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Ilha de ar
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E-book271 páginas3 horas

Ilha de ar

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Sobre este e-book

Se você fosse lindo, rico, talentoso e tivesse qualquer mulher aos seus pés, abandonaria tudo por amor? E se seu amado pai o deixasse sozinho com uma mãe que não o considera mais seu filho, ainda teria dúvida? Nicolas Bertoldi preza por sua liberdade acima de todas as coisas, mas, puxado pela força mística da água-marinha, rende-se à sensualidade da ex-namorada vez após outra. Seu mundo ideal desmorona e o futuro se restringe a uma linha tênue entre a loucura e a sanidade.
Um homem sufocado pela dúvida: ficar do jeito que está ou partir rumo ao desconhecido?
IdiomaPortuguês
EditoraBookerang
Data de lançamento17 de ago. de 2013
ISBNB00EN0TR16
Ilha de ar
Autor

Josy Stoque

Josy Stoque is a publicist by profession and author by vocation. She has been writing since discovering poetry as a child. Her debut novel, Marked by Fire, the first book in the Four Elements saga, was nominated for the 2013 Codex de Ouro Annual Literary Prize when published in Brazil in the original Portuguese. The second title in the series has also been published in Portuguese, and the author will release the remaining two books through Amazon’s Kindle Direct Publishing platform in 2014. Marked by Fire is her English-language debut.

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    Ilha de ar - Josy Stoque

    ar.

    PREFÁCIO

    Quando Josy Stoque me convidou para escrever o prefácio de um de seus livros, senti-me honrada. Para o de Ilha de Ar, praticamente sem palavras. Sempre foi meu preferido, mesmo antes de lê-lo (risos). Sim, sou aquariana.

    O terceiro volume da saga Os Qu4tro Elementos traz Nicolas Bertoldi como o personagem principal. Um moreno estonteante, não poderia ser diferente, os personagens de Stoque sempre nos deixam boquiabertos. (...) uma miragem no deserto, um oásis nas areias infinitas, como ela mesma o descreve no início do livro.

    Nic não se iguala apenas em beleza aos demais personagens da saga (e das demais obras de Josy, no quesito beleza sem igual), também é dono de um início de vida complicado. A autora nos apresenta um Nicolas que tem tudo para ser um sofredor, no entanto, bem resolvido internamente, vence as barreiras familiares. Desenvolve-se em um rapaz decidido, mas perdido profissionalmente, e é Giovani Pagotto, seu melhor amigo, quem elucida o caso, sugerindo que ele se torne Consultor de Ideias, o que dá muito certo.

    Deixando um pouco de lado o resumo de IdA (as carinhosas siglas com que a autora costuma denominar seus livros nas redes sociais), vale ressaltar que em cada volume, como neste, Josy mescla capítulos do personagem principal com os dos livros anteriores e com o que virá, neste caso, o volume 4. Isto causa frenesi nos leitores mais atentos e saudosos. Atentos, pois algumas chaves do grande mistério vão se revelando de forma enlouquecedora; nesse ponto, Stoque demonstra mais uma vez sua habilidade em quebra-cabeças literários. Saudosos, pois, como esta que vos escreve, tem seus personagens preferidos e, por mais que ame o principal, torce para que os outros apareçam o quanto antes. Está aí mais uma cartada de mestre da autora.

    Uma aventura que une superpoderes, magia, tempo, natureza e um alinhamento planetário. Com certeza uma mistura irresistível aos amantes da boa fantasia literária. Se você foi uma criança cercada por desenhos animados e pertenceu à época do Mestre dos Magos, entenderá minha relação. Os Qu4tro Elementos (é sabido que não foi) poderia muito bem ser um Caverna do Dragão, tamanha originalidade e sagacidade da autora. Após análise da leitura, encontrei-me em meio a reflexões, e esta foi uma delas.

    Nesta saga, cada protagonista tem sua pedra, um objeto que os acompanha pela vida e que possui uma ligação especial, e é exatamente essa linha que se rompe, causando dor e ao mesmo tempo um reencontro especial. Poderíamos chamar de destino ou consequência lógica da vida, porém tudo se explica nas excelentes linhas escritas por Josy Stoque, um talento nato de nossa contemporaneidade literária.

