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Isabel II: Rainha e Mulher: A Vida Pública e o Universo Íntimo
Isabel II: Rainha e Mulher: A Vida Pública e o Universo Íntimo
Isabel II: Rainha e Mulher: A Vida Pública e o Universo Íntimo
E-book399 páginas9 horas

Isabel II: Rainha e Mulher: A Vida Pública e o Universo Íntimo

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Sobre este e-book

Rainha à escala planetária, símbolo para toda a humanidade, conhecida nos quatro cantos do planeta, Isabel II é um verdadeiro ícone dos séculos XX e XXI.
A vida oficial da rainha é pública e amplamente mediatizada, mas a sua vida privada foi sempre um verdadeiro mistério. É o mergulho nesse mistério que este livro pretende e se propõe.
Como encarou o passar dos anos? Como preparou a sua sucessão? Qual o seu papel na união dos Windsor e nos elementos desestabilizadores da sua família?
Além das suas responsabilidades como soberana e chefe da Igreja Anglicana, quais os seus gostos, os seus hobbies, comidas, roupas e joias? Qual a relação com as suas casas privadas? Estas e outras perguntas serão respondidas através da investigação cuidada de Alberto Miranda, suportada nos relatos de próximos e de especialistas que com ela privaram ou tiveram uma relação directa.
Neste livro, o primeiro escrito em português inteiramente dedicado à «Rainha», os seus 96 anos de vida e 70 de reinado são analisados numa perspetiva temática, cuja narração, plena de detalhes e curiosidades, não obedece necessariamente à cronologia.

O livro de Alberto Miranda resulta de uma pesquisa incrivelmente bem feita, igual às melhores biografias que podemos encontrar publicadas.
Sua Alteza Real, o Príncipe Dimitri da Jugoslávia
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de set. de 2022
ISBN9789897028830
Isabel II: Rainha e Mulher: A Vida Pública e o Universo Íntimo

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    Isabel II - Alberto Miranda

    9789897028830.jpg

    Isabel II: Rainha e Mulher

    Título: Isabel II – Rainha e Mulher: A Vida Pública e o Universo Íntimo

    Autor: Alberto Miranda

    © Autor e Guerra e Paz, Editores, Lda., 2022

    Reservados todos os direitos

    A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.

    Revisão: André Morgado

    Design: Ilídio J.B. Vasco

    Fotografia da capa: Hugo Rittson Thomas/Avalon/Fotobanco.pt

    Isbn: 978-989-702-883-0

    Guerra e Paz, Editores, Lda

    R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.

    1150­-105 Lisboa

    Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489

    E­-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt

    www.guerraepaz.pt

    Índice

    Prefácio

    Nota do autor

    Introdução

    Isabel II: Rainha e Mulher

    O início do fim

    Rainha dos jubileus

    O imprevisto que mudou uma existência

    Os pais como modelos

    Uma história de amor que começa aos 13 anos

    A coroação: tradição e modernidade

    Evolução e permanência

    Os poderes de Isabel II

    Como é a sucessão na «Firma»

    Margarida: a única irmã e a grande confidente da rainha

    Morte, tristezas e atentados

    Annus horribilis

    Carlos e Diana: da separação ao divórcio e à morte da princesa

    Como Isabel II lidou com Diana e aceitou Camilla

    William e Kate, Harry e Meghan: os fab four

    As jóias da rainha

    Os diamantes privados de Isabel II

    As pedras de cor

    A colecção Fabergé

    Os palácios e os castelos onde mora e o iate desactivado

    As duas únicas propriedades privadas

    Britannia, o palácio-navio

    O guarda-roupa: uma questão pessoal e de Estado

    Protocolo e etiqueta

    Os banquetes

    O que come a rainha: gostos e extravagâncias

    Um dia na vida da rainha

    As visitas a Portugal

    96 Curiosidades

    A rainha de A a Z

    Cronologia real

    O futuro

    Final

    Bibliografia e fontes

    Árvores Genealógicas

    Rainha Vitória de Inglaterra: a «avó» de cinco reis

    Rei Christian IX da Dinamarca, o sogro da Europa

    Isabel II e Filipe: a mesma trisavó

    Os descendentes de Isabel II

    Nota Explicativa

    Esta biografia de Isabel II, a primeira escrita por um autor português, estava pronta para impressão, na gráfica, quando, no fim da tarde de quinta--feira, dia 8 de Setembro, a notícia surpreendeu e abalou o mundo: morrera a rainha.

