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Uma Ponte entre vidas
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E-book184 páginas2 horas

Uma Ponte entre vidas

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Sobre este e-book

Ingrid Marie Elise Bernecker de Vasconcellos conta a longa história da família Bernecker, desde os primórdios do século XX na Europa. Uma família que atravessa as duas grandes guerras em Luxemburgo e na antiga Tchecoslováquia, encontra o amor no Egito, conhece a América do Norte, porém finalmente se consolida e cria raízes no interior mineiro, tornando-se finalmente uma verdadeira família brasileira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556621122
Uma Ponte entre vidas
Autor

Ingrid Marie Elise Bernecker de Vasconcellos

Ingrid Marie Elise Bernecker de Vasconcellos nasceu no Egito, Alexandria. Morou em Luxemburgo e migrou para o Brasil, com seus pais e irmão, onde vieram fixar residência, primeiro em São Paulo e depois em Belo Horizonte, Minas Gerais. Já casada, Ingrid formou família e veio morar na cidade do Rio de Janeiro, onde está até hoje. Decidiu que agora é o momento certo para contar a história que começou antes dela. Ingrid nasceu em uma família inspiradora e extraordinária, com personagens inesquecíveis e passagens desafiadoras. Essa é a história da vida deles e grande parte da sua própria. Uma história de busca, superação, alegria e coragem. Ingrid, com esse livro, deixa como legado a sua luta e também faz uma homenagem a Bomy, Dicky, Walter e Roby. Sem eles, nada teria existido.

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    Pré-visualização do livro

    Uma Ponte entre vidas - Ingrid Marie Elise Bernecker de Vasconcellos

    Prefácio

    Passados mais de setenta anos do fim da Segunda Guerra Mundial, os relatos daqueles que tiveram sua trajetória modificada pelo conflito permanecem como testemunhos fundamentais da História. Quando conheci Ingrid Bernecker de Vasconcellos, cujas memórias originaram este livro, não imaginava que, muitos anos depois, eu mesma escreveria romances históricos focados neste período. Estávamos no meio da década de 1980, Ingrid já vivia há muito no Brasil, falava português fluente, era casada com um mineiro e tinha duas filhas. Hoje, passados mais de trinta anos, é instigante poder ler estas páginas e me deliciar com a rica experiência de vida que elas trazem.

    Uma ponte entre vidas conta a saga das famílias Victor e Hansen, de Luxemburgo, e Bernecker, da Alemanha, tendo como pano de fundo acontecimentos que marcaram a Europa desde o fim do século XIX até a primeira metade do século XX. Com a imigração para o Brasil, no pós-guerra, se inicia o ramo brasileiro da família a partir dos irmãos Ingrid e Robert.

    A narrativa já nos captura de início, com um ataque aéreo a Luxemburgo, em maio de 1944, cerca de um ano antes do armistício. A pequena Ingrid Bernecker, então com cinco anos, é vítima do bombardeio junto com a mãe e a tia. A menina, cabe dizer, só havia vivido, até aquele momento, num mundo marcado pela guerra. Ingrid nasceu no final de agosto de 1939, dias antes da deflagração do confronto mundial. Tendo como ponto de partida este momento crucial na vida da pequena Ingrid, a narrativa embarca numa viagem no tempo onde nos deparamos com um passado marcado por figuras surpreendentes, como a avó, extremamente moderna e inovadora para a época. Impossível não se encantar com Anne Marie, um espírito rebelde e transgressor que nunca abriu mão de sua liberdade. Uma mulher decididamente à frente de seu tempo, que ousou abandonar o marido, com a filha Marie Thèrése ainda pequena, e depois partir sozinha rumo à desconhecida e exótica Alexandria, no Egito. Mesma Alexandria onde, anos depois, Marie Thérèse, já uma bela jovem, conhece o alemão Walter Bernecker, com quem se casou pouco antes antes de a guerra estourar na Europa. O casal é literalmente separado pelo conflito. Walter é levado como prisioneiro dias depois do nascimento de Ingrid. Marie Thérèse se vê, de uma hora para a outra, com um bebê recém-nascido e um futuro incerto que a levará de volta à Europa em pleno confronto.

