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Calvino e o comércio
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E-book342 páginas5 horas

Calvino e o comércio

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Sobre este e-book

"A primeira vez que você lê este livro, ficará impressionado com sua amplitude e alcance. Então, na sua segunda e terceira leitura você ficará surpreso com a consciência e a aplicação do pensamento de Calvin sobre literalmente centenas de detalhes sobre negócios, comércio e administração. Esta é uma leitura crucial." (Joel Belz)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de out. de 2021
ISBN9786559890163
Calvino e o comércio

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    Calvino e o comércio - David W. Hall

    Os principais aspectos financeiros, comerciais e econômicos do ensinamento Reformado aplicados aos mercados e decisões da modernidade. Calvino e o comércio. David W. Hall e Matthew D. Burton. A influência transformadora do calvinismo na economia de mercado. Cultura Cristã.Os principais aspectos financeiros, comerciais e econômicos do ensinamento Reformado aplicados aos mercados e decisões da modernidade. Calvino e o comércio. David W. Hall e Matthew D. Burton. A influência transformadora do calvinismo na economia de mercado. Cultura Cristã.

    Calvino e o comércio, de David W. Hall e Matthew D. Burton © 2017 Editora Cultura Cristã. Publicado originalmente em inglês sob o título Calvin and commerce © 2009, by David W. Hall e Matthew D. Burton. Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, estocada para recuperação posterior ou transmitida de qualquer forma ou meio que seja – eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou de outro modo – exceto breves citações para fins de resenha ou comentário, sem o prévio consentimento de P&R Publishing Company, P.O.Box 817, Phillipsburg, New Jersey 08865-0817.

    H174c

    Hall, David W.

    Calvino e o comércio / David W. Hall; Matthew D. Burton; Traduzido por Daniele Damiani. _ São Paulo: Cultura Cristã, 2017

    208 p.

    Recurso eletrônico (ePub)

    ISBN 978-65-5989-016-3

    Tradução Calvin and commerce

    1. Calvinismo 2. Cosmovisão cristã 3. Vida cristã    I. Título

    CDU 275.4

    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    ABDR. Associação brasileira de Direitos Reprográficos. Respeite o direito autoral.Editora Cultura Cristã

    Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP

    Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099

    www.editoraculturacrista.com.br – cep@cep.org.br

    Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    Sumário

    Prefácio

    Introdução

    1. Criação

    O homem como criatura e criador

    Criação: tempo de abundância e riqueza além das necessidades básicas

    A responsabilidade do homem pelo domínio da criação de Deus

    A criação e o equilíbrio entre trabalho (vocação) e descanso (dia de descanso)

    A riqueza não é moralmente ruim

    2. Queda

    A depravação requer uma ética de trabalho

    O homem não é socialista por natureza

    O papel da riqueza

    Juros ou usura?

    Os pobres e os ricos vieram para ficar

    3. Redenção

    A liberdade cristã

    Calvino contra o orgulho e a ignorância

    Administração e propriedade privada

    A riqueza como um excesso de agradecimento e exaltação pela salvação

    Investimento como um chamado ao resgate

    A obra de caridade e a lei

    Calvino sobre a ética de propriedade e a ética comercial: Êxodo 21–24

    Padrão para a caridade

    4. Filantropia

    A caridade extrafamiliar

    A filantropia de Calvino e o cuidado com os pobres

    As corretas definições de obra de caridade e pobreza

    Suposições incorretas sobre a assistência social: Calvino sabia mais

    5. Santificação e serviço

    A igualdade social é o objetivo?

    Providência

    Santificação

    A providência compensa a falta de consideração pelos pobres?

    O espírito comercial calvinista inicial

    O trabalho santifica

    Dignidade para o trabalho do homem

    6. Escatologia

    O presente é mais bem definido pela eternidade do que por si mesmo

    O investimento a longo prazo e a fidelidade bíblica

    A preparação e o acúmulo de ativos

    A tomada de risco e o acúmulo de recompensas são permitidos e incentivados

    Calvino e a educação

    Calvino e a frugalidade

    Os cinco pontos da economia de Calvino

    Conclusão

    Prefácio

    Esta pequena obra deve ser vista como um diálogo, não obstante a necessidade artística das vozes distintas dos diversos personagens. Apesar de nosso ineficiente esforço demonstrado abaixo nunca se equiparar aos clássicos diálogos como em a República de Platão, The Crown Rights of Scotland, de Buchanan, Diálogos sobre a religião natural, de Humes, ou Cartas do diabo ao seu aprendiz, de Lewis, múltiplas vozes podem, ainda, servir para prender a atenção do leitor enquanto instruem. Embora, vez ou outra, este livro revele as vozes distintas de seus autores – sendo um deles especialista financeiro e o outro, teólogo – as vozes, com bastante frequência, também se unificam a fim de formar um coro.

