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Uma visita da morte
Uma visita da morte
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E-book280 páginas5 horas

Uma visita da morte

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Sobre este e-book

Quando a vidente Wanda Alewine faz uma visita noturna a Mistes Clover, ela pede à detetive octogenária que vá direto para a Casa de Repouso Pastos Verdejantes. Mas Wanda não deseja que Mirtes preste atenção às duvidosas acomodações da instituição - ela quer que Mirtes evite um assassinato que ela contemplou em uma visão.

Relutante, Mirtes investiga com o companheiro Miles, que parece mais interessado na casa de repouso. Enquanto a dupla entra em ação, eles descobrem mais do que apenas Sudoku e palavras cruzadas - desvendam uma série de acontecimentos sinistros... com assassinato como resultado.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de jan. de 2021
ISBN9781071584255
Uma visita da morte

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    Uma visita da morte - Elizabeth Spann Craig

    Capítulo Um

    — Olá, Mirtes — disse Miles abrindo calmamente a porta da frente de casa.

    Ele estava vestido como de costume: pijama xadrez, chinelos e roupão azul-marinho, cabelo grisalho cuidadosamente penteado. Mirtes apalpou uma mecha de seu próprio cabelo, também grisalho, e descobriu que estava toda despenteada, parecendo Albert Einstein. Ajeitou-se com impaciência.

    — Oi, Miles — falou ela. Apesar de serem 3:45 da madrugada, Miles não pareceu nem um pouco surpreso em vê-la ali. Parecia já pressentir quando Mirtes lhe faria uma visita noturna.

    Mirtes, bem aquecida em seu roupão mais antigo, meias e chinelos, segurando uma bengala, entrou na arrumada cozinha de Miles. Era uma típica cozinha de solteirão, com puxadores delicados nas persianas, uma pesada mesa de madeira com quatro cadeiras e eletrodomésticos que lhe poupavam bastante tempo. Ele havia deixado prontos uma garrafa de café, leite, açúcar e duas xícaras. Estava também sobre a mesa uma pequena bandeja com o que pareciam ser biscoitos caseiros, dois pratos ao lado. Mirtes olhou desconfiada para os biscoitos, sem querer acreditar que fossem caseiros, até porque suas próprias investidas culinárias não vinham dando muito certo. No entanto, eles pareciam verdadeiros.

    — Autoconfiante, não é mesmo? — perguntou ela. — Certo de que eu apareceria esta noite?

    — Esperava que você viesse para me ajudar a passar o tempo — respondeu Myles, encolhendo os ombros. — Ultimamente tenho tido dificuldade para dormir. Pensei que, se você aparecesse, poderíamos comer alguma coisa e assistir ao episódio que perdi de Promessas do Amanhã.

    — Está ficando prendado, hein? — Mirtes olhou com desdém para os biscoitos.

    — Tenho cozinhado. Devo estar entediado — Miles ponderou.

    — Não posso dizer que não avisei — disse Mirtes, um tanto orgulhosa de si. — Morei a vida toda em Bradley. A lanchonete da igreja e a feira de artesanato do outono são o máximo de agitação que se tem por aqui. Você já se associou a todos os grupos de idosos? — perguntou, entretendo-se ao encher de café uma das xícaras. A bebida parecia demasiadamente forte, e ela esqueceu de deixar espaço para o leite. Compensou despejando várias colheres de açúcar, mexendo com cuidado para não derramar.

    — Não sou exatamente um idoso, Mirtes. Os sessenta são os novos... — proferia Miles, parecendo chateado.

    — Sim, sim. Já ouvi essas besteiras. Os sessenta são os novos quarenta ou coisa parecida. Bem, você tem mais de sessenta. E com certeza não se sente com quarenta, sente? — indagou Mirtes. Ela derramou um pouco de café no roupão e olhou irritada para a mancha.

    Com um suspiro, Miles empurrou os guardanapos na direção dela.

    — De quais grupos de idosos você está falando? — ele perguntou. — Talvez haja algum que eu não conheça.

    — A sociedade histórica. Os Amigos da Biblioteca. O Conselho do Museu de Bradley. O clube de jardinagem. Nosso clube de leitura — Mirtes respondeu, contabilizando-os nos dedos.

    — Já, já, já, já e já — assentiu Miles, rabugento.

    — Foi ao bingo da igreja? Você pode ganhar selos — disse Mirtes sucintamente.

