião da vila antes de seu banquete com Paimaca Tacuavé, chefe de seu povo e o homem que guiaria seus guerreiros em uma batalha gloriosa contra os estranhos. Na melhor das hipóteses, os Charrúas – se fosse necessário – conseguiriam juntar 2.000 homens, em idade de luta, de todas as aldeias. Aquele cenário, no entanto, não acontecia há mais de duzentos e cinquenta anos, desde a grande Guerra com os Bohán que chegou a um final sangrento, porém de paz. Paimaca Tacuavé havia ouvido histórias, passadas de pai para filho, geração após geração, até que a lenda contada tornou-se um tipo de obsessão indefinida para ele.

    Paimaca Tacuavé deixou a cabana do ancião com a barriga cheia e um sorriso – ele iria vingar a morte de seu irmão. Não haveria perdão. Haveria apenas uma dor terrível e tortura para os homens estranhos que haviam atacado as terras de caça sem simpatia ou respeito.

    O acampamento noturno às margens do rio passou sem incidentes. Díaz de Solís decidiu subir mais longe no rio. Durán e alguns dos outros homens discutiram o caso deles, mas no fim, a superioridade – e o fato de que o piloto-major tinha o poder de executar qualquer um que fosse insubordinado – era razão suficiente para eles segurarem suas línguas.

    Estou preocupado, señor, disse Durán depois de estarem viajando por uma hora.

    Com o quê? Diaz de Solis respondeu.

    Estou preocupado de encalharmos.

    Durán era também um marinheiro experiente, igualando-se a seu superior nos aspectos mais práticos da navegação. No Rio Uruguai eles avistaram animais que nunca haviam visto antes. Díaz de Solís havia explorado a Península de Yucatán e partes do norte do Brasil nos anos anteriores,  neste último como navegador para Vicente Yáñez Pinzón. Durante aquela viagem, eles estavam bem supridos de alimento, armas e homens. Desta vez, todavia, quase dez anos depois, o piloto-major não estava em posição para fazer o que ele queria fazer.

    Eu lhes disse, ele está nos levando pro inferno, Padilla comentou com seus companheiros novamente – compadres - mais próximos, fora do alcance dos ouvidos dos oficiais.

    Nós teremos que confiar neles, Francisco del Puerto respondeu.

    Padilla zombou do cometário.

    Chefe dos Charrúas, Paimaca Tacuavé, estava pronto para a batalha. Ele carregava uma longa lança, desenvolvida para ser arremessada, mas boa para atacar também. Em suas costas nuas estavam seu

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