    Em sua primeira aventura profissional no mundo das letras, ela não se apresenta apenas como uma escritora sonhadora em se tornar autora. Não vem somente com uma historinha de gaveta. Um romancezinho de travesseiro. Ou uma poupança para publicação. Nada disso. Como Nicolas Bertoldi, seus sonhos vão além e são conscientes. Ela honra sua terra com ambientações reais para suas histórias. Seus personagens são cercados de lugares brasileiríssimos. Não sei quanto a você que nos lê neste momento, mas, em terras onde o importado é melhor, Stoque nos presenteia com a valorização do que é nosso.

    Os Qu4tro Elementos foram o pontapé inicial de sua carreira, em 2010, e que hoje conta com mais de nove obras publicadas pela Amazon, além de contos e spin-offs. Marcada a Fogo, o primeiro volume da saga, foi publicado em inglês pela AmazonCrossing em 2014. Pisciana e publicitária, foi se descobrindo tanto pessoal quanto profissionalmente, bem como seus personagens, atualmente se denomina autora indie de romances hots, o que faz com maestria.

    Sonhei, ousei e realizei, essa é Josy Stoque.

    Ah, sim, a pedra de Nicolas é... Continue lendo. Logo descobrirá. Ainda tem muito mistério, aventura, paixão e romance pela frente.

    Gisele Galindo,

    Autora da série Destino Íntimo

    Ar

    É da liberdade destes ventos

    que me faço.

    Pássaro-meu corpo

    (máquina de viver),

    bebe o mel feroz do ar

    nunca o sossego.

    OLGA SAVARY

    PRÓLOGO

    Descobri que as coisas saíram do meu controle quando os estímulos não responderam ao meu comando, quando as pessoas me surpreenderam, quando a sensação de liberdade se foi. Não posso mais afirmar que esteja só. Há sempre uma voz intrusa me carregando de volta à insanidade.

    E o desejo... Sua urgência me enlouquece, e só há um lugar onde meu corpo encontra paz. Meus cinco sentidos se voltam para ela, desligando meu cérebro. Sua pele, seu perfume, seu cabelo, sua boca e a pedra, pendurada em seu pescoço são chamariz para mim.

    Por causa destas distrações, fui incapaz de prever o que aconteceria. Quando percebo, estou no epicentro de uma guerra mística, na qual nem acredito. Mas agora é tarde para fugir do destino que me é imposto. Terei que decidir de que lado ficar. E essa escolha será crucial para o vencedor.

    CARNAVAL

    Virou-se para o chamado sorrindo presunçoso. Retirou os óculos escuros, revelando olhos azul-turquesa incríveis. Jogou o cabelo negro para trás, que insistia em cair sobre sua testa, ao sabor do vento. A barba por fazer contrastava com a pele branca. Os músculos sob a camiseta cavada e a bermuda clara saltavam às vistas.

    — Uau! — exclamou uma das moças loiras no buggy, há alguns centímetros dele. — Quer dar uma volta com a gente, gato?

    Nicolas Bertoldi nunca recusaria um convite desses.

    — Claro, linda! — Com desenvoltura, saltou para dentro do veículo, entre a motorista e a companheira, passando os braços ao redor de seus ombros. — Para onde vamos?

    — Riacho Doce — contou a jovem à sua direita.

    Conceição da Barra é o paraíso no Carnaval para ele. Praia, festas e mulheres. A badalada cidadezinha fica na divisa do Espírito Santo com a Bahia; todos os anos, Nicolas sai de Vitória para aproveitar o feriado por lá. Hospedado na histórica Vila Itaúnas, em um camping, fez a primeira parada do feriado no Parque Estadual de Itaúnas.

    O passeio pelas dunas, que compõem a costa do descobrimento, era obrigatório para o consultor executivo de trinta e um anos, herdeiro da fábrica de aço inox do falecido pai, que era administrado pelo pulso de ferro de sua mãe. Mas Nicolas amava mesmo adrenalina, música eletrônica e conhecer pessoas novas. Principalmente do jeito que estava fazendo naquele instante.

    Aquele lugar contava parte de sua história, mas não estava com paciência para deixar as lembranças, nada agradáveis, saltarem de seu inconsciente. Preferia roubar beijos dos lábios rosados de Eliane e alisar a coxa firme de Janaina, enquanto o pé dela acelerava pela paisagem desértica.