    Decidimos, autor e editor, manter a biografia como estava, genuína, celebrando em vida a rainha Isabel II, sem nenhuma alteração. Era a essa rainha, viva, que em 2023 comemoraria o Jubileu da sua Coroação, que este livro queria homenagear.

    É esse o livro que publicamos, acrescentando-lhe apenas o capítulo final sobre essa morte física que só vem reforçar e tornar ainda mais lendária uma mulher que marcou os séculos xx e xxi, rainha e mulher para a eternidade.

    A Isilda Madeira e Alberto Miranda, os meus queridos pais

    Agradecimentos

    Ao editor Manuel S. Fonseca, agradeço a maneira tão entusiasta com que abraçou este livro. Muito obrigado, igualmente, a toda a equipa da Guerra e Paz que esteve envolvida neste projecto.

    A sua alteza real, o príncipe Dimitri da Jugoslávia, agradeço o prefácio que aceitou escrever, sem reservas, com um yes, mesmo antes de ter lido a obra. Thank you, Highness!

    À senhora consulesa Paula Bouhon, estou muito agradecido pela tradução que fez do prefácio, de inglês para português.

    Estou eternamente grato a Cristina Lobo Antunes, minha madrinha editorial, que tão importante tem sido nesta minha aventura de escrever sobre o que mais gosto.

    Agradeço a Carlos Pissarra, pela literatura que me fez chegar, e ao Nuno Moreira, pela sua habilidade de fotógrafo.

    Obrigado ao Tiago Simões, pelas constantes mostras de amizade e de incentivo. Ao Nuno Paulo, que acompanhou de perto a evolução desta obra, agradeço o seu inestimável apoio.

    Estou muito reconhecido ao meu amigo Marco Abrantes e aos meus primos e primas Madeira, que me têm dado palavras de alento.

    Às minhas irmãs, Paula e Alexandra, agradeço os abraços que me dão e que significam tanto para mim.

    À minha mulher, a única pessoa que sabe, verdadeiramente, o tempo que dispenso em investigações, leituras e pesquisas, quero dizer que este livro é uma memória futura de todas as histórias que lhe contei sobre Isabel II, outra mulher única.

    A Isabel II, pelo exemplo, dedicação, lealdade e espírito de sacrifício, só me resta dizer: Thank you Ma’am.

    Praia do Magoito, 31 de Agosto de 2022

    Prefácio

    O livro de Alberto Miranda resulta de uma pesquisa incrivelmente bem feita, igual às melhores biografias que podemos encontrar publicadas. Ele entendeu perfeitamente o tema em todos os sentidos e cheguei à seguinte conclusão:

    A personalidade mais ilustre do nosso tempo, a rainha Isabel II, a última soberana ungida por Deus, é surpreendentemente misteriosa.

    Enquanto sabemos tudo sobre celebridades, sabemos muito pouco sobre ela, sobre os seus gostos e desgostos, quem são os seus amigos ou quais os livros que lê. A razão para que isto aconteça é porque ela não é uma celebridade, mas sim um modelo exemplar e o mais icónico de todos os tempos.

    Ela é a chefe de Estado mais famosa no mundo, mas não tem qualquer poder, pois não lhe é permitido votar e só age por conselho do seu Governo eleito, mas, ao mesmo tempo, a sua autoridade moral é ilimitada.

    Todos os seus primeiros-ministros sabiam disso e pediram o seu conselho pelo facto da sua experiência ser tão valiosa… Ela trabalhou incansavelmente em nome da coroa toda a sua vida e toda a sua vida teve a habilidade de evoluir e se antecipar no tempo.

    Por ser politicamente neutra, não tem agenda que a coloque no seio da discussão, e, para os britânicos, isso é algo muito tranquilizador, tornando--a o símbolo mais perfeito e amado da nação.