    O final emocionante marca, mais do que o fim, o começo de uma nova trajetória da família além-mar, em terras brasileiras... mas esta é uma outra história! Agora, é hora de mergulharmos nas páginas de Uma ponte entre vidas.

    Luize Valente, escritora e jornalista

    Prólogo

    Era o dia 11 de maio de 1944 e Ingrid Marie Elise Bernecker estava no jardim de sua casa em Howald, bairro ao sul de Luxemburgo, quando olhou o céu e viu que estava cheio de aves prateadas, voando todas na mesma direção.

    – Isso não está parecendo boa coisa – disse sua mãe, Marie Thérèse Bernecker, dirigindo-se à sua tia, Elise, ambas sentadas em um banco, tomando sol, enquanto vigiavam a menina brincando com sua boneca favorita.

    Foi então que Ingrid percebeu que não se tratavam de pássaros, mas de aviões de guerra. O mundo estava em guerra há cinco anos, isso ela sabia, pois escutava no rádio junto com a família. Seu nascimento, em 28 de agosto de 1939, coincidia com o início do período do conflito mundial, que havia começado dia 01 de setembro daquele mesmo ano.

    A casa da família Bettendorf – sobrenome de Emile, casado com tia Elise – ficava na rua Eugène Welter 23, bem perto da Gare Howald – estação central que congregava todo o transporte em Luxemburgo, reunindo trens e ônibus, servindo à baldeação de gente comum e militares alemães à serviço do Terceiro Reich. Era uma rua calma margeada de árvores que, na primavera, enfeitavam-se de lindas flores cor de rosa. Àquela altura do ano, o inverno ainda não cedera e os galhos se mostravam nus como mãos viradas para o alto, pedindo aos céus que abreviassem aquela longa e insuportável guerra.

    Uma semana após o episódio no jardim, Ingrid estava na cozinha de casa, fazendo companhia à tia enquanto esta preparava a sopa do jantar. Elise descascava nabos e cenouras, a menina pegava as cascas, picava em pedacinhos, dava de comer à boneca sentada em sua antiga cadeirinha de refeições. Marie Thérèse movimentava-se para lá e para cá, carregando pratos e talheres para por à mesa.

    De repente, Elise tem a ideia de ir ao porão buscar frutas secas para preparar uma compota. Era comum as famílias europeias guardarem as frutas colhidas no verão em um lugar fresco e seco para consumi-las no inverno. Na residência dos Bettendorf, peras, maçãs e ameixas eram dispostas em cestas sobre uma larga e comprida prateleira na parte baixa da casa.

    A luz do porão é acesa e tia Elise pousa o pé no primeiro degrau. Descem em fila indiana, ela na frente, seguida de Ingrid com sua boneca. Além da lâmpada no teto, há uma pequena entrada de luz natural ao rés do chão: a passagem das galinhas. Por aquele buraco, à noite, elas entram para se abrigar do frio e dormir. Ingrid vai até lá e se abaixa para olhar pelo buraco. Sempre faz isso, pois dali é possível ver o quintal da casa de um ângulo todo diferente. Mostra a passagem secreta à boneca, que mira tudo com seus olhinhos de vidro.

    É então que um estrondo ensurdecedor faz tremer o mundo. Ingrid se desequilibra e cai, sentindo o corpo da tia pesar sobre o seu, enquanto a mulher grita chamando Marie Thérèse. A menina grita também:

    – Mamãe! Mamãe!

    É então que ouvem a voz abafada:

    – Calma, estou aqui.

    Um olhar sobre os ombros e a visão terrível: Marie Thérèse foi projetada para perto delas junto com a escada em pedaços, tudo destruído, a imensa prateleira de frutas tombada, amparando o teto rachado. Elas se abraçam, a luz se apaga e os estrondos continuam por muito, muito tempo.

    À minha Dicky!

    Meu amor para ti

    iluminou a minha vida

    do primeiro dia até hoje e além de toda

    eternidade.

    Como eras e ainda estás

    bonita e graciosa e

    a mim dedicada de todo coração!

    Um espírito sábio e bom

    me conduziu a você

    de outros mundos

    para toda eternidade

    além da morte para

    atingir a grande

    felicidade.