    — Não, obrigada. — Myles fez uma careta. — Não tenho sorte para bingo. Ou, quando penso que ganhei, descubro que estão jogando uma modalidade especial onde só vence quem também completar os cantos da cartela ou coisa assim. Às vezes, marco mesmo só aquele espaço vazio no meio.

    — Bingo não é seu forte, então. Mas você deveria jogar. É um jogo bobo, mas tem os prêmios, sabe? Há anos não tenho que comprar selos. Vamos ver... — refletiu Mirtes. — Às vezes o teatro comunitário tem bons musicais. Acho que o próximo é Oklahoma. Eu vou com você.

    — Mas não tem nenhum ator homem no teatro comunitário — preveniu Miles. Sua voz começava a ganhar um tom de reclamação. — Tilly Cranston sempre fazendo os papéis masculinos é um tanto perturbador.

    — Tento ver isso como teatro shakespeariano invertido — disse Mirtes. —Acho que ajuda.

    — Tilly Cranston como Curly em Oklahoma. Isso é tão errado. — Miles pegou um biscoito, balançando a cabeça.

    — Sabe qual é o problema? Você vem de uma metrópole. Nunca deveria ter se mudando de uma cidade grande como Atlanta para a pequena Bradley. Você inverteu a ordem das coisas — disse Mirtes, abanando com as mãos, sinalizando a bagunça que Miles fez com sua vida, e derramando mais café no roupão. — Na verdade, você nem deveria ter se aposentado. Você está em pleno uso de suas faculdades mentais. Poderia estar vendendo seguros.

    — Eu era engenheiro, Mirtes, não vendedor de seguros, pelo amor de Deus —disse Miles, lançando um olhar cortante.

    — Que seja. Você se aposentou cedo, cometeu o grande erro de se mudar para uma cidade pequena e agora já fez tudo o que tinha para se fazer por aqui. Tudo o que Bradley tinha para oferecer. De agora em diante, você vai começar a fazer coisas como acenar da varanda para os carros que passam, trapacear no jogo de paciência... Você já começou a fazer biscoitos, Miles. É um caminho sem volta — Mirtes traçou esse panorama enquanto olhava para o amigo por cima da xícara de café.

    — Você tem alguma ideia melhor?

    — Assassinatos — disse Mirtes com naturalidade.

    — Presumo que você queira dizer que vamos solucionar juntos outro caso de assassinato, e não cometer um — disse Miles. — Acho que ainda não estou tão entediado. Mas, até onde sei, não aconteceu nenhum assassinato recentemente. A não ser que você saiba de algo que eu não sei.

    — Ah, pode esperar. Esta cidadezinha está repleta de assassinatos. Além disso, quando o gato sai, os ratos fazem a festa. E o gato agora está de andador — disse Mirtes.

    O filho de Mirtes, Red, era o chefe de polícia em Bradley, Carolina do Norte, cidade com uma população de 1.500 pessoas. Geralmente ele ficava de olho em Mirtes, tentando mantê-la longe de encrencas. No entanto, ela estava desfrutando da falta de vigilância de Red enquanto ele se recuperava de uma cirurgia no joelho.

    — Como está Red? — perguntou Miles. — Fiz mais biscoitos para levar amanhã para ele e Elaine. — Ele deu uma olhada no relógio e se corrigiu. — Digo, hoje.

    — Do ponto de vista físico, ele está bem. O médico falou que a cirurgia foi um sucesso e que, com o tempo, Red vai se sentir novo em folha. Mas Red não se conforma em não poder cuidar da própria vida, dirigir e trabalhar. Elaine teve que reorganizar a mobília para ele poder circular pela casa com seu andador. E removeu os tapetes para ele não tropeçar. Red mantém a perna erguida quando está sentado e põe bastante gelo no joelho. Está bastante incapacitado — Mirtes contou, não parecendo se incomodar nem um pouco com isso.

    — Quem é mesmo que chefia a polícia enquanto ele está de licença? — perguntou Miles.

    — O condado enviou um substituto. Um tal de Darrel Smith — disse Mirtes. Ela partiu um biscoito ao meio e provou com cuidado. Para sua surpresa, estava muito bom.

    — Como ele é? — perguntou Miles.

    — Ele não é exatamente sagaz — ela respondeu. — Mas é perfeito para os tipos de demanda que o departamento tem no momento: cachorros perdidos, brigas de vizinhos, perturbação do sossego. Red tirou algumas semanas de folga, embora possa ficar mais tempo longe se não fizer a fisioterapia. Ao menos ele está me deixando em paz. Bradley estava ficando tão segura e tranquila que ele passava ainda mais tempo me vigiando. Graças aos céus por esse machucado no joelho!

