Com Borges
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Avaliações de Com Borges
2 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Maravilhoso! Foi o primeiro livro que li de Manguel e achei a escrita formidável.
Ainda não li nada de Borges, mas já incluí seus livros na minha lista bem como de outros autores citados na obra.
Gostei dele não ter escondido o racismo e ter tentado mostrar Borges da maneira mais sincera e verídica possível.
Pré-visualização do livro
Com Borges - Alberto Manguel
Com Borges
Con Borges
© Alberto Manguel, 2004
Publicado em acordo com Schavelzon Graham Agencia Literaria
© Editora Âyiné, 1ª edição, 2018. 2ª edição, 2020
Todos os direitos reservados
Tradução: Priscila Catão
Preparação: Lígia Azevedo
Revisão: Fernanda Alvares, Andrea Stahel
Capa: Julia Geiser
Projeto gráfico: Luísa Rabello
ISBN: 978-65-86683-40-0
Editora Âyiné
Belo Horizonte, Veneza
Direção editorial: Pedro Fonseca
Assistência editorial: Érika Nogueira Vieira, Luísa Rabello
Produção editorial: André Bezamat, Rita Davis
Conselho editorial: Lucas Mendes de Freitas,
Simone Cristoforetti, Zuane Fabbris
Praça Carlos Chagas, 49 – 2º andar
30170-140 Belo Horizonte – MG
+55 31 3291-4164
www.ayine.com.br
info@ayine.com.br
SUMÁRIO
Capa
Créditos
Folha de Rosto
Com Borges
Landmarks
Página de Créditos
Folha de Rosto
Dedicatória
Epígrafe
Início
Capa
A Héctor Bianciotti, generosíssima testemunha.
Minha memória me leva a uma certa tarde… em Buenos Aires. Eu o vejo; vejo o bico de gás; era possível pôr minha mão nas prateleiras. Sei exatamente onde encontrar As mil e uma noites de Burton e a Conquista do Peru de Prescott, apesar de a biblioteca não mais existir.
Jorge Luis Borges, Esse ofício do verso
Abro caminho com os ombros no meio da multidão na Calle Florida, entro na recém-construída Galería del Este, saio pelo outro lado, atravesso a Calle Maipú e, encostando-me na fachada de mármore vermelho do número 994, pressiono o botão do 6B. Entro no hall frio do prédio e subo os seis andares de escada. Toco a campainha e a empregada abre a porta, mas, antes que ela me deixe entrar, Borges sai de trás de uma cortina, com a postura bastante ereta, terno cinza abotoado, camisa branca e gravata amarela listrada levemente torta, arrastando-se um pouco ao se aproximar. Cego desde antes dos sessenta anos, ele se move hesitante mesmo num espaço que conhece tão bem quanto o seu. Estende a mão direita e me dá as boas-vindas com um aperto distraído e fraco. Não há mais formalidades. Ele se vira e me guia até a sala de estar, sentando-se ereto no sofá virado para entrada. Eu me acomodo na poltrona à sua direita e ele pergunta (mas as suas perguntas são quase sempre retóricas): «Bem, que tal lermos Kipling esta noite?».
Por vários anos, de 1964 a 1968, tive a sorte de estar entre os muitos que leram para Jorge Luis Borges. Depois do colégio, eu trabalhava na Pygmalion, uma livraria anglo-germânica em Buenos Aires, da qual Borges era cliente assíduo. A Pygmalion era um dos pontos de encontro dos interessados em literatura na cidade. A proprietária, a srta. Lili Lebach, uma alemã que escapara dos horrores nazistas, adorava oferecer aos clientes as mais novas publicações europeias e norte-americanas. Era uma ávida leitora de suplementos literários, não apenas de catálogos de editoras, e tinha o dom de combinar suas descobertas com o gosto dos clientes. Ela me ensinou que um livreiro precisa conhecer as mercadorias que está vendendo, e insistia para que eu lesse muitos dos novos títulos que chegavam à loja. Não era necessário muito tempo para me convencer.
Borges frequentava a Pygmalion no fim da tarde, quando saía da Biblioteca Nacional, onde trabalhava como diretor. Um dia, após escolher alguns títulos, me convidou para visitá-lo e ler para ele à noite, caso eu não tivesse mais nada para fazer, pois sua mãe, já na casa dos noventa anos, se cansava facilmente. Borges podia convidar qualquer pessoa: estudantes, jornalistas que iam entrevistá-lo, outros escritores. Há um vasto grupo de pessoas que leram em voz alta para ele, pequenos Boswell que raramente sabem a identidade um do outro, mas que coletivamente guardam a memória