    Isabel II é, certamente, Isabel, a Impecável.

    Príncipe Dimitri da Jugoslávia

    1 de Setembro de 2022

    Nota do autor

    Acompanho há bastante tempo a actividade profissional do príncipe Dimitri da Jugoslávia e já tive oportunidade de o entrevistar e de escrever artigos sobre o seu trabalho de gemólogo e designer de jóias. Desde então, nunca perdemos o contacto e mantemos, graças às redes sociais, uma correspondência assídua.

    Além de príncipe da casa Karageorgevich, a dinastia da antiga Jugoslávia, Dimitri tem uma árvore genealógica que é um verdadeiro intricado de relações entre casas reais, resultado dos casamentos entre pares dos seus antepassados.

    Dimitri é filho do príncipe Alexander da Jugoslávia e da princesa Maria Pia de Itália, e o casamento dos seus pais aconteceu em Cascais, no tempo em que a sua mãe vivia exilada em Portugal.

    Nas suas veias, pelo lado do pai, corre sangue real jugoslavo, grego e dinamarquês, e descende dos imperadores da Rússia.

    Pelo lado da mãe, é neto dos últimos reis de Itália (Umberto II viveu exilado em Cascais), descende dos reis da Bélgica, de França, das Duas Sicílias, do Montenegro e de Portugal, uma vez que é trineto da infanta Maria José de Bragança, filha do rei D. Miguel.

    Escolhi o príncipe Dimitri para escrever o prefácio do meu livro porque é um excelente contador de histórias dos ilustres membros da sua família, porque conhece, como ninguém, quem é quem na realeza europeia e porque tem vários pontos em comum com a rainha Isabel II. Partilham, por exemplo, o mesmo antepassado: o rei Christian IX da Dinamarca, que é seu quarto avô e terceiro da soberana britânica. Além disso, Isabel II tem em sua posse a famosa e valiosa tiara Vladimir, que pertenceu à grã--duquesa Maria Pavlovna da Rússia, trisavó de Dimitri.

    É com grande orgulho que associo o nome do príncipe Dimitri a este livro. Obrigado, alteza!

    Introdução

    A 29 de Maio de 2022, a BBC transmite o documentário The Unseen Queen. Os britânicos, sempre zelosos em descobrir mais sobre a personalidade de Isabel II, ficam em frente ao ecrã. Tudo porque o famoso canal de televisão inglês teve acesso ilimitado aos filmes privados da rainha desde 1926 até 1953, ou seja, desde o nascimento até ao ano da coroação. Pela primeira vez, a soberana autorizou que as cerca de 400 bobines de filmes, guardadas no British Film Institute, fossem visionadas e utilizadas para dar origem a um novo retrato da sua vida.

    O documentário, que serviu de arranque para as celebrações do seu Jubileu de Platina, mostra imagens inéditas e privadas, até agora nunca vistas pelo público. Usa, igualmente, o som das filmagens originais e tem partes narradas, especialmente para este trabalho, pela própria rainha e um desses exemplos é quando cita Winston Churchill para mostrar como a tradição e a modernidade são um equilíbrio importante na monarquia: «O meu primeiro-ministro dizia que quanto mais longe olharmos para o passado, mais longe podemos ver o futuro.»

    O grande público descobre, contada por ela mesma, a sua vida num filme íntimo, o oposto à sua vida pública e oficial. Muitas imagens foram feitas pelo pai. Vemo-la, com dois anos, a andar de bicicleta e com os avós, o rei George V, a quem chama «grandpa England», e a rainha Mary, que trata por «dear granny». Com os pais e a irmã, ainda criança, é mostrada uma imagem de 1931 onde já era visível a união de «nós quatro»¹. Há ainda uma outra imagem do casal com as duas junto à casa de bonecas, feita para o tamanho da pequena princesa, ao lado de vários cães. Estas imagens a preto e branco são misturadas com outras a cores e que mostram Lilibeth e a irmã a rir ou com o pai, sempre em ambientes privados. Com os pais, já não duques de York, mas reis, o documentário revela uma imagem de George VI e Elizabeth com as filhas em Balmoral. Também se vê Isabel, já mulher, de braço dado com a avó Mary. O ambiente familiar prevalece em todas as imagens. Vemos uma imagem da então princesa a sorrir com o seu anel de noivado em 1946, quando ainda ninguém sabia que estava noiva, uma outra imagem com o pai e Margarida, em 1947, a bordo da viagem que os levaria à África do Sul, nada formais, mas de sorrisos rasgados e num clima descontraído. As poses e as brincadeiras para as câmaras, o inverso das imagens oficiais, também são constantes. Já casada, Isabel é mostrada a fazer os seus próprios filmes, umas vezes de paisagens, outras a captar o marido. Também há momentos em que aparece com os dois filhos mais velhos e há uma imagem onde Carlos, bebé, está ao colo do avô, o pai de Isabel.