    — Amor maternal — concluiu Miles, sorrindo e balançando a cabeça.

    — É mais fácil sentir amor maternal quando há certa distância entre mãe e filho — disse Mirtes, encolhendo os ombros. Red morava exatamente em frente à casa dela, do outro lado da rua.

    — Vi que os gnomos estão no jardim. O que aconteceu dessa vez para eles saírem de casa? — Miles apontou com a cabeça na direção da casa de Mirtes.

    Mirtes tinha uma vasta coleção de gnomos. O que começou como um pequeno e encantado enfeite de jardim se tornou um exército de gnomos quando ela fez a agradável descoberta de olhar para fora de casa e dar de cara com gnomos deixava seu filho bastante incomodado. Sempre que Red lhe aborrecia, Mirtes arrastava os homenzinhos de cerâmica, todos em poses muito faceiras, para ocupar seu jardim.

    — Ele se ofereceu para se preocupar com as contas em meu lugar. Ora! Ele é metido, isso sim. Curioso quanto aos meus gastos. Falei que tenho tempo de sobra para cuidar das minhas finanças, mas que talvez ele precisasse de ajuda com as dele. E então os gnomos apareceram.

    Eles refletiram sobre isso enquanto mastigavam biscoitos.

    — Quer assistir à novela? — perguntou Mirtes.

    — Você já assistiu? — perguntou Miles.

    — Assisti ontem à tarde. Mas houve toda uma história em torno de um personagem que ressurgiu dos mortos... Você sabe como são as coisas nessa novela, então eles ressuscitaram o personagem, mas com um ator diferente do anterior... mais jovem! Muito perturbador. Acho que preciso assistir ao episódio novamente só para absorver essa informação — disse Mirtes irritada.

    — Tem certeza de que é para ser o mesmo personagem, ou seria um irmão gêmeo? Essa novela tem uma coisa com gêmeos: gêmeos maus, gêmeos bons, gêmeos para todo lado — disse Miles.

    — E casamentos! Gêmeos em casamentos, gêmeos interrompendo casamentos para sequestrar noivas ou acabar com a festa. Eles devem estar sem muitas ideias para escrever os roteiros — falou Mirtes, entrando na sala de Miles e se jogando no sofá em frente à TV.

    — Ainda assim, não conseguimos deixar de assistir — disse Miles, melancolicamente.

    — Como dois viciados — concordou Mirtes.

    Miles pegou o controle remoto e ligou a TV, alisando distraidamente seu roupão azul-marinho. Mirtes sentiu uma brisa fria e puxou a manta da parte de trás do sofá, cobrindo-se enquanto se aninhava ali.

    Então, alguém começou a bater insistentemente à porta de Miles.

    Eles se entreolharam.

    — Alguém sabe que você está aqui? — perguntou Miles, pondo o controle remoto sobre a mesa e levantando-se rapidamente.

    — Não. Quer dizer, às vezes Red me observa da janela, mas ele está incapacitado, como falei — respondeu Mirtes, jogando a manta para o lado. — Vá, abra a porta, que eu dou cobertura — ela agarrou a bengala e a rodopiou no ar.

    — Tenho certeza de que isso não será necessário — Miles falou, revirando os olhos. Ele andou rapidamente até a porta e espiou pela janela lateral. Então virou-se para Mirtes, com as sobrancelhas levantadas. — É a Wanda.

    — Nossa vidente favorita? No meio da noite? Então deixe-a entrar!

    Miles abriu a porta, conduzindo Wanda para dentro. Wanda era magra como uma vareta, praticamente inexistente de tanta magreza. Tinha a pele amarelada como couro e a voz rouca de quem fumava bastante e há muitos anos. Seu sorriso revelou dentes estragados e faltantes. Miles descobrira, para sua surpresa, que Wanda e ele eram primos e, desde então, passou a se sentir um pouco responsável por ela. Mirtes se afeiçoou àquela mulher desarrumada, embora Wanda parecesse obstinada a usar suas predições para impedi-la de investigar mistérios.

    Miles franziu a testa e abriu a porta novamente para examinar a rua.

    — Onde está seu carro? — ele perguntou bruscamente.

    — Sem pneus, em cima de blocos de cimento — respondeu Wanda, levantando os ombros debilitados.

    — Não acredito que você andou até aqui! É inverno, e está muito frio lá fora, Wanda. Além disso, você deve ter caminhado o dia todo.

    Wanda morava com seu irmão, o Doido Dan, em uma cabana coberta de lona, na estrada de terra fora da rodovia rural.

