Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

As palavras não são desse mundo
As palavras não são desse mundo
As palavras não são desse mundo
E-book74 páginas2 horas

As palavras não são desse mundo

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Entre as correspondências que Hugo von Hofmannsthal guardou (1874-1929), as cartas trocadas na juventude com Edgar Karg (1872-1905) ocupam um lugar de destaque, tanto que próprio poeta chegou a pensar em publicar boa parte delas, em uma antologia que recolheria o melhor da sua produção juvenil. Ao mesmo tempo que o seu precoce talento é celebrado nos círculos literários, Hofmannsthal procura aqui aproximar à própria existência de "poeta" um amigo que, ocupado nos serviços da Marinha frequentemente muito distantes, não pode compartilhar com ele a mesma riqueza cultural. Não se tratava, porém, de fazer trabalho de baixa divulgação, mas, sim, de liberar a poesia da atmosfera artificiosa dos salões e das academias, colocando-a em relação à existência dos homens. Temas e problemas que desempenham um papel fundamental na sua obra e em boa parte da poesia moderna, são, aqui, enfrentados de maneira imediata, e são continuamente confrontados e relacionados às experiências cotidianas e aos afetos comuns. De um lado os primeiros passsos dados por Hofmannsthal no "caminho em direção à vida", na tentativa de romper, graças a essa amizade, o isolamento do artista. Do outro uma límpida, inédita perspectiva sobre a reflexão empreendida por Hofmannsthal sobre a literatura, sobre a sua relação com a vida, e em geral sobre a amizade e a formação do indivíduo. Um daqueles raros casos em literatura em que a expressão une felizmente imediatismo e profundidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de out. de 2020
ISBN9786586683110
As palavras não são desse mundo

Relacionado a As palavras não são desse mundo

Ebooks relacionados

Filosofia para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de As palavras não são desse mundo

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    As palavras não são desse mundo - Hugo von Hofmannsthal

    As palavras não são deste mundo

    Briefwechsel: Hugo von Hofmannsthal — Edgar Karg von Bebenburg

    Hugo von Hofmannsthal

    © Editora Âyiné, 2ª edição, 2020

    Seleção: Marco Rispoli

    Tradução: Flávio Quintale

    Preparação: Érika Nogueira

    Revisão: Fernanda Alvares, Ana Martini

    Projeto gráfico: Luísa Rabello

    Imagem de capa: Julia Geiser

    Conversão para ePub: Cumbuca Studio

    ISBN 978-65-86683-11-0

    Editora Âyiné

    Belo Horizonte, Veneza

    Direção editorial: Pedro Fonseca

    Assistência editorial: Érika Nogueira Vieira, Luísa Rabello

    Produção editorial: André Bezamat, Rita Davis

    Conselho editorial: Lucas Mendes de Freitas,

    Simone Cristoforetti, Zuane Fabbris

    Praça Carlos Chagas, 49 — 2º andar

    30170-140 Belo Horizonte — MG

    +55 31 3291-4164

    www.ayine.com.br

    info@ayine.com.br

    Sumário

    Capa

    Créditos

    Folha de Rosto

    As palavras não são deste mundo

    Landmarks

    Capa

    Página de Créditos

    Folha de Rosto

    Sumário

    Introdução

    As palavras não são deste mundo

    Segue-se a seleção das cartas feita por Marco Rispoli.

    Todas as notas são do tradutor.

    Lélzw, departamento de Ain, França,

    6 de setembro de 1892.

    Caro Edgar!

    Estou numa aldeia no fim do mundo, na região francesa do Jura, já há uma semana. Vim parar aqui por acaso e não sei quando esta carta poderá chegar em tuas mãos. Infelizmente não vi mais em Strobel nem tua mãe nem o Aníbal; consegui cumprimentar apenas a Leonor; por enquanto é somente uma menina engraçadinha, mas tem uma exuberância tão particular, tão viva e é tão imprévue¹, cheia de caprichos, que se tornará, creio, muito mais que uma jovem senhora boa apenas para jogar tênis e frequentar socialites. É um hábito meu, bom e mau ao mesmo tempo, em todo caso um hábito, que faz parte de minha essência mais profunda, ser sempre interessado nas pessoas e refletir sobre elas; nem sempre consigo encontrar alguma coisa que me traga felicidade, como encontro na natureza, um vento forte, a lua cheia ou um grande espelho d’água. Viajei rápido pela Suíça, o tempo todo com os olhos fechados; agora vou devagar, com os olhos bem abertos, descendo pelo antigo vale do Ródano até atingir a costa. Normalmente sinto-me mal nas viagens: falta-me espontaneidade, fico me observando viver e aquilo que vivencio é como se estivesse lendo um livro. Apenas o passado transfigura para mim as coisas e lhe dão cor e perfume. Isso é que me transformou também em «poeta», essa necessidade da arte de viver, a necessidade de embelezar e interpretar poeticamente aquilo que é comum e pálido. Se eu um dia escrever algo em que consiga me exprimir de modo vivo e claro sobre mim mesmo te enviarei, em vez de te mandar uma fotografia, que sempre é algo morto e parvo. A tua amizade foi a maior alegria que já me caiu do céu; não foi algo longamente procurado, justificado e que precisa de explicação; algo que, no fim das contas, permanece um monólogo e não um diálogo. Com a gente não é assim; e isso é muito bom. Não nos consideramos gênios incompreendidos e jamais falamos de «união de almas». Em geral o patético não me agrada, acho um sinal de falta de educação. Logo, porém, se percebe que são muito poucas as pessoas com quem se tem, por uma série de coisas, mais afinidade, não é verdade? Com algumas pessoas a gente pode dividir algumas coisas com tranquilidade e simpatia, mas somente pouquíssimas nos fazem realmente bem; apenas elas nos consolam do chamado «tédio da vida», l’ennui de la vie, comum a todas as criaturas bem-nascidas.

    Espero que não te inibas em me escrever. Escreve-me quando quiser, escreve tudo aquilo que te vem à mente, sempre no endereço de Viena, rua dos Salesianos, número 12. Já terminamos a escola, já sabemos que não receberemos nenhuma descarga elétrica, estamos no mesmo barco...

    Não poderemos contar as coisas importantes que vivermos, pois não nos lembraremos delas. Creio, contudo, que de vez em quando poderemos pôr no papel algum fragmento de uma sensação subjetiva, de um estado de humor, e disso poderá surgir uma troca de correspondências, como se fazia no século passado, quando as pessoas escreviam com mais

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1