    O que faz deste documentário algo excepcional é as imagens nunca terem sido vistas até então e serem completamente pessoais. Com The Unseen Queen, a rainha partilha um álbum secreto das suas pessoas mais próximas: os pais, a irmã e o marido, que já não estão entre nós e que foram sempre os seus maiores apoios. Ela, que sempre foi tão pudica em mostrar os sentimentos e as suas emoções, quis partilhar um pouco da sua própria história, num prisma mais pessoal, e esse foi um valioso presente que deu aos seus súbditos numa data tão especial.

    Isabel II termina com uma mensagem de esperança e acredita que os festejos das suas sete décadas no trono são «a ocasião para nós olharmos para o futuro com confiança». Quer isto dizer que a hoje chefe de Estado mais velha e há mais tempo a exercer estas funções acredita na continuidade da monarquia e deseja que, depois dela, a transição com o rei Carlos e com Camilla como rainha consorte seja pacífica.

    Este documentário é, por isso, mais importante do que se possa pensar e é bem revelador da constância da personalidade e das convicções da rainha, a mulher que não estava destinada a reinar, mas que dedica a sua vida desde os 25 anos a servir a nação britânica e as nações onde é soberana e a representar o ideal da grande família que é a Commonwealth.

    Este livro, escrito em português sobre Isabel II, pretende ser mais um contributo para se compreender melhor quem é a rainha. Aqui são abordados aspectos cruciais da sua vida passada e presente. Sem procurar uma narração cronológica dos factos, mas antes numa perspectiva temática, esta obra lança pistas para se perceber como é esta líder famosa a uma escala planetária num mundo dominado por homens no poder, quais as suas crenças e gostos e qual é o seu posicionamento público e o seu pensamento privado. Esta dicotomia está bem presente ao longo destas páginas, já que o interesse pela sua vida oficial não diminui perante os aspectos mais desconhecidos da sua vida íntima.

    Falar de Isabel II implica perceber o seu contexto histórico e o ambiente familiar; implica, igualmente, compreender como a tradição em que foi educada tem de evoluir para acompanhar as tendências de uma sociedade dinâmica, cada vez mais exigente e igualitária, mas que aceita a manutenção da monarquia, cuja regra principal radica na aceitação do chefe de Estado pelo princípio da hereditariedade, sem sufrágio universal. A monarca sabe disso e sempre quis, como fonte de honra que é, que a família real seja um modelo entre as famílias. A sua qualidade de soberana, «pela graça de Deus», não admite a falha, mas antes o exemplo, daí que seja «majestade graciosa» e chefe da Igreja de Inglaterra, o que lhe dá, de facto, um estatuto único entre os súbditos.

    Consciente de que a admiração e a identificação são características que ganhou ao longo dos anos, Isabel II deseja que elas sejam extensivas aos Windsor, mas para isso não pode haver elementos perturbadores, o que nem sempre acontece… Estas e outras histórias, sempre à volta de Isabel II, são o pano de fundo deste livro. Aqui se fala do início do seu fim, da sua love story, da sua coroação, dos seus poderes e de como se processa a sucessão dentro da Coroa, mas também são abordadas as mortes, as tragédias e os atentados que sofreu, além do inevitável annus horribilis, assim como das várias polémicas que envolvem os seus descendentes.