    — Não tinha escolha. O carro não tava funcionando. — Wanda fez o gesto com os ombros novamente.

    — Você devia ter me ligado! Eu iria te buscar, Wanda — Miles parecia ansioso.

    — O Dan não pagou o telefone — ela explicou brevemente.

    — E um e-mail? — Mirtes perguntou. — Sei que você tem computador. Uma vez você disse que seu serviço de vidente tinha uma página no Facebook.

    — O computador quebrado — explicou Wanda. — Não sou boa com e-mails.

    — Vou pelo menos pegar um copo com água para você — disse Miles suspirando.

    — Desculpa atrapalhar seu programa de TV — lamentou Wanda, sorrindo para Mirtes e mostrando vários dentes faltando.

    Mirtes não ficou surpresa por Wanda saber o que eles estavam prestes a fazer, ainda que eles estivessem apenas na sala de Miles no meio da noite. Ela sabia que, apesar de não parecer, Wanda tinha Poderes.

    — Está gravado — explicou Mirtes. — Venha, sente-se. Você deve estar exausta da caminhada. — Ela deu um tapinha no local ao seu lado no sofá, e Wanda sentou-se na ponta, aparentemente incapaz de relaxar.

    Miles voltou trazendo uma jarra de água, um copo grande cheio de gelo e o restante dos biscoitos, que Mirtes presumiu serem para Wanda. Wanda olhou para eles como se estivesse com fome.

    — Por favor, coma tudo — disse Miles, colocando a bandeja na mesa de centro em frente a Wanda. — Depois eu faço mais. — Ele se sentou na poltrona de couro ao lado delas.

    Mirtes e Miles observavam atônitos enquanto Wanda se preparava para devorar os biscoitos. Miles pigarreou e disse:

    — Creio que você não fez essa caminhada para se exercitar. Há algo que Mirtes e eu possamos fazer por você?

    Wanda fez que sim delicadamente com a cabeça e cobriu a boca com sua mão manchada de nicotina, enquanto terminava de mastigar. Ela tomou um gole de água gelada e disse:

    — Preciso de ajuda.

    Você precisa de ajuda? Mas geralmente você é quem oferece ajuda — disse Mirtes olhando atordoada para ela.

    — Como podemos ajudá-la, Wanda? — perguntou Miles, inclinando-se para a frente.

    Wanda sentou-se ainda mais ereta enquanto se acomodava na beira do sofá. Então proferiu misteriosamente:

    — Tem um grande mal na Casa de Repouso Pastos Verdejantes.

    — Eu sabia! Eu não vivo dizendo isso, Miles? — disse Mirtes dando um tapa na própria perna.

    — Até não poder mais — concordou secamente Miles. — Mas não acho que Wanda se refira à forma como Red está tentando fazer você ir morar lá. O que você quer dizer com isso, Wanda?

    — Vou adivinhar — disse Mirtes. — A administração de lá está negando direitos humanos básicos aos detentos?

    — Eles são residentes, Mirtes. Não detentos — disse Miles.

    — Quem disse? — Mirtes perguntou, apertando os olhos.

    — Não é a administração — disse Wanda com sua voz grave.

    — É a comida? — perguntou Mirtes, tentando ajudar. — Porque a comida lá é horrível. Eles envenenam a comida?

    — Não é a comida. — Wanda lançou a Mirtes um olhar bem sério. — Um dos velhos é um assassino.

    Capítulo Dois

    Mirtes e Miles olharam para ela novamente.

    — Você pode repetir, por favor? — disse Miles lentamente.

    — Tem um assassino na Casa de Repouso. Mas ele ainda não matou ninguém. — disse Wanda, comendo então outro biscoito e observando a reação deles.

    Mirtes e Miles se entreolharam.

    — Então, Wanda, você sabe que tem alguém na Pastos Verdejantes que está planejando matar. Você quer que nós investiguemos? — perguntou Mirtes.

    Wanda fez que sim com a cabeça.

    — Você prevê que alguém vai matar, mas não consegue ver quem é? Porque, no caso, seria bastante útil se você soubesse quem é — disse Mirtes, tentando ser paciente. Wanda podia ser bem enigmática, mas, de alguma forma, sempre estava certa.

    — Não é desse jeito — disse Wanda taciturnamente.

    — Não?

    — Não. É tipo um soluço. A Visão aparece e logo vai. Eu vi o plano e vi a vítima, uma mulher. Mas não vi o assassino. — Wanda agora parecia triste.