    Também acreditamos que os leitores periódicos e os profissionais de negócios podem se beneficiar de um resumo não técnico a respeito da ética comercial calvinista de acordo com o formato abaixo. Sob o título de ética comercial calvinista, este livro básico busca, primeiramente, extrair os principais aspectos financeiros, comerciais e econômicos do ensinamento de Calvino e depois aplicá-los aos mercados e decisões da modernidade. Se o diálogo resultante parecer, certas vezes, uma voz teológica do século 16 conversando com a voz do mercado do século 21 – e vice-versa – isto é, em parte, o nosso objetivo. As vozes de outros defensores e adversários também são representadas nesta discussão. Nossa esperança é que este livro propicie uma discussão inteligente do espírito do Calvinismo e de como ele tem impactado os setores comerciais.

    Claro, a intenção não é que este, por si só, seja um livro didático sobre economia; tampouco abrange tudo o que Calvino escreveu a respeito dos assuntos relacionados a negócios e finanças. Contudo, ao oferecer esta obra como parte da celebração dos 500 anos de João Calvino, os autores acreditam que tanto a homenagem como a elaboração de sua ideia concernente a este assunto são dignas de nota. Esperamos que, dentro destas páginas, um resumo adequado e uma representação das visões de Calvino possam ser acessados. Se, dentro destas mesmas páginas, o leitor também encontrar discussões a respeito de como as visões de Calvino se desenvolveram, quais as consequências resultantes delas e como suas teorias podem ser proveitosamente aplicadas às sociedades modernas, será ainda melhor. Acreditamos que os líderes de empresa apreciarão as percepções de Calvino mais do que qualquer outro público.

    Convidamos o leitor a examinar nossas discussões. Temos certeza de que a soma é muito melhor do que nossas vozes individuais. Sem dúvida, muitos outros agregarão a essas discussões mais adiante, mas esta atualização do valor do Calvinismo, tanto para o mercado como para compreender os negócios e a economia, serve para todos aqueles que desejam entender nossa história.

    Também não temos a ilusão de que esta seja uma abordagem exaustiva ou que responda todas as perguntas. Uma abordagem consideravelmente simples é adotada, na qual desejamos apenas contar para as outras pessoas o que aprendemos com Calvino, bem como aplicar os aspectos de sua teologia aos mercados com os quais nos deparamos.

    Gostaríamos de agradecer às seguintes pessoas por sua ajuda: Dr. Scott Cunningham e Dr. Jon Payne, por lerem todo o texto, darem sugestões e fazerem críticas extremamente úteis. Como resultado, este livro melhorou de forma imensurável; Andrew Hall, estagiário na Narwhal Capital Management, por sua pesquisa e assistência; Michael Brock, pelos muitos anos de compreensão e amizade; David Westall, por suas explicações e sugestões; Mac Plumart e Sean Sunehew, ambos da Narwhal Capital Management, por lerem e rastrearem as referências erradas; e a Invisible Hand Foundation, por seu subsídio educacional para ajudar nas etapas finais desta obra.

    Este livro é carinhosamente dedicado a nossas esposas e filhos, sem os quais, confessamos abertamente, seríamos perdedores e preguiçosos. Dedicamos também nosso agradecimento aos nossos mestres: Jack Burton, por me dar o exemplo de liderança e me ensinar mais do que posso revelar em toda a minha vida; Bob Matthew, que não somente passou a amar os ideais de Calvino, mas também é, inquestionavelmente, o melhor executivo que qualquer um de nós espera conhecer; Richard Hall, que me ensinou a viver dentro das minhas possibilidades, a evitar dívidas em excesso e a trabalhar; e Pat Fleming, que nos deu e continua nos dando amor, encorajamento, liderança e discernimento.

