O ópio em ressonância
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O ópio em ressonância - MORAES JÚNIOR
Emília
A metafísica
de ser mulher
1
Não temas a tua língua,
Se tu achas que eu sou liberdade,
Tenho-te a falar que sou treva.
Olhai-me novamente: o que vês?
Tu não enxergas porque és um trovador bêbado.
Seria eu a água para teus lábios,
porém, tu preferes o vinho, o gozo.
Não bebas mais desta água.
E vou deslizar os dedos nas pias vazias,
Acalme-te nos leitos vazios da mente.
Esqueces que não pisarás no chão de terra?
Entenda que em teus pés não carregas o pó.
E a altivez da tua voz será mais ouvida.
Escapa-te desta orla de bebidas.
Não haverá nauta para ti
E serás mais atento agora?
2
Ama-te pelo sangue que corre dentro de ti
E eu jamais terei orgulho do teu sangue;
não haverá esplendor da tua carne
Ávida fissura aberta no peito;
Não existe o hoje, não haverá o amanhã.
Ninguém irá costurar os trapos do passado.
Onde estão as parcas?
Embora eu te pareça mulher, não sou.
Sou a intensidade do ar.
Demasiado efeito vulcânico.
Plenitude natural.
3
Se achas que no vinho encontrarás prazer: errôneo
Se refazes para ti um burburinho de festa, cala-te.
Se refazes para ti uma parábola da tua vida.
Quem és tu sem o vinho?
És a face de Dionísio bêbado a degolar ninfetas?
Não é meu ofício descrever tuas indiscrições.
Nenhuma sedução da magia
Enrola teu braço no pescoço e diz:
Quem és tu sem mim?
Não sejas tolo, homem,
nem tu que bebeste das festas celestes
herdarás o silêncio de deus.
Toma do cálice do vinho morno,
antes macerado pelos pés,
agora amaciado por suaves mãos de donzelas.
Tu jamais, serás amavio: pois teu amor é o tinto.
4
Rede de inimizades,
bordéis que ele nunca visitou.
Faria dele um deus que largou seu poder?
Não há por onde correr.
E naquele encantado bordel:
mulheres dançam,
cachorros cagam para fora.
Homens aproveitam do estado.
Mas, o mais provado era o homem.
E na larga escala por encontrar uma taça,
o homem faz turbilhões de antiprazeres.
Ele não tem gozo fácil.
E elas têm?
5
A boca do homem cheira a rum.
A gim.
Qual é a medida do amor?
Não existe uma dose.
E tua boca está perdida.
Cadê a tua vergonha?
Não adianta cobri-la, ela está ali debaixo do pano.
Movimento ardente que não existe reverso.
Ele é um covarde que mija nas pernas o rum. O gim.
E teu dente cariado abrirá profundamente.
Dor.
Sangue.
Mas mesmo assim a compreensão será a bebida.
Jogando ao zodíaco, não haverá outra fragmentação.
Procura-te no espaço-zodíaco: a morte
O teu rosto está perfurado por lanças e açoites.
Cindida à qualquer coisa: a tua carne
Pacto ainda não feito;
riqueza sem destinação.
Não existe a presença da Estrutura.
O ar de alegria se foi.
6
A seiva da terra está amarga,
outrora tão doce que virava formigas e abelhas.
Desde então amarga; tão que nenhum bicho se aproxima.
É seiva venenosa.
Do suplício do suicida.
Tu queres?
Há de vir dias sem glórias
Tremores nas mãos
Tudo por causa da seiva.
Não há uma história melhor.
A seiva é o desamor.
Da terra a seiva é do álcool,
que viaja dentro do fígado.
É o meu suplício para a seiva.
Não há nitidez – o fazedor do veneno.
Não existe suplício.
É raro o singular elixir que se torna doce;
É o acompanhante da seiva amarga.
Jamais vou te ver