    Mirtes, no entanto, ficou mais animada. Exclamou:

    — Ah! Uma vítima! Com essa informação dá para fazer alguma coisa. Poderíamos conhecê-la e evitar que o crime aconteça.

    — Qual é o nome dela? — perguntou Miles. Ele enfiou a mão na gaveta da mesinha ao lado de sua poltrona e tirou um bloquinho de notas e um lápis apontado.

    — Não sei — disse Wanda analisando seus sapatos, que pareciam bastante surrados. A caminhada provavelmente contribuiu para isso.

    Mirtes massageou as têmporas. Sua cabeça estava começando a doer. Mas atacar a pobre Wanda certamente não ia ajudar em nada. Ela disse, devagar e com cuidado, escolhendo palavra por palavra:

    — Acho que estou vendo isso do ângulo errado. Wanda, por que você não nos conta o que você sabe?

    Wanda novamente assentiu com a cabeça e olhou para o chão. Ela falou sem qualquer indício de dúvida em sua voz:

    — Ainda não mataram. Mas vão tentar mais de uma vez. A justiça deve ser assegurada.

    Agora Mirtes e Miles olhavam boquiabertos para ela, pois assegurada não era uma palavra que eles imaginavam fazer parte do vocabulário de Wanda. De onde vinham essas visões?

    — A vítima é uma mulher difícil. Língua afiada. Ela... escreve — disse Wanda encolhendo os ombros. — Só sei disso sobre ela.

    — Escreve... livros? — questionou Miles.

    — Cartas? Poesia? Posts no Twitter? — Mirtes palpitava, sentindo sua frustração aumentar.

    Wanda fez o gesto com os ombros novamente e comeu outro biscoito.

    — Como você sabe disso tudo, Wanda? — perguntou Mirtes. — Você estava tomando café num dia qualquer e a Visão apareceu?

    Wanda lhe lançou um olhar de reprovação.

    — A Visão simplesmente aparece. Mas eu tenho um primo que trabalha na limpeza de lá. Randy. Ele me visitou ontem e disse que acha que tem alguma coisa acontecendo.

    — Tem certeza de que precisa de um investigador? — indagou Mirtes. — Me parece que a presença de um segurança poderia ser melhor.

    — Talvez um guarda-costas para a futura vítima? — perguntou Miles.

    Wanda olhou para eles.

    Cês sabem que louco seria se Randy falasse que uma vidente viu uma morte acontecer lá? As pessoas iam rir.

    Ela estava certa.

    — Bem, normalmente investigo crimes que já aconteceram. Pode-se dizer que esse é o meu forte — disse Mirtes pensativa. — Mas, dadas as circunstâncias e considerando quem está pedindo, irei para a Pastos Verdejantes e começarei a bisbilhotar. — Ela pegou o bloco de notas de Miles e empurrou na direção de Wanda. — Aqui. Desenhe a futura vítima.

    Wanda olhou desconfiada para o lápis e disse:

    — Não sou boa com isso, não.

    — Não precisa escrever. Só riscar — disse Mirtes encorajando-a.

    Infelizmente, Wanda era tão ruim com desenhos quanto era com palavras. Os rabiscos que ela devolveu para Mirtes poderiam representar qualquer coisa desde Marilyn Monroe até Papai Noel. Mirtes suspirou.

    Diplomaticamente, Miles decidiu que uma descrição verbal talvez fosse melhor. Ele repetiu:

    — Então... uma escritora. Uma mulher difícil, de língua afiada, certo?

    Wanda fez que sim. Terminou de beber a água, catou algumas migalhas de biscoito e levantou-se, dizendo:

    — Tenho que ir.

    Com essas palavras, houve um estrondo de trovão que estremeceu a casa.

    — Bem, com certeza você não vai voltar para casa no meio de uma tempestade. Vou pegar a chave do carro — disse Miles levantando-se.

    — Espere um pouco, que vou pegar uma sacola com lanches e outras coisas — disse Mirtes prontamente.

    Da despensa de Miles, claro. Mas ele não se opôs. Ela então pegou maçãs, alguns croissants, fatias de presunto defumado e o que parecia ser a metade de um cheesecake, separou tudo em potes de plástico, colocando-os dentro de uma sacola de mercado.

    Wanda pareceu emocionada quando viu aquilo tudo. Agradeceu laconicamente.

    — Mirtes parece durona, mas é uma pessoa do coração mole — disse Miles com um sorriso de ironia.

    — Na verdade, sou apenas uma doce velhinha de cabelos brancos — disse Mirtes encolhendo os

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