    Introdução

    João Calvino (1509–1564), cujo aniversário de 500 anos foi comemorado em 2009,1 fez uma de suas contribuições mais duradouras quando abriu caminho para as modernas práticas comerciais com base no mercado. Encontrando-se na conjuntura entre a Idade Média e o início da Idade Moderna, Calvino testemunhou e contribuiu para uma imensidão de mudanças na economia mundial, e fez isso baseado em uma declaração de princípios fundamentada na fé.

    Um resumo feito em meados do século 20 a respeito dos ensinamentos de Calvino mostra o quanto suas ideias eram avançadas em relação aos ensinamentos medievais:

    Poucos teólogos relacionavam os fatos econômicos com o drama cósmico da redenção de maneira tão clara como Calvino. Para esse reformador, a prosperidade é somente um agente inserido nesse drama, nunca neutro, mas sempre um instrumento de graça ou infortúnio. Essa recusa em objetivar os bens materiais se contrapõe claramente ao pensamento medieval.2

    Claro, Calvino não engrandecia a pobreza e buscava reabilitar a vida material3 como parte da vocação humana e da obediência cristã. Além do mais, ele era capaz – como não o eram muitos de seus antecessores – de perceber que a economia e o lucro poderiam intensificar a produtividade futura, algo diferente do acúmulo interesseiro.

    André Biéler resumiu as contribuições de Calvino da seguinte maneira:

    Ao atribuir à fé toda a esfera da atividade humana, que os cristãos devem submeter ao senhorio de Cristo, Calvino, indubitavelmente, conferiu ao trabalho, ao trabalho econômico e ao dinheiro um lugar que eles não tinham antes, possibilitando aos calvinistas extrair deles toda a sua humanidade e potencialidades sociais.4

    A partir de uma perspectiva um pouco mais antagônica, o papel de Calvino na história do comércio foi avaliado nestes termos:

    Aquele que tentasse traçar o desenvolvimento capitalista em qualquer país da Europa... sempre se depararia com um mesmo fato: a Diáspora calvinista é, ao mesmo tempo, a causa da economia capitalista. Os hispânicos expressaram tal fato com as seguintes palavras de amarga reflexão: Os hereges facilitam o espírito comercial.5

    Embora alguns economistas possam afirmar que a característica mais notável da tese da ética protestante seja a ausência do apoio empírico,6 outros relatam:

    A Reforma Protestante impulsionou uma revolução mental que tornou possível o advento do Capitalismo moderno. A visão mundial propagada pelo Protestantismo rompeu com as orientações psicológicas tradicionais por meio de sua ênfase na diligência pessoal, frugalidade, parcimônia, responsabilidade individual e por meio da aprovação moral conferida à tomada de risco e ao desenvolvimento financeiro pessoal.7

    O teorista social Rodney Stark descobriu ser a liberdade um ingrediente essencial para o crescimento do Capitalismo. Assim como Max Weber, um século antes, a recente obra de Stark, The Victory of Reason: How Christianity Led to Freedom, Capitalism, and Western Success, busca responder por que algumas sociedades europeias cultivaram o Capitalismo, ao passo que outras não. Ele sugere que muitos fatores – como o apoio do clérigo ao mercado de capitais, a convicção de que o progresso tecnológico era uma bênção, e não uma maldição, a educação, a inovação manufatureira, o avanço da ciência e as expectativas para soluções administrativas coerentes – contribuíram para o que, com frequência, é citado como a ética protestante, cujo aparecimento se deu simultaneamente à explosão do Capitalismo.8 Pelo menos no que se refere à cobrança de juros, se não ao comércio em geral, a posição de Calvino é absolutamente decisiva dentro da história econômica do Ocidente.9

    Enquanto muitos interpretam Calvino de maneira incorreta, igualando prosperidade material e predestinação eterna, este estudo mostrará o quanto essa caricatura é incorreta. Todavia, as contribuições de Calvino para a área do desenvolvimento de ativos são, de modo relativo, feitos impressionantes, em especial quando se leva em consideração o fato de que sua prosperidade pessoal foi sempre modesta e ele não administrava nenhuma instituição financeira. Ele era pastor, um clérigo, que ensinava seu povo a partir das Escrituras, recentemente redescobertas, então, pela Reforma Protestante.

