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Bitch
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E-book111 páginas1 hora

Bitch

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Sobre este e-book

Um livro sedutor da colunista da revista Vip Carol Teixeira. Bitch narra as histórias de Princess, uma artista plástica de 26 anos que se relaciona com o mundo através da exploração do prazer – intrinsecamente artístico e sexual –, e C., uma escritora sem inibições que está escrevendo um novo romance. Suas trajetórias seguem em paralelo até que o choque inusitado e metalinguístico do encontro das duas influencia a arte de ambas de maneira definitiva. Entrelaçando a intimidade crua, sensual e explícita dos relacionamentos entre os personagens a reflexões filosóficas e existenciais sobre a arte, a vida e o sexo, Bitch seduz o leitor de forma visceral.
IdiomaPortuguês
EditoraRecord
Data de lançamento8 de jul. de 2016
ISBN9788501092137
Bitch

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    Pré-visualização do livro

    Bitch - Carol Teixeira

    1ª edição

    2016

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    T265b

    Teixeira, Carol

    Bitch [recurso eletrônico] / Carol Teixeira. - 1. ed. - Rio de Janeiro ; São Paulo :

    Record, 2016.

    recurso digital

    Formato: epub

    Requisitos do sistema: adobe digital editions

    Modo de acesso: world wide web

    ISBN 978-85-01-09213-7 (recurso eletrônico)

    1. Romance brasileiro. 2. Livros eletrônicos. I. Título.

    16-34071

    CDD: 869.3

    CDU: 821.134.3(81)-3

    Copyright © Carol Teixeira, 2016

    Modelo da capa: Agatha Mendes

    Make e cabelo da foto de capa: Rachel Ramos

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Direitos exclusivos desta edição reservados pela

    EDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000.

    Produzido no Brasil

    ISBN 978-85-01-09213-7

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    Atendimento e venda direta ao leitor:

    mdireto@record.com.br ou (21) 2585-2002.

    "Contra a moral, portanto, voltou-se então, com este livro problemático, o meu instinto, como um instinto em prol da vida, e inventou para si, fundamentalmente, uma contradoutrina e uma contravaloração da vida, puramente artística, anticristã. Como denominá-la? Na qualidade de filólogo e homem das palavras eu a batizei, não sem alguma liberdade […] com o nome de um deus grego: eu a chamei dionisíaca."

    (FRIEDRICH NIETZSCHE,

    O nascimento da tragédia)

    The simulacrum is never that which conceals the truth — it is the truth which conceals that there is none. The simulacrum is true.

    (JEAN BAUDRILLARD,

    Simulacra and Simulation)

    A todos que amei.

    Sumário

    Versículo primeiro

    Versículo segundo

    Versículo terceiro

    Versículo quarto

    Versículo quinto

    Versículo sexto

    Versículo sétimo

    Versículo oitavo

    Versículo nono

    Versículo décimo

    Versículo décimo primeiro

    Versículo décimo segundo

    Versículo décimo terceiro

    Versículo décimo quarto

    Versículo décimo quinto

    Versículo décimo sexto

    Versículo décimo sétimo

    Versículo décimo oitavo

    Versículo décimo nono

    Versículo primeiro

    Deleuze disse certa vez que, se você não captar o ponto de demência, o pequeno grão de loucura de uma pessoa, você não pode amá-la de verdade.

    As pessoas só têm charme em sua loucura: eis o que é difícil de ser entendido, disse o filósofo francês, já com 80 anos, em uma entrevista que só iria ao ar após sua morte. O verdadeiro charme das pessoas está em quando elas perdem as estribeiras, quando elas não sabem muito bem em que ponto estão.

    Le charme de la démence. Le grain de la folie. Conceitos tão familiares para mim. Vi isso anos atrás e nunca esqueci. E desde então tenho essa vontade de escrever um livro sobre o ponto de demência de alguém. Aquela zona turva na qual a racionalidade não chega, em que o corpo reage por si, sem a mediação da razão, dionisíaco, entregue — raso porque humano. Aquele momento em que toda a complexidade acumulada em uma vida de intelectualização fracassa: conceitos, certezas, categorias, palavras, tudo que te ensinaram é descartável diante dessa força primitiva e descontrolada.

    Deleuze não disse isso, mas eu digo: o ponto de demência é o erotismo. Quando a matéria tão humana, tão subestimada, flerta com o incorpóreo, com o sagrado. A vertigem, a desordem que o obsceno traz, destrói a ilusão da posse de nós mesmos, gargalha na cara do nosso ego antes tão seguro, inabalável.

