Versos soltos

De Flávia Cavalcante

Ela sempre amou os finais, mas sua mãe diz que quando não eram satisfatórios os reescrevia numa tentativa de continuação. Foi aí que a escrita a encontrou, mas foi depois de um acidente, que mudou completamente a sua história, que ela teve um encontro profundo com a poesia. Foram os versos que a fizeram companhia nos seus momentos mais escuros. As palavras apareceram naturalmente e dissiparam o caos. Embelezaram o feio. 
A poesia tem sido a luz que sinaliza a liberdade, a salvação que a conduz ao caminho da ressignificação. 
Nada a faz apreciar tanto a vida quanto passar horas escrevendo memórias em versos, porque de maneira perene transformam o desassossego em paixão. Como disse Flaubert: escrever é uma maneira de viver.
A poesia compensa a vida real, trazendo frestas de luz à essa existência tão complexa, porque transcende a racionalidade. Sempre a fascinou esse poder que os versos têm de humanizar sentimentos e pensamentos, alcançando cada leitor de forma genial, despertando, rompendo e desbravando. Não é apenas um entreter, mas uma experiência de renovação que resgata o melhor do ser humano em nós.
Estes versos soltos, desprovidos de qualquer sequência lógica, são resultados do seu transmutar, como no processo de criação de um vaso de argila, completamente livre, dançando conforme o modelar das mãos.

• Idioma: Português
• Editora: Viseu
• Data de lançamento: 26 de set. de 2022
• ISBN: 9786525427973

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Dedicatória

Este livro é dedicado ao meu filho, Pedro Henrique, que sempre desafiou as possibilidades e a todos nós que nos reconhecemos nas palavras soltas, na liberdade das entrelinhas...

Prefácio

Tal como soltar o verbo define um impulso à liberação de toda a palavra que, até o ato de soltura, não havia ganhado voz, soltar o verso é libertar uma poesia aprisionada em estado de latência. Se entendermos esses versos soltos a partir dessa interpretação e não da sedutora ideia de aleatoriedade criativa ou falta de costura entre os poemas, trazemos à luz a obstrução que, tendencialmente, a cultura propõe à mulher na escrita.

O fato de o século 21 não ser ingênuo ao patriarcado – sobretudo graças à mobilização emancipatória do feminismo – não significa que a mulher não sofra sequelas históricas de direitos tolhidos, como a interdição do acesso à fundação do pensamento filosófico e à atividade política. Nesse sentido, os versos soltos neste livro documentam a recusa da autora