    Antes de se lançarem às águas do pensamento de Calvino, os leitores honestos terão de superar o preconceito residual que se origina a partir das críticas e imagens oferecidas por pessoas como Max Weber.10 Embora esse preconceito quase sempre caracterize nossa percepção quanto às convicções de Calvino, é importante que nos comprometamos a entender o que ele realmente ensinou.

    Para esse fim, o leitor moderno deve fazer as seguintes perguntas:

    O que Calvino ensinou ou não ensinou que levou a essa enorme mudança no comércio?

    Os ensinamentos dele foram adotados rapidamente? Caso tenham sido, por quem e onde?

    Quais eram os seus pontos de vista com relação a prosperidade, dinheiro, avareza e finanças?

    Onde podemos encontrar comentários específicos feitos por Calvino relacionados a assuntos de prosperidade e comércio?

    Quais culturas se beneficiaram ou têm a probabilidade de se beneficiar dos ensinamentos econômicos de Calvino?

    Esta obra concisa tenta responder tais perguntas.

    Para tanto, esta também é uma obra claramente teológica; considerá-la de outra forma seria distorcer as fontes originais. Portanto, cada capítulo abaixo foca em um valor megateológico: criação, queda, redenção, filantropia, administração e escatologia. Conforme buscarmos entender os pontos de vista de Calvino a respeito desses tópicos, também mensuraremos o decidido reformador protestante segundo as próprias Escrituras e analisaremos quais práticas comerciais estão mais de acordo com as verdades bíblicas que alimentaram a maior parte do pensamento de Calvino.

    No decorrer da leitura, discutiremos os paradigmas apresentados por diversas filosofias comerciais. Cada corrente de pensamento tem suas próprias imperfeições e deficiências que sustentam o comportamento ou decisões contrários a determinadas realidades econômicas. Compararemos essas várias correntes de pensamento aos conceitos comerciais contidos nas obras de João Calvino. Um segundo objetivo deste livro é apontar as incompatibilidades dos diversos sistemas quando comparados a um padrão transcultural: a Bíblia.

    Para melhor esclarecimento, permita-nos, em um breve momento, distinguir este livro de outras exposições econômicas com abordagem bíblica. Afinal, existem muitos livros que apresentam vários sistemas econômicos ou práticas comerciais e tentam revesti-los com o Cristianismo como forma de ilustrar as semelhanças e/ou diferenças. Como consequência, muitos deles chegam à conclusão (explícita ou implicitamente) de que o Cristianismo e a economia são duas vertentes de pensamento completamente independentes. Em outras palavras, as duas correntes lineares do pensamento são examinadas para uma possível relação em vários pontos, porém, não compartilham, necessariamente, de uma equivalência, nem mesmo de um único valor. Como resultado, as duas identidades isoladas são utilizadas para avaliar ou testar uma à outra.11

    Nossa abordagem difere daquela que considera o Cristianismo e a economia como duas áreas separadas. Em contrapartida, verificamos que os pontos de vista relacionados à prosperidade resultam da teologia ou de valores fundamentais. A tese de nossa afirmação é que os interesses financeiros e comerciais não são independentes, mas sim uma extensão das convicções teológicas. Sendo assim, examinaremos a conduta financeira sob as lentes bíblicas produzidas por João Calvino. Observaremos o comportamento comercial e econômico da mesma maneira como uma pessoa observaria o comportamento de um indivíduo no sábado, ou de um indivíduo sob influência do álcool, determinando, portanto, quais decisões e ações comerciais são consistentes com as Escrituras e quais poderiam ser convenientemente caracterizadas como pecado. Para as mentes filosóficas, a hierarquia lógica se propagaria da seguinte forma: das convicções religiosas resulta a teologia; da teologia resulta o pensamento político; do pensamento político, então, resulta o pensamento institucional; do pensamento institucional resulta o pensamento cultural; do pensamento cultural resultam os pontos de vista macroeconômicos; dos pontos de vistas macroeconômicos resultam os pontos de vista microeconômicos; e os pontos de vista microeconômicos levam às decisões e ações econômicas pessoais.