    Não queria se lembrar de que naquelas areias estava enterrado o segredo sobre seus verdadeiros pais. Depois de trinta anos, não havia mais esperança de descobrir por que fora abandonado ali. Se não fosse adotado por Ângelo Bertoldi, não sabia o que seria dele. Nicolas foi o único filho do empresário, que sonhava em ser pai, porém Celeste, sua jovem esposa, era estéril. A madame não ficou feliz com a chegada do novo membro da família e, quando a doença e a velhice levaram o marido, ela deixou sua antipatia pela criança transparecer.

    A adolescência rebelde e a juventude revolucionária do filho adotivo foram a loucura da mãe. Se Deus não lhe dera o direito de ter filhos, por que seu marido achara que devia assumir este papel? Tornou-se empresária, assumindo os negócios da família, e passou a tratar o bastardo como uma de suas propriedades, que comandava com rigor, igualzinho fazia nos negócios.

    Mas o espírito livre do rapaz jamais aceitou seu domínio. A liberdade dele estava em tudo: no modo de agir, se mover, de falar, na maneira que tomava uma decisão e em como se deixava levar pela vida, pelas mulheres e pelas festas. E sua beleza só fazia aumentar a fila de interessadas em provar um pouco do homem em que se tornara.

    Convenceu Eliane a parar o buggy em um canto mais afastado e pouco visitado — conhecia aquelas dunas como ninguém. A regra era simples: dar e receber prazer, aceitando os limites de cada um. Jéssica, que parecia mais tímida, atacou sem pudor o zíper de sua bermuda, enquanto a amiga devorava Nicolas em beijos. Com a mão direita enfiada embaixo da blusa de Eliane, e a esquerda por dentro do short da outra, ofegava de tesão enquanto era manipulado e sugado. Eram muitos dedos alisando, muitas línguas provando, muitos corpos suados.

    No Riacho Doce, se despediu das moças com um aceno de fora do veículo, depois de deixar seu cartão. Elas haviam estourado o tempo e precisavam devolver o buggy alugado. Ele preferiu ficar por ali para assistir ao pôr do sol e, quem sabe, reencontrar os amigos de quem se separou ao subir a duna mais cedo.

    — Nicolas Bertoldi!

    Voltou-se para a voz que o chamava e viu um rapaz moreno, franzino, de cabelos bem curtos e encaracolados, correr em sua direção sorrindo. Usava camiseta e bermuda social, óculos escuros, e seu cabelo arrepiado com gel brilhava como se estivesse úmido.

    — Luis Dalbosco! — exclamou quando o outro estava a três passos.

    — Quanto tempo, cara!

    Cumprimentaram-se com um abraço e tapinhas nas costas. Eram conhecidos de outros carnavais. Nos feriados, fins de semana e férias, sempre que Nicolas vinha a Conceição da Barra, esbarravam-se na Vila ou no Parque. Já badalaram e azararam muito.

    — Tem razão. Deve fazer um ano desde a última vez que nos trombamos por aqui.

    — Com certeza, cara — concordou. — No carnaval do ano passado. E então, como anda a vida, o trabalho? Casou?

    Nicolas riu, debochado.

    — A vida e o trabalho andam bem, mas não me casei.

    — Você não estava namorando aquela moça, como ela chama mesmo? — Pensou um pouco antes de se lembrar. — Michele!

    — Ah, não, Michele é só uma amiga. Nunca namoramos.

    Bertoldi era adepto de amizades coloridas. Michele já passou algumas vezes por sua cama, sem compromisso, como era seu lema. A fama de pegador do rapaz já era lendária.

    — Cara, sinceramente, não te entendo. Vi você pegando aquela gata. Bem, não importa. Era carnaval, não é mesmo? — Nicolas apenas balançou a cabeça positivamente. — Mas, e Lara, você a tem visto?

    O sorriso sumiu do rosto de Nicolas. Por que foi me lembrar desta mulher agora?, pensou irritado.

    — Faz um tempo que a vi em um evento na capital — respondeu friamente.

    — Eu a vejo quase todo o fim de semana. Ela sempre vem para Conceição da Barra visitar os pais e os avós.