    Numa obra que pretende abarcar todos os domínios de uma existência tão real, também falarei das jóias e da inigualável colecção de diamantes, dos palácios onde mora e das propriedades privadas…

    Este livro também não ficaria completo se não se falasse do guarda--roupa (uma questão de estilo pessoal, mas também de Estado), dos aspectos relacionados com o protocolo e a etiqueta e até dos seus gostos em termos alimentares.

    Com a ajuda de bibliografia e de fontes próximas da casa real, tentei descrever como é um dia na vida da rainha. Em suma, são várias curiosidades que espero que despertem o interesse nos leitores.

    O grande objectivo deste livro é mostrar quem é Isabel II, pública e privada, a convencional e a para lá das convenções. Mesmo sabendo que a sua vida pode ser estudada de A a Z, a tarefa não é fácil, porque a soberana não dá entrevistas e raríssimas vezes expressa as suas opiniões.

    Apesar de, nestas páginas, ter tentado traçar um perfil o mais aproximado da realidade, a verdade é que a rainha de Inglaterra, a mulher mais conhecida do planeta, continua a ser uma grande desconhecida, o que contribui para aumentar, paradoxalmente, ainda mais o seu carisma.

    Se há uma certeza na sua vida, ela pode ser resumida em duas palavras na língua de Shakespeare: forever queen.

    Isabel II: Rainha e Mulher

    O início do fim

    Outubro de 2021. Isabel II passa uma noite no hospital. Só dois dias depois é que o mundo ficou a saber que a rainha de Inglaterra teve de fazer exames para ver se estava tudo bem com a sua saúde. Mas não foram revelados mais detalhes. E houve quem se alarmasse e temesse o pior. Dias antes, também pela primeira vez, a soberana britânica presidiu a um evento com a ajuda de uma bengala. Na sequência da hospitalização, a monarca cancelou uma visita à Irlanda do Norte, por indicação médica, e dias depois informa que não poderá estar presente na Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia, no dia 1 de Novembro. Embora se tenha feito representar ao mais alto nível pelo príncipe Carlos, o filho mais velho, por Camilla, a nora, pelo neto William e por Kate (os dois casais herdeiros do trono) e tenha enviado uma mensagem em vídeo a falar sobre a importância do assunto para a humanidade, a sua presença junto dos líderes mundiais era muito esperada e os britânicos não gostam que a soberana falte a compromissos oficiais por motivos de saúde.

    Já em 2022, a rainha também faltou à cerimónia do Dia da Commonwealth, em Londres, o que antes seria impensável, sendo ela a chefe desta organização intergovernamental, mas não união política, composta por mais de 50 países independentes, que visa a promoção da democracia, dos direitos humanos, da paz mundial ou do livre-comércio…

    Em Março de 2022, a monarca testa positivo para a covid-19 e, apesar dos «sintomas ligeiros», como os descreveu o Palácio de Buckingham, a preocupação é grande, tendo em conta a idade da soberana. Em Abril, na missa de acção de graças em memória do marido, quando passava um ano da morte do príncipe Filipe, Isabel II mostrou-se frágil, ao usar de novo bengala, e não escondeu as olheiras, o que a tornou ainda mais frágil aos olhos de todos…

    Os mais alarmistas viram nestes factos os primeiros sinais de que a longa vida da rainha começa a enfrentar obstáculos próprios da idade. Isabel tem 96 anos. No Reino Unido, mas também a nível internacional, várias manchetes deram conta do estado de saúde da monarca, precisamente porque a sua idade é um factor que, a partir de agora, não se pode mais descurar. Para se ter uma ideia, a França, tão republicana quanto interessada em temas de realeza, analisou esta questão, e a conhecida revista Paris Match fez capa com uma foto de corpo inteiro de Isabel II e o título «Peur pour la reine», na qual se fala explicitamente do medo do fim da vida da rainha.