    A supremacia desse caos traz uma das poucas transcendências possíveis nessa limitada existência terrena. Esse poder vem do corpo. Logo o corpo, tão desprezado pela moral socrático-platônico-cristã, que o sacrifica em prol da alma, das hipóteses metafísicas. O corpo como agente da maior transcendência que temos a nosso alcance.

    Nada pode ser mais puro que isso. Nada pode ser mais sagrado.

    Mas pare o julgamento que você está fazendo agora. Não se engane com esse início erudito e pretensioso.

    Entre a metafísica e a putaria, eu fico sempre com a putaria.

    Versículo segundo

    "É tipo o Aldous Huxley no livro As portas da percepção, aquela hora que ele tá louco, sob o efeito da mescalina, ele fica olhando os livros e percebe que não deviam ser classificados por cores e tamanho, ele enxergava outras categorias que faziam mais sentido. Deu uma pausa para tomar um gole em sua taça do rosé Domaine Ott. Continuou. Então, é meio isso que eu acho, que o mundo classifica as pessoas de acordo com as categorias erradas, tipo idade ou raça. Nas redes sociais, na vida em geral. Classificam errado. Nesses aplicativos ridículos de encontro, por exemplo, aparece Fulano, tantos anos. Sabe? As classificações deveriam ser outras…"

    Concordo, disse Renato, sentado ao seu lado. Eu começaria dizendo que o mundo é dividido entre os que sabem o que é um vinho rosé Domaine Ott e os que não sabem, os que passam os verões aqui em Saint-Tropez e os que juntam dinheiro para ir para Trancoso. Não é uma boa categorização?

    Princess revirou os olhos. Às vezes tolerava esses comentários escrotos e metidos de Renato porque ele era um de seus melhores amigos. Nem ela sabia o porquê dessa amizade tão forte, mas o fato é que tinha algo de tão honesto no niilismo dele que as palavras, mesmo quando inadequadas, não chegavam a incomodar.

    Os cabelos vermelhos de Princess reluziam ao sol da tarde de Saint-Tropez como em uma foto com a saturação exagerada no Photoshop. Sua imagem hiperbólica funcionava como uma antecipação de sua personalidade quase insuportavelmente densa. As unhas grandes pintadas de preto e os dedos cheios de anéis completavam o visual que dava a ela um ar meio misterioso, como se guardasse um segredo, um segredo não partilhado pelo bando de playboys solares ao redor. Algo que lhe conferia uma certa superioridade pela diferença.

    Não, Renato, disse ela, acho que as divisórias são muito mais simples. Por exemplo: pessoas que riem quando não entendem a piada ou as que admitem que não entenderam; as que identificam a linha de baixo nas músicas ou só se ligam na melodia geral; as que lavam frutas e verduras que têm indicado ‘pré-lavadas’ na embalagem e as que acham que não precisam; as que digitam ‘haha’ depois de escrever algo engraçado nas redes sociais e mensagens e as que respeitam a dignidade do sarcasmo. Entre as mulheres, eu diria que as classificações são mais específicas ainda: as que usam touca de banho e as que não usam; as que dão risadinhas complacentes mesmo diante de uma cantada escrota e as que respondem mostrando que não curtiram. Ou, sei lá, mulheres que gostam de ouvir um ‘goza na minha boca, putinha gostosa’ e as que acham cafona. Enfim, são tantas as possibilidades de classificação, o mundo é muito mais complexo. Entende?

    Cara, eu falando do melhor rosé da França e você vem falar de touca de banho e de gozar na boca, sua artistinha louca, e deu um beijo carinhoso no rosto dela. O resto da mesa riu, menos Anya, que se mostrou um pouco chocada com esse último exemplo. Anya era modelo, filha de pais russos, uma menina que fazia o gênero falsa santa. Fingia ruborizar ao ouvir esse tipo de comentário, mas tinha uma vida sexual que, em atividade, só perdia para a de Princess. Seu sotaque russo não se justificava, considerando que morava desde os 5 anos no Brasil, e se dizia vegana, embora estivesse ali comendo a famosa burrata do Les Palmiers. Tais incoerências eram tão frequentes que de certa maneira já consistiam numa coerência e ninguém mais questionava. Já estavam acostumados com o fato de seu

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