    — Hum — resmungou contrariado. Não queria receber informações sobre ela.

    Percebendo a distância do amigo, Luis preferiu deixá-lo em paz e mudou de assunto.

    — Que passeio você fez?

    — Vim de buggy — respondeu mais descontraído.

    — Ótima escolha.

    Um chamado, meio distante, os interrompeu. Luis acenou em resposta.

    — Bem, hora de voltar ao trabalho. — Despediu-se com um aperto de mão e um toque em seu ombro. — Essa vida de carregar turista não é fácil, ainda mais debaixo desse solão! A gente se vê.

    Nicolas o viu correr em direção a um grupo de pessoas que subiam no buggy que ele dirigia, a alguma distância. Revolveu retornar para a vila, não encontrara sua turma ali. Voltou as costas para o rio e paralisou. Como um oásis no deserto, uma miragem surgiu à sua frente.

    ∆∆∆

    A conhecida sensação de sufocamento iminente se apoderou de mim quando meus olhos pousaram sobre ela. Sua pele da cor do pecado me dava fome. Sua voz guiava meus passos. Seus olhos dourados se voltaram para mim, e parei de respirar. Sabia que algo ia acontecer hoje, pressenti ao despertar. Ainda assim, não mudei nossos planos para o feriado.

    Algo me chamava. Algo que desconhecia. Quando Luis tocou no nome de Lara, não foi a menção que me desconcertou, mas sim aquela inquietude se acentuando, quase gritando comigo. Afinal, o assunto Lara Costa não era novo para mim. Já sabia o que esperar quando a via. Há muito nos tornamos quase estranhos e, ao mesmo tempo, íntimos. Contraditório?

    Ela exercia uma atração tão forte e irresistível sobre mim que muitas vezes tinha que lutar para não agarrá-la em nossos poucos encontros não programados. Em outros momentos, não conseguia me segurar. E era perturbador como ela não me recusava. Nossa ligação era tão intensa quanto assustadora. Saía com muitas mulheres, mas dificilmente mais de uma vez com a mesma. Talvez estivesse me tornando nostálgico e apenas revivendo meu primeiro e único amor, já que nunca mais me apaixonei de novo.

    Um reflexo chamou minha atenção e me fez respirar novamente. Vi a água-marinha entre os seios firmes dela. A pedra translúcida, da cor turquesa, era bruta, exatamente como a encontrei naquelas areias há trinta anos. Minha mãe mandou fazer a corrente de ouro, e ofereci o único bem que tinha aos dezesseis anos a uma garota de quinze, na primeira vez em que fiz amor com ela.

    Vestida com uma saída de praia laranja sobre o corpo mulato e sexy — os olhos caramelo tão claros como o sol, o cabelo marrom curto e encaracolado coroando o rosto liso, a boca marcante e sorridente com dentes brancos e brilhantes —, Lara vinha em minha direção. Estava acompanhada. Do lado direito, o irmão caçula Lorenzo, um mulato forte e troncudo, mas bastante parecido com a irmã. À esquerda, Pietra, mais baixa e cheia do que a amiga, e também mais morena. Conversavam animados montados em cavalos.

    Havia esquecido como era linda! Respirei fundo, como se a sensação de tranquilidade invadisse meu corpo através do ar. Toda a inquietude de antes se foi. Minha mente ficou clara. Eu me sentia muito bem-disposto. Sorri, satisfeito. Talvez tenha encontrado meu oásis. Sem perceber, minhas pernas me levaram até ela, paralisada no meio caminho entre nós como se não acreditasse no que via.

    Parei ao seu lado, com os olhos fixos na pedra. Estava fascinado. O silêncio ao meu redor era perturbador. Demorei algum tempo para perceber que esperavam que eu falasse primeiro. Engoli em seco e encarei Lara, que estava séria, seus olhos brilhando de ansiedade. Não foi uma boa ideia me aproximar. Onde estava com a cabeça?

    — Olá, Lara — cumprimentei com um sorriso simpático, disfarçando meu próprio desconforto.

    O trio desmontou para que nossa conversa fosse no mesmo nível. Responderam meu cumprimento com timidez e hesitação.