    No discurso gravado que fez para a cimeira das Nações Unidas sobre o clima, em Glasgow, a soberana fala, ainda que de forma indirecta, mas bastante simbólica, do fim da vida: «Nenhum de nós viverá eternamente.» Esta afirmação é dirigida a ela e aos dirigentes políticos, mas dita por si, quando lhe faltam apenas quatro anos para completar um século de vida, é particularmente importante. Em Fevereiro de 2022, na véspera de assinalar o dia em que chegou ao trono, 70 anos antes, Isabel II volta a falar do fim, ao expressar que, depois dela, deseja que «Camilla seja rainha consorte ao lado de Carlos»². A monarca prepara, deste modo, os súbditos para a era seguinte, à qual já não assistirá, mas, precavida, um traço da sua personalidade, a monarca quer deixar tudo em ordem e regulamentado para que, após a sua morte, o reino não sofra tumultos nem convulsões, dentro e fora da família real, com o novo chefe de Estado e a sua mulher.

    Isabel II fala do fim, sem complexos, mas sabe que, no seu caso, a morte não significará o esquecimento. Ontem como hoje, a sua figura é unanimemente acarinhada e representa um símbolo de um país. A reputação de Isabel II é unânime e transversal. Em pleno século xxi, o valor da imortalidade aplicada à sua pessoa é inquestionável. Se a rainha Vitória, sua trisavó (que viveu e reinou no século xix, numa altura em que a rádio e a televisão não existiam), ainda hoje é recordada, imagine-se como será com o caso de Isabel II, cuja vida acompanhou as maiores e mais importantes mudanças tecnológicas, do século xx aos nossos dias, e num tempo em que o poder dos media e das redes sociais não pára de aumentar. Isabel II terá mais do que ninguém um papel imortal na história e, daqui a uma centena de anos, ainda será recordada e objecto de estudo em muitas áreas do saber.

    Mas será que estamos mesmo a assistir ao (verdadeiro) princípio do fim da vida da mais velha rainha do planeta? Os britânicos, que idolatram a sua figura, não querem, por enquanto, pensar nesse momento, mas Lilibeth, como era carinhosamente tratada pelos pais, sabe que a vida é feita de ciclos e que a máxima do «rei morto, rei posto», no seu caso concreto, faz ainda mais sentido.

    Com mais de nove décadas de vida, Isabel II já viu partir algumas das pessoas mais queridas para si. Em Abril de 2021, a dois meses de completar 100 anos, morreu o marido, o príncipe Filipe. Também assistiu à morte, em 2002, da princesa Margarida, única irmã, e dois meses depois, com quase 102 anos, partia deste mundo a mãe. No passado mais longínquo, a morte do pai, quando a princesa tinha 25 anos, foi um duro golpe para si, mas foi esse acontecimento que lhe permitiu ascender ao trono. Também era próxima dos avós, sobretudo da rainha Mary, de quem guarda tantas recordações, como jóias que herdou dela. Embora a uma outra escala, também sentiu a morte do tio, aquele que foi o rei Eduardo VIII e que, por amor, abdicou do trono.

    Da parte do pai e da parte da mãe, Isabel II assistiu à morte de vários tios e primos e a inesperada e súbita morte da princesa Diana veio mostrar-lhe que a vida é um milagre e que tudo pode acabar de um minuto para o outro. Não é, por isso, de estranhar que a rainha prepare o seu grand finale e as suas cerimónias fúnebres, como idealizou o marido e cuja vontade, Isabel II, a rainha, mas também a viúva, fez questão de respeitar.

    Mesmo que continue a trabalhar diariamente, agora a partir do Castelo de Windsor³, tem momentos que reserva só para si. Será nesses períodos que escreve os seus pensamentos e as suas vontades… Como encarará a finitude Isabel II? Que medos a assolam? Do que sentirá mais falta? Quem gostaria de ter a seu lado? Como quer deixar o país para as gerações vindouras? Sente-se feliz com os que serão chamados a reinar depois de si? Que esperanças deposita em Carlos, William e George, o filho, o neto e o bisneto, que estão destinados a levar a coroa e continuar a dinastia de Windsor? Como deseja ser recordada? A caminho dos 100 anos, é natural que estas e outras perguntas estejam presentes na cabeça da rainha. Mas como as poderá fazer? A quem confiará a monarca os seus sentimentos, as suas dúvidas e hesitações e até mesmo as suas alegrias? Se para o comum dos mortais estas questões não são fáceis de tratar, imagine-se tudo isto na pessoa que ocupa a maior e mais alta hierarquia do Estado… Terá Isabel II pessoas à altura de escutar as suas confidências, os seus medos e receios? Ou também seguirá, em privado, a expressão never complain, never explain, não se queixando de nada nem dando explicações sobre si? Será a mais famosa rainha dos quatro cantos do globo uma mulher verdadeiramente solitária? E será solitária por imposição do cargo que ocupa ou pela educação que recebeu? Ou será um sinal da sua personalidade?

