Sons poéticos
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Sons poéticos - Orlando Cortez
Hoje
Hoje há um novo tipo de saudade,
Quando diviso ao longe
A sombra do infinito.
Percebo um vazio aparente,
As lágrimas da alma se estendem
Em direção ao mar.
Parece que há um silêncio implacável
Na solidão sem fim.
E lá,
Frente ao mar,
O homem pensa e chora.
Existem as mesmas sombras,
Não como luz da sublime alvorada,
Não o aposento do ontem,
Só o eterno do agora,
Como sonho do passado
No hoje sem fim.
Diário
Foi assim...
O ontem pareceu eterno,
Caindo continuamente no meu hoje
Como cicatrizes letais.
Disse para mim mesmo:
Não quero o ontem com seus cuidados;
Não a melancolia disfarçada de silêncio.
Quero o hoje verdejante,
Sem vestígios do ontem,
Sem lembranças confusas,
Sem adeus.
Sem a distância intransponível
E sem a lágrima que punge sempre e sempre
A alma fenecida.
Não quero a despedida como saldo aviltante
De um amor paradoxal.
Não quero o hoje de ontem,
Antiquado, perplexo, decepcionante.
Quero o hoje de agora
Sem o tempo do passado.
Pensando em ti
É pensando em ti que escrevo,
É pensando em ti que virei um poeta sofrido
Que a vida esqueceu,
Dedilhando nas cordas da melancolia
Uma canção ao vento,
Sufocada no grito agonizante
Deste bardo que chora,
Que envolto o olhar na frouxidão do dia
Se mira no horizonte do infinito.
É pensando em ti
Que fiz das minhas lágrimas
Um riso indefinido
É pensando em ti... Em ti somente,
Que transformei o meu pranto em poesia.
Luz sutil
Quando ela vem, e me visita
No frio da manhã,
Sem marcar um encontro antecipado,
Sem dizer a hora da chegada,
Que vem e vai.
E sem anunciar traz para mim a brisa leve
E suave
Mesclada de canções celestes.
Ela não me fala
Dos tempos idos.
Nem mesmo daqueles que virão.
Os tempos idos,
Ela não tem,
E nem traz à lembrança
De dias que ainda virão:
Mas ela traz consigo
O relógio do tempo,
Do tempo que vivo,
E assim posso sorrir.
Ela me desperta todas as manhãs
Então eu posso ver
Na luz silenciosa e sutil,
Que existe um pouco de mim,
Em cada dia,
Em cada brilho,
Em cada som.
Quando eu silenciar
Quando eu silenciar
Não venha prejulgar o meu momento
Em que envolto no meu pensamento
Procuro simplesmente versejar.
Talvez no meu olhar,
Nesse semblante de furtivo intento,
Querendo dividir o som do vento,
Eu consiga de ti me aproximar
Para dizer que não sou diferente
De tantos que divagam à luz da lua
E pescam a poesia em plena rua
Por onde trafega tanta gente!
Quando eu silenciar
Não pense que cessou na voz a prece.
A sincera oração nunca emudece
Se o coração continuar a clamar!
Se eu silenciar
E por acaso não te perceber
Não deixe a indiferença te abater,
Erga sua fronte e começa a cantar.
Contraste
Cantarei de amor alegremente,
Mas levarei no secreto da alma,
Tão dizimada