O Pequeno Príncipe
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Sobre este e-book
Nesse box reunimos obras completas do autor no original e sue clássico essencial "O Pequeno Príncipe".
Antoine de Saint Exupéry (1900-1944) foi um escritor, ilustrador e piloto francês, é o autor de um clássico da literatura "O Pequeno Príncipe", escrito em 1943. Entre as suas diversas frases famosas estão: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos" e "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry nasceu em Lyon (França), no dia 29 de junho de 1900. Era o terceiro filho do conde Saint-Exupéry e da condessa Marie Fascolombe, família aristocrática empobrecida. Estudou no colégio jesuíta Notre Dame de Saint Croix e no colégio dos Marianistas, em Friburgo, na Suíça.
Antoine de Saint-Exupéry
Antoine De Saint Exupéry, born in Lyon 29 June 1900, was a French writer and aviator. He is best remembered for his novella The Little Prince, and for his books about aviation adventures, including Night Flight (1931) and Wind, Sand and Stars (1939). In 1921 he began his military service and trained as a pilot. He became one of the pioneers of international postal flight. At the outbreak of the Second World War he joined the French Air Force flying reconnaissance missions until the armistice with Germany. Following a spell writing in the United States, he joined the Free French Forces. He went on a mission to collect information on German troop movements in the Rhone valley on 31 July 1944 and was never seen again. His plane disappeared. It was assumed that he was shot down over the Mediterranean. An unidentifiable body wearing French colours was found several days later and buried in Carqueiranne that September.
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O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
A Léon Werth
Peço perdão às crianças, por dedicar este livro a uma pessoa grande. Tenho uma desculpa séria: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo no mundo. Tenho uma outra desculpa: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda uma terceira: essa pessoa grande mora na França, e ela tem fome e frio.
Ela precisa de consolo. Se todas essas desculpas não bastam, dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças (mas poucas se lembram disso). Corrijo, portanto, a dedicatória:
A Léon Werth, quando ele era pequenino
I
Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, Histórias Vividas
, uma imponente gravura. Representava uma jiboia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho:
Dizia o livro: As jiboias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem se mover e dormem os seis meses da digestão.
Refleti muito, então, sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:
Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho causava medo a elas. Responderam-me: Por que é que um chapéu faria medo?
. Meu desenho não representava um chapéu, mas uma jiboia digerindo um elefante. Desenhei, então, o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:
As pessoas grandes me aconselharam deixar de lado os desenhos de jiboias, abertas ou fechadas, e me dedicar preferencialmente à geografia, história, ao cálculo e à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo para as crianças explicar, a toda hora.
Tive de escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo. E a geografia, é claro, me serviu muito. Sabia distinguir, num relance, a China e o Arizona. É muito útil, quando se está perdido na noite. Tive assim, no correr da vida, muitos contatos com muita gente séria. Vivi muito no meio das pessoas grandes. Eu as via muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião. Quando encontrava uma que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas respondia sempre: É um chapéu
. Então, eu não lhe falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Colocava-me ao seu alcance. Falávamos de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada por conhecer um homem tão razoável.
II
Vivi só, portanto, sem amigos com quem pudesse realmente conversar, até o dia – cerca de seis anos atrás – em que tive uma pane no deserto do Saara. Alguma coisa se quebrara no motor. E como não tinha comigo mecânico ou passageiro, me preparei para empreender sozinho o difícil conserto. Era, para mim, uma questão de vida ou de morte. Só dava para oito dias a água que eu tinha.
Na primeira noite, adormeci sobre a areia, a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Estava mais isolado que o náufrago numa tábua, perdido no meio do mar. Imaginem, então, a minha surpresa quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha me acordou. Dizia:
— Por favor... desenhe um carneiro para mim.
— Hem?!
— Desenhe um carneiro para mim ...
Pus-me de pé, como se tivesse sido atingido por um raio. Esfreguei os olhos. Olhei bem. E vi um pedacinho de gente inteiramente extraordinário, que me considerava com gravidade. Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele. Meu desenho é, seguramente, muito menos sedutor que o modelo. Não tenho culpa. Fora desencorajado, aos seis anos, da minha carreira de pintor, e só aprendera a desenhar jiboias abertas e fechadas.