    Este é o grande mistério da rainha Isabel II: a mulher mais mediática da actualidade, a mais conhecida, o grande símbolo de uma nação e de todas as outras de que é chefe, é, na verdade, uma pessoa de quem muito pouco se sabe, sobre a sua verdadeira essência. Elizabeth II Regina, a sua designação latina, sabe, mais do que ninguém e do que qualquer outro monarca do mundo, que a monarquia é hereditária e que, ao contrário das repúblicas, a chefia de Estado e a coroa são passadas do rei para o príncipe herdeiro, de geração em geração. Isabel II sabe que a transição é uma coisa natural e, por isso, prepara com naturalidade a passagem do testemunho. Antes, porém, longe de vislumbrar o seu próprio fim, a soberana festeja os 70 anos como rainha. O seu Jubileu de Diamante é uma data record que foi festejada com pompa e circunstância. Sempre que festejou as datas importantes que celebram a sua chegada ao trono, Isabel II viu como o povo e o mundo inteiro lhe demonstravam uma afeição única.

    Rainha dos jubileus

    Nem a célebre rainha Vitória conseguiu tal feito! Em Fevereiro de 2022, Isabel II comemorou 70 anos da chegada ao trono. São sete décadas de reinado, mas os grandes festejos aconteceram no mês de Junho, durante os dias 2 e 5, com uma concentração de vários milhares de pessoas em Londres para verem «a rainha».

    Isabel II conseguiu a proeza de, aos 96 anos, e dona de uma longevidade excepcional, celebrar cinco jubileus, o de prata, em 1977, o de ouro, em 2002, o de diamante, em 2012 (60 anos de reinado), o de safira, em 2017 (65 anos) e o de platina, em 2022.

    O Jubileu de Platina da rainha foi celebrado com quatro dias de festas, várias actividades oficiais e mil milhões de telespectadores em todo o mundo, que se quiseram associar a esta festa única.

    Na véspera do primeiro dia de celebrações oficiais, a casa real inglesa divulgou o retrato oficial do Jubileu de Platina de Isabel II. Quando o poderia ter feito numa sala de aparato, a rainha escolheu ser imortalizada sentada numa simples janela do Castelo de Windsor, com um robe manteau azul-claro, debruado a pedrarias e pérolas, da autoria de Angela Kelly.

    Na manhã de 2 de Junho, no mesmo dia em que fora coroada, 69 anos antes, começava a festa para os britânicos e para o mundo. O Trooping the Colour, a célebre parada militar que anualmente assinala o seu nascimento, foi vivida de forma diferente, porque desta vez, além dos 96 anos que se festejavam, a data marcava a chegada ao trono de Isabel II há sete décadas; o que não tem precedentes na história do Reino Unido. Por isso, a ocasião exigia pompa e circunstância.

    O desfile militar, com Carlos, Ana e William a cavalo, a que a rainha não assistiu pessoalmente, juntou 1400 militares, mais de 200 cavalos, 400 músicos fardados de 10 bandas e 70 aviões da Força Aérea. Enquanto os membros da família real, que estiveram a assistir ao desfile na Horse Guards, se dirigiam para Buckingham, Isabel II apareceu na varanda do palácio e fê-lo com o duque de Kent, como ela, neto do rei George V. Uma multidão em êxtase aplaudiu a monarca⁴. Só depois é que aparece rodeada dos membros activos da família real. Porque desempenham funções oficiais, Isabel II tem a seu lado Carlos e Camilla, William e Kate – com os filhos,

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