    Ademais, esta obra recapitulará os conceitos comerciais e financeiros articulados por Calvino na tentativa de conseguir reintroduzir a voz desse grande pensador reformado ao mercado de ideias. Compreendendo sua convicção de que as práticas comerciais são derivadas, em parte, do pensamento teológico, procuraremos explorar seus textos em busca de atrativos, contudo, também não chegaremos, genuinamente, a reunir textos comprobatórios que aleguem que Jesus era um capitalista ganancioso.

    Valores, fé e verdade

    Não acreditamos apenas que os valores ou ideias e hábitos fundamentais afetam as decisões econômicas de menor importância, mas este livro também aceita a realidade de que certas ideias iniciais – ou pressuposições – podem exercer enormes efeitos em ações mais amplas ou interesses sistêmicos. Portanto, tais pressuposições devem ser identificadas como uma questão de honestidade intelectual e compreendidas como forma de esclarecimento. Todos os sistemas econômicos e as culturas comerciais possuem suposições básicas necessárias para sustentar as variações econômicas periféricas do sistema. A abrangência de tais pressuposições é tão extensa a ponto de cada sistema econômico se tornar atraente para determinadas ideias constituintes. Tal fato explica, parcialmente, por que várias teorias e práticas econômicas são atrativas.

    Assim como as épocas históricas e os períodos literários quase sempre começam como uma reação a um aspecto do passado ou do presente, também o desenvolvimento das ações econômicas são reações ao descontentamento, escassez ou excesso. Portanto, seria ingênuo abordar tal estudo sem, em primeiro lugar, reconhecer a interconectividade dos vários sistemas e modelos econômicos. O ponto comum dos sistemas pode, com frequência, ser identificado com precisão pela pressuposição de cada um deles. Como afirma John E. Stapleford, "economia, obviamente, refere-se a valor – o preço relativo desta moeda pela fatia de pão – mas também se trata de valores, e sempre foi assim".12

    Considere, por exemplo, as pressuposições fundamentais da economia socialista de Karl Marx. Embora impopular entre os conservadores e evangélicos, é possível notar o mérito – mesmo sendo apenas superficiais – de muitas de suas suposições e valores agregados. Na realidade, a ideia geral de igualdade para todos em si é interessante. Além do mais, a redução da disputa entre classes, às vezes, parece desejável. Semelhantemente, as pressuposições básicas da corrente de pensamento capitalista endossam o valor do trabalho árduo por meio de incentivos. Em ambos os casos, as teorias econômicas possuem suposições definidas.

    Em referência a essas duas correntes de pensamento em particular, a maioria dos estudiosos concorda que os pontos de vista econômicos de Calvino estavam muito mais próximos do Capitalismo de livre mercado do que do Socialismo centralizado. Todavia, nosso objetivo é evitar caricaturar Calvino como um protolibertário. Em vez disso, preferimos argumentar que as ações econômicas são impulsionadas pelo valor e têm por base as premissas fundamentais. Ademais, esta obra defende que as convicções teológicas de Calvino transcenderam a religião e invadiram a esfera da teoria comercial e do comportamento – não somente em seus textos explícitos a respeito desses assuntos, os quais influenciaram o desenvolvimento moderno da teoria econômica, mas também por meio de sua influência nas decisões comerciais particulares de governos, famílias e pessoas.

    Além disso, a ciência de tais pressuposições se faz necessária ao examinar qualquer sistema econômico ou filosófico. Com tal consideração em mente, deve-se reconhecer que as pressuposições e suposições podem afetar em grande escala o que é pesquisado e como – chegando, por fim, até a moldar a ideologia em si. Portanto, um estudo competente de qualquer política econômica, sistema comercial ou teoria financeira requer uma análise extensa dos fundamentos de sua visão de mundo e certa avaliação de como tais pilares afetam as práticas do sistema. A teoria comercial raramente é uma proposição neutra. Desconstrua criticamente qualquer teoria comercial e suas pressuposições fundamentais a respeito da natureza do homem, do propósito do lucro, da pobreza, da providência, etc., se tornarão claras. João Calvino falou muitíssimo sobre esses assuntos, e ignorar sua voz é negligenciar ou minimizar um participante-chave do desenvolvimento da moderna teoria comercial. Ademais, o reformador foi rápido em admitir que todo pensamento humano flui de uma teologia sã. Para analisar de maneira adequada um sistema de negócio ou comercial, os analisadores precisam fazer as seguintes perguntas: (1) Quais são as pressuposições que tornam determinada teoria comercial atrativa? (2) Qual perspectiva teológica sustenta tais pressuposições? (3) Os resultados reais das práticas comerciais originados de uma teoria estão de acordo com suas melhores pressuposições? Antes de avançarmos ainda mais, alguns exemplos reforçarão esse ponto inicial.