    — Quanto tempo não nos vemos, não é, Lorenzo, Pietra? — acrescentei me sentindo deslocado. — Como estão?

    — Muito bem, obrigada por perguntar. — Somente Pietra respondeu. — E você?

    — Estou bem também. — Fui cordial. — O passeio a cavalo deve ser melhor que de buggy.

    — Sinceramente, não sei dizer — riu sem graça. — Mas adorei! Foi Lara quem teve a ideia. — Bateu na testa, agitada, e acrescentou: — Nossa, perdi a noção do tempo. Está na hora de voltar para a cidade, senão chego atrasada ao meu turno na pousada.

    Olhou para o irmão da amiga. O rapaz estava com os braços cruzados sobre o peito, me analisando desconfiado. Desviei o olhar de volta para a Pietra.

    — Lorenzo, você também vai se atrasar — a amiga falava pelos cotovelos, com pressa. — Tchau, Lara. A gente se vê depois.

    Saiu arrastando Lorenzo com um braço e as rédeas do seu cavalo com o outro. Finalmente sós.

    — E então, Lara, como você vai? — tentei fazê-la falar. — Ainda no marketing da Vale?

    — Sim — respondeu com sua voz suave e penetrante. — Fui promovida há alguns meses a gerente do departamento.

    — Meus parabéns! Você merece!

    Senti necessidade de me mover, estava estranhamente sob controle novamente, como que em casa. Dei um passo, e Lara me acompanhou sem precisar chamá-la.

    — E você, ainda longe da empresa de seu pai? — perguntou a moça depois de uns instantes silenciosos, alguns passos à frente.

    — Sim — respondi sorrindo. Ela se lembrava! — O negócio de consultoria vai muito bem, me sinto realizado com este trabalho.

    Conversar com Lara era muito fácil. Ela tinha uma inteligência aguçada, sensível e receptiva. Apreciava sua companhia de muitas maneiras, percebia naquele momento.

    — Você está hospedado na vila? — perguntou.

    — Sim, no camping. À noite vamos para a cidade pular carnaval.

    — Acho que já está na hora, então.

    Olhei ao redor. Nem havia percebido que o crepúsculo chegara. As parcas luzes artificiais pouco fizeram para amenizar o anoitecer. Nós andávamos sem rumo, mas já nos afastávamos do grupo que se dispersava devido à chegada da escuridão. Parei perto do quiosque e me virei para o mar, onde o sol se escondia, tingindo a água, antes azul-esverdeada, de laranja. Lara parou ao meu lado, contemplando o espetáculo comigo.

    Enquanto o sol deixava a terra, o calor do corpo de Lara tão perto despertou em mim um fogo interno que conhecia bem. Olhei para ela, seguindo algo mais forte do que eu. Admirei sua beleza. Seus olhos cintilantes tocaram os meus e arderam em resposta ao encontro. Nossas mãos se uniram sem pensarmos no gesto. Eu me curvei sobre ela e, com a mão livre, puxei sua boca para a minha com avidez. Não havia mais entardecer para nós.

    Sabia que parar seria impossível. Esgueiramo-nos pela mata a fim de nos afastarmos do pouco movimento que ainda havia nas margens do riacho. Conhecíamos os lugares mais isolados e seguros. Nossas mãos não se soltavam. Não precisávamos de palavras, apenas nossos corpos necessitavam se saciar um no outro. Sob o céu salpicado de pontos brilhantes, fizemos amor como a primeira vez.

    Minhas mãos escorregavam por seus ombros, abaixando as alças do vestido simultaneamente, enquanto nossos lábios se reencontravam, famintos. Não sei se era eu ou ela, mas o calor fervia minha pele, derretendo-me em suor. Tomei um mamilo na boca e preenchi uma palma com o outro seio. Lara ofegou e se contorceu contra a areia fina.

    Escorreguei os dedos afastando tecido e buscando pele, morena e molhada. Ela me queria tanto quanto eu a ela. Deixei que suas mãos impacientes me despissem, me tocassem, me reconhecessem. Um século se passara desde a última vez, mas nada mudou. Só ela me saciava. Apenas eu a satisfaria.

    Não havia mais empecilhos. Em um movimento, estava dentro dela, preenchendo-a de um prazer que ia além do físico. Era único. A intensidade de

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