    Assim foi que

    sacrificando-se

    corajosamente, com

    paciência, suportando

    os destinos, atingimos

    a indivisível felicidade

    de amor de dois seres.

    Seja que o nosso exemplo

    mostre aos nossos filhos,

    netos e bisnetos o único

    possível caminho para o

    amor e felicidade eternos.

    Walter Bernecker

    Breve história de Luxemburgo

    As raízes do lado materno da família Bernecker, os Victor, estão no Grão-Ducado de Luxemburgo, nome oficial de um dos menores e mais ricos países do mundo, incrustado na Europa entre Bélgica, França e Alemanha. Apesar de suas proporções – 80 km de comprimento, 50 km de largura e cerca de 500.000 habitantes – e de ser um grão-ducado, o último no mundo, Luxemburgo é um estado soberano.

    Na antiga Europa, era ponto de encontro das culturas românica e germânica, abrigando intenso comércio e intercâmbio de informações. Essas influências foram absorvidas dando origem a um país trilíngue onde alemão, francês e luxemburguês são idiomas oficiais, assim como a culinária e os costumes de França e Alemanha estão presentes no dia a dia.

    Luxemburgo começou como uma fortaleza adquirida pelo conde de Ardenne no ano de 963. Em torno da fortaleza desenvolveu-se uma cidade de grande valor estratégico. Por sua localização privilegiada e intenso comércio, ao longo dos séculos foi disputado e mesmo ocupado pela Itália, Espanha, França, Áustria e Holanda. Em 1867, finalmente, teve sua independência reconhecida na Conferência Internacional de Londres.

    Em ambas as guerras mundiais, Luxemburgo foi invadido pela Alemanha sendo que, em 1942, foi formalmente anexada ao Terceiro Reich. Durante a II Guerra Mundial, apesar da ocupação alemã, uniu-se aos Aliados na luta contra Hitler. Isso foi possível porque o governo se exilou em Londres, de onde arregimentou e comandou um pequeno grupo de cidadãos que participaram como voluntários na invasão da Normandia. Terminado o conflito, Luxemburgo foi um dos países fundadores da Organização das Nações Unidas. Onze anos depois, foi também um dos seis países que criaram a Comunidade Econômica Europeia, que mais tarde se transformaria em União Europeia.

    A família Victor

    No dia 11 de julho de 1882 nasceu em Luxemburgo Anne Marie Victor, filha de Michel Victor (1852-1892) e de Thérèse Klein (1850-1922), um casal luxemburguês burguês. O sobrenome Victor vem, provavelmente, da influência romana Roma Victor! – expressão que os romanos usavam sempre que conquistavam um novo território, na época da expansão de seu império. Michel Victor era engenheiro e Thérèse cuidava da casa e da família, que gerou cinco filhos: Joseph (1881-1959), Elise (1886-1974), Regine (1887-1905), Anne Marie (1882-1969) e Michel. Infelizmente, as condições de saúde não eram tão boas naquela época, o que levou Regine a falecer de difteria aos dezoito anos de idade. Outra tragédia abalaria a família alguns anos depois, quando o caçula Michel morreu atropelado, ainda criança. Michel Victor tampouco teve vida longa: faleceu aos 40 anos, em 1892, deixando a Thérèse uma boa casa e pensão vitalícia, assim como o fardo de terminar de criar praticamente sozinha os três filhos que entravam na adolescência.

    Joseph ou Joss, o primogênito, nunca se casou. Era um bon vivant. Elise, de temperamento dócil, era cordata e ajuizada. Demorou a casar porque foi a filha que assumiu o cuidado com a mãe idosa e a única sobrinha. Estava noiva de Emile quando Thérèse faleceu de causas naturais, em 1922, aos 71 anos. Como era noiva tardia para os padrões da época – quase quarenta anos – o casamento seguiu-se ao funeral tão rapidamente que ainda estava de luto: casou-se de preto.

    Uma mulher singular

    A quarta filha da família, Anne Marie, era diferente de todos: impetuosa, enérgica, voluntariosa, não aceitava ordens com facilidade, quando cismava com algo era impossível demovê-la de seus propósitos. Fez questão de concluir os estudos e ter uma profissão – o que não era habitual naquela época – formando-se professora na École Privée Notre-Dame

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