    Karl Marx,13 claro, era cético com relação ao acúmulo de capital, criticando os capitalistas como sendo aqueles que insensivelmente acumulam e lucram. Apesar de não desejarmos ser extremamente simplistas, é difícil não pensar em Marx segundo o comentário elementar fornecido pelo economista Paul Samuelson. De acordo com ele, todos os sistemas econômicos buscam solucionar três problemas: (1) O que deve ser feito? (2) Quem deve fazer? (3) Quanto deve ser feito? Samuelson, então, observa que, historicamente, existem duas soluções principais para esse dilema: as soluções centralizadas ou as descentralizadas.

    Karl Marx apresentou um dos argumentos mais fortes para a solução centralizada enquanto promovia simultaneamente um dos mais ousados movimentos contrários ao Capitalismo. Seu modelo econômico centralizado defendia que a propriedade privada era mais uma maldição do que uma bênção. Muitos sistemas econômicos, hoje, levam isso muito a sério e, embora quiséssemos poder afirmar com confiança que o mundo é o melhor lugar para isso, está faltando a prova conclusiva. Marx argumentou que

    a busca pelo interesse próprio levaria à anarquia, à crise e à dissolução do próprio sistema com base na propriedade privada, pois, para o marxismo, a símile é o controle tirano da competição, pulverizando os trabalhadores e deixando-os pior do que estariam em um sistema plausível, ou seja, um sistema baseado no domínio social ou público de propriedade.14

    Suas ideias não estavam envolvidas pelo mistério. O Manifesto Comunista incluía um programa de dez pontos, defendendo o seguinte:

    Expropriação da propriedade de terra e o emprego de toda a renda em propósitos públicos.

    Imposto de renda com forte aumento gradual.

    Abolição de todo o direito à herança.

    Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.

    Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital estatal e monopolista.

    Centralização dos meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado.

    Extensão das fábricas e instrumentos de produção de posse do Estado; arroteamento de terras improdutivas e melhoria do solo de acordo com um plano comum geral.

    Obrigação igualitária ao trabalho e formação de exércitos industriais, em especial, para a agricultura.

    Associação das indústrias agrícola e manufatureira e a abolição gradual da distinção entre cidade e campo por meio de uma distribuição mais equitativa da população.

    Educação gratuita para todas as crianças em escolas públicas; abolição das formas existentes de trabalho infantil nas fábricas; correlação da educação com a produção industrial.15

    Cada um desses conceitos individuais – sem mencionar a soma deles em um grau maior – nem de longe está isento de valores. Na realidade, se uma sociedade implementasse todas essas medidas, ela seria dramaticamente diferente daquela que defende a propriedade privada, incentiva a livre iniciativa e a redução dos impostos, além de não advogar a centralização da agricultura, educação, transporte e afins. Com sua pressuposição de que a propriedade privada seria, na verdade, a causa da luta entre as classes e da escravidão, Marx defendia as soluções centralizadas. Atraindo mais discípulos do que muitos se dão conta, tais noções se infiltraram em muitas sociedades. Os valores que fundamentam essas noções têm consequências, a nosso ver, principalmente adversas.

    Os valores também têm consequências em outro moderno setor comercial. A florescente corrente de economia ecológica, com seu princípio básico de atenuar quaisquer pecados percebidos contra o ambiente, também traz suposições, valores e consequências para a tabela econômica. A economia ecológica, de acordo com certo escritor "é elaborada com base em três princípios fundamentais: (1) nada é mais valioso do que o ambiente natural, tanto em nível local quanto global, tal como existe hoje; (2) tanto a pressão do crescimento populacional quanto o aumento das demandas de consumo estão pressionando o planeta em direção à exaustão de recursos; e (3) o mundo é irreconhecivelmente frágil".16

    Tais premissas, se

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